segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Como cientistas 'enganaram' plantas para fabricar vacina contra a pólio

Como cientistas 'enganaram' plantas para fabricar vacina contra a pólio

18 agosto 2017
Direito de imagem Centro John Innes
Tabaco 
Descoberta feita em estudo com planta do tabaco pode transformar produção de vacinas
Uma pesquisa em que plantas foram "enganadas" para a produção da vacina da poliomielite (paralisia infantil) pode transformar a forma de fabricação de imunizantes, dizem cientistas do Centro John Innes, na Inglaterra. Segundo a equipe, o processo é barato, fácil e rápido.
Além de ajudar a eliminar a pólio, a abordagem poderia ajudar o mundo a reagir de forma mais imediata contra ameaças inesperadas como o vírus da zika ou o ebola, afirmam eles.
A vacina usa partículas que imitam o vírus da pólio. Do lado de fora, elas são quase idênticas a ele, mas - como a diferença entre um manequim e uma pessoa - estão vazias por dentro.
Os cientistas dizem que as partículas têm as características necessárias para treinar o sistema imunológico, mas não tem armas para causar uma infecção.

Fábrica na planta

Os cientistas "enganaram" o metabolismo da planta do tabaco para servir de "fábrica" da vacina.
Primeiro, eles precisavam criar novas instruções para a planta seguir.
Para isso, usaram o código genético do vírus da pólio para fabricar a parte externa da partícula. E combinaram esse material com informações de um vírus do solo que infecta plantas como a do tabaco.
Com a infecção em curso, as plantas então leram as novas instruções genéticas e começaram a fabricar partículas similares ao vírus.
As folhas infectadas eram misturadas com água, e a vacina da pólio foi extraída.
As partículas similares ao vírus preveniram a pólio em experimentos com animais, e uma análise de sua estrutura de 3D mostrou que eles eram quase idênticos ao vírus da poliomielite.
Direito de imagem Diamond Light Source
Virus like particle 
Imagem da partícula que imita o vírus, feita pelo Diamond Light Source
"Elas são cópias incrivelmente boas", afirmou à BBC Newso professor George Lomonossoff, do Centro John Innes. "É uma tecnologia muito promissora. Espero que tenhamos vacinas produzidas a partir de plantas num futuro não tão distante."
A pesquisa é financiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como parte dos esforços para achar um substituto à vacina da pólio. A doença - que pode causar paralisia permanente - não é uma ameaça para a maior parte do mundo, mas a infecção ainda não foi erradicada.
E usar um vírus da pólio enfraquecido, como ocorre nas vacinas atuais, representa um risco de ele readquirir algumas de suas características perigosas.
"As atuais vacinas da pólio são produzidas a partir de grandes quantidades de vírus vivos, que podem ser uma ameaça se houver um escape acidental e uma reintrodução (da doença)", comentou Andrew Macadam, cientista chefe do Instituto Nacional para o Controle e Padrões Biológicos do Reino Unido.
"Esse estudo nos coloca mais próximos de substituir a atual vacina da pólio, e nos dá uma opção barata e viável para produzir vacinas com base em partículas semelhantes ao vírus."

Grande potencial

Mas essa tecnologia não é limitada à pólio ou nem sequer a vacinas.
Se os pesquisadores tiverem decodificado a sequência correta de um código genético de um agente nocivo, eles podem produzir vacina para quase qualquer vírus.
Plantas já são sendo foco de pesquisa para servirem como fonte para a vacina da gripe, por exemplo. Hoje essa vacina é cultivada em ovos de galinha e leva meses para se desenvolver.
E também foram usadas plantas para fabricar anticorpos como os da terapia contra o câncer.
"Num experimento com uma empresa canadense, eles mostraram que você pode identificar uma nova cepa de vírus e produzir um candidato a vacina em três ou quatro semanas", contou Lomonossoff.
"(A técnica também) tem o potencial de servir para a fabricação de vacinas contra epidemias emergentes, como as que tivemos da zika ou do ebola", acrescenta. "Ela responde rapidamente, e essa é uma das grandes vantagens da tecnologia."
As plantas crescem rapidamente e precisam apenas de luz do sol, solo, água e dióxido de carbono para se desenvolver. Isso significa que poderia ser uma solução barata e sem grande tecnologia para a produção de vacinas.
Mas ainda há questões a resolver, como a de fabricar a vacina em larga escala. Outra questão é se há qualquer risco de se usar plantas para fazer a vacina - será que há nicotina na vacina que usa a planta da família do tabaco, por exemplo?
"Entretanto, há poucos produtores de vacina com base em plantas e quase não há licenças de vacinas humanas que estão hoje sendo produzidas em plantas", lembrou o professor de desenvolvimento de vacina da University College London, Tarit Mukhopadhyay.
Já o professor de biotecnologia na Universidade do Sul de Gales, Denis Murphy, disse: "Essa é uma conquista importante. O desafio é agora optimizar o sistema de expressão da planta e seguir para testes clínicos (em humanos) da nova vacina". 

Fonte: EBC

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