Ondas de calor mortais
seguirão aumentando por emissões de gases, diz estudo
EFE Londres
19
jun 2017
EFE/José
Méndez
Um estudo
publicado nesta segunda-feira pela revista britânica "Nature" aponta
que 74% da população mundial estará exposta a ondas de calor mortais até 2100
se as emissões de gases do efeito estufa continuarem crescendo ao ritmo anual.
A
pesquisa, desenvolvida pela Universidade do Havaí (EUA), prevê que, mesmo se as
emissões forem reduzidas drasticamente, cerca de 48% da população será afetada
pelo brusco aumento da temperatura.
"Estamos
esgotando as nossas chances com relação ao futuro. A respeito das ondas de
calor, as nossas opções se situam agora entre as más e as terríveis",
explica o autor principal deste estudo, Camilo Mora.
O
especialista indica que as ondas de calor já estão causando a morte de milhares
de pessoas no mundo todo e lembra que os modelos de previsão sugerem que,
"provavelmente", esta situação se manterá no futuro, ainda que
sustente que "pode ser muito pior se não houver uma redução considerável
das emissões".
"O
corpo humano só pode funcionar dentro de uma estreita categoria de temperaturas
corporais de cerca de 37 graus centígrados. As ondas de calor apresentam um risco
considerável para a vida humana porque as altas temperaturas, agravadas por uma
umidade alta, podem elevar a temperatura corporal e criar condições que colocam
a vida em perigo", diz Mora.
A
temperatura corporal humana ótima é de 37 graus, mas o nosso metabolismo gera
calor e esse calor não pode se dissipar no ambiente quando a temperatura
exterior é igual ou superior à do corpo.
A partir
disso, em temperaturas acima dos 37 graus centígrados pode ocorrer um acúmulo
de calor no corpo que provoca um perigoso aumento da temperatura corporal
ideal, ressalta o estudo.
A equipe
de pesquisa de Mora realizou uma extensa revisão de dados disponíveis e
identificou mais de 1,9 mil casos localizados em diferentes partes do mundo,
onde as altas temperaturas ambientais deixaram vítimas mortais desde 1980.
Ao
analisar as condições climáticas e a data de 783 episódios de ondas de calor
letais, os especialistas detectaram a existência de um umbral de temperatura e
umidade que provoca mortes quando é ultrapassado.
A área do
planeta onde as condições climáticas superaram esse umbral durante 20 ou mais
dias por ano aumentou durante os últimos anos e os cientistas acreditam que
seguirá crescendo inclusive se houver uma redução das emissões de gases de
efeito estufa.
Atualmente,
em torno de 30% da população mundial está exposta a estas condições letais a
cada ano, alerta o relatório da Universidade do Havaí.
Entre os
exemplos apresentados pelos especialistas figura a onda de calor que castigou a
Europa em 2003 e que causou aproximadamente 70 mil mortes, a que afetou Moscou
(Rússia) em 2010 e que acabou com a vida de 10 mil pessoas e a de Chicago em
1995, que chegou a 700 vítimas mortais.
Além
destes casos extensamente documentados no momento certo, a comunidade
científica tinha até agora pouca informação sobre a assiduidade com a qual
ocorrem ondas de calor letais no nosso planeta.
Para
resolver essa incógnita, este grupo de especialistas, em colaboração com
colegas em outras partes do mundo, examinaram mais de 30 mil publicações
relevantes e encontraram 911 relatórios com dados sobre 1.949 casos de estudo
de cidades ou regiões onde ocorreram mortes vinculadas às altas temperaturas.
De todos
os casos, obtiveram datas de 783 ondas de calor letais registradas em 164
cidades em 36 países, a maioria situadas em zonas desenvolvidas e em latitudes
médias, como Nova York, Los Angeles, Chicago, Toronto, Londres, Pequim, Tóquio,
Sydney e São Paulo.
Todas
elas, descobriram os cientistas, compartilham um umbral de temperatura e
umidade que se traspassado pode ser mortal.
"O
achado de um umbral, que ao ser ultrapassado, faz com que as condições
climáticas sejam letais é importante desde o ponto de vista científico e, ao
mesmo tempo, aterrorizante", diz Farrah Powell, um dos coautores deste
estudo.
Os
pesquisadores criaram também um site
(https://maps.esri.com/globalriskofdeadlyheat/) que permite contar, em qualquer
lugar do planeta, o número de dias por ano nos quais a temperatura e a umidade
superam esse limite mortal.
"Com
este umbral podemos identificar condições que são ruins para as pessoas. Dado
que está elaborado a partir de casos reais documentados ao redor do mundo, o
faz ser mais relevante. O aterrorizante é o fato de essas condições letais
serem comuns", acrescenta Powell.
Fonte: EBC
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