Cérebro pode ser treinado para curar doenças, revela estudo
Cientistas
brasileiros acabam de apresentar uma técnica de treinamento cerebral
capaz de modificar as conexões neuronais em tempo recorde
17 abr 2019, 08h15
Rio de Janeiro – O cérebro pode ser treinado para curar as doenças que o acometem. Cientistas brasileiros acabam de apresentar uma técnica de treinamento cerebral capaz de modificar as conexões neuronais em tempo recorde. O trabalho, publicado na Neuroimage, abre o caminho para novos tratamentos para o acidente vascular cerebral (AVC), a doença de Parkinson e até a depressão.
O cérebro se adapta a todo momento – um fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Essas mudanças na forma como funciona e conecta suas diferentes áreas são as bases do aprendizado e da memória.
Entender melhor essas interações permite o avanço na compreensão do comportamento humano, das emoções e também das doenças que acometem o cérebro. “Tudo o que a gente é, faz, sente, todo o nosso comportamento é reflexo da maneira como o nosso cérebro funciona”, explica o neurocientista Theo Marins, um dos autores do estudo.
Algumas doenças, segundo o especialista, alteram esse funcionamento. E o cérebro passa a funcionar de maneira doente. “Ensinar” o cérebro a funcionar de maneira correta pode melhorar os sintomas de várias doenças.
Uma das ferramentas que vem sendo utilizadas para compreender melhor essas dinâmicas é o neurofeedback. Assim é chamado o treinamento do cérebro para modificar determinadas conexões. O estudo dos neurocientistas do Instituto IDOR de Ensino e Pesquisa e da UFRJ mostrou que o treinamento é capaz de induzir essas modificações em menos de uma hora.
Para fazer o trabalho, os cientistas contaram com 36 voluntários que se submeteram a exames de ressonância magnética. A atividade neuronal captada no exame é transformada em imagens apresentadas em computadores de acordo com a intensidade. Os voluntários acompanhavam as imagens em tempo real, aprendendo a controlar a própria atividade cerebral.
Enquanto 19 participantes receberam o treinamento real, outros 17 foram instruídos com falsa informação – o que funcionou como uma espécie de placebo. Antes e depois do treino, os pesquisadores registraram as imagens cerebrais que permitiam medir a comunicação (a conectividade funcional) e as conexões (a conectividade estrutural) entre as áreas cerebrais. O objetivo era observar como as redes neurais eram afetadas pelo neurofeedback.
Antes e depois
Ao comparar a arquitetura cerebral antes e depois do treinamento, os cientistas constataram que o corpo caloso (a principal ponte de comunicação entre os hemisférios esquerdo e direito) apresentou maior robustez estrutural. Além disso, a comunicação funcional entre as áreas também aumentou. Para os pesquisadores, é como se o todo o sistema tivesse se fortalecido.
“Sabíamos que o cérebro tem uma capacidade fantástica de modificação. Mas não tínhamos tanta certeza de que era possível observar isso tão rapidamente”, conta Marins.
Desta forma, o treinamento cerebral se revelou uma ferramenta poderosa para induzir a neuroplasticidade. Agora, os pesquisadores esperam utilizá-lo para promover as mudanças necessárias para recuperação da função motora em pacientes que sofreram um AVC, que foram diagnosticados com Parkinson e mesmo com depressão.
“O próximo passo será descobrir se pacientes que sofrem de desordens neurológicas também podem se beneficiar do neurofeedback, se ele é capaz de diminuir os sintomas dessas doenças”, disse a médica radiologista Fernanda Tovar Moll, presidente do IDOR. “Ainda falta muito para chegarmos a protocolos específicos. Quanto mais entendermos os mecanismos, mais terapias poderemos desenvolver.”
Fonte: EXAME
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