Entrevista com o Núcleo de Estudos Avançados (NETAv) da Escola de Engenharia
Da esquerda para a direita: Prof. Julio Cesar Rodrigues Dal Bello, Coordenador Geral; Prof. Eduardo Rodrigues Vale,
Coordenador Científico; Aleça Paiva, Assistente; e Clínio Freitas Brasil, Gerente Executivo
O
Acordo de Cooperação UFF-Marinha teve sua gênese em 30 de julho de
2010. Segundo nos relatou o Prof. Julio Cesar Rodrigues Dal Bello,
docente integrante do Departamento de Engenharia de Telecomunicações
desta Escola e Coordenador Geral do NETAv - Núcleo de Estudos Avançados
da Escola de Engenharia da UFF, que foi criado em 13 de março de 2012,
como uma das consequências do referido Acordo:
Prof. Dal Bello:
- Na data definida como gênese, a Direção da Escola de Engenharia tomou
a decisão de tentar uma aproximação cooperativa com a Marinha, e eu fui
encarregado de ir em busca de tal aproximação. Fui a Brasília, com a
missão de levar a proposta de um Acordo de Cooperação ao então
Secretário de Ciência e Tecnologia da Marinha do Brasil, Vice-Almirante
Ilques Barbosa Junior.
NME: - O que motivou essa iniciativa de aproximação UFF/Marinha do Brasil?
Prof. Dal Bello:
- Essa iniciativa surgiu porque na Escola de Engenharia visualizamos
que se temos excelentes pesquisadores, na UFF, uma instituição de ensino
e de pesquisa de ponta no país, e sabemos dos desafios de pesquisa na
área militar para desenvolver produtos “duais”, ou seja, de uso militar e
civil, por que não somarmos esforços para vencermos os desafios e
gerarmos conhecimento para desenvolvê-los?
NME: - E como foi a receptividade da Marinha a sua proposta?
Prof. Dal Bello:
- A receptividade foi muito boa! A partir daí, começamos a trabalhar
na construção dessa parceria. Inicialmente, organizamos três workshops. No primeiro workshop,
realizado na Escola de Engenharia, pesquisadores da Marinha vieram à
Escola de Engenharia e apresentaram dezenas de projetos de pesquisa nos
quais estão envolvidos, objetivando motivar os professores da UFF a
pesquisarem sobre os temas abordados.
NME: - Quais os primeiros resultados obtidos a partir desses workshops?
Prof. Dal Bello:
- Nós esperávamos, inicialmente, uma mobilização de mais ou menos 10
professores, para começarmos a desenvolver o Acordo de Cooperação, mas
tivemos mais de 60 professores de diversas Unidades da UFF manifestando
grande interesse em participar! A predominância foi de professores da
Escola de Engenharia, que se mobilizaram para, em sequência, apresentar
propostas à Marinha. Com isso, a Marinha se motivou, o 2º workshop
foi realizado novamente aqui, na Escola de Engenharia, e o 3º, no
Instituto de Pesquisa da Marinha (IPqM). Logo após, o Acordo de
Cooperação foi assinado – no dia 18/03/2011, em solenidade na Reitoria.
E, em um espaço de meses, foi integralmente estruturado e lançado.
NME: - A partir daí, como tem atuado o NETAv, sob a perspectiva da formação acadêmica dos alunos desta Universidade?
Prof. Dal Bello:
- O NETAv é, antes de tudo, uma excelente oportunidade de estágio para
os nossos alunos, e propõe-se a trabalhar com projetos de pesquisa de
alta complexidade. Temos fomentado o trabalho conjunto de professores e
alunos, não só em nível de pós-graduação, como também de graduação. São
oferecidos aos alunos temas para estudos, para projetos de final de
curso e para iniciação científica, sendo esses temas direcionados para
os projetos de pesquisas que o NETAv está desenvolvendo por força da
cooperação UFF-Marinha. A partir daí, os alunos podem dar prosseguimento
a esses estudos em nível de Mestrado e Doutorado. Há, inclusive, pelo
Acordo que temos com a Marinha, possibilidade de conseguirmos para esses
alunos bolsas de Doutorado no exterior. Em suma, desde a iniciação
científica até o doutorado, a nossa proposta é trabalhar com os recursos
humanos de nossa Instituição.
