quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Poluentes tóxicos são achados no lugar mais profundo dos oceanos

Poluentes tóxicos são achados no lugar mais profundo dos oceanos

Descoberta mostra que nem as áreas mais remotas estão a salvo do impacto que a humanidade tem sobre o Planeta


São Paulo – A poluição é uma inimiga implacável, que não encontra barreiras. Nem os lugares mais remotos do Planeta e os seres que neles habitam estão a salvo. Prova disso é um novo estudo liderado pela universidade de Newcastle, na Austrália,  que encontrou níveis “extraordinários” de substâncias químicas tóxicas de origem industrial no ponto mais profundo dos oceanos, a fossa das Marianas, um abismo que atinge 11 quilômetros de profundidade no Pacífico.
O que mais assustou os cientistas foi verificar que as criaturas marinhas que vivem no local possuem níveis “extremamente altos” dessas substâncias nas camadas de gordura de seu corpo, semelhantes aos encontrados na Baía de Suruga, no Japão, uma zona industrial altamente poluída.
A equipe analisou amostragens de anfípodes, pequenos crustáceos popularmente chamados de “pulgas do mar”, e encontrou dois tipos de substâncias tóxicas acumuladas em seus organismos: bifenilos policlorados (PCBs) e éteres difenílicos polibromados (PBDEs).
Elas pertencem a um grupo de substâncias químicas altamente perigosas conhecidas como Poluentes Orgânicos Persistentes, ou simplesmente POPs, liberadas no meio ambiente por meio de acidentes e descargas industriais e pela fuga de resíduos químicos de aterros e lixões.
Por não degradarem naturalmente no ambiente (daí a designação “persistente”) essas substâncias deixam um rastro de contaminação por todo o mundo, enquanto os oceanos, por sua imensidão, acabam funcionando como um coletor potencial para poluentes e lixo que são rejeitados nas águas.
Amostragem de anfípodes contaminados por poluentes tóxicos nas fossas de Mariana.
Amostragem de anfípodes contaminados por poluentes tóxicos na fossa das Marianas. (Dr. Alan Jamieson/Reprodução)

Um legado devastador
Os PCBs são um dos poluentes orgânicos persistentes com maior potencial de toxidade no mundo. Durante muito tempo, eles foram usados na área industrial como estabilizante de diversas formulações de plásticos e borrachas especiais, principalmente PVC.
Devido à resistência às altas temperaturas, essas substâncias também foram largamente utilizadas como isolantes térmicos, para reduzir riscos de incêndio em transformadores e subestações elétricas, em aparelhos elétricos antigos.
Desde a década de 1930 até quando os PCBs foram proibidos na década de 1970, a produção global total desses produtos químicos atingiu cerca de 1,3 milhão de toneladas.
Os éteres de difenila polibromados (PBDEs) são amplamente utilizados como retardadores de chama para proteger móveis, tapetes e roupas, entre outros artigos. Estudos sugerem que eles podem ser neurotóxicos e causar déficts de desenvolvimento neurológico em crianças com o aumento da exposição durante a gravidez, tanto que, nos últimos anos, o uso de alguns deles já foi banido ou reduzido.
Análises da Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA, na sigla em inglês) encontraram vestígios da substância no ar e poeira de casas e escritórios, em alimentos de origem vegetal e animal e até no leite materno. Essa contaminação, entretanto, não se restringe às cidades.
A poluição criada pelo homem não encontra barreiras e atinge os cantos mais distantes da Terra. “Ainda consideramos o oceano profundo como sendo um reino remoto e imaculado, protegido do impacto humano, mas nossa pesquisa mostra que, infelizmente, isso não poderia estar mais longe da verdade”, afirma o principal autor do estudo, Dr. Alan Jamieson, da Escola de Ciência e Tecnologia Marinha na Universidade de Newcastle, em comunicado à imprensa.
“O fato de termos encontrado níveis tão extraordinários desses poluentes em um dos habitats mais remotos e inacessíveis da Terra realmente mostra o impacto devastador a longo prazo que a humanidade está tendo no planeta”, diz. “Não é um grande legado que estamos deixando para trás”.
O estudo foi publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution. O próximo passo é entender as consequências dessa contaminação e quais os efeitos para o ecossistema marinho.

Fonte: EXAME

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