O jovem que tinha uma biblioteca de livros roubados em casa: “Eu lia todos, sobre tudo”
Menino detido com coleção de 384 exemplares de bibliotecas públicas atraiu romaria de doadores
Tom C. Avendaño
São Paulo
Sua irmã, Maria de Oliveira, contou ao jornal O Estado de S. Paulo que o gosto pela leitura era algo que tinha definido a personalidade do irmão durante toda sua vida. “Ele gosta de ler desde pequeno e ficava horas trancado no quarto, folheando os livros”, explica. “Ele é bem eclético, lê de tudo. Eu o via sempre lendo. É melhor do que ficar fazendo coisa errada na rua. Itápolis não é nem de longe a região mais insegura do Estado de São Paulo, mas tampouco tem a segurança de um bairro nobre da capital. Em janeiro, um adolescente deu um tiro na cabeça de outro menor justamente na rua de Flávio.
Essa paixão pela leitura tinha escapado ultimamente das mãos do jovem. Havia terminado os estudos no colégio e pretendia estudar psicologia em alguma universidade: a mais próxima está a quase cem quilômetros. Flávio precisava de um trabalho e a oportunidade não aparecia. Com tanto tempo livre, a demanda por livros para preencher o dia disparou. Por isso começou a furtar das bibliotecas, incluindo as de escolas, como a menina Liesel Meminger de A Menina Que Roubava Livros. “Eu pegava para ler e ia devolver, mas acabei deixando em casa”, explica ao jornal. Quando lhe perguntam por que não o fez, ele se esquiva: “Desculpe, mas não estou passando bem. Tem muita gente ligando aqui, fazendo piadas, falando coisas. Ficou uma situação desagradável.” Sua irmã também insiste na versão mais inocente possível da história: “A gente não sabia que ele pegava os livros assim. Ele sempre dizia que eram emprestados ou ganhava.”
A polícia elabora uma teoria mais rebuscada. “Minha impressão pessoal é que ele pode ter algum problema psicológico, mas a família disse que ele é normal”, avalia o delegado de polícia Daniel do Prado Gonçalves. “Vou fazer o inquérito por furto simples e encaminhar ao juiz, a quem caberá decidir que andamento será dado”, acrescenta. Sua mãe, Lúcia, preferiu cortar todos os contatos com a imprensa e contatar um advogado para a defesa do jovem.
Fonte: El País
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