O engenheiro que criou adoçante com resto de milho para pai diabético
O mexicano Javier Larragoiti tentou ajudar o pai a parar de fugir da dieta e acabou criando um negócio.
Aos
28 anos, ele é o fundador da Xilinat, uma empresa que desenvolveu um
adoçante bastante semelhante ao açúcar e que é feito a partir de
resíduos agrícolas.Sua invenção fez com que, em 2017, ele fosse incluído na lista dos principais inovadores com menos de 35 anos compilada pelo prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).
Essa história começa em 2009, quando seu pai, de 49 anos, foi diagnosticado com diabetes tipo 2 - e passou a ter dificuldades em lidar com a orientação, dada pelos médicos, de não consumir açúcar.
É uma mudança e tanto em um país como o México, onde 85% da população consome acima do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda.
Vindo de uma família "chocolateira", Larragoiti teve a ideia de aproveitar os estudos na faculdade de engenharia química para procurar uma alternativa ao açúcar - que fosse diferenciada do resto no sabor e no preço.
Primeiro, ele tentou criar uma pílula que adoçasse o sabor dos alimentos: "Trabalhei nessa ideia por dois anos. No final, o mercado japonês saiu na frente".
Mas ele garante que teve "sorte" de não ter se conformado com essa solução, e ter seguido com a busca por alternativas para os 8,7 milhões de mexicanos diagnosticados com diabetes.
Ajuda da irmã
Nesse
meio tempo, a irmã de Javier Larragoiti, Yonuen, estudava para ser
dentista e dedicava seu trabalho de conclusão de curso ao xilitol,
obtido de plantas como a bétula.Entre as propriedades atribuídas à substância, está a de proteger os dentes contra a cárie. Mas o xilitol é, acima de tudo, um adoçante natural, então a estudante logo apontou isso ao irmão.
"Testamos e vimos que tinha gosto de açúcar. Parecia quase o mesmo", lembra o fundador da Xilinat.
"Fizemos uma pequena pesquisa para saber por que, apesar de ter esses benefícios, (o xilitol) não se tornou popular globalmente, e descobrimos que era muito caro", recorda ele.
Foi na busca por uma forma mais econômica de produzir xilitol que o jovem resolveu apostar em um substituto para a bétula: resíduos orgânicos.
Caça ao resíduo
A
pesquisa passou por várias etapas. Na busca por fornecedores de
matéria-prima, foram à Central de Abastecimento da Cidade do México, o
maior mercado atacadista e varejista da capital: "Fizemos uma mistura de
resíduos de tudo o que eles nos deram: flores, frutas e folhas'.Mas esse método tinha suas desvantagens, já que ele e seus colaboradores tinham que se conformar com o que havia.
"Por exemplo, lembro que em fevereiro e março tínhamos muitos resíduos de casca de frutas cítricas, então pegamos cascas de laranja, tangerina... Elas são muito ricas em uma coisa chamada pectina, muito útil para fazer geleias. Mas com a fermentação, ela resultava em um caldo super viscoso que depois dava muito trabalho para purificar".
Os comerciantes também perceberam que seus rejeitos estavam sendo usados como matéria-prima, e passaram a cobrar mais por isso. Somou-se a isso falta de segurança na região do mercado: "Nas duas últimas vezes em que fomos, pegaram nosso celular. Decidimos não ir mais".
A equipe de Larragoiti acabou se voltando para pequenos agricultores, e chegou, assim, ao resíduo perfeito: o "olote", como os mexicanos chamam os restos do milho quando todos os grãos já foram removidos.
"Decidimos migrar para um produto que era muito mais homogêneo e abundante em todo o país, porque, sendo amantes da tortilla, o milho é o nosso produto número um", diz ele.
"Compramos de camponeses que estão, na maioria, em estado de pobreza, infelizmente. E também evitamos que queimem (o material), o que acontece muito nas Américas. Da América Latina ao Canadá e Estados Unidos, os agricultores normalmente incineram seus resíduos, facilitando a limpeza - mas essa prática gera muitos poluentes."
Industrialização
O
resultado dos esforços de Larragoiti e uma equipe formada por Isabela
Fernández, sua ex-colega na universidade, e dois de seus professores,
Lorena Pedraza e Héctor Toribio, é um xilitol que custa US$ 2,4 por
quilo (cerca de R$ 9,2), comparado aos US$ 6 (mais ou menos R$ 23) com
origem na bétula."A ideia é baixá-lo para US$ 1 (R$ 3,9) por quilo para que o preço fique mais próximo ao do açúcar."
Para conseguir isso, ele espera industrializar a produção da Xilinat nos próximos dois anos com os mais de US$ 300 mil (mais de R$ 1,1 milhão) obtidos no prêmio The Venture, concedido este ano pela marca de uísque Chivas Regal.
Hoje, a Xilinat emprega uma dezena de pessoas, que fazem o produto de maneira artesanal.
Há apenas seis meses, eles começaram a vendê-lo no site da empresa, seu único canal de vendas. Eles receberam alguns pedidos da Colômbia e do sul dos EUA, mas como a capacidade de produção no laboratório é pequena, por enquanto, eles preferem se concentrar no mercado mexicano.
E o que pensa do produto o seu pai?
"Meu pai sempre diz que tem muito orgulho e usa o produto diariamente. E a melhor mudança é que, como para ele o sabor é como o do açúcar, ele não sente mais a necessidade de trapacear na dieta."
O pai usa o xilitol no café e chá, e também nas frutas a cada café da manhã.
Mas, duas vezes por semana, ele se permite ter o "luxo" de comer duas sobremesas com açúcar.
Fonte: BBC
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