Como fazer uma horta na Lua
Em
2019, uma planta brotou pela primeira vez no satélite. Há vários
projetos em andamento para desenvolver uma agricultura que alimente os
futuros colonos
Daniel Mediavilla
Em 2019, uma planta começou a crescer pela primeira vez na Lua.
Um broto nasceu de uma semente de algodão enviada pela China em uma
biosfera em miniatura, juntamente com sementes de outros vegetais e ovos
de mosca das frutas na sonda Chang’e 4. A vida efêmera da planta, que
durou algumas horas, não oferecerá muita informação sobre o
desenvolvimento vegetal nas condições da gravidade lunar, mas é mais um
passo para possibilitar a etapa seguinte da exploração espacial depois
da retirada da Estação Espacial Internacional (ISS). Uma futura colônia
na Lua, que a China já planeja para a década de 2030, precisará de seus
próprios alimentos.
Desde que cosmonautas russos conseguiram fazer crescer, em 1982, uma planta de Arabidopsis thaliana, um tipo de erva, a bordo da estação espacial Salyut 7, as tecnologias para cultivar vegetais no espaço não pararam de avançar. Em 2015, astronautas norte-americanos comeram pela primeira vez de forma oficial uma alface cultivada a bordo da ISS. Os cosmonautas russos vêm consumindo parte de sua colheita desde 2003.
Para dar o próximo passo, vários grupos de pesquisa do mundo todo
estão levando a cabo projetos para recriar o terreno marciano ou o da
Lua, prever e resolver os problemas que os astronautas agricultores
encontrarão. Wieger Wamelink, pesquisador da Universidade de Wageningen
(Holanda), é um desses pesquisadores. “Por um lado, poderiam ser feitos
cultivos hidropônicos em infraestruturas subterrâneas. Acredito que
poderíamos fazer isso se tivéssemos os recursos necessários, e não seria
muito difícil”, explica Wamelink. No entanto, esse sistema, que não
necessitaria de solo e forneceria às plantas seus nutrientes dissolvidos
em água, requer uma maior quantidade de energia e não permitiria o
cultivo de alimentos básicos, como as batatas. Por isso, deveriam ser
combinadas as duas técnicas. “As batatas rendem muito mais do que, por
exemplo, o arroz, elas são muito importantes”, destaca Wamelink.
O cultivo no solo da Lua requer uma adaptação. Por enquanto, em solos lunares simulados, “obtivemos colheitas equivalentes a 50% das conseguidas em solo terrestre”, assinala. “Acredito que um dos problemas seja a quantidade de alumínio existente no solo da Lua, que é tóxico para as plantas”, acrescenta. Uma das formas de reduzir esse problema seria acrescentar matéria orgânica, que poderia ser obtida das fezes dos astronautas e dos restos de plantas que não se consumissem.
Outra dificuldade para cultivar vegetais na Lua é que seu solo é muito áspero. Na Terra, a água e o vento desgastam as partículas e as deixam mais arredondadas, mas na Lua não existem esses fenômenos. Como as partículas lunares são mais afiadas, elas causam vazamentos nas raízes das plantas, que crescem pior. Além disso, tanto na Lua como em Marte, os futuros colonos sentirão falta de nitrogênio no solo. “Em Marte e na Lua, o solo tem quase todos os nutrientes de que necessitam os vegetais, só não tem nitrogênio”, aponta Wamelink. Na Terra, esse elemento vem da matéria orgânica que na Lua deveria ser acrescentada, entre outras coisas, pela reciclagem das fezes e da urina dos astronautas, que, principalmente no início, seriam a principal fonte de nitrogênio. “Depois que tivéssemos nitrogênio no sistema, procuraríamos reciclá-lo”, diz ele.
Juntamente com os astronautas, deveriam ser levados nas viagens de colonização animais que colaborariam com o cultivo. Além das bactérias para produzir nitrogênio utilizável pelas plantas, seria necessária uma certa quantidade de minhocas de distintas espécies para começar a processar a matéria orgânica e criar com ela um solo fértil. “Também precisaríamos de insetos, besouros, para fertilizar as plantas”, assinala Wamelink. “As abelhas podem fazer isso, mas em estufas vimos que fazem essa tarefa e morrem. Os besouros sobrevivem e se reproduzem. Além disso, para uma jornada de meio ano como a viagem para Marte, podemos mantê-los em estado de hibernação e depois acordá-los”, conclui.
Antes que cheguem astronautas, Bernard Foing, diretor do Grupo de Trabalho para a Exploração Lunar da Agência Espacial Europeia em Noordwijk (Holanda), considera que serão necessários outros experimentos robotizados que ponham em prática, no terreno, as lições aprendidas nos laboratórios da Terra. “China, Índia e Israel são alguns dos países que preveem enviar missões à Lua em um futuro próximo e poderiam incorporar experimentos que vão além dos que a Chang’e 4 tentou fazer”, aponta Foing.
Um dos problemas da sonda chinesa é que a chegada da noite lunar, que dura mais de doze dias terrestres e faz a temperatura cair para menos de -150 graus, acabou com todos os seres vivos do experimento. “No polo, há lugares onde no verão há luz o tempo todo e no inverno, 80% do tempo”, assinala Foing. “Lá poderiam ser feitos experimentos de acompanhamento de organismos dentro de uma minibiosfera durante várias gerações”, acrescenta. “Assim, poderíamos aprender quais plantas se desenvolvem melhor na Lua”, conclui.
