Carta celeste feita por
freiras no século XX será digitalizada
EFE
Castel Gandolfo (Itália)
5 out
2018
Imagem
cedida pela Specola Vaticana. EFE
Em tempos
em que as condições precárias de trabalho das freiras são denunciadas, ganha
destaque a história de quatro religiosas, que, no início do século passado,
contribuíram para uma maiores aventuras astronômicas da história e catalogaram
para a Specola Vaticana 236 mil estrelas, trabalho que agora será digitalizado.
Atualmente,
o Observatório do Vaticano - um dos mais antigos do mundo, fundado em 1578 -
homenageia as quarto com uma foto em seu pequeno museu onde o nome delas
finalmente entrou, já que até 2016 elas eram praticamente anônimas.
A foto
das freiras aparecia em vários livros da História da Astronomia, mas ninguém
tinha parado para pensar o que estas religiosas faziam em tarefas científicas
para uma instituição do Vaticano e naquela época.
Há dois
anos, o padre jesuíta Sabino Maffeo, que trabalha no Observatório, encontrou os
quatro nomes enquanto organizava alguns documentos para o arquivo e começou a
investigar a história.
Emilia
Ponzoni, Regina Colombo, Concetta Finardi e Luigia Panceri, as "Freiras
das estrelas", nasceram na Lombardia, no norte da Itália, no final do
século XIX.
"Eram
chamadas carinhosamente de 'máquinas de calcular' por causa da capacidade e
exatidão na hora de catalogar as estrelas. Foram escolhidas mulheres por serem
muito mais precisas e pacientes do que qualquer homem", explicou o padre
jesuíta Gabriele Gionti, astrônomo da Specola.
As
religiosas fizeram parte do "Carte du Ciel". Em 1887, às vésperas da
Exposição Internacional de Paris, os observatórios astronômicos de todo o
mundo, entre eles a Specola, combinaram dividir o céu em partes para observá-lo
e fazer pela primeira vez um mapa celeste.
Elas
ficaram encarregadas de visualizar as complicadas placas fotográficas feitas
pelo telescópio do Vaticano, transferir as imagens para o papel e catalogar
tudo.
O jesuíta
John Hagen, que foi de Washington para Roma, pediu especificamente que mulheres
fizessem esse trabalho e pensou então nas religiosas do "Istituto di Maria
Bambina", por causa de sua proximidade com o Vaticano, onde então ficava o
Observatório.
Embora no
começo a madre superiora não tenha sido muito favorável a destinar as irmãs das
obras de caridade à ciência, acabou aceitando o pedido, contou o padre Maffeo.
As quatro
jovens foram formadas como verdadeiras astrônomas e durante 11 anos, até 1921,
catalogaram 236 mil estrelas, explicou o subdiretor da Specola Vaticana, o
padre jesuíta Paul Mueller.
Apesar do
projeto "Carte du Ciel" não ter sido finalizado, o Observatório do
Vaticano preservou muitos dos mapas celestes elaborados pelas freiras e agora
eles serão todos digitalizados.
"Em
algumas partes a precisão delas foi superada pela tecnologia, mas a maior parte
é muito exata", afirmou Gionti.
Na imagem
exposta no museu atualmente, duas religiosas estão sentadas usando os
microscópios para observar os pontos plasmados nas placas fotográficas,
enquanto uma terceira escreve a posição das estrelas no arquivo. O museu
conserva também as lupas e os microscópios da época.
A
jornalista americana Carol Glatz, que revelou a notícia no "Catholic News
Service", relatou que o papa Bento XV agradeceu pessoalmente o trabalho
das freiras e as recebeu no Vaticano em uma audiência privada em 1920.
Em 1928,
o papa Pio XI lhes deu uma medalha de prata em reconhecimento por seu trabalho.
Cristina
Cabrejas.
Fonte: EFE
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