quarta-feira, 30 de junho de 2021

Covid: Risco de infecção por coronavírus varia ‘muito’ de acordo com máscara usada, diz estudo

Covid: Risco de infecção por coronavírus varia ‘muito’ de acordo com máscara usada, diz estudo

David Shukman - Repórter de Ciências da BBC News
29 junho 2021


A qualidade das máscaras faciais que os profissionais de saúde usam faz uma grande diferença no risco de infecção por coronavírus, segundo um estudo conduzido em um hospital em Cambridge, no Reino Unido.

Usar uma máscara de alto grau conhecida como PFF3 pode fornecer até 100% de proteção.

Já as máscaras cirúrgicas comuns apresentam um risco muito maior de se pegar o vírus, segundo a pesquisa.

Entidades de classe vem fazendo campanha para que trabalhadores recebam equipamentos melhores de proteção individual (EPI).

Os dados foram coletados durante um programa de testes da entidade NHS Foundation Trust, ligada ao sistema de saúde britânico, o NHS (equivalente ao SUS no Brasil).

Os resultados foram publicados em um artigo que ainda não foi revisado por pares.

Durante a maior parte do ano passado, o hospital seguiu a orientação do governo que especifica que os profissionais de saúde devem usar máscaras cirúrgicas, exceto em algumas situações limitadas.

Embora resistentes a fluidos, essas máscaras são relativamente frágeis e frouxas e não têm o objetivo de filtrar aerossóis infecciosos — minúsculas partículas de vírus que podem permanecer no ar e agora são amplamente tidas como fonte de infecção por coronavírus.

O estudo descobriu que a equipe que cuida de pacientes em alas "vermelhas" (onde há pacientes com covid) enfrentava um risco até 47 vezes maior do que aqueles em alas "verdes" (sem pacientes com covid).

O pesquisador principal, Mark Ferris, especialista em saúde ocupacional do hospital, disse que a equipe estava se contaminando com covid, apesar de seguir todos os protocolos de controle de infecção.

Assim, quando a segunda onda da pandemia começou a acontecer em dezembro passado, os gerentes dos hospitais de Cambridge tomaram a decisão de aumentar a proteção nas alas vermelhas.

"A única coisa que faltava tentar fazer ainda era adotar as máscaras PFF3, e foi isso que eles fizeram", disse Ferris.

As máscaras PFF3 são mais fechadas no rosto e projetadas especificamente para filtrar aerossóis.

Grande impacto
Nas semanas seguintes a essa mudança, a taxa de infecções entre os profissionais de saúde nas enfermarias vermelhas caiu drasticamente, atingindo o nível das alas verdes, onde não havia pacientes com covid.

O estudo conclui que "os casos atribuídos à exposição na ala caíram significativamente, com máscaras PFF3 fornecendo 31-100% de proteção (e provavelmente 100%) contra a infecção de pacientes com covid-19."

Todos os casos restantes provavelmente foram causados por disseminação na comunidade, e não no hospital.

O artigo afirma que as máscaras cirúrgicas resistentes a fluidos são "insuficientes" para proteger os profissionais de saúde.

Mike Weekes, da Cambridge University NHS Hospitals Foundation Trust, que trabalhou no estudo, disse que a pesquisa dá "algumas evidências do mundo real de que as máscaras PFF3 são realmente eficazes, e mais eficazes do que as máscaras cirúrgicas".

Ele acrescentou: "Claramente, é um estudo relativamente pequeno e, portanto, precisamos ver essas descobertas replicadas em outro lugar. Mas, dada a diferença nos resultados que vimos, como uma espécie de efeito do princípio de precaução, o que devemos pensar é adotar máscaras PFF3 para quem cuida de um paciente com coronavírus."

Campanha
O hospital de Cambridge está entre 17 em todo o Reino Unido que decidiram atualizar suas máscaras, à revelia da política nacional.

O apelo para que as máscaras PFF3 sejam distribuidas de forma mais ampla é uma demanda de longa data de diversos órgãos de profissionais de saúde.

Em uma carta aberta ao Secretário de Saúde do Reino Unido, Sajid Javid, um grupo de consultores e médicos diz que o novo estudo fornece ainda mais evidências de por que a política precisa ser alterada.

"Isso tem implicações importantes para a proteção do trabalhador de saúde, já que o Reino Unido lida com o que se espera que seja uma 'onda final', além de tentar reduzir o enorme acúmulo de outros trabalhos enquanto enfrenta a inevitável doença e isolamento da equipe", escreveu o grupo.

Um porta-voz do Departamento de Saúde e Assistência Social disse que as orientações sobre os padrões de máscaras são atualizadas regularmente para refletir os mais recentes avanços científicos.

"A segurança do NHS (sistema de saúde britânico) e da equipe de assistência social sempre foi nossa prioridade e continuamos a trabalhar 24 horas por dia para entregar materiais para proteger aqueles na linha de frente. As evidências e os dados emergentes são monitorados e revisados continuamente e as orientações serão alteradas de acordo, caso seja apropriado."

Fonte: BBC

Carro voador completa teste com voo entre dois aeroportos

Carro voador completa teste com voo entre dois aeroportos

Zoe Kleinman Repórter de Tecnologia da BBC News
30/06/2021

CRÉDITO,KLEIN VISION
O protótipo do carro voador completou voo teste de 35 minutos entre dois aeroportos

Um protótipo de carro voador completou um voo de 35 minutos entre os aeroportos internacionais de Nitra e Bratislava, na Eslováquia.

O carro-avião híbrido, AirCar, está equipado com um motor BMW e funciona com gasolina comum.

Seu criador, o professor Stefan Klein, disse que o veículo poderia voar cerca de mil km, a uma altura de 2,5 mil metros, e já havia rodado 40 horas no ar até agora.

O carro precisa de dois minutos e 15 segundos para se transformar em uma aeronave.

'Muito agradável'
O professor Klein convidou repórteres para assistir ao voo na manhã de segunda-feira (28/06). Ele disse que a experiência foi "normal" e "muito agradável".

As asas estreitas se dobram nas laterais do carro. No ar, o veículo atingiu a velocidade de cruzeiro de 170 km/h. O carro voador é capaz de transportar duas pessoas, com um limite de peso combinado de 200 kg.

Mas, ao contrário dos protótipos de drone-táxi existentes, ele não consegue decolar e pousar verticalmente, e requer uma pista de decolagem e aterrissagem.

CRÉDITO,KLEIN VISION
O híbrido AirCar visa a atender demanda criada pelos problemas de congestionamento de tráfego em ruas e estradas

Há grandes expectativas sobre o novo mercado de carros voadores, que há muito tempo são anunciados na cultura popular como um marco visionário do futuro.

Em 2019, o banco de investimentos Morgan Stanley previu que o setor poderia alcançar um valor de US$ 1,5 trilhão em 2040.

E em um evento da indústria na terça-feira (29/6), o presidente-executivo da Hyundai Motors Europe, Michael Cole, chamou o conceito de "parte do nosso futuro".

Esse tipo de veículo é considerado uma solução potencial para os problemas atuais de infraestruturas de transporte.

'Mercado enorme'
A empresa por trás da AirCar, a Klein Vision, diz que o protótipo levou cerca de dois anos para ser desenvolvido e custou "menos de 2 milhões de euros" (R$ 11 milhões) em investimento.

Anton Rajac, consultor e investidor da Klein Vision, disse que se a empresa pudesse atrair até mesmo uma pequena porcentagem das vendas globais de companhias aéreas ou táxis, ela teria um enorme sucesso.

"Existem cerca de 40 mil pedidos de aeronaves apenas nos EUA", disse ele.

"E se convertermos 5% desses pedidos para carro voador, temos um mercado enorme."

'Realmente legal'
Stephen Wright, pesquisador-sênior de aeronaves da Universidade do Oeste da Inglaterra, no Reino Unido, descreve o AirCar como "o filho de um Bugatti Veyron com um Cesna 172".

