"A tecnologia não resolve todos os problemas", afirma escritor
Evgeny Morozov: crítica à tecnologia como grande salvadora
São Paulo - O cientista político Evgeny Morozov tem a estranha mania
de espionar a lata de lixo alheia. E de uma lixeira saiu um dos exemplos
mais divertidos — e perturbadores — de seu novo livro, To Save
Everything, Click Here: the Folly of Technological Solutionism (“Para
salvar tudo, clique aqui: o desvario do solucionismo tecnológico”).
Aos 29 anos, nascido na Bielorrússia, Morozov já foi chamado de guru
do ciberceticismo, por suas opiniões fortes sobre as implicações sociais
e políticas da tecnologia. Durante a pesquisa para o livro, ainda
inédito no Brasil, Morozov deparou-se com a BinCam, uma câmera colocada
sob a tampa das lixeiras, com um smartphone acoplado. Uma foto é feita
toda vez que a lixeira é fechada.
A imagem é enviada a um serviço em nuvem da Amazon, que a esmiúça,
analisando se o dono da lixeira está reciclando, se seus hábitos de
consumo são ambientalmente corretos, se sua alimentação é saudável. Por
fim, a foto é postada na página do sujeito no Facebook, rendendo pontos
num jogo online de consumo verde disputado na rede social.
O BinCam está sendo executado na Grã-Bretanha e na Alemanha. Para
Morozov, há nele sinistros ares de Big Brother. “O lixo é como a vida
sexual: assunto privado. Mas Mark Zuckerberg insiste que toda atividade,
até a coleta de lixo, é executada melhor quando se torna social”, disse
Morozov a INFO.
A tecnologia descortinou novas formas de solucionar problemas. Nunca o
mundo foi tão esperto, do carro à geladeira na cozinha. Mas essa era
digital nos leva à tentação de usar a tecnologia para consertar todos os
problemas mundiais, da poluição à obesidade.
Morozov chama essa tendência de solucionismo e a classifica como uma
ameaça à liberdade. Na Europa, empresas de seguro oferecem descontos aos
segurados que concordam em instalar sensores inteligentes nos veículos
para monitorar hábitos ao volante. Elas ficam sabendo de uma porção de
coisas sobre os clientes, como seus trajetos habituais. “É um caso
flagrante de invasão de privacidade.”
Fonte: INFO
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