Pesquisadores brasileiros
usarão drones para localizar e contar gados
Serão empregadas técnicas de processamento de
imagens e aprendizado de máquina, aliadas ao desenvolvimento de softwares e uso
de drones
Da
Redação ComputerWorld
20/03/2019
às 18h12
Foto: Shutterstock
Pesquisa
coordenada pela Embrapa para detecção e contagem de gado usando veículos
aéreos não tripulados, conhecidos como vants ou drones, acaba de ser aprovada
para financiamento pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).
O projeto
colaborativo é liderado pelo pesquisador Jayme Garcia Arnal Barbedo, da Embrapa
Informática Agropecuária (SP), e foi aprovado na terceira chamada de propostas
do Programa Fapesp de Pesquisa em eScience e Data Science.
A
atividade de monitorar a população de gado é essencial na gestão das fazendas
pecuárias. Entretanto, nas grandes propriedades que adotam a pecuária
extensiva, muito comuns no Brasil, essa contagem requer tecnologia e métodos
avançados. No caso das imagens de satélites, além de não apresentar resolução
espacial suficiente para identificar os animais individualmente, a presença de
nuvens também compromete o monitoramento.
“Os
levantamentos aéreos aparecem como uma solução potencial”, explica Barbedo. Já
existem algumas iniciativas sendo aplicadas em fazendas, mas ainda com várias
desvantagens, como alto custo de operação, níveis de ruído elevados e risco de
acidentes. Por isso, os pesquisadores querem empregar técnicas de processamento
de imagens e aprendizado de máquina, aliadas ao desenvolvimento de softwares e
uso de drones, buscando gerar soluções mais adequadas para o monitoramento dos
animais no pasto.
Coordenada
pela Embrapa Informática Agropecuária, a pesquisa tem participação da Embrapa
Pecuária Sudeste (SP), da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da
Universidade Estadual de Campinas (FEEC/Unicamp) e das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU). O projeto tem vigência de dois anos, com início em
fevereiro de 2019, e recebeu recursos de cerca de R$ 175 mil que serão
investidos, principalmente, na aquisição de drones e equipamentos para
processamento de imagens.
Testes
com câmeras 360 graus
Entre os
objetivos do trabalho estão o desenvolvimento de uma metodologia para
agrimensura pecuária usando drones equipados com câmeras de espectro visível e
a criação de um algoritmo para reconhecer e contar automaticamente o gado nas
imagens capturadas. Serão investigadas duas abordagens distintas: a primeira é
com o uso de uma câmera convencional e a outra com uma câmera 360 graus.
A
principal diferença entre as duas metodologias é que a primeira geralmente
requer múltiplos voos para cobrir grandes áreas, enquanto a segunda pode ser
capaz de visualizar regiões muito maiores com um único voo, embora perdendo
resolução, já que os animais estão mais distantes da câmera, de acordo com o
pesquisador.
Drones
estimarão saúde e peso do rebanho
O projeto
busca avançar na área de ciência da computação, produzindo novos algoritmos
baseados em imagens para detecção de animais e para seu manejo, com abordagem
inovadora para contagem de gado. “Essa metodologia também pode ser usada no
futuro para trabalhar outros aspectos do monitoramento de gado como saúde
animal, medidas corporais, entre outros”, conta Barbedo.
Caberá à
Embrapa Informática Agropecuária, principalmente, coletar as imagens no campo e
processá-las, criando e aplicando, em conjunto com a FEEC/Unicamp, algoritmos
baseados em princípios de aprendizado de máquina para detecção e contagem dos
animais. Os testes de campo serão feitos com o apoio de especialistas em manejo
animal na fazenda Canchim, da Embrapa Pecuária Sudeste. A pesquisadora Andrea
Roberto Bueno Ribeiro, da FMU, também vai apoiar os trabalhos de manejo e
estudos de comportamento animal relacionados às simulações de movimentação do
gado no pasto.
Contagem
do gado sem precisar reunir os animais
Conhecer
o número de animais é essencial para o pecuarista fazer a gestão adequada da
fazenda, contribuindo para o controle interno e a quantificação dos resultados.
Na
pecuária as variações no rebanho são constantes: nascimento de animais, mortes,
vendas, e até roubos. Tudo isso se reflete na hora do planejamento e na
rentabilidade da atividade.
Para a
contagem, o pecuarista precisa reunir os animais no pasto ou levá-los até o
curral. Esse processo é complexo e exige um grande esforço. As dificuldades
aumentam proporcionalmente ao tamanho da fazenda e do rebanho.
O
deslocamento do gado sempre é estressante e pode afetar a produtividade. No
percurso, há chances de acidentes. Além disso, o bovino passa mais tempo
caminhando e deixa de se alimentar, ruminar e descansar, causando prejuízos
econômicos ao produtor. O estresse reduz o ganho de peso e afeta a imunidade, deixando-o
mais vulnerável a doenças.
“A ideia
do projeto é tentar fazer essa contagem sem reunir os animais, reduzindo o
estresse. No entanto, há algumas dificuldades. É preciso treinar a máquina para
enxergar o boi e contar um por um. A primeira dificuldade é que ele se
movimenta. A segunda, é que o drone precisa identificar o boi lá embaixo e
saber que é um bovino, não é uma pedra ou, ainda, se tiver dois animais juntos,
tem que conseguir contar dois e não apenas um. A máquina precisa aprender a
analisar a imagem”, explica a pesquisadora Patrícia Menezes Santos, da Embrapa
Pecuária Sudeste.
Para
captar as imagens, é preciso entender o comportamento dos bovinos. Dessa forma,
o plano de voo e as estratégias usadas para a captação precisam levar em
consideração a rotina animal, o tipo de área da fazenda, o modelo de sistema de
produção, entre outras especificidades da criação e da propriedade. A interação
entre os especialistas dos dois centros de pesquisa da Embrapa vai contribuir
para encontrar a melhor forma para ensinar a máquina nas avaliações.
Na
fazenda Canchim, base física para os testes e captação de imagens, há vários
modelos diferentes de produção, como animais nos sistemas integrados, em pastos
extensivos, áreas intensivas e outras. De acordo com a pesquisadora da Embrapa,
essa diversidade de condições vai ajudar a treinar a máquina. “O drone precisa
de muita imagem com informações reais do que ocorre na fazenda. Tudo pode se
transformar em obstáculo na hora da avaliação das imagens. Então, vamos ajudar
como especialistas em produção animal”, explica Santos.
O
desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas na aplicação de sistemas
inteligentes e automatizadas às pastagens pode contribuir para moldar a
pecuária do futuro, já que o processo de decisão nos sistemas de produção
depende cada vez mais da análise e interpretação de dados e informações, de
acordo com Patrícia. “A integração de informações sobre o clima, o solo, os
animais e a pastagem cria oportunidades para o uso mais eficiente dos recursos
naturais e dos fatores de produção”, afirma a pesquisadora.
Decisões
sobre compra e venda de animais, uso de fertilizantes e de alimentação
suplementar, além de outras práticas de manejo, podem ser orientadas a partir
dessas informações, reduzindo o risco associado à atividade e aumentando a
sustentabilidade dos sistemas de produção animal em pastagens. Com o avanço no
campo da internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), caracterizada pela
conexão entre diversos dispositivos que coletam e transmitem dados de forma
automática, abre-se a perspectiva para uma pecuária cada vez mais baseada em
tecnologia digital.
Comentários
Postar um comentário
Todas postagem é previamente analisada antes de ser publicada.