"Tenho que admitir que isso parece muito bacana, mas tenho centenas de perguntas sobre o processo de certificação", disse.

"Qualquer um pode fazer um avião, mas o truque é fazer um que voe e voe e voe por um milhão de horas, com uma pessoa a bordo, sem nenhum incidente. Mal posso esperar para ver o pedaço de papel que diz que é seguro de se voar e vender."

Fonte: BBC

USP estuda uso da Ayahuasca no tratamento de ansiedade social

USP estuda uso da Ayahuasca no tratamento de ansiedade social

Nelson Lin, Repórter da Rádio Nacional - São Paulo
30/06/2021

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto estudam o eventual uso do chá de Ayahuasca no tratamento do transtorno de ansiedade social. Os resultados dessa pesquisa são preliminares e foram publicados recentemente em um artigo científico.

O chá de Ayahuasca é preparado com plantas nativas da Amazônia e amplamente utilizado em rituais indígenas e de Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal. De acordo com o neurocientista Rafael Guimarães, a pesquisa foi motivada por relatos de experiências de pessoas nesses ritos.

A condição de transtorno de “ansiedade social” – causado pelo desconforto em situações que exigem interações com outras pessoas - é subnotificada no mundo todo. Estima-se que 2% a 7% da população no país tenha essa condição. Guimarães explica que essa condição dificulta várias atividades do dia a dia e pode levar a outros problemas, como: o consumo de bebidas alcoólicas em excesso. Além disso, as opções de tratamento são limitadas.

No estudo, conduzido por Rafael Guimarães, os 17 voluntários foram divididos em grupos, os que tomaram placebo e os que receberam uma dose baixa de Ayahuasca. E, em seguida, tiveram que realizar uma palestra em público. Os que tomaram o chá relataram uma sensação maior de auto confiança no momento da apresentação. Isso porque, de acordo com o cientista, a Ayahuasca contém substâncias como o DMT que de alguma forma interagem e ativam os receptores de serotonina, responsáveis por processar nossas interações sociais e emoções.

O neurocientista Rafael Guimarães lembrou que há também outros estudos em andamento sobre o uso de Ayahuasca em tratamento para depressão e dependência de outras drogas como o álcool.
Edição: Sâmia Mendes/ Beatriz Arcoverde

Fonte: EBC

Parada programada: Sistema de Chamados

Parada programada: Sistema de Chamados

ST|I
29 JUN 

Na próxima sexta-feira (02/07), a STI fará mais uma atualização no Sistema de Chamados. A manutenção está prevista para começar às 18h e terminar até às 22h30. Durante este período, o site http://app.uff.br/atendimento ficará fora do ar.

As atualizações frequentes dos sites e sistemas da UFF são necessárias para a melhoria contínua dos serviços oferecidos pela STI. Contamos com a compreensão de todos(as).

Informações:
Ação: Atualização do Sistema de Chamados (http://app.uff.br/atendimento)
Data: 02 de julho (sexta-feira).
Horário Inicial: 18h.
Previsão de término: 22h30.

Fonte: UFF

Programa Artemis trará oportunidades à ciência brasileira, diz Pontes

Programa Artemis trará oportunidades à ciência brasileira, diz Pontes

Em entrevista ao Universo, ministro fala sobre acordo com a Nasa

Adrielen Alves - Repórter da EBC - Brasília
25/06/2021 

Em 2024, quando se completa 55 anos da ida do homem à Lua, está previsto o retorno ao nosso satélite natural - e com a expectativa dos primeiros passos de uma mulher por lá. Este é o objetivo do programa Artemis, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa).

O nome é uma referência à deusa grega irmã gêmea de Apolo, que foi como ficou conhecida a primeira missão em solo lunar, em 1969.

O programa prevê missões não tripuladas e tripuladas nos próximos anos. A iniciativa está sendo implementada em um período de grandes avanços na exploração do espaço, marcado pela descoberta de moléculas de água em solo lunar e por missões tecnológicas - em curso e futuras - para o planeta Marte.

Liderado pelos Estados Unidos, o projeto conta também com a participação de outros 12 países - dentre eles o Brasil, que assinou o acordo de cooperação neste mês.

Para a Nasa, a parceria é uma forma de ampliar a participação dos países e garantir o uso pacífico do espaço. Para o Brasil se vê em um momento decisivo para o Programa Espacial Brasileiro, que projeta a ciência que tem sido feita no país, como avalia o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes. Confira a entrevista.

Agência Brasil: O que representa para a programa espacial brasileiro assinar este acordo de cooperação com a Nasa, que prevê enviar uma missão tripulada – e com a presença de uma mulher - à Lua?

Marcos Pontes: O programa Artemis tem uma importância muito grande, em vários aspectos, do ponto de vista do Programa Espacial Brasileiro. Ele se associa ao desenvolvimento que estamos fazendo de cinco áreas do programa: foguetes lançadores, satélites de cargas úteis, áreas de aplicações do espaço, infraestrutura de lançamento (Centro Espacial de Alcântara) e a renovação de toda a legislação de espaço. E o Artemis - como ele se estende à Lua, Marte, espaço profundo - tem uma série de oportunidades, que vão trazer, de forma sinérgica, os nossos estudantes, os nossos universitários, pós-graduandos, mestres e doutores para pesquisas na Lua, (pesquisas) em outros locais, desenvolvimento de equipamentos por empresas, desenvolvimento por startups. Ou seja, é uma oportunidade muito grande, inclusive para os que querem ingressar no programa espacial ou até outros astronautas.

Agência Brasil: Há alguma área específica em que o Brasil teria expertise para oferecer ao projeto Artemis? Na prática, como se dá esta cooperação?

Marcos Pontes: Existem muitas áreas em que o Brasil pode cooperar. O desenvolvimento de sistemas não tripulados para a Lua. O desenvolvimento de subsistemas de estações. Eu gostaria que o Brasil buscasse expertise na área de radiação ou proteção contra a radiação. A área de engenharia fina, controle, também é bem interessante. São áreas que precisam de maior desenvolvimento na área de propulsão. Isso ajudaria muito o programa espacial brasileiro, como um todo. E também - e por que não? - a participação de jovens. Temos que usar este programa para motivar jovens a seguirem carreiras de ciência e tecnologia. O Brasil pode participar sob vários aspectos do programa e a gente vai fazendo essas participações à medida que tenhamos condições técnicas, científicas e financeiras de participar.

Agência Brasil: A missão Artemis está sendo realizada em um momento em que há confirmação de moléculas de água em solo lunar. Como esta conjuntura pode desdobrar em avanços para outras missões, como as previstas para Marte?

Marcos Pontes: A Artemis prevê missões tripuladas e não tripuladas, uma estação espacial na órbita da Lua (que vai servir como base para ir para lá e para outros lugares também), a construção de infraestrutura na Lua, bem como estudos a serem feitos sobre as tecnologias necessárias, além do conhecimento da geologia e das características da Lua. A missão vai permitir que possamos avançar com mais segurança nas tecnologias para Marte ou outros lugares mais distantes. Um programa enorme, com grandes objetivos. E o Brasil deve participar, do meu ponto de vista, em várias frentes do desenvolvimento deste programa. Nós temos todas as condições. Basta que haja empenho da comunidade científica, do setor produtivo, em conjunto com o ministério, de forma que possamos aproveitar ao máximo esta parceria.

Agência Brasil: Ministro, e aproveitando a sua fala sobre a importância da participação dos jovens em projetos como o Artemis, gostaria de uma avaliação do vínculo deste público com a popularização da ciência, como visto, inclusive, no 1º Seminário Internacional de Astronomia e Astronáutica realizado pelo MCTI.

