O aumento do nível dos mares se acelera desde a década de 1960
Elevação global até 2100 poderia ser mais do que o dobro da anteriormente prevista
O estudo da Terra com o uso de satélites permite saber que o nível do mar de todo o planeta vai crescendo a cada ano.
Suas medições de precisão, que começaram no princípio da década de
1990, indicam que essa elevação média vem se acelerando desde aquela
época, principalmente como resultado do degelo da Groenlândia e Antártida. Ou seja: não é só que o nível do mar está aumentando; ele sobe cada vez mais rapidamente.
Mas
não se sabia se esta aceleração tinha começado junto com as medições
feitas do espaço ou se vinham de antes, nem, nesse caso, onde e por que
teriam se originado. Agora, um novo estudo internacional debruçou-se
sobre o passado com novos cálculos, graças aos dados das estações de
medição de marés localizadas perto das costas. Seus resultados concluem
que essa aceleração do aumento do nível do mar ocorre desde a década de
1960 e resulta de outros fatores além do degelo dos polos.
"A
aceleração que se dá a partir dos anos noventa é atribuída ao degelo da
Antártida e Groenlândia, mas vemos que começou nos anos sessenta pela
absorção de calor", afirma Mir
A alteração dos oceanos se acumula há meio século. O novo estudo, publicado na Nature Climate Change,
indica que a taxa de aumento global do nível do mar, que era de menos
de um milímetro por ano na década de 1960, acelerou-se para mais de três
milímetros por ano na atualidade.
As emissões de gases
de efeito estufa já aqueceram o planeta em cerca de um grau Celsius
desde os tempos pré-industriais, até levá-lo à atual emergência climática.
E esse aumento da temperatura também faz o nível do mar crescer em todo
o globo por dois motivos. "Há um mais evidente, o gelo que derrete e
que joga mais água nos oceanos; mas também outro, mais complicado, que é
a absorção de calor, que provoca uma expansão térmica das águas,
aumentando seu volume", explica Francisco Mir Calafat, pesquisador do
Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido e coautor do estudo, do
qual participa também Marta Marcos, do Instituto Mediterrâneo de Estudos
Avançados (UIB-CSIC).
Mas,
contrariando a intuição, este aumento no nível do mar não ocorre de
maneira uniforme em todo o planeta. Há fatores que influem na
redistribuição desigual da água e do calor pelos oceanos, como o
percurso dos ventos, a circulação dos mares e inclusive as mudanças no
campo de gravidade da Terra. Neste caso, segundo os dados desses
pesquisadores, a aceleração começou a ser gerada no Pacífico Sul, e os
ventos desempenharam um papel determinante.
Este novo
cálculo não serve apenas para determinar a aceleração do passado, mas
também para alertar do que pode vir a ocorrer no futuro. As conclusões
do estudo salientam o importante papel da expansão térmica na taxa de
aumento do nível do mar, resultando numa aceleração que já tinha sido
prognosticada em 2013 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática para o século XXI. Deste modo, se projetarmos para o futuro
esta taxa de aceleração registrada, assumindo que continuasse constante,
o aumento do nível do mar poderia ser mais do que o dobro do esperado
para o ano 2100, comparado com projeções que assumem uma taxa de aumento
constante.
"A aceleração que se dá a partir dos anos noventa é atribuída ao degelo da Antártida e Groenlândia,
mas vemos que começou nos anos sessenta pela absorção de calor", afirma
Mir. E acrescenta: "As mudanças do vento causam por sua vez mudanças na
circulação do oceano, o que levou a esta maior absorção de calor que
provoca a elevação do nível do mar". No Pacífico Sul subtropical, a
leste da Austrália e Nova Zelândia, a aceleração da ascensão foi cinco
vezes maior que na média global. Para Mir, o mais provável é que esta
alteração na circulação dos ventos uivantes do Sul, também conhecidos
como Vendavais da Latitude 40, tenha a ver com a mudança climática, mas
não é algo que tenha sido estudado neste trabalho.
“A
nova estimativa dos mareógrafos mostra uma aceleração similar à
registrada pelos satélites do espaço nos últimos 25 anos", afirma a
geofísica Carling Hay, do Boston College, o que significa que os
cálculos do estudo são robustos. Os investigadores desenvolveram um
modelo híbrido que aproveita as vantagens dos dados globais dos
satélites com os oferecidos há muito mais tempo pelas estações de
medição, cujos resultados são muito mais enviesados para determinados
pontos das costas.
Fonte: El País
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