sexta-feira, 16 de abril de 2021

Misturar duas vacinas vira estratégia para destravar luta contra o coronavírus

Misturar duas vacinas vira estratégia para destravar luta contra o coronavírus

Vários ensaios em andamento estudam os efeitos da combinação de dois imunizantes diferentes em cada vacinado

MIGUEL ÁNGEL CRIADO
15 ABR 2021
Pesquisadores de Oxford querem misturar sua vacina, a da AstraZeneca, com todas as demais, inclusive a Novavax.DADO RUVIC / REUTERS

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A França fez isso na semana passada, e Alemanha acaba de anunciar: pessoas vacinadas com uma primeira dose do imunizante da AstraZeneca, agora suspenso, receberão outro composto na segunda aplicação, que poderá ser da Pfizer ou da Moderna. A ideia de criar um coquetel de vacinas não é aleatória, pois já foi testada contra o HIV, a tuberculose e o ebola, com resultados muito promissores. Também há doenças, como a meningite, para as quais as imunizações previstas na pauta costumam ser de diferentes tipos. Mas, contra o coronavírus, os ensaios clínicos estão começando agora e só terão resultados no segundo semestre. Os especialistas defendem que combinar duas fórmulas dará mais elasticidade às estratégias de vacinação, e não esperam maiores contratempos.

A Universidade de Oxford, criadora da vacina da AstraZeneca, é a que mais aposta na mistura de vacinas diferentes. Nesta quarta-feira, ela anunciou seus ensaios para experimentar a combinação de seu fármaco com o da Moderna e da Novavax. Este último, de origem norte-americana, deveria chegar nas próximas semanas. Em fevereiro, os cientistas britânicos já tinham começado a recrutar voluntários para a mistura AstraZeneca/Pfizer.

Matthew Snape, professor de pediatria e imunologia de Oxford, é o principal responsável por este ensaio e explica seus motivos em uma nota: “Se pudermos demonstrar que estes planos de combinação geram uma reação imunológica que seja tão boa como a das estratégias normais, e sem um aumento significativo das reações à vacina, isto poderia permitir que mais pessoas completassem a imunização contra a covid em menos tempo”. Snape cita outro argumento a favor do coquetel: “Poderia criar flexibilidade dentro do sistema no caso de indisponibilidade de qualquer das vacinas em uso”.

A falta não de uma, mas de duas vacinas (da AstraZeneca e da Janssen), é o que tem tornado esses estudos tão atrativos. A ideia de Snape e sua equipe é recrutar 1.050 pessoas maiores de 50 anos (mais vulneráveis à covid-19) e que ainda não foram vacinadas, ou receberam só a primeira dose. Eles vão testar todas as combinações possíveis da vacina de Oxford com as demais. Periodicamente, analisarão suas defesas, especificamente a produção de anticorpos neutralizantes. Quanto à cronologia da pauta, alguns receberão a segunda dose após oito semanas, e outros após 12. A universidade britânica espera ter os primeiros resultados no terceiro trimestre do ano.

Também a AstraZeneca iniciou há alguns dias seu próprio ensaio com o Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, o órgão estatal russo criador da vacina Sputnik V. Seu plano é combinar ambas as vacinas em voluntários da Rússia, Belarus e Azerbaijão. Diferentemente dos ensaios de Oxford, a ideia é recrutar maiores de 18 anos. Os resultados só saem no último trimestre.

O problema é que alguns não querem ou não podem esperar até lá. Mesmo sem conhecer os possíveis efeitos da mistura, seja em termos de eficácia ou segurança, alguns governos europeus decidiram levar esses ensaios diretamente para a vida real. Primeiro foi a França, que anunciou que injetará vacinas da Pfizer ou da Moderna em menores de 55 anos que tiverem recebido uma dose da AstraZeneca. E não são poucos: meio milhão de franceses, a maioria profissionais da saúde, permanece à espera da dose complementar. A Alemanha acabou de tomar uma decisão semelhante: seus 2,2 milhões de cidadãos menores de 60 anos que receberam a primeira dose da AstraZeneca completarão a pauta com a fórmula da Pfizer ou da Moderna. A decisão de trocar de vacina para a segunda dose não está isenta de dúvidas. A Organização Mundial da Saúde não recomendou essa medida por causa da ausência de dados sobre seus possíveis riscos e sua eficácia contra o coronavírus.

Fonte: El País

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