Marcos Pontes: A popularização da ciência é uma das prioridades do ministério. Tanto que criamos uma secretaria voltada para isso: de articulação e promoção da ciência. Não adianta termos a maior tecnologia do planeta se não tivermos jovens interessados em se desenvolver dentro dessas profissões e utilizar, desenvolver equipamentos de ciências. O seminário é parte dos esforços da secretaria, assim como tivemos olimpíadas de lançamento de satélites, foguetes, de matemática. Tudo isso converge em uma coisa: motivação dos jovens para utilizarem seus talentos em ciência e tecnologia e eles serem felizes nesta área.
Edição: Nathália Mendes

Fonte: EBC

terça-feira, 29 de junho de 2021

Manutenção programada RiUFF

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Vacinação deverá impulsionar matrículas no ensino superior, diz estudo

Vacinação deverá impulsionar matrículas no ensino superior, diz estudo

Os não imunizados representam o público mais inseguro

Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
29/06/2021

© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Faculdades e universidades particulares esperam uma retomada das matrículas no ensino superior, impactadas pela pandemia, principalmente a partir do ano que vem. O levantamento Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 3ª edição, apresentado hoje (29), mostra que a vacinação é um dos principais fatores que dão segurança aos estudantes e elevam a intenção de começar os estudos.

A pesquisa mostra que 39% dos entrevistados que tomaram pelo menos a primeira dose do imunizante contra a covid-19 desejam começar a graduação ainda em 2021, no próximo semestre, e 41% no início de 2022. Entre os jovens que ainda não foram vacinados, apenas 16% responderam que têm intenção de começar seus cursos no meio do ano e 43% vão aguardar o próximo ano letivo.

Os não imunizados representam o público mais inseguro: 29% não se decidiram sobre quando se matricular. Entre os vacinados, esse percentual é de 9%, ou seja, 3,2 vezes menor.

“A gente percebe que começou a melhorar a procura, especialmente pelo ensino presencial, que foi a modalidade mais afetada durante a pandemia. Mas, está claro que a retomada forte ficará para 2022”, diz o diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Celso Niskier.

“Entendemos que a vacinação é decisiva para a retomada forte no ano de 2022 e quanto antes, melhor, porque o risco de mais um semestre de atraso na procura pelo ensino superior é que esses jovens vão se formar também um semestre depois, o que certamente vai provocar risco de um apagão de mão de obra qualificada para retomada econômica do país”, acrescenta.

O ensino superior privado concentra a maior parte das matrículas do Brasil, 75,8% em 2019, de acordo com o último Censo da Educação Superior, sendo 35% na modalidade a distância (EAD) e 65%, na presencial.

Com a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, o setor foi impactado. Em junho do ano passado, o mesmo levantamento mostrou que 43% dos jovens que poderiam estar cursando o ensino superior decidiriam quando começar os estudos apenas quando a situação se normalizasse. Agora, esse percentual caiu para 26%, o que indica que há uma possibilidade de retomada, principalmente por conta da vacinação.

Cursos da saúde
O levantamento mostrou ainda um aumento da procura por cursos da área da saúde, indicada como escolha de 30% dos estudantes, sendo 38% em cursos presenciais (no ano passado, eram cerca de 32%) e 18% na modalidade a distância. Em seguida, estão as ofertas de negócios, escolhida por 20% dos participantes – 12% presencial e 30% em EAD. Também foram citadas as áreas de direito (12%), educação (11%), engenharias (8%), arte e design (7%), tecnologia da informação (5%) e outros (8%).

“Tem-se verificado no Brasil todo a importância dos cursos da área de saúde”, diz o diretor executivo da Abmes, Solon Caldas. Segundo ele, na pandemia, essas carreiras mostraram-se com maior estabilidade no mercado de trabalho. “Os estudantes perceberam essa questão agora com a pandemia. Em momentos de crise, situações econômicas ruins do país, o pessoal da área de saúde teve uma garantia maior da manutenção dos seus empregos”, avalia o diretor executivo da Abmes, Solon Caldas.

Impactos
De acordo com Niskier, o setor estima uma perda de matrículas no ensino presencial em torno de 8% a 9%, seja pela queda no ingresso, seja pela evasão durante a pandemia. Os dados serão confirmados no próximo Censo da Educação Superior. “Estamos falando não só de ingresso menor, mas de alunos que pararam de estudar, seja por dificuldade financeira, seja por dificuldade tecnológica [para atender as aulas a distância]”, diz.

A queda coloca o Brasil ainda mais distante de cumprir o Plano Nacional de Educação (PNE), lei aprovada em 2014 que estipula metas desde a educação infantil até a pós-graduação para serem cumpridas até 2024. “Estávamos longe de atingir, agora ficaremos ainda mais distantes, seja pela queda da base, fruto não só da captação quanto da queda por abandono, seja pela distância do PNE”.

Pela lei, o Brasil deve elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos. Segundo o último relatório de monitoramento, referente a 2018, essas taxas eram respectivamente 30% e 20%.

Pesquisa
O levantamento Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 3ª edição foi realizado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights em parceria com a Abmes, entre 19 e 22 de junho, pela internet. Ao todo, participaram 1.212 homens e mulheres, de 17 a 50 anos, que desejam ingressar em cursos de graduação presenciais e EAD ao longo dos próximos 18 meses, em todas as regiões brasileiras.

A duas edições anteriores do estudo foram divulgadas em fevereiro e abril. O acompanhamento é continuidade do estudo Coronavírus vs Educação Superior: o que pensam os alunos e como sua Instituição de Ensino Superior (IES) deve se preparar, realizado ao longo de 2020.
Edição: Valéria Aguiar

Fonte: EBC

Iniciativas ambientais promovem roteiros virtuais por biomas

Iniciativas ambientais promovem roteiros virtuais por biomas

Entre os projetos desenvolvidos está o Caatinga 360

Fabiana Sampaio, da Rádio Nacional - Rio de Janeiro
28/06/2021

A realidade virtual tem oferecido experiências que por um tempo ficaram distantes durante a pandemia ou mesmo vivências únicas. Já é possível, por exemplo, caminhar por trilhas no meio da Caatinga ou da Mata Atlântica sem sair de casa, graças a recursos gráficos que projetam imagens em 3 dimensões e 360 graus.

Neste mês do meio ambiente, dois projetos desenvolvidos e apoiados pela Petrobras usa a realidade virtual na preservação e reflorestamento de biomas e oferece a oportunidade de usuários visitarem essas áreas. Os ambientes podem ser acessados não apenas por técnicos, que o utilizam como ferramenta de trabalho, mas também pela população em geral.

Entre os projetos desenvolvidos está o Caatinga 360, uma plataforma digital multimídia que possibilita ao usuário uma visita imersiva, virtual e interativa em três tipos de vegetação do Bioma na Região do Oeste Potiguar, e em dois períodos distintos, seco e chuvoso.

Outra iniciativa nesse sentido, é o projeto Guapiaçu, que oferece um tour virtual pela Reserva Ecológica de Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O passeio permite que os visitantes realizem trilha pela Mata Atlântica, com direito a guia especializado e diversas informações sobre fauna, flora e tudo o que faz parte deste bioma. E a sensação é de que o visitante está de fato dentro da floresta. É possível ouvir os sons da mata e de seus habitantes, principalmente os pássaros.

Frederico Machado, engenheiro ambiental do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras, a plataforma foi desenvolvida, destaca que conhecer a caatinga pode ser surpreendente.

Com a plataforma também é possível acessar áreas preservadas, que tradicionalmente possuem acesso presencial dificultado e uso bastante restrito.

O projeto Caatinga 360 foi desenvolvido pela Petrobrás em parceria com a Universidade Federal Rural do Semiárido, a Fundação Guimarães Duque e a Empresa Mapeio Inovação e Tecnologia. Para fazer a visita virtual, basta acessar o site projetocaatinga.ufersa.edu.br. Já a visita à Mata Atlântica pode ser encontrada no site projetoguapiacu.com.

