Terras raras, o ouro do século XXI, são a arma da China na guerra tecnológica
O gigante asiático, que monopoliza 80% da produção mundial, ameaça se negar a exportar para seu rival esses minerais cruciais
Macarena Vidal Liy
Pequim
“Muitas vezes esses minerais cruciais passam despercebidos, mas sem eles a vida moderna seria impossível”, declarou nesta semana o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, ao apresentar um relatório que designa 35 elementos e compostos como “imprescindíveis para a segurança nacional e econômica” de seu país.
As terras raras − os 15 lantanídeos da tabela periódica e outros dois elementos relacionados, o escândio e o ítrio −, apesar de sua denominação, não são escassas. O cério, por exemplo, é tão abundante quanto o cobre na crosta terrestre. O problema é que é difícil encontrar esses minerais em concentrações suficientes para que sua extração valha a pena. Uma extração que pode trazer riscos para o meio ambiente e para a saúde: nas jazidas, eles podem estar misturados até mesmo com elementos radioativos, como o tório. E no processo de separação são gerados muitos resíduos tóxicos que podem poluir o ar, a água e o solo dos arredores. Os Estados Unidos só têm atualmente uma mina operacional, a de Mountain Pass, na Califórnia.
Já a China é, de longe, o principal fornecedor mundial, graças à abundância desses elementos em seu solo − calcula-se que conte com 37% das reservas mundiais, segundo a empresa de análise de mercado Research and Markets −, e a uma maior tolerância histórica na hora de antepor o desenvolvimento econômico à proteção do meio ambiente e à segurança no trabalho.
À custa de criar sérios problemas ecológicos nas áreas vizinhas − Baotou, na Mongólia Interior, a principal zona de exploração, carrega como herança um lago venenoso −, a China pode oferecer um produto muito mais barato que qualquer outro concorrente, monopolizar 80% do fornecimento mundial e também 85% da capacidade global de processamento em suas minas de Baotou, Liangshan (Sichuan, no centro do país), Ganzhou (Jiangxi, no leste) e Longshan (Fujian, na costa). Os outros 20% produzidos no mundo estão divididos entre Austrália, Brasil, Índia, Rússia, Vietnã, Malásia e Tailândia. Até a mina americana envia sua produção à China para que seja processada.
Para Washington, esse quase monopólio por parte de um país visto cada vez menos como um parceiro e mais como rival estratégico em um número crescente de áreas representa agora um problema. Principalmente porque a demanda continuará aumentando nos próximos anos, com o desenvolvimento de setores como o de veículos elétricos, e porque esses materiais são imprescindíveis também no campo militar, já que são usados nos sistemas de orientação de mísseis e radares, entre outros.
E Pequim ameaça, cada vez com menos sutileza, limitar suas vendas desses minerais para os EUA. É seu grande ás na manga no pingue-pongue de medidas e represálias comerciais em que os dois países estão imersos, levando em conta que, no ano passado, 80% das compras americanas de terras raras vieram da China, segundo o Serviço Geológico dos EUA.
Em 21 de maio o presidente chinês, Xi Jinping, inspecionou um centro de processamento de terras raras em Ganzhou, no que pareceu ser um primeiro aviso. Poucos dias depois, um editorial do Diário do Povo, jornal do Partido Comunista, anunciou ameaçadoramente: “Não digam que não os avisamos”, uma frase utilizada antes de entrar em guerra com a Índia em 1962 e com o Vietnã em 1979.
Finalmente, a todo-poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China, responsável pela política econômica, indicou que analisará o “endurecimento dos controles de exportação (…) e a revisão dos mecanismos de todo o processo de exportação” desses minerais. “Se algum país quiser usar produtos fabricados com terras raras chinesas para limitar o desenvolvimento da China, o povo chinês não verá isso com bons olhos”, advertiu o porta-voz dessa entidade. O jornal Global Times, por sua vez, assinalou que a proibição de exportações pode ser “uma arma muito poderosa na guerra comercial. No entanto, a China a usará principalmente para se defender. Não é sua primeira opção como arma de ataque”.
O relatório de 50 páginas apresentado por Ross contempla a extração de fontes diferentes das tradicionais − como, por exemplo, da água de mar e de resíduos de carvão −, assim como a fabricação de ímãs com elementos distintos. “O Governo dos EUA adotará medidas sem precedentes para garantir que o país não fique sem esses materiais vitais”, garantiu o secretário de Comércio.
A China continua, enquanto isso, tocando os tambores de guerra. Nesta semana, sua Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento realizou reuniões com especialistas e com as principais empresas do setor − controlado por seis grandes companhia estatais − para consultar seus pontos de vista. Nessas reuniões, a recomendação foi repetida: “controle das exportações”.
Fonte: El País
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