A fragmentação da floresta deixa centenas de espécies sem território
Metade das matas tem uma paisagem modificada pelos humanos a menos de 500 metros
Miguel Ángel Criado
A análise da situação em 20 grandes paisagens outrora dominadas pela floresta e hoje salpicadas de estradas, propriedades desmatadas pela indústria madeireira, a pecuária ou a agricultura mostra que a fragmentação em muitas pequenas florestas está alterando os ecossistemas florestais. O estudo, publicado na revista Nature, quantifica as mudanças numa extensão de quase 1.700 espécies de vertebrados. Mesmo quando resta um bom porcentual de arvoredo, a fragmentação está reduzindo a riqueza da vida que fica no interior da floresta.
“Cerca da metade das espécies ganha com a mudança na floresta, os limites lhes caem bem e evitam a profundidade da floresta, preferindo viver perto de suas bordas”, diz o ecologista do Imperial College de Londres e coautor do estudo, Robert Ewers. “A outra metade perde, não gosta das bordas e prefere a profundidade da floresta”, acrescenta.
Mas não há empate. Embora os investigadores tenham descoberto que 46% das espécies afetadas por esse efeito de limite foram favorecidas, tornando-se mais abundantes, e 39% prejudicadas, o saldo líquido está sendo negativo: entre as que ganham há muitas espécies oportunistas e invasoras, como o lobo (Canis lupus), a iguana-verde (Iguana iguana) ou a jiboia-constritora (Boa constrictor). A biodiversidade nas bordas está se reduzindo.
As espécies do interior da floresta têm 3,7 vezes mais probabilidades de estarem ameaçadas de extinção
O desmatamento e parcelamento das florestas não tem o mesmo impacto para uma pequena rã, que necessita de umidade constante e para a qual atravessar um caminho de 3 metros é uma odisseia, e um morcego, que tem mais facilidade de voo em uma área com menor densidade de árvores. Os autores do estudo determinaram a sensibilidade ao efeito limite analisando uma série de características de cada espécie, desde seu tamanho até sua condição ectotérmica, como répteis e anfíbios, ou endotérmico, como aves e mamíferos. Identificaram assim 519 espécies muito dependentes da frondosidade do interior da floresta e mais vulneráveis quanto mais perto das bordas.
O estudo encontra uma distância a partir da qual o efeito limite se desvanece. As porções de mata com alguma borda além dos 400 metros ainda aparecem como capazes de sustentar uma rica comunidade de vida em seu interior. O problema é que aproximadamente a metade da área global florestal tem alguma borda dentro dos primeiros 500 metros. Como diz Adam Hadley, da Universidade Estadual do Oregon (EUA) e também coautor do estudo: “Restam poucas zonas sem intrusões na floresta. Deveríamos ir pensando em não construir estradas nelas, mantendo-as o mais remotas possível. Já não restam muitas.”
Fonte: DW
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