Fonte: EBC

Pesquisadores catalogam 2 novas espécies vegetais no Pará

Pesquisadores catalogam 2 novas espécies vegetais no Pará

O estudo foi feito pelo Museu Paraense Emílio Goeldi

Luísa Câmara *, da Rádio Nacional - Brasília
28/06/2021

Pesquisadores catalogaram mais duas espécies vegetais no projeto "Flora do Utinga", no Parque Estadual em Belém. O estudo foi feito pelo Museu Paraense Emílio Goeldi em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do estado do Pará.

A pesquisa é desenvolvida desde 2018 e, em dois anos, 700 espécies de plantas e fungos já foram identificadas. Uma planta da família Araceae foi descoberta em janeiro deste ano e marca o 1º registro da espécie na região Norte do Brasil.

A descoberta mais recente é da família Ericaulaceae, encontrada por pesquisadores neste mês de junho em uma mancha natural no parque. A herbácea de 10 cm de altura é considerada uma surpresa, pelo fato de ser, normalmente, restrita às vegetações arenosas.

O gerente do Parque, Ivan Santos, explica como foi feita a descoberta das duas espécies. O projeto Flora do Utinga já conseguiu identificar, até o momento, árvores que podem atingir até 40 metros de altura e 100 centímetros de diâmetro, considerado um porte gigantesco.
* Com supervisão de Nádia Faggiani
Edição: Nádia Faggiani e Luiz Claudio Ferreira

Fonte: EBC

Pesquisa estuda plantas da caatinga que podem ser boas para memória

Pesquisa estuda plantas da caatinga que podem ser boas para memória

Beatriz Evaristo - Repórter da Rádio Nacional - Brasília
28/06/2021 - 08:50 Por 

A caatinga é um bioma totalmente nacional que representa cerca de 11% do território brasileiro e está presente no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Em uma das plantas nativas desse bioma, um grupo de cientistas identificou substâncias medicinais que podem ser boas para a memória. O pesquisador da Embrapa Kirley Canuto, que coordena os estudos, conta que selecionaram uma variedade de açucena encontrada em solo cearense, benéfica para várias doenças crônicas.

O nome científico dessa espécie de planta com flor é Hippeastrum elegans. Na linguagem popular, além de açucena, também é conhecida como lírio, cebola-do-mato, cebola-berrante e flor-da-imperatriz. As mudas de açucena foram colhidas nas cidades de Pacatuba, que faz parte da Grande Fortaleza, e em Moraújo, a cerca de trezentos quilômetros da capital cearense. Depois disso, foram cultivadas em canteiros da Embrapa. O pesquisador Kirley Canuto explica que estão sendo realizados testes farmacológicos e testes pré-clínicos.

O grupo pretende seguir com as análises para avaliar o desenvolvimento de novos fármacos que podem custar menos para o consumidor.

A pesquisa teve início em 2016 e contou com uma equipe multidisciplinar de cerca de vinte profissionais da Embrapa Agroindústria Tropical e das universidades Estadual e Federal do Ceará, além de estudantes universitários.

Fonte: EBC

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Antiga técnica indígena para uso de água ajuda Peru a enfrentar seca

Antiga técnica indígena para uso de água ajuda Peru a enfrentar seca

Erica Gies  - BBC Future
21 junho 2021

CRÉDITO,ERICA GIES
No alto dos Andes, uma área pantanosa chamada 'bofedal' ajuda a reter a água o ano todo e a abastecer vilarejos localizados mais abaixo, incluindo Lima, durante a estação de seca

Antes da pandemia de covid-19, no inverno austral, dirigi ao norte de Lima, subindo o altiplano peruano até o vilarejo de Huamantanga.

Estava acompanhado de cientistas que estudam o uso de uma técnica de 1,4 mil anos por agricultores locais para ampliar a disponibilidade de água na longa estação de seca.

Em nosso caminho pelo estreito Vale do Rio Chillón, uma pequena faixa de plantações verdes em meio a muralhas de rochas fulvas, cruzamos o rio e começamos a subir uma estrada de terra íngreme de pista única à beira da encosta de uma montanha.

A cerca de 3.500 m, chegamos a um platô com campos de abacates, lúpulo, batata e feijão e, finalmente, ao vilarejo, onde construções de dois andares de tijolos de barro e concreto ladeavam ruas estreitas de terra. Burros, cavalos, vacas, cães e pessoas zanzavam por ali.

A Cordilheira dos Andes é um dos seis lugares do mundo em que surgiram civilizações complexas, motivadas pela precipitação sazonal, que provou ser um catalisador para inovações hídricas repetidas vezes.

As pessoas nutriam conhecimentos profundos sobre a água e o subsolo, implementando estratégias que ainda surpreendem — e alguns ainda usam.

Hoje, os peruanos modernos estão implantando novamente esse conhecimento antigo e protegendo ecossistemas naturais, como áreas úmidas em alta altitude, para ajudar o país a se adaptar às mudanças climáticas.

É um dos primeiros esforços do mundo para integrar a natureza à gestão de recursos hídricos em escala nacional.

O Peru está entre os países com maior insegurança hídrica do mundo. A capital Lima, onde vive um terço da população do país, se estende por uma planície desértica plana e tem apenas 13 mm de precipitação por ano.

Para sustentar a população, conta com três rios que nascem nos Andes, que se erguem atrás da cidade, atingindo 5.000 m em apenas 150 quilômetros.

Os moradores de Lima não estão sozinhos na dependência de água das montanhas. Estima-se que 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo podem depender da água que flui das montanhas até 2050, em comparação com 200 milhões na década de 1960.

A escassez de água no Peru está piorando como resultado da mudança climática. Como muitos testemunharam, as geleiras das montanhas derreteram e a estação das chuvas diminuiu para apenas alguns meses.

Já a companhia de água de Lima, Sedapal, só consegue abastecer os clientes 21 horas por dia — e Ivan Lucich, presidente da Superintendência Nacional de Serviços de Saneamento (Sunass), diz esperar um declínio ainda maior nos próximos anos.

Um relatório de 2019 do Banco Mundial que avaliou os riscos de seca no Peru concluiu que as estratégias atuais da capital para administrar a seca — barragens, reservatórios, armazenamento subterrâneo — serão insuficientes já em 2030.

Vários anos atrás, desesperados por segurança hídrica, os líderes do país fizeram algo radical: aprovaram uma série de leis nacionais exigindo que as concessionárias de água investissem um percentual das contas de seus clientes em "infraestrutura natural".

CRÉDITO,ERICA GIES
No vilarejo andino de Huamantanga, os moradores ainda usam um antigo sistema de canais, conhecido como 'amunas', para armazenar a água da estação chuvosa no subsolo

Estes fundos — chamados Mecanismos de Retribuição por Serviços Ecossistêmicos (MRSE) — são destinados a intervenções hídricas baseadas na natureza, como restaurar antigos sistemas humanos que trabalham com a natureza, proteger áreas úmidas e florestas em altas altitudes ou introduzir pastoreio rotativo para proteger as pastagens.

Antes, era considerado uso indevido de dinheiro público se as concessionárias investissem na bacia hidrográfica. Agora é exigido.

À medida que a mudança climática provoca alterações na água em todo o mundo, as estruturas convencionais de controle hídrico estão deixando cada vez mais a desejar.

Essas intervenções humanas tendem a confinar a água e acelerar o processo, eliminando as etapas naturais quando a água fica estagnada no solo. As soluções baseadas na natureza, por outro lado, abrem espaço e tempo para essas fases lentas.

Ao pesquisar para meu próximo livro sobre o assunto, passei a pensar nestas soluções como "slow water" ("águas lentas").

Assim como no movimento slow food ("comida lenta"), as abordagens "slow water" são feitas sob medida: trabalham com paisagens, climas e culturas locais, em vez de tentar controlá-los ou mudá-los.

Também fornecem vários outros benefícios, incluindo armazenamento de carbono e habitat para plantas e animais ameaçados.

