“Engenheiros no Google não entendem o que significa ética em seu trabalho. Temos que ajudá-los”
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“Engenheiros no Google não entendem o que significa ética em seu trabalho. Temos que ajudá-los”
Virginia Collera
28 JAN 2019 - 13:16 BRST
Jen Gennai, fotografada na sede do Google em São Francisco. CARLOS CHAVARRÍA
Ética e tecnologia devem estar mais juntas do que nunca, diz esta engenheira irlandesa. E essa é sua missão no Google: garantir que a inovação não seja sinônimo de transgressão
Em sua escola, em Dublin, Jen Gennai tinha um professor de matemática
que não tolerava que ela tirasse menos do que 10 em sua matéria. Ela,
repetia o professor, não podia se permitir uma nota mais baixa. “Foi uma
grande injeção de confiança. Principalmente considerando que, em geral,
a sociedade ditava que as mulheres não podiam ser boas em matemática.”
Na universidade ela se matriculou em uma dupla graduação, que combinava engenharia e negócios.
No Trinity College de então, lembra, nas aulas de engenharia, 90% eram
homens. “No começo senti orgulho. As garotas que estavam lá eram
reconhecidas como mais fortes que as outras, mas não demorei muito para
perceber que não deveria ser assim: meus colegas não tinham essa
sensação de vitória, por que nós, as garoas, a tínhamos? Não se supõe
que somos iguais? Meu orgulho se transformou em aborrecimento por ser
julgada pela minha condição feminina e não pelas minhas capacidades.”
A engenheira Jen Gennai.CARLOS CHAVARRÍA
Naquela época começaram suas leituras sobre gênero e igualdade.
“Ficou claro que havia diferenças e eu, curiosa por natureza, queria
entendê-las e tentar encontrar soluções.” E precisamente essa é uma das
missões de seu trabalho: Gennai – que prefere não revelar a idade –
comanda a equipe de inovação responsável no Google. “Nosso objetivo é
garantir que todos os nossos produtos não tenham nenhum tipo de viés de
raça, gênero, orientação sexual, poder aquisitivo... Nossos usuários são
muito diferentes e temos de cuidar para que essas diferenças não sejam
mal interpretadas por tecnologias novas baseadas na coleta de dados do
mundo real, como machine-learning e inteligência artificial”,
resume. Por exemplo, evitar que, no caso do desenvolvimento de uma
plataforma de emprego, apenas homens sejam identificados como possíveis
candidatos a cargos de direção – uma vez que são os que tradicionalmente
ocuparam esses cargos – ou que seus sistemas de reconhecimento de voz
identifiquem sotaques diferentes ou inclusive pessoas com distúrbios da
fala, como a gagueira. Os esforços do Google são parte de um clamor que, diante das fake news, abusos na privacidade dos usuários e outros efeitos indesejados, atravessa Silicon Valley:
é hora de a indústria prestar atenção às implicações éticas de seus
produtos. “Na comunidade tecnológica, pecamos pela ingenuidade. Agíamos
convencidos de que tudo o que fazíamos seria fantástico para todos, e
isso nem sempre foi verdade. Devemos assumir a responsabilidade pelo que
criamos”, argumenta Gennai. Em sua opinião, as universidades devem
reagir imediatamente para que a ética seja uma disciplina fundamental
nos estudos tecnológicos. “No meu tempo não se falava de ética na sala
de aula, mas agora sabemos o impacto dos avanços da indústria na
sociedade e deve ser um assunto central, não um mero acessório em
programas tão procurados como os de machine-learning." Em junho de 2018, o Google tornou públicos seus princípios de
inteligência artificial, concebidos para regulamentar a pesquisa e o
desenvolvimento dessa tecnologia na empresa. Agora, a tarefa de Gennai e
sua equipe é garantir que esses sete mandamentos sejam cumpridos e
formar os googlers. “Nossos engenheiros não estudaram filosofia
e não entendem o que significa a ética em seu trabalho. Temos que
ajudá-los a internalizar uma série de noções sobre o assunto para que
possam aplicá-las ao seu dia a dia.”
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