terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Internet necessita de gentileza

A internet necessita de gentileza
 
Mascotes das Olimpíadas e das Paraolimpíadas de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro (Foto:Divulgação)
Mascotes das Olimpíadas e das Paraolimpíadas de 2016, que acontecerão no Rio de Janeiro (Foto:Divulgação)

No último domingo (23), durante o programa Fantástico, da rede Globo, foram apresentados os novos mascotes das Olimpíadas e das Paraolimpíadas de 2016, que fazem referências à fauna e à flora brasileiras. Eles ainda não possuem nomes, mas existem três opções para que o povo brasileiro escolha até o dia 14 de dezembro. E a Internet, mais uma vez, não perdoou. E foi rápida, como sempre.
Os nomes disponíveis são: Eba e Oba (palavras usadas quando estamos alegres), Tiba Tuque e Esquindim (lembrando a origem e a ginga do povo brasileiro) e Vinicius e Tom (em homenagem a grandes nomes da música brasileira: Vinicius de Moraes e Tom Jobim). Nas redes sociais – principalmente no Twitter – internautas começaram a reclamar, ainda durante a apresentação do programa, sobre as opções, revoltados. Mas quais seriam boas opções? Poucos arriscam dizer. A sugestão dada por um internauta para chamá-los de Crédito e Débito é engraçada, mas nem um pouco plausível.
Lembram-se de quando o nome Fuleco, da mascote da Copa de 2014 aqui no Brasil, foi escolhido? As reclamações também surgiram rápidas e rasteiras, não dando nem chance para quem inventou as opções de nome se explicar. Mesmo as opções sendo apresentadas e explicadas antes da votação, o fato é que nunca está bom. E provavelmente nunca estará. Mas por que será que isso acontece?
O anonimato na Internet ajuda bastante. É fácil ser valente em uma “terra de ninguém”, em que você pode falar – e ser ouvido – o quanto quiser, quando quiser, no tom que quiser. “O agressor usa a Internet para dar vazão a um lado da personalidade que não é mostrado na vida real. Isso se agrava quando ele encontra pares que pensam da mesma forma”, afirmou Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, a INFO.
O fato é que de pouco adianta reclamar na Internet sem propor nada construtivo. Então por que será que as pessoas continuam fazendo a mesma coisa, sempre? Nas redes sociais, o importante é dar uma opinião rápida e instintiva a qualquer acontecimento do mundo real, seja ela boa ou ruim.
Foi isso que a INFO mostrou na edição de maio de 2013, quando investigou o ódio na Internet. A reportagem citava uma pesquisa feita nos anos 1960 pelo psicólogo americano Lawrence Kohlberg. Ele desenvolveu uma teoria baseada em níveis de desenvolvimento moral. Sua intenção era avaliar o comportamento humano com base na análise dos fatores que levam uma pessoa a decidir por fazer algo certo ou errado. O pesquisador identificou seis estágios de comportamento em uma escala que vai do instinto mais básico, quando as pessoas só deixam de fazer algo errado por medo de uma possível punição, até o mais avançado, com indivíduos que tomam a decisão certa por acreditar no bem comum da sociedade e na ética.
“Boa parte das pessoas, quando conectadas, se comporta como se estivesse nos dois níveis mais básicos”, disse Luciene Tognetta, doutora em psicologia e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unicamp/Unesp, naquela oportunidade. “Os que ofendem podem ser pessoas normais na vida real, que seguem as regras por medo da punição. Mas na Internet, por não haver castigo, essa mesma pessoa passa a agir por impulso.”
Aqueles que reclamaram tanto dos nomes das mascotes não teriam a mesma postura se: 1) tivessem que escolher os nomes (sabendo que todo mundo reclamaria depois) ou 2) se não tivessem o anonimato a seu favor na Internet. Por mais que o nome ali seja real, a pessoa não está exatamente “dando a cara à tapa”. Talvez alguém responda no Twitter discordando, mas amanhã tudo estará bem novamente. Tudo não passará de um mal-entendido que cairá no esquecimento.
Mas, e se um amigo seu fosse o responsável pela criação das opções, será que você reclamaria com ele da mesma forma que faz nas redes sociais? Ou seria mais gentil, caso realmente falasse a verdade?
Os nomes estão aí, prontos para serem escolhidos. Não custa se colocar no lugar do outro e pensar que não é fácil acertar sabendo que a Internet inteira criticará, indubitavelmente.
Como já diria a escritora Eliane Brum: “Gentileza é o exercício cotidiano de vestir a pele do outro. É cuidar não de alguém, mas de qualquer um. Mesmo que ele não seja nosso parente, mesmo que seja um estranho. Cuidar por nada. Sem precisar de motivo. Cuidar por cuidar”.

Fonte: Info

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