Por essas razões, a conservação de áreas úmidas, planícies aluviais e florestas montanhosas para a gestão de recursos hídricos é um movimento que cresce em todo o mundo, inclusive entre instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial.

Mas a maioria dos projetos até agora são pequenos e desconectados, então as pessoas tendem a considerá-los como recursos secundários interessantes, em vez de uma ferramenta fundamental.

É semelhante à visão de longa data em relação à energia solar e eólica que está rapidamente se tornando ultrapassada: são boas, mas acreditava-se que não eram capazes de desempenhar um papel importante no que se refere a atender nossas demandas energéticas.

O programa nacional do Peru, no entanto, tem o potencial de demonstrar quão eficazes as soluções "slow water" podem ser, quando implementadas na escala das bacias hidrográficas.

No entanto, apesar das políticas inovadoras do país, colocá-las em prática tem sido um processo lento, em parte devido à alta rotatividade no governo — incluindo cinco presidentes em cinco anos.

Outro grande obstáculo, e que a maioria dos países enfrenta, é superar as práticas arraigadas no setor hídrico para tentar algo novo.

Em 2018, a Global Affairs Canada e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional se comprometeram a investir US$ 27,5 milhões (R$ 140 milhões) em cinco anos para ajudar o Peru a tirar do papel seu programa inovador.

O dinheiro foi para a Forest Trends, uma ONG que trabalha em soluções naturais para a água no Peru desde 2012.

Seu diretor executivo, Fernando Moimy, defende há muito tempo a ideia, primeiro no governo como ex-chefe da Sunass, depois por meio da Forest Trends.

A iniciativa da ONG, chamada Infraestrutura Natural para Segurança Hídrica, visa fornecer conhecimento técnico, afirma Gena Gammie, diretora adjunta do projeto.

CRÉDITO,ERICA GIES
A Distichia muscoides, com suas pequenas flores alpinas, é uma planta dominante nas áreas úmidas dos 'bofedales' que ajudam a paisagem a reter água

Agora a iniciativa está ganhando força. Quarenta das 50 concessionárias de água do país estão coletando fundos MRSE — e arrecadaram mais de US$ 30 milhões.

A Sunass espera que sejam angariados pelo menos US$ 43 milhões até 2024. Esse dinheiro está sendo investido em mais de 60 projetos em todo o país.

Entre os apoiados pela Sedapal, serviço de abastecimento de água de Lima, estão projetos que fortalecem uma antiga técnica de armazenamento de água e protegem os raros bofedales, áreas úmidas de alta altitude.

'Semear' água
Foi isso que me levou à viagem pelas montanhas peruanas ao norte de Lima, até o vilarejo de Huamantanga, junto a cientistas que estão estudando as antigas técnicas de gerenciamento de água da região.

As pessoas que vivem aqui são camponeses: membros de um coletivo agrícola. Elas usam canais de água chamados amunas — palavra em quechua que significa "reter" — para desviar o fluxo dos córregos das montanhas na estação chuvosa e direcioná-lo para bacias de infiltração naturais.

A estratégia, inventada por um antigo povo chamado Huari, ainda é praticada aqui e em alguns outros vilarejos andinos.

Como a água se move mais lentamente no subsolo à medida que atravessa o cascalho e o solo, ela emerge encosta abaixo dos mananciais meses depois, quando os camponeses a coletam para regar suas plantações.

Como grande parte da irrigação penetra no solo e acaba voltando aos rios que abastecem Lima, revitalizar as amunas abandonadas espalhadas pelas montanhas poderia prolongar a água na estação de seca para os moradores das cidades também. Daí o interesse da Sedapal.

Na praça principal de Huamantanga, em frente a uma igreja católica, conheci Katya Perez, pesquisadora social da ONG Condesan, que estuda como as pessoas interagem com os sistemas de água.

Ela estabeleceu uma relação com os camponeses aqui, reunindo seus conhecimentos e tradições para manter as amunas.

Por exemplo, eles realizam cerimônias de limpeza e bênção dos canais, porque sabem que a remoção anual de lodo permite que continuem funcionando bem.

As amunas ficam acima da vila, a cerca de 4.500 m, então alugamos cavalos dos moradores e cavalgamos pela puna ensolarada, vegetação local repleta de pequenos arbustos e pés de tremoços com flores roxas.

As montanhas se acumulam uma atrás da outra em um aparente infinito, e um pássaro gigante — possivelmente um condor andino — paira sobre nós. Finalmente, avisto uma amuna.

Construída com a disposição cuidadosa de rochas, tem cerca de 60 centímetros de largura e alguns metros de profundidade, serpenteando pelos contornos sinuosos das colinas.

CRÉDITO,ERICA GIES
Os 'bofedales' têm plantas de baixo crescimento e bem adaptadas às condições locais de 'verão todos os dias e inverno todas as noites'

É julho, meados da estação de seca, e a amuna está quase sem água, tendo levado seu tesouro hídrico para uma depressão rochosa em forma de tigela, onde se infiltrou no solo.

A camponesa Lucila Castillo Flores, uma senhora de saia e chapéu, compara o que acontece aqui a "semear" água.

"Se semearmos a água, podemos colher a água", diz Flores.

"Mas se não semearmos a água, teremos problemas."

Pouco antes do desvio para a amuna, os pesquisadores instalaram uma pequena barragem, uma placa de metal colocada verticalmente no córrego com um entalhe em forma de V.

Ferramenta clássica para monitorar a vazão da água, esta barragem cria um pequeno lago, elevando o nível da água para que passe pelo "V" mesmo quando está baixo, explicou um dos cientistas, o engenheiro hídrico Boris Ochoa-Tocachi, diretor-executivo da empresa de consultoria ambiental ATUK, com sede no Equador, e consultor da Forest Trends.

A altura da água é medida com um transdutor de pressão, um instrumento submerso no lago formado pela barragem. Quanto maior o peso no sensor, significa mais água.

Os dados coletados aqui serviram de base para um estudo sobre as amunas que fez parte da tese de Ochoa-Tocachi na universidade Imperial College, em Londres, publicada na Nature Sustainability em 2019.

Montados de volta nos cavalos, descemos parte da montanha e paramos em um manancial abastecido por amunas. Aqui, a água que estava viajando pela rocha e pelo solo brotou em um córrego borbulhante.

"Você está vendo, é realmente muita água em comparação com o fluxo que vimos na barragem", diz Ochoa-Tocachi, com óbvia satisfação.

Uma das coisas mais marcantes sobre as amunas é que os camponeses sabem qual canal abastece qual manancial, o que significa que eles entendem o caminho que a água segue no subsolo.

As entrevistas de Perez com a população local documentaram esse conhecimento, que foi transmitido de geração para geração.

CRÉDITO,ERICA GIES
O pesquisador Boris Ochoa-Tocachi parado sobre uma 'amuna', agora com pouca água, após ter enviado seu fluxo para as bacias de infiltração

Os urbanistas tendem a não levar em consideração o conhecimento dos povos rurais e indígenas, diz Ochoa-Tocachi, mas os pesquisadores foram capazes de confirmar as informações deles, classificadas como "muito precisas", ao adicionar rastreadores aos fluxos das amunas e, na sequência, usar detectores sensíveis para monitorar o surgimento dessas moléculas nos mananciais.

Esta descoberta "nos surpreendeu", afirma Ochoa-Tocachi.

"Isso mostra que podemos usar o conhecimento nativo para complementar a ciência moderna e fornecer soluções para os problemas atuais."

Ele e os coautores do estudo analisaram modelos de como revitalizar as várias amunas abandonadas espalhadas pelo altiplano andino poderia aumentar o abastecimento de água para Lima, que já está cerca de 5% abaixo — um déficit de aproximadamente 43 milhões de metros cúbicos.

Concentrando-se apenas na maior bacia hidrográfica das três que abastecem Lima, eles calcularam um desvio de cerca de 35% dos fluxos de água para as amunas na estação chuvosa, deixando o resto no rio para nutrir a vida aquática.

