Os pequenos têm contato com dispositivos
eletrônicos desde muito cedo e isso pode prejudicar seu desenvolvimento;
alguns países já criam leis para prevenir danos
O governo chinês espera que isso evite que os pequenos — e até os adolescentes — fiquem viciados nessas plataformas. A preocupação faz sentido: não é raro ver crianças, especialmente as menores, ficarem nervosas quando o dispositivo dado para tranquilizá-las é retirado delas. É como se o remédio fizesse mais mal que a doença.
Por isso, as empresas devem ter responsabilidade pelo conteúdo que oferecem e pela integridade da internet como um todo. O órgão chinês não detalhou as características do filtro que deve ser criado pelas empresas, mas algumas das afetadas pela medida, como a Douyin e a Kuaishou, dizem que ele será ativado automaticamente para menores de idade.
Equilíbrio é essencial
A geração alfa, nascida a partir de 2000, já está quase chegando aos dez anos de idade. Eles são os primeiros para quem o universo analógico é completamente desconhecido. O uso da tecnologia é tão natural em seu contato com o mundo que ninguém precisa ensiná-los: eles aprendem intuitivamente, pois é como se tivessem nascido com o touch nas pontas dos dedos.
Segundo ela, não se pode proibir seu uso, mas é essencial não ser permissivo demais. “Se pensarmos no YouTube, por exemplo, é importante assistir junto e conversar sobre o assunto”, reforça. “Essa cultura deve ser incentivada em casa. Assim, os pais se mantêm conectados à realidade das crianças e podem orientá-las sobre a segurança nesse ambiente.”
Laura Granado, professora de psicologia da São Judas, concorda e diz que a tecnologia deve ser usada construtivamente para não trazer problemas. “Os pais precisam supervisionar e orientar os filhos”, explica. “Em vez de assistir a youtubers, a criança pode ler. Ali, ela vai imaginar, construir cenários e agir de forma ativa, em vez de receber tudo passivamente.”
Não só na China
Além da China, outros países já discutem como prevenir que os pequenos sejam afetados negativamente pela tecnologia. Na Índia, por exemplo, o TikTok foi proibido por um período, enquanto nos EUA o senador republicano Josh Hawley criou um projeto de lei que obriga as redes sociais a limitarem o tempo de uso de suas plataformas em 30 minutos.
As chinesas Douyin e Kuaishou prometem, além de criar o filtro exigido pela Administração do Ciberespaço Chinesa, monitorar o material divulgado em seus aplicativos para eliminar conteúdo adulto ou inapropriado. Outros concorrentes, entretanto, ainda não se manifestaram sobre o tema.
Segundo ela, aqui é comum que o poder público só interfira quando danos são efetivamente provados. Um exemplo é a lei que obriga o uso do cinto de segurança. Há 21 anos, quando o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi sancionado, ele não era exigido. A regulamentação só veio quando houve a constatação de que não usá-lo poderia causar mortes ou sequelas.
Com a tecnologia, o processo deve ser semelhante. Um dos primeiros passos nesse sentido é a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP). “Existe um artigo específico que prevê a proteção da criança (contra danos à honra e às integridades sexual e física). De acordo com ele, é necessária autorização dos pais para o uso de informações dos pequenos.”
Ele acredita que o projeto de lei do senador Hawley pode inspirar resoluções semelhantes em outros países. “Essas plataformas surgiram muito rapidamente, estão muito presentes no dia a dia e, por muito tempo, foram pouco reguladas. Pode-se dizer que a internet chegou à maioridade e, agora, está sujeita às leis. E as próprias empresas têm demonstrado interesse em se responsabilizar nesses casos.”
Futuro ainda é incerto
Para eles, inovação é ensinar novas formas de pensar: a tomada de decisões, a criatividade e a capacidade de concentração são mais importantes do que saber usar um dispositivo ou um software específicos. Como a tecnologia fica obsoleta rapidamente, é mais estratégico adotar metodologias inovadoras do que investir em infraestrutura tecnológica.
Os pais têm um papel bastante importante nesse contexto e, em conjunto com a escola, devem ser corresponsáveis por assegurar o uso correto das ferramentas. “Conhecer o universo das crianças é um desafio, porque, em geral, os pais não visitam a mesma tela que elas”, diz Luiza. “As redes sociais só mostram o que cada um gosta. Ou seja, a bolha dos meus filhos é diferente da minha.”
A depender da idade, as crianças podem ficar confusas sobre seus relacionamentos. “Como veem familiares em aplicativos de comunicação e depois os encontram pessoalmente, acreditam que podem encontrar e brincar com os youtubers que seguem. Afinal, sentem-se amigas deles.”
A pesquisa mostra, ainda, que jogos e redes sociais consomem mais de 50% do tempo dos pequenos. Entram aí o WhatsApp, o Free Fire (um jogo de tiro e sobrevivência) e as redes sociais Instagram e Facebook. Segundo dados do estudo, 35% do tempo desses usuários é gasto em jogos, 30% nas redes sociais, 20% em apps de entretenimento, 10% em aplicativos de mensagens e 4% navegando na internet.
Brincadeiras são essenciais
Para Luiza, a internet é a rua digital das crianças criadas em condomínios. “Os pais veem o filho em casa, feliz e seguro, mas não se questionam se ele realmente está bem. O que ele consume, do que ri e que opiniões está formando, por exemplo?” É preciso, então, abordá-los de forma aberta e receptiva. “Assim, a criança vai mostrar aos pais aqueles conteúdos que não passariam por eles naturalmente e eles poderão entender esse mundo à parte.”
É mais difícil aprender a lidar com esse sentimento quando a tecnologia está presente, porque, com ela, tem-se satisfação com um clique. “Em um jogo, quando o usuário ganha pontos, ocorre uma liberação tão intensa de dopamina — neurotransmissor que atua na sensação de bem-estar — que é difícil obter de outra forma”, conta.
Embora o uso da tecnologia seja uma necessidade no mundo atual, as habilidades de sonhar, desejar e até mesmo pedir algo devem ser estimuladas nas crianças. “É no intervalo entre o desejo e a possibilidade de satisfação que surgem a criatividade e a habilidade de representar — ou seja, de tornar presente algo que está ausente”, defende Laura.
Fonte: OlharDigital
Comentários
Postar um comentário
Todas postagem é previamente analisada antes de ser publicada.