Como a análise de dados na nuvem pode ajudar a vencer o câncer
Quando a atriz
Angelina Jolie descobriu que carregava uma mutação defeituosa do gene
BRCA1, seus médicos disseram que ela tinha 87% de chance de desenvolver
câncer de mama.
Foi o suficiente para que a americana optasse por uma dupla mastectomia em 2013 e reduzisse o risco para apenas 5%.Esse tipo de testagem genética agora pode ser feito mais rapidamente e a preços menores, dando a médicos a capacidade de planejar tratamentos com mais eficiência.
Combinado com a inteligência artificial e a computação em nuvem, o avanço tecnológico deu às companhias farmacêuticas as ferramentas para produzir drogas mais rapidamente e com maior chance de sucesso, bem como a oportunidade de médicos buscarem referência em padrões genéticos semelhantes antes de receitar tratamentos a pacientes com determinados tumores.
Genoma
Um beneficiário dessa nova abordagem é Eric Dishman, fundador do laboratório de pesquisas e inovação na área da saúde da empresa de tecnologia Intel.Quando tinha 19 anos, Dishman foi diagnosticado com uma forma rara de câncer de rim. Ficou em tratamento por 23 anos e estava prestes a começar a fazer diálise quando uma companhia de tecnologia ofereceu-se para fazer o sequenciamento de seu genoma para ele.
Isso o ajudou a identificar o gene falho causando o câncer. E permitiu que médicos avaliassem quais drogas poderiam ser mais eficazes. Aos 47 anos e em remissão, Dishman está determinado a ajudar outros pacientes de câncer a ter acesso ao mesmo tratamento.
"Meus médicos nunca tinham feito qualquer coisa com a sequência genética antes. Descobrimos que 92% das drogas que eu estava tomando não iriam funcionar, mas eles não sabiam disso".
Levou três meses para que os médicos analisassem seu genoma e outros quatro para comparar os resultados com pacientes similares em outros hospitais nos EUA.
Dishman queria acelerar esse processo, então fundou a Nuvem Colaborativa do Câncer (CCC, em inglês), uma iniciativa lançada no ano passado pela Intel em parceria com a Universidade de Ciência e Saúde do Oregon (EUA).
A CCC possibilita a hospitais e instituições de pesquisa compartilhar de forma segura o mapeamento genético de pacientes e outros dados clínicos para ajudar em descobertas possivelmente salvadoras.
"Estamos usando a nuvem de maneira muito diferente. Se você olha ao redor do mundo, os maiores centros de estudos do câncer compartilham dados de forma que pessoas possam colaborar em pesquisas. O problema é que apenas 4% dos dados estão disponíveis".
O objetivo do CCC é trazer os outros 96% para a equação e permitir que hospitais e centros de pesquisa compartilhem informações de maneira mais eficiente para encontrar tratamentos para pacientes com base em como indivíduos com os mesmos padrões genômicos reagiram a certas drogas.
A Intel e a Universidade de Saúde e Ciência de Oregon têm um projeto-piloto em parceria com outras duas instituições de pesquisas sobre o câncer. Mas já há a previsão de que outros 100 centros se juntem ao programa ainda neste ano, e os planos incluem expandir a plataforma internacionalmente. A nuvem pode também ser usada para pesquisar outras doenças baseadas em "genes defeituosos", como a distrofia muscular.
O CCC espera poder mostrar exatamente que drogas podem ser usadas com quais pacientes, mas ainda há outros remédios a serem descobertos. E a computação em nuvem também ajuda nesse processo: a chamada pesquisa in silico usa computadores para modelar e testar moléculas e compostos antes mesmo de eles chegarem a um laboratório do mundo real.
Um exemplo é a companhia Cloud Pharmaceuticals, baseada na Carolina do Norte (EUA), que desenvolveu uma plataforma combinando a computação em nuvem e a inteligência artificial para pesquisar novas matérias-primas para medicamentos.
"A descoberta e o desenvolvimento colaborativo de drogas podem ser gerenciados de forma segura através da nuvem", diz Ed Addison, diretor-executivo da Cloud Pharmaceuticals, para quem a plataforma não apenas pode acelerar o processo mas também diminuir o número de testes em animais.
No Japão, a companhia de tecnologia Fujitsu trabalha com a Universidade de Tóquio para usar a descoberta de drogas baseadas em tecnologia da informação para desenvolver princípios ativos de drogas anticâncer. Dos quatro estágios principais para a chegada de novas drogas no mercado, o segundo é o design e avaliação de síntese. É nessa área que a Fujitsu trabalha.
"A descoberta in silico permite o design de vários componentes que pessoas normalmente não produziriam", Nozomu Kamiya, diretor de sistemas de saúde da Fujitsu.
Isso permite à companhia estudar a eficácia de um medicamento antes mesmo de sua existência, segundo Kamiya.
Fonte: BBC
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