Um dos elementos fundamentais para cultivar alimentos na Lua é a água, que pode ser encontrada em quantidades significativas, principalmente em algumas regiões. O gelo também poderia tornar sustentável uma colônia lunar, e não só como um recurso para regar as plantas. “Teria muito valor para fabricar combustível para foguetes e poderia servir para abastecer uma estação de distribuição de combustível em órbita terrestre, que seria útil para prolongar o período de operação de satélites. Isso teria muito valor econômico e poderia ajudar a tornar uma base sustentável”, assinala.
À espera de novas sondas que cheguem à Lua, neste momento o satélite EuCROPIS, lançado ao espaço no fim do ano passado, está testando os efeitos de cultivar tomates nas condições de gravidade da Lua, usando urina humana como fertilizante. Esse tipo de experiência será cada vez mais frequentes se, como parece, as potências espaciais começarem a pensar seriamente em instalar uma base permanente em nosso satélite.
Fonte: El País
Desde que cosmonautas russos conseguiram fazer crescer, em 1982, uma planta de Arabidopsis thaliana, um tipo de erva, a bordo da estação espacial Salyut 7, as tecnologias para cultivar vegetais no espaço não pararam de avançar. Em 2015, astronautas norte-americanos comeram pela primeira vez de forma oficial uma alface cultivada a bordo da ISS. Os cosmonautas russos vêm consumindo parte de sua colheita desde 2003.
O cultivo no solo da Lua requer uma adaptação. Por enquanto, em solos lunares simulados, “obtivemos colheitas equivalentes a 50% das conseguidas em solo terrestre”, assinala. “Acredito que um dos problemas seja a quantidade de alumínio existente no solo da Lua, que é tóxico para as plantas”, acrescenta. Uma das formas de reduzir esse problema seria acrescentar matéria orgânica, que poderia ser obtida das fezes dos astronautas e dos restos de plantas que não se consumissem.
Outra dificuldade para cultivar vegetais na Lua é que seu solo é muito áspero. Na Terra, a água e o vento desgastam as partículas e as deixam mais arredondadas, mas na Lua não existem esses fenômenos. Como as partículas lunares são mais afiadas, elas causam vazamentos nas raízes das plantas, que crescem pior. Além disso, tanto na Lua como em Marte, os futuros colonos sentirão falta de nitrogênio no solo. “Em Marte e na Lua, o solo tem quase todos os nutrientes de que necessitam os vegetais, só não tem nitrogênio”, aponta Wamelink. Na Terra, esse elemento vem da matéria orgânica que na Lua deveria ser acrescentada, entre outras coisas, pela reciclagem das fezes e da urina dos astronautas, que, principalmente no início, seriam a principal fonte de nitrogênio. “Depois que tivéssemos nitrogênio no sistema, procuraríamos reciclá-lo”, diz ele.
Juntamente com os astronautas, deveriam ser levados nas viagens de colonização animais que colaborariam com o cultivo. Além das bactérias para produzir nitrogênio utilizável pelas plantas, seria necessária uma certa quantidade de minhocas de distintas espécies para começar a processar a matéria orgânica e criar com ela um solo fértil. “Também precisaríamos de insetos, besouros, para fertilizar as plantas”, assinala Wamelink. “As abelhas podem fazer isso, mas em estufas vimos que fazem essa tarefa e morrem. Os besouros sobrevivem e se reproduzem. Além disso, para uma jornada de meio ano como a viagem para Marte, podemos mantê-los em estado de hibernação e depois acordá-los”, conclui.
Antes que cheguem astronautas, Bernard Foing, diretor do Grupo de Trabalho para a Exploração Lunar da Agência Espacial Europeia em Noordwijk (Holanda), considera que serão necessários outros experimentos robotizados que ponham em prática, no terreno, as lições aprendidas nos laboratórios da Terra. “China, Índia e Israel são alguns dos países que preveem enviar missões à Lua em um futuro próximo e poderiam incorporar experimentos que vão além dos que a Chang’e 4 tentou fazer”, aponta Foing.
Um dos problemas da sonda chinesa é que a chegada da noite lunar, que dura mais de doze dias terrestres e faz a temperatura cair para menos de -150 graus, acabou com todos os seres vivos do experimento. “No polo, há lugares onde no verão há luz o tempo todo e no inverno, 80% do tempo”, assinala Foing. “Lá poderiam ser feitos experimentos de acompanhamento de organismos dentro de uma minibiosfera durante várias gerações”, acrescenta. “Assim, poderíamos aprender quais plantas se desenvolvem melhor na Lua”, conclui.
Um dos elementos fundamentais para cultivar alimentos na Lua é a água, que pode ser encontrada em quantidades significativas, principalmente em algumas regiões. O gelo também poderia tornar sustentável uma colônia lunar, e não só como um recurso para regar as plantas. “Teria muito valor para fabricar combustível para foguetes e poderia servir para abastecer uma estação de distribuição de combustível em órbita terrestre, que seria útil para prolongar o período de operação de satélites. Isso teria muito valor econômico e poderia ajudar a tornar uma base sustentável”, assinala.
À espera de novas sondas que cheguem à Lua, neste momento o satélite EuCROPIS, lançado ao espaço no fim do ano passado, está testando os efeitos de cultivar tomates nas condições de gravidade da Lua, usando urina humana como fertilizante. Esse tipo de experiência será cada vez mais frequentes se, como parece, as potências espaciais começarem a pensar seriamente em instalar uma base permanente em nosso satélite.
Fonte: El País
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