terça-feira, 31 de outubro de 2017

A ciência no Brasil é a que cabe no bolso

A ciência no Brasil é a que cabe no bolso


A cientista Suzana Herculano- Houzel critica o atraso da política para pesquisas e afirma que falta tecnologia básica no Brasil
A cientista carioca Suzana Herculano-Houzel criou uma técnica de contagem de neurônios inédita no mundo. Em 2016, sem verbas para continuar sua pesquisa no Brasil, ela aceitou um convite da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos. Suzana conversou com EXAME sobre o atraso brasileiro em pesquisa científica.

A senhora saiu do Brasil para conseguir acesso a ferramentas necessárias ao desenvolvimento de seu trabalho de pesquisa?
Claro. Aqui, nos Estados Unidos, eu posso fazer meu trabalho. No Brasil, eu não conseguia.

O Brasil ficará para trás nas técnicas de pesquisa do cérebro?
Faz muito tempo que o Brasil não tem uma politica de investimento em ciência. Eu nem sei se em algum momento já teve uma. Isso quer dizer muito mais do que ter um orçamento. O que eu via era uma política de sobrevivência e de fazer números de alunos enviados ao exterior por meio do programa Ciência Sem Fronteiras, número de doutores recém-formados. Mas isso não mantém algo que é possível ser chamado de ciência.

Havia muita perda de tempo em busca de bolsas de financiamento para pesquisa?
Procurar bolsas e escrever projetos não é o problema. Isso faz parte do jogo em todos os países. O problema é que, no Brasil, as questões científicas ficam limitadas pelos recursos. É quase suicida tentar embarcar num projeto de pesquisa que necessite de alta tecnologia. Até mesmo de reagentes moleculares, que nem são tão alta tecnologia assim. Pergunte a qualquer pesquisador sobre como é importar um desses reagentes. Todos vão contar histórias de como trazem na mala de mão, misturados nas coisas de banheiro, quando viajam ao exterior. Vale tudo, menos ter de esperar passar pela alfândega e pagar até o triplo do preço.

Era impossível fazer ciência no Brasil?
A ciência no Brasil, desde que me entendo por gente, é a ciência que cabe no orçamento. Isso não é uma política de investimento em ciência. É apenas uma forma de marcar presença e não deixar a coisa morrer.

Suzana Herculano-Houzel: ela trocou a UFRJ pela Universidade Vanderbilt | Divulgação
Fonte: EXAME

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