NME: - E sob a perspectiva da Inovação, como o NETAv vem atuando na UFF?
Prof. Dal Bello:
- O NETAv tem como um de seus mais importantes objetivos ir além da
obtenção do conhecimento "novo", da produção de artigos, dos papers
para publicações em nível nacional e internacional e das apresentações
em congressos. Realizamos tudo isto, mas buscamos ultrapassar esse
estágio, tornando-nos aptos à obtenção de patentes – e já estamos
conseguindo isso. Por exemplo: no Projeto Acústica Submarina, estamos
cuidando de uma patente com o apoio do ETCO-Escritório de Transferência
de Conhecimento da AGIR/PROPPI/UFF; no Projeto Holografia/Telessaúde,
estamos pedindo registro do Processo, que nada mais é que a proteção do
conhecimento.
NME: -
Sabemos que, além da criação do Núcleo de Estudos Avançados da Escola
de Engenharia (NETAv), foi também sediado, nesta Escola, um Escritório
da Marinha, com seus representantes fazendo essa interface
institucional. Como tem sido essa interação e em que tem contribuído
para o andamento dos projetos do NETAv?
Prof. Dal Bello:
- O fato de haver um Escritório da Marinha sediado aqui na Escola de
Engenharia tem contribuído muito para agilizar a comunicação entre a
UFF, através do NETAv, e a Marinha. Por exemplo: no momento em que a
Marinha demanda um projeto e, por outro lado, não têm conhecimento das
competências e possibilidades existentes em nossa Universidade, o NETAv
entra no circuito, em busca dos professores mais recomendados para
realizar aquele determinado projeto, de acordo com suas especificidades.
Por outro lado, se a UFF tem um projeto para propor ou está com um
projeto em andamento e precisa fazer experiências no campo, em Unidades
da Marinha, nós, através do NETAv, acionamos o Escritório da Marinha
sediado em nossa Escola, para intermediar e, com isso, viabilizar a
execução da pesquisa. Trata-se de um modelo completamente novo - a
Marinha já tem escritórios em outras universidades, mas são separados
dos campi. Essa prática, esse modelo novo de relacionamento, é, por enquanto, exclusivo da Escola de Engenharia da UFF.
Não
é só a Marinha que tem desafios, nós também temos desafios na
Universidade. Por exemplo, o projeto de Telessaúde, de atendimento do
paciente à distância com uso da tecnologia avançada da Holografia,
fazendo diagnóstico e medicando, foi concebido aqui na Escola de
Engenharia em conjunto com o CRASI (Centro de Referência em Atenção à
Saúde do Idoso do Hospital Universitário Antonio Pedro) e proposto à
Marinha do Brasil. Então, neste caso, nós fizemos o contrário: motivamos
a Marinha, por intermédio do seu Escritório sediado em nossa Escola.
Portanto, o NETAv e o Escritório da Marinha são duas células que se
complementam.
NME: - E como tem se dado a interação do NETAv com a Reitoria e com a Escola de Engenharia da UFF?
Prof. Dal Bello:
- Bem, o volume de trabalho e a necessidade de coordenação para
estabelecer contatos com a Marinha e com a Escola cresceram tanto que um
único coordenador já não era mais suficiente. Foi criada, então, uma
estrutura estratificada. O NETAv tem um Coordenador Geral, que sou eu,
um Coordenador Científico, que é o Prof. Eduardo Rodrigues Vale,
professor do Departamento de Engenharia de Telecomunicações desta
Escola, um Gerente Executivo, que é o Economista Clínio Freitas Brasil, e
uma Assistente, a Aleça Paiva. Quando dividimos nossas tarefas, coube
ao Coordenador Geral a tarefa de interagir com a Escola de Engenharia e
Reitoria, dando-lhes ciência das atividades executadas pelo NETAv. Essa,
portanto, é a minha função - manter uma relação harmônica do NETAv com a
Reitoria e, é claro, com a Escola de Engenharia.
NME: - Com respeito às demais atividades exercidas no NETAv, pode nos falar delas?
Prof. Dal Bello:
- Claro! A Coordenação Científica, função desempenhada pelo Prof.
