A inteligência artificial
vai mudar o futuro da música?
Data 23.10.2017
Autoria George Sims (jps)
Novo
programa gerador de música provoca temores de que compositores se tornem
supérfluos. Especialistas discutem aspecto criativo e humano envolvido na
produção musical, assim como democratização da indústria criativa.
Especialistas
apontam novas possibilidades na música com inteligência artificial
Neste
ano, a cantora e personalidade do YouTube Taryn Southern celebrou o lançamento
do seu álbum pop "I AM AI", que foi produzido inteiramente com um
software de inteligência artificial (AI, na sigla em inglês). Ela usou um
programa chamado Amper, um gerador de música open source.
Após
fornecer informações como duração, tempo e chave, Southern deixou que o
software fizesse a composição e a produção. Depois ela reorganizou as várias
partes fornecidas para criar uma música estruturada. Sua estreia foi saudada
como o "primeiro álbum produzido inteiramente com um software de
inteligência artificial".
Parte de
uma nova onda de composição de música AI e startups de produção como Jukeeck,
Groov.AI e Humtap, o Amper é um serviço on-demand, que
oferece músicas originais baratas e sem royalties para todos, de cineastas a
anunciantes.
Como
muitas tecnologias revolucionárias, a inteligência artificial gera receios de
ruptura e redundância. Para compositores e produtores independentes que criam
música original para o mercado publicitário, por exemplo, um aplicativo que
pode fazer o mesmo trabalho em um prazo menor e por menos dinheiro é uma
perspectiva assustadora.
John
Groves, diretor da Groves Sound Communications e um peso-pesado internacional
em termos de música para fins comerciais, não está preocupado com a
possibilidade de se tornar redundante. Na verdade, ele disse estar "muito
animado" com o avanço da inteligência artificial.
"Isso
irá causar arrepios na nossa indústria", disse. "Mas temos que dar
uma olhada no ritmo e perceber que as novas possibilidades superam os efeitos
disruptivos."
Já Nick
Collins – autor de uma série de livros sobre música e cofundador da Chord
Punch, uma gravadora independente que lança trabalhos com base em algoritmos
– lembra antigos temores da indústria musical em relação a novas
tecnologias.
"É
como o sindicato dos músicos que protestou contra a chegada do MIDI (Interface
Digital de Instrumentos Musicais) na década de 1980", observou. "Olhe
para todas as possibilidades criativas que surgiram a partir dessa
tecnologia."
Valerio
Velardo, diretor da Melodrive, startup pioneira da área de música dinâmica para
videogames (trilhas sonoras que mudam de acordo com eventos no jogo), afirmou
que o mundo está às vésperas da "próxima onda de democratização"
dentro das indústrias criativas.
"Hoje
em dia todos têm uma câmera digital de alta qualidade em seu telefone, mas isso
não significa que os fotógrafos profissionais tenham desaparecido", disse
ele. "Acho que será o mesmo com a AI. Duvido que o papel do compositor
será prejudicado por esta tecnologia."
Computadores
criativos
Mesmo
assim, a estreia bem-sucedida da AI dentro da indústria da música pop desafia
os preceitos comuns, em especial o de que a imaginação artística e a
criatividade são traços inerentemente humanos, que não podem ser
reproduzidos por computadores.
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"A
música representa um desafio", disse à DW Steven Jan, pesquisador de
música da Universidade de Huddersfield. "É uma das exigências mais
cognitivas, mecânicas e emocionais de todas as atividades humanas, o que
dificulta sua criação por um computador. É a última fronteira da AI."
"Ainda
estamos em uma fase de criatividade exploratória", disse Velardo,
referindo-se à forma como os sistemas AI são capazes de aprender e operar de
forma criativa dentro dos limites de um espaço conceitual e, em última
instância, imitar estilos de música estabelecidos.
Até o
momento, no entanto, a criatividade transformadora, ou a capacidade de criar
novos estilos musicais além desses limites conceituais, permanece fora do
alcance. Velardo chama isso de "o santo graal da criatividade
computacional".
Som
humano
Então
como a AI afetará a indústria da musical? Será que ela levará a uma maior
previsibilidade na música? Collins diz que não, ressaltando que há "um
número suficiente de programadores trabalhando em diferentes projetos para
criar um ambiente diversificado".
A
incorporação de computadores ao processo criativo já permitiu a quebra das
divisões de trabalho entre compositores e intérpretes. Embora o advento da
música eletrônica e de diferentes softwares já tenham provocado uma enorme onda
de democratização do processo de criação, a AI poderia levar esse processo um
passo além.
Mas o
artista desaparecerá? Pascal Pilon, diretor da Landr, uma startup que usa big
data e machine learning (aprendizado automático) para
automatizar o processo final de produção musical conhecido como masterização,
não pensa assim.
"Música
é contar histórias, gostamos da personalidade do artista. Não acho que as
pessoas vão querer ouvir música feita exclusivamente por computadores",
disse ele.
De fato,
a maioria das pessoas que desenvolvem essas tecnologias são compositores. O
artista audiovisual e compositor eletrônico vanguardista Ash Koosha disse
ao jornal The Guardian: "Estou tentando preparar música digital de
uma maneira que ela não perca os valores humanos e não resulte não caminhe numa
direção em que você simplesmente deixa a máquina decidir o que é música."
O
musicólogo John Blacking escreveu de maneira semelhante em seu livro How
Musical Is Man? (sem tradução no Brasil) que a música é, em última
instância, "o som humanamente organizado".
Fonte: DW
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