Pesquisadores conseguem bloquear ação do zika em camundongos
Estudo é da USP, com universidades de Harvard e Buenos Aires
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
20/07/2020 - 12:02
Pesquisadores
do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
(ICB-USP), em parceria com cientistas das universidades de Harvard e de
Buenos Aires, conseguiram desvendar e bloquear a ação do vírus zika em
camundongos, evitando a microcefalia em seus fetos. O trabalho, que
contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), foi publicado na revista Nature Neuroscience.
Em 2016, pesquisadores do mesmo ICB-USP e da
Plataforma Pasteur-USP, liderados pelo professor Jean Pierre Schatzmann
Peron, conseguiram comprovar, a partir do estudo em camundongos, que o
zika era o causador da microcefalia e defeitos congênitos em fetos de
fêmeas contaminadas com o vírus.
Agora, uma nova pesquisa da mesma equipe
desvendou os mecanismos usados pelo zika para driblar o sistema de
defesa imunológica dos camundongos – que possibilitam que o vírus
atravesse a placenta, aloje-se no cérebro dos fetos e se multiplique
desenfreadamente em seus neurônios, causando microcefalia.
Segundo o estudo, o zika age estimulando uma
proteína, o receptor aril hidrocarboneto, ou AHR. Uma vez ativado, o
AHR limita a defesa imunológica do organismo, coibindo a produção de
interferon tipo 1 – de enorme importância na imunidade antiviral inata
de camundongos e humanos – e a proteína PML, que inibe a replicação do
vírus.
“O trabalho tem duas grandes mensagens, uma
de que o vírus usa essa molécula chamada AHR para suprimir a resposta
imune. Então, ele se dá bem porque inibindo isso, lógico, ele consegue
se replicar. E o segundo, é de que o AHR se torna um braço terapêutico”,
disse o professor Jean Pierre Schatzmann Peron.
A partir da descoberta, os pesquisadores
passaram a testar nos camundongos uma droga que inibe a ação da proteína
AHR. A substância já estava sendo testada em humanos, mas com outra
finalidade.
“Descobrimos uma droga que ainda se encontra
em estágio de desenvolvimento, mas que foi capaz de inibir a ativação
do AHR induzida pelo Zika”, ressaltou Peron. Os pesquisadores
administraram a droga em fêmeas prenhes de camundongos infectados com
zika e puderam perceber a melhora nas lesões por todo o corpo. No caso
dos neurônios no cérebro, o remédio bloqueou em 100% a ação do vírus.
“Os fetos tratados com a droga voltaram a
nascer com peso normal. O comprimento total dos animais também melhorou.
Na placenta e no cérebro, pudemos observar que a remissão do vírus foi
total,” disse o pesquisador.
De acordo com o cientista, agora que a droga
experimental mostrou resultados excelentes nos camundongos, o próximo
passo seria algum laboratório se interessar em fazer a mesma pesquisa
com macacos, que é um estágio preliminar obrigatório antes do início dos
testes clínicos em humanos.
“O que precisa agora é comprovar em outras
espécies, como em macacos, por exemplo, que a droga é eficaz e o
fenômeno se reproduz. E depois repetir isso para o ser humano. Mas,
primeiro, como se trata de estudo em grávidas, precisamos saber se a
droga é tóxica ou não na gravidez”, ponderou.
De acordo com o Ministério da Saúde, o vírus
zika é um arbovírus, transmitido por picadas de insetos, especialmente
mosquitos. A doença causada pelo zika apresenta risco superior a outras
arboviroses, como dengue, febre amarela e chikungunya. Uma das
principais complicações é a microcefalia em fetos. A doença começa com
manchas vermelhas em todo o corpo da mãe, olho vermelho, pode causar
febre baixa, dores pelo corpo e nas juntas, também de pequena
intensidade.
No caso de o feto ser infectado durante a
gestação, pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis
e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. O
comprometimento nesses casos é tão importante que algumas crianças, ao
nascer, têm uma deformação dos ossos da cabeça, sinal do não crescimento
adequado do cérebro.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: EBC
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