Eles partiram do pressuposto que metade da água desviada também iria para o meio ambiente, nas profundezas do subsolo ou liberadas na atmosfera por meio de plantas.

No entanto, o que restou foram 99 milhões de metros cúbicos — mais do que o dobro do que Lima precisa.

Eles também mostraram que a água desviada passa entre duas semanas a oito meses no subsolo, com um atraso médio de 45 dias.

Diminuir a velocidade dessa água aumentaria o fluxo dos rios no início da estação de seca em 33%, adiando a necessidade de Lima recorrer a seus reservatórios.

Como os engenheiros que tomam decisões sobre projetos hídricos exigem dados concretos como estes para implementar projetos, esta pesquisa é fundamental para mudar a forma como gerenciamos a água. Ela traduz a eficácia dos projetos "slow water" para a língua que os engenheiros falam.

CRÉDITO,ERICA GIES
Esta barragem mede quanta água está fluindo para a 'amuna', enquanto mais abaixo, a água que emerge da fonte subterrânea também é monitorada

Incentivada pelas descobertas, a Sedapal planeja investir US$ 3 milhões no fortalecimento de 12 amunas acima de Huamantanga, construindo mais duas e revitalizando as pastagens vizinhas, conta Oscar Angulo, coordenador de água e saneamento para investimento em infraestrutura natural da Forest Trends.

Áreas encharcadas
A Sedapal e outras concessionárias de água no Peru também estão investindo em ecossistemas naturais.

Saindo de Lima novamente, desta vez rumo ao nordeste ao longo do Rio Rimac, acompanhei um grupo de especialistas regionais em água a uma turfeira tropical rara de alta altitude chamada bofedal, que são áreas pantanosas.

Exclusivos dos Andes, os bofedales são dominados por plantas bem adaptadas às condições tropicais de montanha de "verão todos os dias e inverno todas as noites", prosperando sob o sol intenso, ventos fortes, um período breve de semeadura, congelamento diário e neve sazonal.

As plantas de baixo crescimento, firmes, mas esponjosas, são pontilhadas com pequenas flores em forma de estrela e entremeadas com pequenas poças de água.

As turfeiras, incluindo os bofedales, têm uma porcentagem maior de matéria orgânica do que outros solos, o que as torna excepcionalmente boas em reter água.

CRÉDITO,ERICA GIES
Lucila Castillo Flores, fotografada aqui em sua casa, explica como as pessoas da comunidade mantêm as 'amunas' para fornecer água durante o ano

Embora as turfeiras cubram apenas 3% da área terrestre, elas armazenam 10% de toda a água doce (e 30% do carbono no solo) do mundo.

Na paisagem íngreme da Cordilheira dos Andes, os bofedales reduzem o escoamento da água, evitando inundações e deslizamentos de terra.

À medida que as geleiras que antes armazenavam água derretem, os bofedales desempenham um papel ainda mais importante na retenção de água para abastecimento na estação de seca.

Por permanecerem verdes o ano todo, os bofedales também são focos de biodiversidade, sendo frequentados por pássaros e mamíferos, incluindo veados, pumas, raposas andinas, gatos-dos-pampas, vicunhas e guanacos, ancestrais selvagens das domesticadas alpacas e lhamas.

Depois de horas dirigindo em direção às nuvens, chegamos a um ponto a cerca de 4.500 m de altitude, onde o vale se ampliou, exibindo um lago sazonal e um bofedal. Mas algo estava terrivelmente errado.

Quadrados de solo de 1,5 m de comprimento e 30 cm de profundidade haviam sido retalhados em um padrão quadriculado por caçadores de turfa para vender aos viveiros de plantas em Lima.

Esta turfa, depositada ao longo de milênios, foi destruída em poucos minutos. Os fragmentos restantes, recém-expostos, cheiravam a decomposição devido à oxidação da matéria orgânica.

CRÉDITO,ERICA GIES
Este bofedal acima da cidade andina de Carampoma foi atacado por caçadores de turfa

Nos deparamos com a superfície irregular do vale, com nossos passos levantando poeira vermelha.

Mas em março, as autoridades percorreram a longa estrada até o vilarejo local, Carampoma, para a cerimônia de lançamento do investimento de US$ 850 mil da Sedapal para restaurar a área devastada e proteger os bofedales saudáveis ​​que restaram.

O programa vai trabalhar em parceria com a comunidade para afastar a pastagem das áreas afetadas e introduzir a vigilância dos bofedales.

O Peru tem leis para proteger as áreas úmidas, mas a aplicação da legislação é um tanto turva.

Para esclarecer a situação, a Forest Trends está se reunindo com autoridades e desenvolvendo um manual para as comunidades, para que a população local saiba o que fazer (como tirar fotos e obter coordenadas de GPS) e quais autoridades notificar, diz Angulo.

Para restaurar as áreas úmidas danificadas, as pessoas vão reintroduzir plantas colhidas cuidadosamente de um local próximo e garantir o fluxo de água para nutri-las.

Os cientistas não sabem quanto tempo vai demorar para restaurar a turfa, mas Angulo espera que a natureza possa começar a se recuperar por conta própria rapidamente com um pouco de ajuda.

Em todos esses projetos, os benefícios para a comunidade local são vitais, explica Angulo, então eles estão motivados a manter as práticas de gestão da terra e da água que, em última instância, beneficiam a bacia hidrográfica como um todo.

Sem isso, "dois a três anos depois, não será sustentável", afirma.

CRÉDITO,ERICA GIES
Quando os caçadores de turfa cortam fragmentos do 'bofedal', as plantas vizinhas secam e morrem

Embora cada país tenha questões hídricas, paisagens e culturas únicas, outros lugares podem aprender com a experiência do Peru.

Os europeus que dependem dos Alpes e os asiáticos que contam com os Himalaias para obter água também estão perdendo suas geleiras para as mudanças climáticas e vão precisar de novas maneiras de captar água das cheias para proteger casas e negócios e armazenar água para uso posterior.

A atividade humana que degrada a capacidade da terra de reter água pode ser revertida, seja o desmatamento nas montanhas do Quênia ou o sobrepastoreio no oeste dos Estados Unidos.

Expandir as soluções "slow water" pelas bacias hidrográficas tem uma curva de aprendizado íngreme, mas a seriedade da crise climática exige uma ação rápida.

"Não temos todas as informações que adoraríamos ter hoje para tomar as melhores decisões possíveis. Mas podemos tomar boas decisões", diz Gammie, acrescentando que o monitoramento científico está permitindo que eles "aprendam e aprimorem à medida que avançam".

O financiamento para esta reportagem foi fornecido pela National Geographic Society.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Fonte: BBC

CPI da Covid: Como saber se um estudo científico para tratar doença é confiável ou não

CPI da Covid: Como saber se um estudo científico para tratar doença é confiável ou não

André Biernath - Da BBC News Brasil em São Paulo
26 junho 2021

CRÉDITO,EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
Senadores e depoentes citam vários estudos, que muitas vezes trazem conclusões contraditórias

A microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, acredita que ninguém precisa ser especialista em método científico para separar o joio do trigo e diferenciar um estudo confiável de outro com conclusões duvidosas.

"É possível, sim, desenvolver o mínimo de senso crítico para não aceitar todas as informações que são divulgadas", diz.

Esse, inclusive, foi o tema principal da participação dela na CPI da Covid, numa sessão realizada no dia 11 de junho: Pasternak contextualizou como as pesquisas são feitas, quais são os resultados mais confiáveis e como se constroem os consensos científicos.

Mas mesmo com toda a explicação da microbiologista, os senadores continuaram a citar trabalhos controversos e com falhas graves, especialmente quando o tema era o "tratamento precoce" da covid-19 e o uso de remédios como a hidroxicloroquina e a ivermectina, cuja ineficácia está mais que comprovada.

