Cientistas documentam
entrada de plástico na cadeia alimentar terrestre
EFE Luis
Lidón Viena
25 abr
2017
EFE/QILAI
SHEN
Uma
equipe de cientistas mexicanos e holandeses documentou pela primeira vez a
entrada de microplásticos na cadeia alimentar terrestre, graças a um estudo de
campo desenvolvido na reserva da biosfera de Los Petenes (México).
Apesar de
há anos existirem estudos sobre a entrada do plástico na cadeia alimentar
marinha, este seria o primeiro a documentar o fenômeno no entorno terrestre,
segundo explicou nesta terça-feira à Agência Efe a cientista mexicana Esperanza
Huerta.
Huerta,
do centro de pesquisa El Colégio da Fronteira Sul, em Campeche, apresentou hoje
em Viena na reunião da União Europeia de Geociências o resultado do estudo
desenvolvido junto à Universidade de Wageningen, de Holanda.
A
pesquisadora expôs que devido à falta de recolhimento e gestão dos plásticos,
os habitantes da zona de Los Petenes os queimam e enterram no chão de suas
hortas, o que aumenta o risco de microfragmentação.
Para
avaliar a situação, os pesquisadores analisaram em setembro o solo, as
minhocas, bem como as fezes e as moelas de galinhas domésticas de dez hortas
nessa reserva mexicana.
Assim,
foi possível documentar a presença de plásticos de diminuto tamanho na terra,
dentro das minhocas e nas fezes e moelas das galinhas analisadas, o que pode
supor um risco para a saúde humana.
"Este
é o primeiro trabalho feito em sistemas terrestres que mostra como o plástico
entra na cadeia alimentar", explicou Huerta.
"Não
sei por que não foi feito antes, acredito que talvez não houve consciência para
fazê-lo", acrescentou a pesquisadora, que considerou que as pessoas não
sabiam de seu potencial perigo.
Huerta
indicou que as minhocas, ao digerirem o plástico, ajudam também a fracioná-lo e
essa substância depois passa às galinhas que se alimentam delas.
As
galinhas se contaminam diretamente porque beliscam plásticos que estão aderidos
restos de comida, segundo expôs.
Huerta
assegurou que, dado que Los Petenes é uma reserva da biosfera e seus habitantes
recebem educação ambiental, é possível que em outros entornos a situação seja
inclusive pior.
O grande
problema para a pesquisadora é o costume de queimar os plásticos, o que agrava
a contaminação.
"Pensam
que ao queimá-lo resolveram o problema. Mas a situação é que então é acessível
aos invertebrados do chão e se for acessível para eles, é também para o resto
da cadeia alimentar. Para as galinhas, por exemplo. E as pessoas comem
galinhas", resumiu.
Huerta
indicou que nas moelas de galinha analisadas encontraram concentrações de
microplásticos e que esse órgão é utilizado em diferentes pratos mexicanos.
A
pesquisadora apontou que as pessoas com as quais falou confessaram não limpar
as moelas por dentro, que somente as lavavam por fora e depois as coziam, uma
prática que tem efeito preocupante.
Sobre o
possível efeito do consumo de plástico que entrou na cadeia alimentar na saúde
humana, a pesquisadora indicou que são necessários mais estudos a respeito, mas
o considerou um "grande risco".
Huerta,
que é especialista no estudo de minhocas, expôs que, dependendo da concentração
e do tempo de exposição ao plástico, a mortalidade desses invertebrados aumenta
de forma clara e sua fertilidade se reduz.
A
pesquisadora concluiu sublinhando que, embora o acesso ao plástico melhorou a
vida das pessoas, sua escassa degradação é um grande problema e deveria haver
algum tipo de regulamento internacional para evitar doenças.
Fonte: EFE
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