quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Cientistas mulheres seguem subestimadas, mesmo com vitórias no Nobel

Cientistas mulheres seguem subestimadas, mesmo com vitórias no Nobel


Duas mulheres receberam a premiação nos campos de física e química nos últimos dois dias





Com duas ganhadoras do prêmio Nobel em dois dias, as mulheres cientistas deram as boas-vindas ao “despertar” da comunidade de pesquisadores para os feitos de suas colegas, mas insistem em que continuam sendo mal remuneradas e subestimadas em comparação com os homens.
Na terça-feira, a cientista canadense Donna Strickland se tornou a primeira mulher na história a ganhar o Nobel de Física. Vinte e quatro horas depois, a bioquímica americana Frances Arnold foi contemplada com o prêmio de Química, tornando-se a quinta mulher a receber a honraria.
“Parece que o mundo está acordando para a engenhosidade das mulheres cientistas”, disse Jess Wade, professora de física no Imperial College de Londres. “É uma honra trabalhar com ciência ao mesmo tempo que mulheres tão incríveis e inspiradoras”, acrescentou.
Apesar do desempenho relativamente forte no Nobel deste ano – historicamente, apenas 19 dos mais de 600 cientistas contemplados eram mulheres -, outras cientistas enumeram algumas barreiras persistentes para elas no mundo da ciência.
“As coisas estão muito melhores do que décadas atrás, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, disse Meg Urry, professora de física da Universidade de Yale.
“As mulheres que se iniciam em física na universidade já percebem que são tratadas de forma diferente dos homens, e para mulheres não brancas as coisas são ainda piores”, acrescentou.
De fato, enquanto quase metade dos PhDs em ciências nos Estados Unidos foram apresentados por mulheres no ano passado, em química foram apenas 39%. Em física, esta cifra caiu para 18%, segundo a American Physics Society.
Roisin Owens, engenheira bioquímica da Universidade de Cambridge, disse que as instituições precisam fazer mais pra reparar o que ela chama de “cano furado” para se referir a mulheres que abandonam a ciência por razões que os homens são menos propensos a enfrentar.
“Há essas mulheres cientistas tremendas com números quase iguais nestas áreas, e então de repente chegamos aos professores e [o número] é 30% menor e em alguns lugares, 10%”, declarou à AFP.
Embora tenha saudado a aclamação recebida por Strickland e Arnold esta semana, “as pessoas deveriam resistir à tentação de pensar que estes prêmios estão sendo dados agora ‘simplesmente porque são mulheres'”. “Este tipo de reconhecimento deveria ser considerado a norma”, acrescentou Owens.
Apesar da carreira ilustre e de seu trabalho sobre feixes ópticos de pulso curto, atualmente utilizados em cirurgias oculares a laser, Strickland ainda é professora júnior da Universidade de Waterloo em Ontário.
Ela sequer tinha uma página na Wikipedia antes de ganhar o prêmio, na terça-feira, pois um editor da enciclopédia on-line não a considerava notável o suficiente para merecer um verbete.
Wade passou o último ano criando mais de 300 páginas na Wikipedia para mulheres cientistas que ela julgou merecedoras de um maior reconhecimento.
“Foi ótimo, elas foram vistas por mais de 200 mil pessoas e muitos ao redor do mundo iniciaram suas próprias edições”, afirmou.
A última mulher antes de Strickland a faturar o prêmio de física, a física teórica Maria Goeppert-Mayer, foi forçada a trabalhar durante anos de graça para universidades americanas, enquanto seu marido também era um acadêmico.
“Era incrivelmente difícil para as mulheres trabalhar em ciências e isto só está mudando agora”, disse Owens.

Consistentemente subestimadas
Segundo Jennifer Curtis, professora associada de física do Georgia Institute of Technology, uma vez que muitos campos científicos só se abriram realmente às mulheres nos últimos 40 anos, nós ainda podemos estar testemunhando uma defasagem no que diz respeito aos prêmios de ciências, que tipicamente chegam ao final de uma carreira individual.
“A escala de tempo é aqui e agora e devemos ver mais indicadas mulheres, se não já, no futuro próximo”, disse Curtis. “A chave agora é como responder à inércia no sistema, que pode em parte ser determinada por quem integra os comitês e o que sua exposição é para as mulheres”, acrescentou.
Para Urry, que estuda buracos negros supermaciços, ser uma mulher na pesquisa científica continua sendo “difícil”, mesmo em 2018. “É claro que é difícil examinar os dados experimentais de nossa própria vida”, afirmou. “Mas tenho visto outras mulheres sendo consistentemente subestimadas, subavaliadas, depreciadas, mal remuneradas e suspeito que o mesmo aconteceu comigo”, concluiu.

Fonte: EXAME

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