Essa, aliás, tem sido a tônica dos debates entre os membros da comissão parlamentar: não raro, uma pessoa cita o estudo X e outra se lembra da pesquisa Y, que apresentam resultados contraditórios.

No meio disso, participantes e espectadores ficam perdidos: afinal, em quem (ou no quê) acreditar?

O primeiro passo para não cair em armadilhas é entender direitinho o que é um estudo observacional.

O pontapé inicial
Você já deve ter ouvido essa frase por aí: tal cidade/estado/país usou o medicamento A, B ou C e os casos ou as mortes por covid-19 "despencaram" por lá.

Na CPI, locais como Rancho Queimado (SC), Porto Feliz (SP) ou Porto Seguro (BA) sempre aparecem como casos de sucesso no combate à pandemia por supostamente terem usado o chamado "kit covid" nos pacientes infectados com o coronavírus.

O problema é que exemplos como esses estão cercados de armadilhas e têm pouco valor científico.

Eles se encaixam nos chamados estudos observacionais: são trabalhos em que os especialistas olham para o que aconteceu com determinado grupo de pessoas após uma intervenção.

Muitas vezes, como parece ser o caso dessas três cidades citadas anteriormente, as análises também não levam em conta toda a realidade e chegam a omitir fatos, números ou a verdadeira situação da pandemia.

Para compreender melhor esse conceito, vamos usar uma situação hipotética: suponha que a prefeitura de São Paulo tenha instalado aparelhos de musculação numa praça localizada num bairro da Zona Leste da cidade.

Passados alguns meses, o posto de saúde que atende a região começa a reparar que os moradores da vizinhança emagreceram, estão com a pressão arterial mais baixa e até tiveram uma redução nos níveis de colesterol.

Um estudo observacional, portanto, poderia relacionar os dois eventos (novos equipamentos de ginástica e melhora nos indicadores de saúde cardiovascular) e chegar à conclusão de que uma coisa está ligada à outra.

Ou seja: a disponibilidade dos aparelhos incentivou a prática de atividade física na comunidade e isso, por sua vez, repercutiu bem e pode até reduzir o número de infartos e derrames futuramente entre esses paulistanos.

CRÉDITO,ALEX RODRIGO BRONDANI/GETTY IMAGES
Será que é possível ligar uma intervenção, como a instalação de aparelhos de ginástica numa praça, com melhoras nos indicadores da saúde de uma população?

O problema é que essa relação de causa e efeito nem sempre é 100% verdadeira: será que não aconteceram outras coisas que ajudem a justificar e dar sentido a essa observação?

Ainda nesse nosso exemplo fictício, o cancelamento de uma linha de ônibus que levava os moradores do bairro até o centro da cidade pode ter exigido que as pessoas caminhassem por mais tempo. Ou a morte repentina de uma pessoa famosa após um ataque cardíaco deixou todo mundo mais preocupado com a própria saúde.

"Os estudos observacionais são válidos, mas eles não trazem conclusões. Na verdade, eles nos oferecem perguntas, que poderão ser respondidas por outros tipos de pesquisa", resume Pasternak.

Confusão de conceitos
Seguindo essa linha de raciocínio, o que aconteceu (ou não) em Rancho Queimado, Porto Feliz ou Porto Seguro não deveria servir como argumento para embasar o uso de um remédio ou outro.

Ao mesmo tempo em que estimularam a prescrição de um fármaco para seus cidadãos, esses mesmos municípios podem, em tese, ter feito um lockdown (fechamento) mais rigoroso, ou possuir uma população mais jovem e menos suscetível às complicações da infecção pelo coronavírus.

Um terceiro fator que entra nessa conta: a maioria dos acometidos por covid-19 melhora após algum tempo, independentemente de qualquer fármaco. Será que esses indivíduos "curados" não relacionaram a melhora ao tratamento, quando o resultado seria o mesmo se eles não tivessem tomado nada?

Logo, é impossível separar fatores de confusão que podem estar camuflados numa observação, que a princípio parece tão óbvia e certeira.

Há outros exemplos cômicos de como pesquisas desse tipo podem levar a conclusões precipitadas: em 2012, um grupo da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, publicou um artigo num importante periódico científico relacionando o consumo de chocolate com a quantidade de prêmios Nobel de diversos países.

Em resumo, a conclusão era: as nações cujos cidadãos comem uma maior quantidade desse alimento possuem mais medalhas da prestigiada premiação.

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO
No gráfico divulgado em 2012 pelo estudo americano, havia uma relação clara entre países com maior consumo de chocolate e prêmios Nobel (eles estão localizados no canto superior direito). Mas essa foi uma 'pegadinha' dos cientistas para chamar a atenção para os estudos observacionais

Não demorou muito para que manchetes e reportagens de todo o mundo cravassem "certezas" do tipo "coma chocolate para ficar mais inteligente".

A grande questão era que o "experimento" não passava de uma piada: os autores queriam justamente chamar a atenção para o fato de que estudos observacionais podem levar a uma série de conclusões precipitadas (e incorretas).

Para que essa relação entre chocolate e inteligência fosse mais confiável, seria necessário investir num outro tipo de trabalho: o teste randomizado, duplo cego, controlado por placebo, sobre o qual falaremos mais adiante.

Da bancada do laboratório à prateleira da farmácia
Se os estudos observacionais levantam as perguntas, as respostas serão obtidas a partir dos ensaios pré-clínicos e clínicos.

A diferença aqui está no papel do cientista: no primeiro tipo de pesquisa, ele é apenas um coadjuvante que analisa um fenômeno que já aconteceu, faz conjecturas e elabora questões a partir disso.

Na segunda, ele é o protagonista responsável por fazer acontecer, dar início a uma intervenção, controlar possíveis vieses e obter os resultados após algum tempo.

No caso de um medicamento ou uma vacina, esse processo se inicia nas bancadas dos laboratórios: a nova molécula é testada em culturas de células, para ver quais reações acontecem ali.

Se os resultados forem bons, é possível partir para a próxima etapa: as análises com cobaias.

"Geralmente são usados animais que mimetizam nossa anatomia e fisiologia, como ratos, camundongos, coelhos, porcos, ovelhas e primatas", detalha o médico intensivista Luciano Cesar Pontes de Azevedo, professor da Faculdade de Medicina da USP.

O objetivo é avaliar os potenciais daquele candidato a remédio e como ele interage e funciona num organismo mais complexo.

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As pesquisas de novos medicamentos geralmente se iniciam em culturas de células, depositadas em plaquinhas de vidro como essas da imagem

Caso o experimento caminhe bem, os especialistas dão o próximo passo e partem para os estudos clínicos, que envolvem seres humanos.

Essa etapa costuma ser dividida em três partes: as fases 1, 2 e 3.

"Na fase 1, testamos a nova molécula num pequeno grupo de voluntários saudáveis, para entender os efeitos fisiológicos daquele composto e como ele se distribui pelo organismo", diz Azevedo, que também integra o Coalizão Covid-19 Brasil, um grupo de pesquisadores que busca descobrir e validar novos tratamentos para a doença responsável pela atual pandemia.

A fase 2, por sua vez, envolve um grupo ligeiramente maior de participantes, que têm a enfermidade para qual o novo remédio é avaliado.

A meta aqui é determinar a dose ideal da medicação, capaz de trazer o melhor resultado com a menor proporção de efeitos colaterais.

Detalhe importante: a progressão das pesquisas está necessariamente vinculada aos resultados obtidos até então.

Se uma molécula foi bem em cobaias, mas apresentou resultados frustrantes, preocupantes ou fora do esperado na fase 1, não há razão para seguir adiante.

Prova de fogo
E aí vem a tão esperada fase 3, que pode envolver até dezenas de milhares de participantes com algumas características em comum.

"Esses estudos costumam ser multicêntricos, randomizados, duplo cegos e controlados", conta Azevedo.