Eduardo Vale, tem a seguinte atuação: digamos que surge a demanda de um
projeto na Marinha, e eles vêm até nós, do NETAv, para nos consultar
sobre a possibilidade de desenvolvê-lo. O Prof. Eduardo Vale se
incumbirá de localizar os especialistas adequados para a especificidade
do projeto.
NME: - De que forma o NETAv faz a captação desses especialistas? Por meio do lançamento de um edital?
Prof. Eduardo Vale:
- Não, nós não fazemos a publicação de editais. Fazemos uma seleção de
perfil, porque os desafios que nos chegam exigem que os professores
tenham um perfil muito específico. Quanto aos alunos que integrarão a
equipe que irá trabalhar com aquele determinado professor, nós deixamos a
seu critério selecionar.
Prof. Dal Bello:
- Ainda complementando o que foi dito pelo Prof. Eduardo Vale, é de
extrema importância que o professor que tenha vontade de desenvolver
algum projeto de pesquisa saiba que ele não precisa ficar esperando que
as demandas nos cheguem sempre por parte da Marinha ou que nós sempre
tenhamos uma demanda aqui no NETAv. O professor pode e deve ser
pró-ativo. Um exemplo é o Professor Raul Vidal Pessolani, do
Departamento de Engenharia Mecânica de nossa Escola: ele nos procurou
com o projeto de um Vant, e nós vimos ali uma boa oportunidade para a
Marinha. Neste momento, já estamos estudando como estruturá-lo. Mas é
importante frisarmos que a iniciativa partiu do Professor.
NME: - O NETAv possui um interesse específico quanto a uma determinada área ou determinadas áreas de pesquisa?
Prof. Dal Bello:
- Nós não temos uma linha fechada de pesquisa, nosso espectro é muito
amplo. A área de Ciência e Tecnologia em toda a sua amplitude nos
interessa. Parece que, pelo fato de sermos engenheiros, estamos focados
somente nas áreas da Engenharia, mas não, nos interessamos por todas as
áreas do conhecimento.
NME: - Pode citar projetos do NETAv que já estão sendo utilizados pela Marinha do Brasil?
Prof. Dal Bello:
- Nós temos cinco projetos já executados, três em execução e três em
estruturação. Dos cinco projetos executados, podemos citar: 1º) o
"Simulador de Passadiço", para a Marinha Mercante, que já foi
apresentado em feiras e workshops. Hoje, a Marinha já utiliza
este simulador; 2º) o Projeto Verão 2013/2014, executado pelo Instituto
de Arte e Comunicação Social (IACS), que trata da segurança da navegação
com a finalidade de evitar acidentes com lanchas, jet-skis, entre
outros, em nossas praias. Desde que foi colocado em prática, já obteve
um grande índice de diminuição desses acidentes; 3º) o Projeto Dispositivos Submarinos de Monitoramento Acústico (DSMA). Dos
que estão em estruturação, temos: 1º) o Projeto Mitigação do Perigo
Aviário, que visa a evitar o choque de aves com aeronaves. Esse projeto
já foi apresentado à Marinha e estamos tendo sucessivas reuniões para
definição de fontes de recursos. Temos a perspectiva de executar esse
projeto em dois anos. 2º) Podemos citar, também, o projeto de
desenvolvimento da Holografia para atendimento de pacientes à distância,
ao qual chamamos de Telessaúde.
NME: - Para finalizar, poderiam citar algumas atividades realizadas pelo NETAv fora do ambiente universitário?
Prof. Dal Bello:
- Nós já fizemos várias visitas técnicas com nossos alunos. Dentre
elas, posso citar: ao Instituto de Pesquisas do Mar Almirante Paulo
Moreira (IEAPM), ao Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), ao
Navio Aeródromo São Paulo, com alunos de Telecomunicações, Mecânica,
Elétrica, entre outras Engenharias; e a visita técnica e pesquisadores e
alunos do Projeto Mitigação do Perigo Aviário à Base Aérea Naval de São
Pedro da Aldeia – BAeNSPA. No próximo dia 29 de agosto, faremos
nova visita ao Navio Aeródromo São Paulo no Arsenal da Marinha do RJ,
para a qual já estamos convidando alunos e professores de todas as
Engenharias que estejam interessados.
Fonte: Escola de Engenharia da UFF
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