Mudança climática ameaça
duas das sete geleiras do Equador
EFE Quito
21 fev
2019
EFE/José
Jácome
O Equador
pode perder duas de suas sete geleiras nos próximos anos devido ao aquecimento
global, uma circunstância que preocupa os especialistas porque afetaria o
ecossistema de locais ermos, reguladores de água e a umidade no país.
A ameaça
mais iminente está sobre as geleiras de Carihuairazo, na província da
Chimborazo, e de Iliniza sul, entre as de Pichincha e Cotopaxi.
"Estimativas
globais apontam para um aumento da temperatura de 1,5 graus e se estima que o
padrão não mudará nos próximos 12 anos", disse à Agência Efe Estefanía
Ávalos, subsecretária de Mudança Climática do Ministério de Meio Ambiente do
Equador (MAE).
Este
aumento já gerou "evidências notáveis" em nível geral, mas segundo
outro analista, Bolívar Cáceres, do Instituto Nacional de Meteorologia e
Hidrologia (Inamhi), a ameaça é iminente.
O Equador
conta com sete geleiras: Antisana, Cotopaxi, Chimborazo, Cayambe, as Ilinizas
(norte e sul), El Altar e Carihuairazo, todas elas situadas em crateras
vulcânicas que são afetadas pelo efeito estufa.
No caso
de Carihuairazo, 96% da superfície geleira derreteu, razão pela qual pode
desaparecer em apenas cinco anos, segundo Cáceres, enquanto em Iliniza sul não
há uma projeção exata, mas o degelo também foi notório.
"Até
o final de 2018, foi registrada (em nível nacional) uma perda de 53% de
cobertura geleira na média", destacou o especialista, que adverte que é
difícil prever o futuro das geleiras porque as condições meteorológicas são
aleatórias.
"Há
modelos que indicam que poderiam desaparecer no final de 2100, mas são só
modelos. Nos Andes, as geleiras não desaparecerão totalmente, mas reduzirão de
maneira dramática", considerou Cáceres sobre a situação regional.
O efeito
de degelo é mais notório nas duas mencionadas porque estão situadas a uma
altitude inferior à linha "de equilíbrio", altura média necessária
para que as geleiras possam se regenerar.
Essa
linha está localizada a 5.120 metros de altitude, motivo pelo qual estas
geleiras estão em "estado de perda e não existe recuperação".
O
Carihuairazo está a 5.025 metros, e o Iliniza, a 4.750, o que acentua a ameaça.
O
glaciólogo, que está há mais de 30 anos estudando ambas as elevações, assegura
que o retrocesso da geleira é um fenômeno natural que sempre existiu, no
entanto, nos últimos 20 anos aumentou de maneira dramática pela atividade
humana e pelas mudanças na climatologia e na temperatura mundial.
No
Equador, os picos com maior cobertura geleira são o Antisana, situado a 5.704
metros e o Cayambe, a 5.790.
Na
situação das geleiras equatorianas, a localização geográfica é
"estratégica" porque reúne "circulação atmosférica do
Pacífico" e também "umidade da Amazônia", explica Rubén
Bazantes, glaciólogo da Universidade Politécnica Nacional.
Esta
localização provoca fortes precipitações que chegam a seis mil milímetros por
ano e faz com que o comportamento das geleiras equatorianas seja diferente ao
de outras da cordilheira dos Andes.
A
regeneração ou retrocesso da geleira dependerá de se a circulação atmosférica
no Pacífico gerar fenômenos como o El Ninõ (corrente seca que gera retrocesso)
ou El Niña (corrente fria-úmida, que gera precipitações e expansão do nevado).
Além de
seu tamanho, as autoridades seguem com muita atenção as consequências
secundárias do degelo, porque estas geleiras são autênticos reguladores
hídricos.
Apesar de
no Equador as geleiras não serem em absoluto um recurso indispensável para o
fornecimento atual de água à população (fornecem apenas 2% às cidades
vizinhas), o desaparecimento poderia afetar o fornecimento no futuro.
Outra das
consequências que mais preocupa os especialistas é a extinção de espécies e
plantas autóctones nos locais ermos equatorianos e a chegada de espécies
invasoras como consequência de uma mudança de ecossistema.
O
desaparecimento de geleiras é um fenômeno mundial, com a diferença - segundo
Bolívar - que no Equador e na Colômbia as superfícies geleiras são pequenas e o
impacto no ecossistema pode ser, portanto, "mais notório".
Nathalie
Jiménez.
Fonte: EFE
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