Quanto custou ir à Lua? E quanto custaria voltar?
Orçamentos recentes da NASA são pífios em comparação aos da época da exploração do satélite.
Joan Faus
Washington
Por trás desse sucesso havia um enorme investimento de recursos e um sem-fim de fracassos e incertezas. O feito fez o orgulho patriótico disparar e se misturou com a ideia do excepcionalismo norte-americano. Foi usado para defender o modelo capitalista frente ao comunismo, como inspiração para os desafios políticos, e propiciou avanços científicos. Mas também causou desilusões e até mesmo certa apatia dos cidadãos, em plena ebulição social nos EUA dos anos sessenta e setenta.
“Só o canal do Panamá se assemelha em tamanho ao
programa Apollo como o maior esforço tecnológico não militar já
realizado pelos EUA”
Entre 1959 e 1973, a NASA destinou 23,6 bilhões de dólares para a exploração da Lua, sem incluir o gasto com infraestrutura. Essa cifra, segundo o valor do dólar de 1973 e levando em conta a inflação, equivale a 131,75 bilhões de dólares atuais (425,2 bilhões de reais, pouco mais de 7% do PIB brasileiro). A maioria desses vultosos recursos foi destinada ao programa Apollo. “Só o canal do Panamá se assemelha em tamanho ao programa Apollo como o maior esforço tecnológico não militar já realizado pelos EUA”, escreve a NASA em uma análise histórica.
A ambição espacial levou o orçamento da agência a disparar desde 1960. Em 1965 alcançou seu recorde: 5,2 bilhões de dólares, ou 5,3% do gasto do Governo norte-americano, hoje equivalentes a 40,92 bilhões (132 bilhões de reais).
Inicialmente, Kennedy era reticente a esse aumento orçamentário e apostava numa corrida espacial mais gradual. Destacados especialistas, incluído Keith Glennan, administrador da NASA entre 1958 e 1961, acreditam que o presidente mudou de opinião depois da missão de Gagarin e da fracassada invasão de Cuba em 1961.
Só 0,45%
Os orçamentos recentes da agência são pífios em comparação aos daquela época. Para 2019, a Casa Branca propôs ao Congresso uma dotação de 19,9 bilhões de dólares, 400 milhões a mais do que neste ano, ou 0,45% do orçamento total do Governo. Desde seu pico nos anos sessenta, a agência espacial sofreu uma contínua perda de recursos, com altas pontuais. A NASA estimou em 2005 que o custo de uma nova missão lunar rondaria os 104 bilhões (335,5 bilhões de reais, pelo câmbio atual).Os detratores das novas missões citam seu custo como principal argumento. Outros opinam o contrário. “Explorar o espaço é um ótimo investimento”, escrevia Wallace Fowler, professor da Universidade do Texas, em 2014. Esse engenheiro calcula que cada dólar investido no programa espacial gera um impacto de 8 a 10 dólares. E a corrida lunar contribuiu para avanços em informática, medicina, desenho de materiais e análise climatológica.
Quando se chegou à Lua, entretanto, a percepção não foi tão positiva. Em seu livro No Requiem for the Space Age, o historiador Matthew D. Tribbe contraria a forma idealizada pela qual esse feito é lembrado atualmente. Em 1970, um ano depois da missão de Armstrong, a maioria de norte-americanos não recordava o nome dele, e o país vivia um aumento do neorromantismo crítico com o papel da ciência e da tecnologia, num período marcado pela tensão racial, o pacifismo e a contracultura. “A NASA pode ter sido inofensiva, mas teve a má sorte de se promover como o próximo passo lógico no progresso, num momento em que o próprio significado de ‘progresso’ estava imerso em polêmica”, escreve.
Fonte: El País
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