Estudo revela como a poluição luminosa
afeta nossa observação do céu noturno
Por Redação | em 14.06.2016 às 21h42
Como sabemos, nossos antepassados utilizavam o céu da noite para se
orientarem e conseguirem respostas para várias dúvidas, principalmente
as referentes a localizações geográficas. Até mesmo hoje, há quem
desbrave os mares ou todo o universo utilizando nada mais que a
observação de astros para se localizar. Mas a grande barreira causada
pela poluição luminosa é o que nos impede de olhar para os céus e nos
deslumbrar vendo as outras partes da galáxia.
Segundo uma matéria publicada pelo jornal virtual DailyDot, mais de um
terço do planeta não consegue ver o céu da noite como ele realmente é. E
isso deixa muitos curiosos e estudiosos da atualidade um tanto quanto
frustrados.
Segundo estudos recentes do Centro Nacional de Informações Ambientais
(NCEI, nos EUA), 80% da população que vive na América do Norte e 60% de
todos os habitantes da Europa não conseguem ver os braços da Via Láctea e
as estrelas que ela possui. O bloqueio é causado principalmente pela
poluição luminosa: de acordo com os mesmos estudos, 80% do mundo e 99%
dos EUA sofrem de uma iluminação artificial que dificulta a visão das
estrelas à noite.
Poluição Luminosa
(Foto: Reprodução/Pinterest)
E o motivo pelo qual as luzes artificiais atrapalham a visão do céu
estrelado tem explicação: é o chamado "efeito SkyGlow". Basicamente, os
postes de iluminação e outras formas de poluição luminosa acabam
criando um brilho no céu das grande cidades, e é como se todas fossem
dotadas de grandes faróis apontados para cima e emitissem feixes de luz
todas as noites. Como estamos muito mais próximos dessa fonte de luz,
ela acaba obstruindo a visão de qualquer estrela, assim como a luz do
Sol faz durante o dia.
Enquanto nos EUA ainda existem partes com menor densidade populacional
onde é possível ver o restante da galáxia durante a noite,
principalmente no oeste do país, os pesquisadores descobriram que a
Europa está completamente tomada pela poluição luminosa. Com o uso das
informações publicadas pela NCEI, o Instituto Cooperativo para Pesquisa
do Meio Ambiente (CIRES) criou um mapa interativo mostrando como as
grandes cidades do mundo inteiro estão sendo afetadas por luzes
artificiais muito fortes. Nele é possível ver como Paris, Nova Iorque e
até mesmo São Paulo apresentam níveis bastante altos de poluição causada
pela luz.
Ainda assim, o artigo também declara que uma boa parte do mundo não é
afetada pelo problema de forma direta; lugares como a Groenlândia, a
República Centro-Africana, a ilha neozelandesa de Niue e até mesmo a
Somália possuem um céu 100% limpo de obstáculos luminosos,
característica causada pela baixíssima densidade populacional desses
lugares e também pelo desenvolvimento tecnológico inexistente nessas
cidades.
Poluição Luminosa
À esquerda temos um céu ideal para observação noturna, à direita temos
um céu iluminado e com o efeito 'SkyGlow' citado pelos cientistas
(Foto:
Reprodução/Wikipedia)
A poluição luminosa não é um problema novo e muito menos é algo
passageiro: para os pesquisadores do NCEI, em cerca de alguns anos a
maioria das paisagens que não sofre com o mal das luzes artificiais
passará a lidar com essa questão indiretamente. Isto porque não é
necessário ter luz em um determinado local para que o céu seja
obstruído: a forte iluminação presente em Las Vegas, por exemplo,
consegue afetar até mesmo quem está no Parque do Vale da Morte, que fica
na Califórnia a mais de 160 quilômetros de distância da cidade.
Para complementar tudo isso, os dados compilados pelo DailyDot afirmam
que o problema em não ver o céu da noite como ele realmente é pode
trazer sérios problemas à saúde humana: uma iluminação artificial muito
ostensiva durante a noite quebra o ciclo natural onde nossa espécie
viveu por milhares de anos. Os efeitos disso estariam em distúrbios do
sono e distúrbios alimentares, dois problemas extremamente comuns em
populações urbanizadas. Em Cingapura, que é o país com os maiores níveis
de poluição luminosa, o olho humano sequer consegue se adaptar
completamente à noite, porque as luzes públicas e de letreiros pela
cidade não permitem isso. Algo completamente bizarro.
Poluição Luminosa
Em 2013 um fotógrafo norte-americano simulou com ajuda do Photoshop como
seriam paisagens modernas sem os problemas da poluição luminosa, a
imagem é do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/Thierry Cohen)
Enquanto os céus parecem iluminados demais agora, ainda há motivos para
termos esperança de ver o brilho da Via Láctea mais uma vez: isto porque
as grandes cidades estão adquirindo maior consciência energética e
estão substituindo as lâmpadas incandescentes por LEDs com iluminação
direta. Essa tecnologia é capaz de iluminar melhor curtas distâncias
utilizando menos energia e sem criar o efeito "SkyGlow", culpado pelos
principais problemas da poluição luminosa. Até mesmo a França, que tem
em sua capital o título de "Cidade Luz", decretou uma lei que obriga a
administração das metrópoles a adotar formas de iluminação mais
inteligentes e que consequentemente causem menor impacto no ciclo
natural de dia e noite.
Embora a tecnologia seja a grande causa desse problema como um todo, é
válido lembrar que ela também pode ser a solução. É praticamente
impossível reduzir a iluminação artificial noturna porque isso afetaria
todos os aspectos da humanidade moderna e viraria nossas vidas de cabeça
para baixo. O máximo que pode ser feito é tentar adotar métodos menos
danosos a nós mesmos. Se utilizarmos iluminação inteligente e eficiente,
é muito provável que consigamos isso num futuro não tão distante.
Fonte: Canaltech
Fonte: Canaltech
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