No futuro, papel higiênico será a única coisa desconectada, diz 'guru da segurança digital'
É com uma frase meio exagerada que Eugene Kaspersky, especialista em
segurança digital, resume a capacidade atual da internet das coisas, com
toda essa quantidade de dispositivos inteligentes, de celulares e
carros a máquinas de lavar.
"O papel higiênico será a única coisa não conectada no futuro", exagera
o fundador da fabricante de antivírus russa Kaspersky, durante evento
com jornalista latino-americanos, em Moscou, nesta terça-feira (6).
Yevgeny Valentinovich Kaspersky, nome real de Eugene, é um analista e
executivo de 51 anos, nascido em Novorossiysk, Rússia. Após se formar em
um instituto patrocinado pelo Ministério de Defesa Russo e pela KGB, a
polícia secreta russa, Eugene começou a se interessar mais por
cibersegurança em 1989. Fundou a empresa de antivírus Kaspersky Lab, em
1997. Os clientes em mais de 200 países da empresa, que protege 400
milhões de usuários, levaram Eugene à condição de reconhecida fonte
quando o assunto é cibersegurança.
"Para vivermos em um mundo melhor, precisamos fazer o 'redesign' de
tudo. Precisamos recriar sistemas que sejam à prova de hackers. Eles têm
que ser 100% seguros", avisa o especialista. "Internet das coisas é
internet das ameaças", resume, fazendo um trocadilho em inglês com as
palavras "things" ("coisas") e "threats" ("ameaças").
Eugene comenta o que se convencionou chamar de internet das coisas, um
passo adiante no mundo conectado, em que aparelhos eletrônicos, até
então off-line, são ligados à internet para ganhar novas funções. Com
isso, geladeiras fazem compras online quando notam a falta de um
produto, carros traçam rotas da casa para o trabalho e termostatos
ajustam a temperatura de um ambiente sem receber novos comandos.
Para ele, ainda não se sabe usar TVs e outros tantos aparelhos de
maneira segura. "É como a Idade Média", compara. "As pessoas estavam
misturando os elementos tentando fazer ouro. Eles não sabiam dos átomos,
da química, era a Idade Média né? É o que vivemos hoje com a
tecnologia. Estamos salvos, mas não seguros".
Ruas x ciberespaço
Para Kaspersky, é menos seguro trafegar pelo ciberespaço do que andar
por uma rua qualquer pelo mundo. Segundo dados da empresa dele, 62% das
pessoas já sofreu algum ataque de hacker.
"Vamos comparar esses dados com os crimes na rua? não estou falando do
Rio de Janeiro...", brinca, dando risada. "Quantas pessoas são vítimas
normalmente? 5%, 10% mais ou menos. 15% em uma cidade mais perigosa",
arrisca. "As gangues do cibercrime estão cada vez mais profissionais e
conseguem atacar até quem se protege", explica.
Ele tem outras cifras para provar seu ponto. Entre 1986 e 2006, foram
catalogados 1 milhão de malwares. Em 2016, já foram detectados 2.2
milhões, sendo 310 mil por semana.
"Espero que em 200 anos estejamos mais seguros. Ok, daqui a 20 ou 25
anos talvez estejamos", analisa. Eugene tem ainda outra coisa a
acrescentar. Não quer estar vivo no momento em que as pessoas
conseguirem conectar seus próprios corpos. Sem essa de chip instalado no
pescoço, por favor.
Fonte: G1 Tecnologia
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