A catástrofe que matou
milhares de filhotes e fez uma colônia de pinguins desaparecer
Jonathan
Amos BBC News
26 abril
2019
Christopher Walton Image caption Os pinguins-imperadores precisam de
uma plataforma de mar congelado estável para viver
Milhares
de filhotes de pinguins-imperadores se afogaram quando o mar
congelado onde viviam foi destruído por condições climáticas extremas.
A
catástrofe ocorreu em 2016 no Mar de Weddell, na Antártida, e acaba de ser
relatada por uma equipe da British Antarctic Survey (BAS), a operação nacional
britânica na região, no periódico científico Antarctic Science.
Assim, a
colônia de pinguins-imperadores que vivia às margens da prateleira de gelo
Brunt - que, por diversas décadas, reuniu entre 14 mil e 25 mil casais destas
aves, o que corresponde de 5% a 9% da população global da espécie - desapareceu
praticamente da noite para o dia.
Os
cientistas Peter Fretwell e Phil Trathan perceberam o desaparecimento da
colônia Halley por imagens de satélite. Mesmo em imagens tiradas a até 800
quilômetros de distância, é possível identificar o excremento das aves,
conhecido por guano, em meio ao gelo branco e estimar assim o tamanho provável
de um agrupamento.
O que pode ter acontecido?
Ventos
fortes abriram buracos dentro da lateral mais espessa da prateleira Brunt, e o
gelo que nunca se reformou completamente.
"O
gelo que se formou desde 2016 não foi tão forte. As tempestades que ocorrem em
outubro e novembro agora vão acabar fazendo com que ele desapareça mais cedo. Portanto,
a situação mudou. O gelo deixou de ser estável e confiável", disse
Fretwell.
Os
imperadores são a espécie de pinguim mais alta e pesada. Por isso, precisam de
plataformas de mar congelado estáveis para se reproduzir. Elas devem durar,
pelo menos, de abril, quando as aves chegam, até dezembro, quando filhotes já
têm condições de flutuar.
Quando o
gelo se rompe cedo demais, os filhotes não conseguem sobreviver, porque ainda
não têm as penas adequadas para começar a nadar. Foi o que parece ter ocorrido
em 2016.
A equipe
britânica acredita que muitos adultos evitaram se reproduzir nesses últimos
anos ou mudaram-se para novos criadouros no Mar de Weddell. Uma colônia a cerca
de 50 km de distância, perto da geleira Dawson-Lambton, teve um grande aumento no
número de animais.
Segundo
cientistas, o evento fez com que a colônia de Brunt entrasse em colapso, pois
as aves adultas não deram nenhum sinal de tentar restabelecê-la.
Não está
claro por que a plataforma de gelo marinho na borda da prateleira Brunt não
conseguiu se regenerar. Não há uma evidência climática clara para isso.
Observações atmosféricas e oceânicas nas proximidades da Brunt encontraram
poucas mudanças.
População da espécie no mundo pode ser reduzida em
70% até o fim do século
DigitalGlobe, a Maxar company Image caption Nessa imagem de satélite
de 2015, é possível ver a mancha de guano da colônia Halley Bay
Mas a
sensibilidade dessa colônia em relação as mudanças no gelo marinho evidencia o
impacto que o futuro aquecimento na Antártida pode ter sobre os
pinguins-imperadores em especial, diz a equipe.
Pesquisas
sugerem que a espécie pode perder de 50% a 70% de sua população global até o
final deste século, se o gelo marinho for reduzido na proporção calculada por
modelos computacionais.
Isso
teria consequências além dos pinguins-imperadores, diz Michelle LaRue, ecóloga
da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.
"Eles
são uma parte importante da cadeia alimentar. São o que chamamos de
mesopredadores. Eles são presas de animais como focas-leopardo, mas também se
alimentam de espécies de peixes e krill. Então, eles desempenham um papel
relevante no ecossistema ", disse ela à BBC News.
DigitalGlobe, a Maxar company Image caption A colônia de
Dawson-Lambton cresceu, segundo análise de imagens de satélite de 2018
Trathan
explicou que o que mais chama atenção não é que uma colônia se mude de lugar ou
que possa haver uma interrupção no ciclo de reprodução.
"Sabemos
que essas coisas acontecem. Estamos falando aqui da formação de uma baía no Mar
de Weddell, que é um refúgio para as espécies adaptadas ao frio, como os
pinguins-imperadores, em meio às mudanças climáticas. Haver grandes distúrbios
em refúgios assim - onde não temos visto mudanças nos últimos 60 anos - isso é
um alerta importante", disse o cientista.
Colônia tinha um futuro incerto
Mas a
colônia de Halley Bay poderia não ter futuro de qualquer forma. A prateleira
Brunt está sendo dividida por uma enorme rachadura em desenvolvimento.
Este
abismo acabará gerando um iceberg do tamanho da cidade de Londres no Mar de
Weddell, e qualquer gelo marinho preso à borda do iceberg pode se desmanchar
durante este processo, condenando a colônia independentemente do que aconteceu
em 2016.
Christopher Walton Image caption Os imperadores são a
espécie de pinguim mais alta e pesada
Fonte: BBC
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