Torre Alta está produzindo dados estratégicos sobre clima na Amazônia, afirmam cientistas
Com o fim da
primeira etapa de estudo, pesquisadores brasileiros vão realizar
medições da atmosfera a partir de outubro para compreender o
funcionamento do ecossistema amazônico e as mudanças climáticas.
Por Ascom do MCTIC
Publicação:
24/05/2017 | 11:10 Última modificação: 24/05/2017 | 11:22
Observatório
da Torre Alta da Amazônia (Atto, na siga em inglês) é uma estrutura de
325 metros de altura erguida no meio da floresta.
Crédito: Ascom/MCTIC
Crédito: Ascom/MCTIC
Ao longo dos últimos três anos, uma equipe de pesquisadores coletou medidas sobre o funcionamento do ecossistema amazônico a 65 e 80 metros de altura e encontrou resultados inéditos, como episódios de transporte de poeira do Saara para a floresta. Essa etapa foi concluída este mês. Agora, a equipe, liderada pelos cientistas Paulo Artaxo e Niro Higuchi, vai realizar medições da atmosfera e do clima do Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto, na siga em inglês), uma estrutura de 325 metros de altura erguida no meio da floresta.
"Nesta primeira etapa encontramos resultados inéditos. Pela primeira vez, foram quantificados os episódios de transporte de poeira do Saara com medidas em solo, já que as determinações anteriores eram feitas com medidas de satélites muito menos precisas e sem especificidade. Também foram realizadas medidas de compostos orgânicos voláteis, caracterizando emissões da copa das árvores e, pela primeira vez, foram detectadas emissões de sesquiterpenos [composto de hidrocarbonetos encontrados em plantas e animais] por bactérias no solo, resultado também inédito. Além disso, estão sendo feitos estudos para calcular o quanto a taxa de absorção de carbono pela floresta depende da deposição de ozônio e de aerossóis na atmosfera", explicou o pesquisador Paulo Artaxo, presidente do Comitê Científico do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).
As descobertas dos pesquisadores vão desde as medidas de metano, dióxido de carbono, ozônio e outros gases de efeito estufa aos efeitos dos aerossóis no balanço radiativo. Na nova etapa, os pesquisadores poderão verificar as variações encontradas na floresta de acordo com a altitude.
"A medida de compostos atmosféricos em uma altura de 325 metros permite que o raio de influência passe de algumas centenas de metros para centenas de quilômetros, aumentando a abrangência das medidas. Isso é importante, pois a alta biodiversidade da floresta faz com que emissões possam ser diferentes para cada região. Quando fazemos uma média de medidas de fluxos de gases como CO2 sobre uma região maior, temos menos influência regional e maior representatividade da medida", disse Artaxo.
De acordo com ele, no entanto, somente a partir de outubro, os estudos da interação biosfera e atmosfera serão iniciados utilizando a totalidade dos instrumentos do Atto. "Muito conhecimento já foi produzido concomitante à instalação da torre principal ao longo dos últimos três anos, mas somente a partir de outubro os estudos serão iniciados utilizando o conjunto total de torres e instrumentos do projeto. A expectativa é proporcionar verdade de campo robusta e contínua relacionada com os ciclos biogeoquímicos, processos ecofisiológicos abaixo e acima do solo e química da atmosfera de uma amostra importante de floresta tropical na Amazônia Central. O mundo, o Brasil, inclusive, se beneficiará com a diminuição de incertezas do estoque de carbono na Amazônia e de aprimoramentos dos modelos climáticos globais decorrentes de processos que estão sendo descobertos no Atto e que são importantes em todas as regiões tropicais do planeta", afirmou.
Mitigação
Dotada de instrumentos para fazer medições e coleta de dados, a Torre Atto é um projeto do Brasil em parceria com a Alemanha, implementado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Instituto Max Planck de Química e de Biogeoquímica e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O investimento foi na ordem de R$26 milhões, divididos em 50% para cada governo.
Para Niro Higuchi, equipamentos como a Torre Atto podem contribuir para implementação de políticas e ações de controle nacionais com ressonância em todo o mundo em prol do meio ambiente e da biodiversidade.
"O Laboratório Atto está produzindo dados estratégicos para que o Brasil possa implementar políticas sólidas baseadas em ciência na preservação da Amazônia. Com esses resultados, o Brasil poderá se apoiar cientificamente na atualização, a cada cinco anos, da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, sigla em inglês), que integra o Acordo de Paris. Com melhores parametrizações, os modelos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [Inpe] e os modelos climáticos globais terão suas incertezas reduzidas e auxiliarão o Brasil a implementar políticas de adaptação coerentes e sólidas, baseadas em ciência", disse.
Na avaliação dos pesquisadores, a ciclagem de carbono associada aos fluxos de água e energia são, certamente, os temas principais que a Torre Atto auxiliará a entender melhor.
"Mais especificamente: monitoramento regional do balanço de gases de efeito estufa para ligar às redes globais de observação e monitoramento; quantificação dos balanços de energia e água e melhora das trocas verticais de modelos estatísticos; identificação das fontes de aerossóis e compostos orgânicos voláteis e as suas influências no clima; e quantificação dos fluxos bióticos e ambientais para entender as causas da variabilidade e tendências nas fontes e sumidouros de gases biogeoquimicamente relevantes", acrescentou Higuchi.
Artaxo ressaltou que o desafio contínuo é manter o laboratório em pleno funcionamento. "Acreditamos que o Brasil dará um passo importante e essencial na pesquisa amazônica com a implementação e manutenção deste laboratório no coração da Amazônia. Nosso grande desafio é manter este laboratório em pleno funcionamento, continuamente e a longo prazo. Isso é essencial para o país e ajudará em muito a entender e combater as mudanças climáticas em nosso planeta".
Fonte: MCTIC
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