Gio Ponti: o designer italiano do pós-guerra que volta a inspirar a cena internacional
Tema de uma grande
exposição retrospectiva em cartaz até maio no Museu de Artes Decorativas
de Paris, Gio Ponti (1891-1979) ocupa um lugar único na história do
design do século 20. Extraordinariamente prolífico ao longo de uma
carreira de seis décadas - durante a qual trabalhou com arquitetura,
design industrial, cerâmica, móveis e iluminação -, Ponti não é
facilmente classificável.
Isso talvez porque ele tenha sido
influenciado por dois estilos aparentemente incompatíveis: o Novecento
Italiano - um movimento conservador neoclássico milanês fundado nos anos
de 1920 e apoiado pelo ditador Benito Mussolini - e o Modernismo dos
anos 1930. Embora o designer nascido em Milão em meados do século adotasse as linhas simples do Modernismo, ele renegou a paleta tipicamente contida do movimento e abraçou padrões e cores exuberantes. Isso fica nítido no interior florido de sua Villa Planchart, da década de 1950, na Venezuela, com aspecto futurista e inspiração em borboletas, localizada no alto de uma colina com vista para Caracas.
Em sua fachada, há paredes parcialmente desconectadas da estrutura principal. À noite, elas são iluminadas para enfatizar seus contornos. Além disso, Ponti adornou paredes inteiras em seu hotel Parco dei Principi (1960), em Sorrento, com telhas de cerâmica azul-marinho e perolada, produzidas pela empresa italiana Ceramica d'Agostino.
Sempre curioso
Hoje,
o trabalho de Ponti é cobiçado por colecionadores. Em outubro passado, a
casa de leilão Phillips vendeu uma mesa de centro, criada em 1951 para o
salão de baile do transatlântico Giulio Cesare, por 72.500 libras (R$
340 mil). Ponti era curioso, de mente aberta e solidário. Ele era um visionário, incansável promotor do design de vanguarda na Itália e no exterior. Fundou e editou por cinco décadas a revista Domus, além de organizar mostras na Bienal de Monza, uma exposição internacional de arquitetura e design industrial hoje conhecida como Trienal de Milão.
Influência global
"A
carreira versátil e inspiradora de Ponti foi fundamental para o
estabelecimento da identidade italiana na arquitetura e design
modernos", afirma Simon Andrews, da casa de leilões Christie's. "Ativo
em todos os meios ao longo de sua carreira, Ponti revelou uma
individualidade que definiu a estética do momento. Através de sua edição
da Domus e do apoio a exposições trienais, Ponti contribuiu para
difundir a identidade do design italiano para o público internacional." A década de 1950 foi o auge da carreira de Ponti. Em 1956, ele participou do projeto da Torre Pirelli, um esguio arranha-céu de Milão que é um marco da cidade, visto como símbolo do humor eufórico por trás do boom econômico do pós-guerra na Itália.
Em 1957, ele idealizou sua cadeira Superleggera, que significa super-leve em italiano, feita para a empresa de móveis italiana Cassina. O design esquelético com assento de palha ainda é fabricado pela marca.
Sua espantosa leveza foi demonstrada por fotografias surreais de crianças levantando-a despreocupadamente com um dedo.
Inspirado nos assentos simples da cidade costeira de Chiavara, em Liguria, e fabricada com a ajuda de artesãos de Cassina, a cadeira incorpora um tema-chave na obra de Ponti - a fusão da tradição com a modernidade, o industrial com o artesanato.
Começo da trajetória
Em
1921, o ambicioso Ponti formou-se em arquitetura pela Politécnica de
Milão, casou-se com Giulia Vimercati e abriu um estúdio de design com
Emilio Lancia e Mino Fiocchi. Em 1923, tornou-se diretor artístico do
fabricante de cerâmica Ricardo Ginori. A retrospectiva da obra, intitulada Tutto Ponti: Gio Ponti, Arqui-Designer, é a primeira realizada na França, onde seu trabalho é pouco conhecido. Um de seus objetivos é aumentar a conscientização sobre a obra de Ponti por lá.
A palavra tutto reflete o escopo amplo do programa. "Nossa intenção era que essa exposição fosse abrangente, um cenário no qual todas as variadas expressões de sua longa carreira criativa pudessem se unir", diz Salvatore Licitra, co-curador e diretor do Arquivo Gio Ponti.
A exposição está organizada cronologicamente no salão principal de pé direito alto do Museu de Artes Decorativas de Paris - apropriado para abrigar interiores residenciais glamourosos de Ponti que ostentam espaços de pé-direito duplo. O local também expõe uma maquete de sua Catedral de Taranto, do sul da Itália, concluída em 1970.
Inspirado no contexto marítimo do local, a construção exemplifica como Ponti ignorava a rigidez funcional do Modernismo. Em vez de uma torre convencional, ela tem uma estrutura em forma de vela, composta por duas paredes perfuradas com fendas verticais.
O edifício poroso foi projetado para se misturar com o ambiente natural; seu interior é predominantemente verde, e Ponti queria que as trepadeiras crescessem em suas paredes, embora essa ideia nunca tenha se materializado. Ele era religioso, mas não convencionalmente cristão: Sophie Bouilhet-Dumas, uma das co-curadoras da série, considera a catedral a céu aberto como sua visão "panteísta" da arquitetura.
A exibição de Ponti incorpora ainda seis conjuntos de salas que demonstram o trabalho de cada década de sua carreira. Esses espaços são recriados em vários de seus projetos, incluindo sua própria casa na Via Dezza, em Milão, com paredes com listras diagonais e paredes deslizantes, onde ele viveu com sua família a partir de 1957. Há ainda projetos criados em colaboração com várias empresas europeias.
Uma importante parceria foi de Ponti com Tony Bouilhet, diretor da fábrica francesa de artigos de prata Christofle, em 1925. Bouilhet o contratou para projetar uma vila nos subúrbios de Paris, criar talheres e castiçais para a Christofle e, ainda, o bule angular Aero. Na década de 1960, ele também produziu móveis para a Knoll e iluminação para a Artemide.
Prova de sua crescente popularidade hoje é a fabricação pela marca italiana Molteni&C de reproduções fiéis das peças Ponti, como parte de sua coleção Heritage. Essas incluem a mesa monumental D.8591, com capacidade para até dez pessoas, originalmente projetada para o auditório do edifício Time & Life em Nova York em 1958.
Fonte: BBC
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