quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Coronavírus: por que desafio nao é só desenvolver vacina contra covid-19, mas fazê-la chegar a quem precisa

Coronavírus: por que desafio nao é só desenvolver vacina contra covid-19, mas fazê-la chegar a quem precisa

Nicole Hassoun* The Conversation
12/11/2020

CRÉDITO,REUTERS
Estima-se que 3 bilhões de pessoas em países com poucos recursos na África, Ásia e América Latina provavelmente não terão acesso a uma vacina contra covid-19 mesmo por anos após ela estar disponível

As doenças infecciosas não respeitam fronteiras.

Estima-se que 3 bilhões de pessoas em países com poucos recursos na África, Ásia e América Latina provavelmente não terão acesso a uma vacina contra covid-19 mesmo por anos após ela estar disponível.

Em países pobres, muitas comunidades não têm um número suficiente de profissionais de saúde para administrar as vacinas, bem como a capacidade de manuseá-las adequadamente, mantendo-as em temperaturas extremamente baixas.

Como bioeticista que estuda o acesso global a medicamentos essenciais, estou monitorando o que os países ricos, fundações e organizações internacionais estão fazendo sobre esse problema.

Covax
O Centro para Acesso Global às Vacinas Covid-19, ou Covax, é um esforço conjunto de 184 países que trabalham com organizações internacionais para possibilitar que todos tenham acesso a um preço acessível às vacinas covid-19 assim que estiverem disponíveis.

Até agora, a Covax arrecadou US$ 1,8 bilhão (a meta inicial é levantar US$ 2 bilhões) para cobrir o custo de fabricação e distribuição de vacinas em todo o mundo.

A meta dessa iniciativa é produzir 2 bilhões de doses até o final de 2021. No entanto, muitos dos países ricos envolvidos estão fechando seus próprios negócios, fora da Covax, para garantir que terão acesso antecipado a uma vacina.

Esses casos de "nacionalismo vacinal" ameaçam minar o trabalho da Covax e outras tentativas semelhantes de distribuir de forma equitativa novas vacinas e tratamentos para a pandemia.

Vários grandes países industrializados, incluindo os Estados Unidos e a Rússia, optaram por ficar de fora do negócio. Em vez disso, estão assinando seus próprios acordos com empresas farmacêuticas.

Unicef
Distribuir vacinas para covid-19 pode ser tão ou mais difícil do que encontrar dinheiro para pagá-las.

Isso porque as vacinas mais promissoras exigem armazenamento constante e extremamente frio, especialmente em áreas onde o acesso à eletricidade não é confiável ou inexistente — simplesmente não há unidades de saúde suficientes com a capacidade de resfriamento necessária.

Quase 3 bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em lugares que não possuem os sistemas de armazenamento com temperatura controlada necessários para uma campanha de imunização em grande escala. A gravidade desse problema dependerá de quais vacinas serão finalmente aprovadas, porque nem todas as vacinas submetidas a testes clínicos requerem armazenamento nas mesmas temperaturas frias.

Além do mais, não há profissionais de saúde suficientes para administrar as vacinas e é extremamente difícil para muitas pessoas em comunidades pobres viajar para os centros de saúde.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma agência da ONU que fornece ajuda para crianças em todo o mundo, está liderando os planos de distribuição de vacinas da iniciativa Clovax. A Unicef trabalhou com uma parceria público-privada chamada Gavi (antiga Aliança Global para Vacinas e Imunizações), para fornecer aos países em desenvolvimento a tecnologia de refrigeração especializada necessária para manter as vacinas congeladas.

Além disso, a Unicef pretende estocar 520 milhões de seringas até o final de 2020, até 1 bilhão de seringas até 2021 e 5 milhões de recipientes de seringas usadas.

Outras organizações internacionais também estão trabalhando para garantir que as pessoas que vivem em países com poucos recursos tenham acesso à vacina covid-19 e aos tratamentos.

Em outubro de 2020, o Banco Mundial se comprometeu a fornecer US$ 12 bilhões para financiar a aquisição e entrega de vacinas em países de renda baixa e média, como Índia e Nigéria.

Outros bancos regionais de desenvolvimento também desempenham um papel importante, pois a Covax não fornecerá vacinas suficientes para todos. Por exemplo, na África Subsaariana, apenas 28% das instalações de saúde têm acesso confiável a eletricidade, então o Banco Africano de Exportação e Importação prevê gastar US$ 3 milhões em subsídios para ajudar as comunidades a comprar equipamentos e suprimentos.

Além disso, o banco está negociando com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças na África a alocação de 5 bilhões de dólares para a compra de vacinas.

E o Fundo Global forneceu 665 milhões dos US$ 20 bilhões necessários para a vacinação em massa em todo o mundo. Sua contribuição irá melhorar as cadeias de abastecimento para distribuição de vacinas e sistemas de saúde em geral.

CRÉDITO,EPA
Coronavírus se tornou uma pandemia, alastrando-se pelo mundo

Organizações e fundações internacionais
Outras organizações com vasta experiência em campanhas de vacinação também estão intensificando esforços.

Por exemplo, a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio está fornecendo pessoal treinado para detecção da poliomielite para testar águas residuais em busca de covid-19, distribuir máscaras e desinfetante para as mãos e conduzir rastreamento de contato. Quando uma vacina estiver disponível, esse grupo de pólio provavelmente também participará da iniciativa.

As fundações, especialmente a Fundação Bill e Melinda Gates, também estão desempenhando um papel importante.

A Fundação Gates fez parceria com a Gavi e o Serum Institute of India para acelerar a fabricação de uma vacina covid-19.

Essas vacinas serão vendidas por menos de US$ 3 a dose para 92 países de baixa e média renda, incluindo Brasil, Chile, Cingapura e África do Sul.

Em 1999, a Fundação Gates prometeu US$ 750 milhões para lançar a Gavi e, até o momento, já doou US$ 4 bilhões para a organização. Na Cúpula Mundial da Vacina 2020, uma reunião virtual organizada pelo Reino Unido, a Fundação Gates prometeu gastar US$ 1,6 bilhão para vacinar 300 milhões de crianças contra várias doenças, incluindo covid-19, assim que as vacinas estiverem disponíveis.

A Fundação Gates também está participando de um esforço conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações internacionais para financiar 100 milhões de testes rápidos de antígenos em países de baixa e média renda, onde custam US$ 5 ou menos.

Além disso, outros esforços filantrópicos estão sendo realizados com empresas e agências internacionais.

A Wellcome Trust, por exemplo, em parceria com a Fundação Gates e Mastercard, financiou o Covid-19 Therapeutic Accelerator, uma aliança de pesquisa para desenvolver novos tratamentos e testes para covid-19.

No meu ponto de vista, esses esforços são tão importantes quanto os esforços para desenvolver, fabricar e distribuir novas vacinas. Afinal, se uma vacina segura e eficaz não surgir, os testes, rastreamento, equipamentos de proteção individual e tratamentos continuarão sendo essenciais para combater a pandemia e salvar milhões de vidas em todo o mundo.

*Nicole Hassoun é professora de Filosofia na Universidade Binghamton e na Universidade do Estado de Nova York, nos EUA.

Esse artigo foi publicado originalmente no site The Conversation e é publicada aqui sob uma licença Creative Commons.

Leia a versão original, em espanhol, clicando aqui.

Fonte: BBC

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