Vamos por partes: multicêntrico quer dizer que ele é realizado por vários institutos de pesquisa, que muitas vezes estão espalhados por mais de um país.

Randomizado significa que os voluntários são divididos em diferentes grupos, ou "braços" de pesquisa. Essa separação é feita por um programa de computador.

Duplo cego é um jargão científico para indicar que nem os participantes e muito menos os cientistas sabem quem faz parte de qual grupo — isso ajuda a prevenir vieses ou o popular efeito placebo.

Para fechar, o termo "controlado" serve para indicar que um desses tais grupos randomizados não receberá o candidato a remédio, mas, sim, uma substância sem efeito nenhum no corpo (chamada de placebo) ou o melhor tratamento disponível para aquela doença até o momento.

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Se, em alguma etapa, o candidato a fármaco não mostrou os resultados esperados, é preciso abortar o processo ou voltar alguns passos atrás para fazer novos testes com outros enfoques

Vamos a mais um exemplo hipotético: imagine que o medicamento X foi muito bem na etapa pré-clínica (células e cobaias) e nas fases 1 e 2 dos estudos clínicos.

Na fase 3, os responsáveis recrutaram mil pessoas de uma mesma faixa etária e com condições parecidas, que foram divididas de forma aleatória e secreta em dois grupos: 500 delas receberam o remédio e as outras 500 tomaram o placebo.

Só a partir daí será possível determinar de verdade a segurança e a eficácia do remédio X.

Na sequência, os autores escrevem e publicam nas revistas especializadas da área artigos relatando todo o procedimento, os métodos e os resultados.

Depois (ou de forma concomitante) acontece o pedido de aprovação para o uso comercial nas agências regulatórias, como a Anvisa do Brasil.

Um rito complicado
Como você já deve estar imaginando, esse caminho das pedras é muito rigoroso e são pouquíssimas as candidatas bem sucedidas nessa maratona que vai do experimento com células até a fase 3.

"De cada 30 moléculas avaliadas nos ensaios pré-clínicos, só uma chega aos estudos clínicos. E das 100 substâncias que partem para as fases 1, 2 e 3, só uma é aprovada para utilização na vida real", calcula Azevedo.

E não pense que o processo está finalizado após o 'ok' das agências regulatórias: os laboratórios ainda ficam responsáveis por conduzir a fase 4, que monitora o aparecimento de efeitos colaterais inesperados na população.

Pode acontecer de uma droga se mostrar segura nos testes clínicos, mas causar algum evento adverso quando prescrita para centenas de milhares ou milhões de pessoas.

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Só 1% das moléculas que chegam à fase clínica de pesquisa vão bem em todas as etapas e viram um remédio de verdade

Ainda nesse universo da ciência, há ainda dois termos muito batidos nas sessões da CPI: a revisão sistemática com metanálise.

Em resumo, trata-se de uma técnica em que os cientistas coletam diversos estudos que investigaram a mesma questão e tentam "unificar" suas conclusões num artigo só.

Esses resultados da revisão sistemática, portanto, são ainda mais confiáveis, já que trazem a melhor evidência científica, com a ponderação de diversas fontes e grupos de pesquisa.

Mas há um porém: se a metanálise for mal feita, ela também pode levar a uma série de conclusões erradas. Para que isso aconteça, basta que os autores incluam estudos ruins, que usaram métodos equivocados ou que "forçaram a barra" em seus resultados.

Numa série de publicações no Twitter, a médica Lucia Pellanda, reitora da Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre, usou uma analogia culinária para explicar como a seleção das evidências científicas numa revisão dessas é fundamental:

"Revisão sistemática é como fazer torta de maçã. Se colocar uma maçã estragada, estraga a torta. Por isso, é preciso avaliar os métodos de cada artigo de uma forma padronizada. Ou seja, olhar cada maçã e não só atirar tudo na torta. Se não tem (esse cuidado), não é uma revisão sistemática."

É por isso que os cientistas criam critérios de seleção de pesquisa muito bem definidos para evitar qualquer desvio das interpretações e conclusões.

Fontes confiáveis
Vale ponderar que, para quem não é especialista no assunto, identificar se uma metanálise selecionou estudos confiáveis ou não pode ser algo um tanto difícil.

Mas há alguns truques para saber se trabalhos do tipo (e mesmo aquelas pesquisas clínicas que explicamos mais acima) foram bem conduzidos.

Uma boa dica é ficar atento ao local em que eles foram publicados.

Isso porque no mundo acadêmico há revistas que são mais respeitadas do que as outras.

Na área da medicina, periódicos como The Lancet, The New England Journal of Medicine (NEJM), Journal of the American Medical Association (Jama) e British Medical Journal (BMJ) são muito reconhecidos.

Essas publicações adotam um sistema chamado "revisão por pares", em que cada artigo enviado é analisado e editado por um grupo de cientistas independentes, que não trabalharam diretamente com aquela pesquisa.

"Isso significa que colegas da área poderão ler, levantar dúvidas e fazer críticas antes de o trabalho sair efetivamente na revista", complementa Azevedo.

Essa checagem é um cuidado extra, que dá mais confiabilidade àquelas informações.

"As boas revistas não são infalíveis e já erraram no passado, mas um estudo publicado ali pelo menos tem a garantia de ter passado por uma revisão qualificada", acrescenta Pasternak.

Ainda nessa seara, tome cuidado com os chamados "pré-prints", que são trabalhos divulgados na internet antes da revisão por pares: eles são ótimos para acelerar o compartilhamento de informações na comunidade acadêmica durante uma pandemia, mas seus resultados não devem servir para tirar conclusões ou sustentar políticas públicas.

Outra maneira de saber se um trabalho científico é confiável ou não é notar o quanto ele é citado por instituições de referência.

Autoridades como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido e a Organização Mundial da Saúde lançam diretrizes sobre a prevenção e o tratamento de doenças como a covid-19.

No contexto da pandemia, esses órgãos possuem profissionais gabaritados para analisar as pesquisas e utilizá-las como base para tomar as decisões alinhadas com a evidência científica, que atestam a importância do uso de máscara, do distanciamento físico e da vacinação, por exemplo.

É importante então ficar de olho no que essas instituições dizem e que estudos são utilizados para embasar as recomendações.

No caso do tratamento precoce contra a covid-19 que mencionamos no início do texto, nenhuma dessas entidades concluiu que hidroxicloroquina, ivermectina ou outros medicamentos trazem algum benefício.

Para chegar a essa conclusão, elas levaram em conta os melhores estudos disponíveis, que seguiram e respeitaram todo aquele caminho que explicamos acima.

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO
Essa é a 'cara' de um estudo, que foi publicado no New England Journal of Medicine no ano passado

Dicas e ensinamentos
Se você considerar que é difícil guardar tantas informações no dia a dia, Pasternak entende que há pelo menos dois detalhes que são decisivos para que qualquer pessoa fique com o pé atrás ao ouvir falar de uma pesquisa.

"Em primeiro lugar, tenha sempre em mente que um estudo observacional não permite estabelecer relação de causa e efeito", recomenda.

Ou seja: se ouvir alguém dizer que tomou um medicamento e ficou melhor, ou que determinada cidade fez uso desse remédio e controlou uma doença, fique com a pulga atrás da orelha.

"Segundo, estudos in vitro ou feitos com cobaias não permitem tirar qualquer conclusão sólida", completa.

Em outras palavras, caso você leia em sites e redes sociais que tal fármaco inibiu um vírus numa cultura de células ou em ratinhos de laboratório, lembre-se sempre que não é possível extrapolar esses resultados para seres humanos: há ainda um longo caminho a ser percorrido antes que essa substância tenha a segurança e a eficácia comprovadas.

E todo esse cuidado, empenho e organização dos cientistas permitem saber quais remédios funcionam de verdade e como construir políticas públicas na área da saúde realmente capazes de salvar vidas.

Fonte: BBC