sexta-feira, 18 de outubro de 2019

As possíveis razões da volta do óleo às praias do Nordeste que já haviam se livrado dele

As possíveis razões da volta do óleo às praias do Nordeste que já haviam se livrado dele






17 outubro 2019


Direito de imagem REUTERS/Adriano Machado
Manchas de óleo e banhistas na beira d'água em praia na Bahia 
Manchas e banhistas na beira d'água em praia na Bahia; trajetória do óleo pode ter encontrado seu ponto máximo ao chegar em Salvador
As manchas de óleo que poluem o Nordeste há um mês e meio podem ter encontrado seu ponto máximo ao sul após poluírem praias de Salvador. Elas deram início a um novo ciclo que vai no sentido contrário, sujando novamente praias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco.
"Não estamos detectando manchas ao sul de Salvador. Temos a esperança de que ela esteja contida nessa latitude", disse em audiência no Senado nesta quinta-feira (17/10) o Almirante Alexandre Rabello de Faria, da Marinha do Brasil.
Nesta quinta, por exemplo, novas manchas apareceram no litoral sul de Pernambuco, depois de 31 dias após deixarem o Estado livre do problema. Alagoas e Sergipe voltaram a registrar grandes surgimentos esta semana em áreas que já haviam sido atingidas anteriormente.
Mas qual seria motivo de as manchas "darem a volta" para repoluírem os mesmos lugares por onde o óleo já havia passado?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apresentaram algumas hipóteses que ajudam a entender o fenômeno. Entre as possíveis causas estão as correntes marítimas, o vento e próprio ciclo natural do oceano.
O professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o retorno das manchas é algo natural, já que o material lançado na areia é recolhido de volta ao oceano na maré alta.
"A maré pega elas de volta e leva mais para frente. É um processo natural, até ela ficar de vez. E isso quando ela encontra pedras, ou uma praia que tenha uma declividade menor, onde ela tende a ficar de vez", explicou.
Segundo Cavalcante, uma das características desse problema é que, quanto mais manchas são lançadas fora da água, "mais elas vão se dispersando e passando de tamanhos grandes para menores".
O oceanógrafo e professor Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Claudio Sampaio explica que as correntes marítimas explicam que o óleo tenha chegado novamente a Alagoas e Pernambuco.
"O que observamos é que o petróleo que estava no litoral baiano está sendo transportado pela corrente marítima do Brasil, que tem origem norte-sul. Esse óleo que chegou ontem e hoje no litoral norte de Alagoas provavelmente é fruto de pequenas correntes mais costeiras, que, influenciadas pelo padrão do vento, fizeram com o que esse petróleo que ainda está no mar fosse transportado mais ao norte e chegasse na praia", diz.
Ventos ajudam
Direito de imagem REUTERS/Adriano Machado
Pessoa mostra luvas sujas de óleo 
Por que mancha de óleo está revertendo trajetória? Especialistas apontam para correntes marítimas, o vento e próprio ciclo natural do oceano
Já o professor Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Ufal, diz que a repetição de locais pode estar ligada ao vento.
Conforme o coordenador, o óleo pode estar sendo arrastado para a costa da Bahia e de Sergipe pelo ventos fortes que estão atingindo a costa e ondas que vêm do sudeste com até 2,5 metros.
"Essa semana tiveram ventos dominantes de sudeste, ou seja, estão soprando na região do Centro-Sul para a região Nordeste", explicou. "Fora da costa o mar continua agitado, com ondas de até 4,5 metros. De fato há uma sinergia entre o aumento de poluição e o aumento de ondas de vento na costa da Alagoas, Bahia e Sergipe", disse.
Barbosa ainda explica que, desde a segunda-feira, o mar ficou agitado na costa da Bahia e em Sergipe após a passagem de um ciclone extratropical pela costa sul do Brasil.
"O ciclone já se afastou em alto mar, e a tendência é a diminuição das ondas no decorrer desta sexta-feira na maioria das áreas do litoral leste no Nordeste", enfatizou. "Com isso, espera-se a diminuição da poluição de óleo que está sendo arrastada de algum ponto na região do Atlântico Sul", acrescentou.
Entretanto, segundo o professor, há uma previsão ventos fortes entre domingo (20) e terça-feira (22) nas costas de Alagoas e Sergipe, o que pode aumentar a concentração de óleo dos dois Estados.
"Como não se sabe a origem do vazamento, o que se tem agora é o impacto da poluição, e ele depende das condições meteorológicas. Os ventos serão determinantes, principalmente quando se desloca do centro-sul do país para cá."

Óleo em Aracaju
Um detalhe que chama atenção foi dado por Romeu Boto, diretor técnico da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema). Ele contou à BBC News Brasil que foi o óleo encontrado em Aracaju durante a manhã desta quinta-feira tem característica de um material mais novo.
"Não conseguimos estabelecer ainda por qual motivo elas estão aparecendo. Algumas delas aparecem em um ponto e o mar leva, e elas aparecem lá na frente. Fica impossível saber sem a origem da fonte", afirmou Romeu.
Ministro diz que não sabe quanto óleo ainda existe
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobrevoou o litoral da Bahia e de Alagoas nesta quarta-feira (16) e, em Maceió, afirmou aos jornalistas que não se sabe quanto óleo ainda existe no mar.
"Ao que tudo indica é o mesmo óleo cuja corrente marítima tem feito com que toque na costa e retroceda. Toda vez que toca na costa, nosso objetivo, nosso esforço junto com os Estados e municípios é retirar esse óleo para que ele não volte para o mar", disse Salles.

Fonte: BBC

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