quinta-feira, 19 de maio de 2016

Lei de Moore está se esgotando, e tecnologia busca sucessores

Lei de Moore está se esgotando, e tecnologia busca sucessores


Zhukov Oleg/Shutterstock

Lei de Moore orientou as companhias dos gigantescos mainframes dos anos 60 aos smartphones atuais
Lei de Moore orientou as companhias dos gigantescos mainframes dos anos 60 aos smartphones atuais





Por décadas, a indústria da computação vem sendo orientada pela fé de que os engenheiros sempre encontrarão uma maneira de tornar os componentes dos chips de computadores menores, mais rápidos e mais baratos.

Mas a decisão de uma aliança mundial de fabricantes de chips de abandonar sua adesão à Lei de Moore, um princípio que orientou as companhias de tecnologia dos gigantescos mainframes dos anos 60 aos smartphones atuais, demonstra que o setor pode ter de repensar o preceito central do espírito de inovação do Vale do Silício.

Os cientistas dos chips estão quase chegando ao ponto de manipular materiais em escala de átomos. Quando atingirem esse limite, dentro de por volta de cinco anos, podem encontrar o limite para a redução dos semicondutores. Depois disso, talvez tenham de buscar alternativas ao silício, usado para produzir chips, ou novas ideias de projeto a fim de tornar os computadores mais poderosos.

Não há como exagerar a importância da Lei de Moore para o mundo. A despeito de soar oficial, ela não é de fato uma regra científica como as leis newtonianas do movimento. Em lugar disso, descreve o ritmo de mudança em um processo industrial que tornou os computadores exponencialmente mais acessíveis.

Em 1965, Gordon Moore, cofundador da Intel, observou que o número de componentes que podiam ser gravados na superfície de uma bolacha de silicone estava dobrando a intervalos regulares, e continuaria a fazê-lo pelo futuro previsível.

Quando Moore fez essa observação, os chips de memória mais densos abrigavam apenas mil bits de informação. Hoje, os chips de memória mais densos têm cerca de 20 bilhões de transistores. Para expressar de outra maneira, o iPad 2, que chegou ao mercado em 2011 com o preço de US$ 400 e cabe no colo de qualquer pessoa, tinha mais poder de computação que o mais poderoso supercomputador do planeta nos anos 80, um aparelho chamado Cray 2, que tinha mais ou menos o tamanho de uma máquina de lavar roupa industrial e custaria mais de US$ 15 milhões aos preços atuais.

E o iPad 2, é bom ressaltar, é lento comparado a modelos mais novos.

Sem essas notáveis melhoras, o setor de computadores atual não existiria. Os vastos centros de computação em nuvem operados por empresas como Google e Amazon seriam impossivelmente caros. Não existiriam smartphones com chips que permitem chamar um carro para voltar para casa, ou pedir um jantar delivery. E avanços científicos como a decodificação do genoma humano ou ensinar máquinas a ouvir não teriam acontecido.

Sinalizando sua crença de que a melhor maneira de prever o futuro da computação precisa ser alterada, as Associações da Indústria de Semicondutores dos Estados Unidos, Europa, Japão, Coreia do Sul e Taiwan produzirão um último relatório baseado em um sistema de previsão sobre tecnologia de chips chamado Mapa de Rota Internacional para a Tecnologia de Semicondutores.

Quase todos os grandes fabricantes de chips, entre os quais Intel, IBM e Samsung, são membros da organização, embora a Intel afirme não ter participado do mais recente relatório.

Para substituir o que o setor de semicondutores fez por quase 25 anos, uma organização profissional chamada Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos anunciou na quarta-feira que criará um novo sistema de previsão, chamado Mapa de Rota Internacional para Aparelhos e Sistemas, que terá por objetivo acompanhar uma gama mais ampla de tecnologias da computação.

Uma dessas tecnologias pode ser a chamada computação quântica, um reordenamento avançado da maneira pela qual os computadores trabalham que explora a física quântica, um ramo da física que explica como matéria e energia interagem. Outra poderia ser o grafeno, uma forma de carbono e alternativa ao silício capaz de produzir transistores menores e mais poderosos que consumirão menos energia.

"O fim da Lei de Moore foi o que conduziu a isso", disse Thomas Conte, cientista da computação no Instituto de Tecnologia da Geórgia e copresidente do esforço para estabelecer um novo conjunto de padrões de referência para substituir os relatórios sobre semicondutores. "Continuar confiando na indústria dos semicondutores não será suficiente. Temos de mudar e derrubar algumas muralhas, atravessar algumas barreiras".

Prever quando a Lei de Moore perderia a validade se tornou um jogo de salão no Vale do Silício, já há anos, e nem todo mundo no setor acredita que aquilo que essa lei veio a representar está chegando ao fim. A Intel, a maior fabricante mundial de chips, é notória adversária dessa interpretação, e prevê que disponha dos meios e do conhecimento necessários a empurrar o processo ao nível atômico.

Em uma declaração postada no site da empresa no mês passado, Brian Krzanich, o presidente-executivo da Intel, minimizou as preocupações.

"Sou testemunha de pelo menos quatro anúncios da morte da Lei de Moore", ele escreveu.

No entanto, a Intel enfrenta seus próprios problemas por conta de uma longa desaceleração na venda de computadores pessoais e de sua incapacidade de vender chips para os fabricantes de smartphones. No mês passado, a empresa anunciou planos de demitir 12 mil funcionários, cerca de 11% de sua força de trabalho, e de realizar uma provisão de US$ 1,2 bilhão para cobrir as despesas a isso relacionadas.

A indústria viu sinais de que a Lei de Moore estava perdendo impulso já em 2005, quando pesquisadores começaram a se preocupar com o fato de que a temperatura dos processadores estava se tornando tão alta que eles em breve equivaleriam à superfície do sol em termos de geração de calor.

Mas o setor conseguiu resolver o problema, concentrando suas atenções menos em ganhar velocidade e em lugar disso dividir tarefas entre muitos processadores. Na prática, os fabricantes controlaram a temperatura dividindo a carga de tarefas.

Ao deixar de lado uma tarefa que haviam administrado por tanto tempo, outras montadoras que não a Intel —a gigante do Vale do Silício diz que não está mais contribuindo formalmente para o processo de previsão—estão propondo questões mais amplas quanto aos seus negócios.

"Enquanto você vê a Intel dizendo que a indústria de computadores está se desacelerando e vê os primeiros sinais de desaceleração na computação móvel, as pessoas começam a procurar por novos lugares em que colocar semicondutores", disse David Kanter, analista do setor de semicondutores na Real World Technologies, de San Francisco.

Além da aproximação iminente dos limites físicos para os semicondutores, outras barreiras também estão surgindo. Por exemplo, a maior parte da indústria de semicondutores insiste agora que o custo por transistor dos chips de computadores parou de cair. Esse vinha sendo um dos fatores que levaram ao rápido desenvolvimento de novas tecnologias de computação.

Muitos executivos e analistas do setor de computação estão céticos quanto à capacidade da Intel para manter a validade da Lei de Moore. Apontam que, se a fabricante fosse capaz de continuar a reduzir custos, teria conseguido mais espaço no mundo dos smartphones e da computação móvel. Como parte de seus recentes cortes de despesas, a empresa eliminou seus microprocessadores Atom, que vinha tentando sem sucesso vender aos fabricantes de smartphones.

"Se todo o seu negócio girasse em torno da Lei de Moore e ela estivesse por perder a validade, como você reagiria?", escreveu Conte em um e-mail. 

Fonte: Folha de São Paulo

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