quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Crescimento de energias renováveis bloqueia no mundo, mas avança no Brasil

Crescimento de energias renováveis bloqueia no mundo, mas avança no Brasil

Crescimento de energias renováveis bloqueia no mundo, mas avança no Brasil
Turbinas eólicas em RWE Offshore-Windpark Nordsee Ost no mar do Norte, a 30 km de Helgoland, Alemanha, 11 de maio de 2015. REUTERS/Christian Charisius/Pool


Sinais de alerta para o desenvolvimento das energias renováveis se repetem nos últimos dois anos. Primeiro, a China desacelerou os ambiciosos planos de diversificação energética, à espera da conclusão de infraestruturas que possibilitarão um melhor aproveitamento da geração. E na Alemanha, exemplo europeu de transição para as energias limpas, o setor de eólicas enfrenta resistências e queda de subsídios, que levaram ao fechamento de fabricantes.

Os exemplos simbolizam uma estagnação mundial do setor, depois de um crescimento espetacular nos anos 2010. Em 2018, as instalações eólicas e solares responderam por 26% da energia mundial, um recorde. Pelo menos 70% da energia consumida em grandes cidades, como Seattle e Estocolmo, hoje vem de fontes renováveis. Entretanto, o ritmo de novas capacidades estacionou, conforme dados da Agência Internacional de Energia (AIE) e da rede internacional REN21, especialista na questão. Na Alemanha, as instalações recuaram 82% desde o início do ano. Nesse ritmo, a meta de fechar as usinas nucleares até 2022 e as de carvão antes de 2040 pode ser comprometida.
Para o pesquisador Nicolas Berghamans, do Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Iddri), de Paris, o setor é, de certa forma, vítima do próprio sucesso. Com a chegada de licitações de grandes projetos de renováveis, que chegaram à maturidade nos países desenvolvidos, apareceram também novos desafios.
“No início, havia incentivos para as energias renováveis graças aos preços da energia garantidos pelo Estado, o que era uma boa vantagem. Essa prática também permitia a pequenos produtores e a cooperativas de terem eles mesmos as fontes de energia”, explica. “Mas a chegada das licitações mudou essa paisagem: agora, são as grandes empresas que chegam com enormes projetos, que são mais difíceis de ser aceitos pelas comunidades.”
Com menos vantagens econômicas diretas, a resistência da população alemã às turbinas eólicas ao barulho e o impacto na paisagem aumentou. O fenômeno se repete em outros países-modelo na questão, como a Holanda e a Dinamarca. 

China aperta o freio
Já a China, o país que mais investe em renováveis no mundo, reajustou as políticas públicas para o setor, enquanto não são concluídas linhas de transmissão da energia para as zonas de consumo. “A China tem planos ambiciosos, mas ela atinge muito rápido os objetivos. O de fotovoltaicos previsto para 2020 foi atingido em 2016, e foi o que levou o governo a reduzir os incentivos em renováveis nesses anos”, comenta Berghmans. “Mas como ela tem uma indústria forte, continua a querer desenvolver as energias renováveis. As eólicas e solares ainda representam uma parte pequena da matriz elétrica. Tem muito espaço para expansão”, nota o pesquisador francês.
O Brasil começa a trilhar por esse caminho – nos últimos seis anos, a participação da energia eólica passou de 1% para 11,7% da produção total do país. Apesar dos retrocessos ambientais do governo de Jair Bolsonaro, o setor deve continuar promissor na próxima década, na opinião de Emilio La Rovere, especialista no assunto e coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe-UFRJ.
“Existem realidades de mercado que se impõem em relação à política governamental. Vemos isso até nos Estados Unidos, onde nem mesmo o governo Trump conseguiu reativar o aumento do uso do carvão mineral”, ressalta La Rovere. “No Brasil, as energias eólica e solar, que iniciaram um crescimento na instalação de projetos e aumento da capacidade instalada tardiamente em relação aos países avançados, há uma perspectiva que ainda é de grande crescimento nos próximos anos, independentemente do que o governo atual possa alterar. E, até agora, ele não deu nenhum sinal de querer alterar as políticas em curso.”

 
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Acordo de Paris
O pesquisador do Ipea José Mauro de Morais concorda. Incentivos fiscais, financiamento do BNDES e forte presença nas licitações favorecem o desenvolvimento do setor. O Brasil, exemplo de matriz energética limpa graças às hidrelétricas, tende a aperfeiçoar ainda mais o seu modelo, avalia.
“Se verificamos o Acordo de Paris, nós nos comprometemos a ter 45 % de toda a matriz energética brasileira de energias renováveis até 2030. Este ano, já chegamos a 45,3%, ou seja, o Brasil já cumpriu o seu objetivo”, destaca Morais.
Com as eólicas terrestres de vento em popa no Nordeste, o próximo passo avançar nas turbinas offshore, no mar, e ampliar a parcela de fotovoltaicas. Hoje, a energia solar responde por apenas 2% da matriz brasileira. 

Fonte: RFI

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