Dívida verde, da vontade política ao turbilhão dos mercados
AFP
28
Nov
2019
AFP/Arquivos / INA FASSBENDER
(Arquivo)
Os mercados
podem ser capazes de financiar a revolução verde necessária para
desacelerar a mudança climática, à medida que os investidores adotam
princípios de investimento socialmente responsáveis
Fonte importante de financiamento dos projetos
ambientais, a dívida "verde" nasce de uma vontade política ou
estratégica forte e é objeto de cuidado especial antes da etapa crucial
do encontro com o mercado.Como funciona a dívida verde?
Um bônus verde, seja emitido por um Estado, uma organização internacional ou uma empresa, tem duas características adicionais: só pode financiar investimentos verdes e é avaliado a posteriori.
Atualmente, a dívida verde representa 660 bilhões de dólares, ou seja, menos 1% do mercado global da dívida, afirma Stéphane Marciel, diretor de bônus sustentáveis do Société Générale CIB.
Vontade política ou estratégica
Emitir um empréstimo verde é uma opção política ou estratégica importante, o que torna a comunicação sobre o projeto muito relevante.
"É uma vontade que vem de cima e que depois é aplicada pelas equipes técnicas", resume Julien Brune, codiretor do serviço de assessoria e estruturação de dívida na SG CIB.
Os pioneiros
Os primeiros empréstimos verdes foram concedidos em 2008 pelo Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimentos.
No caso dos Estados, a emissão pela França de 7 bilhões de euros em janeiro de 2017 serve de padrão por seu valor, suas características técnicas e o compromisso de elaborar um relatório sobre o impacto.
"Nosso objetivo era demonstrar que os mercados de capitais poderiam ajudar os Estados a financiar a transição energética. A operação foi bem recebida pelos mercados e outros países nos seguiram", disse Anthony Requin, diretor-geral da Agência France Trésor (AFT).
Um trabalho de poda
Uma vez tomada a decisão "entramos em cena para reconciliar a utopia no sentido primário do termo e o real", explica Requin.
"Reunimos os ministérios e as administrações competentes para rastrear os gastos do orçamento do Estado e identificar os que poderiam ser classificados indiscutivelmente como verdes", completa.
Um crédito fiscal para o isolamento de residências ou financiamentos para preservar a biodiversidade estavam entre os gastos previstos.
"Hoje, quase 75% dos bônus verdes financiam projetos de energia, a construção e o transporte com reduzido nível de carbone", indica Noémie de la Gorce, analista de Finanças Sustentáveis da S&P Global Ratings.
"Roadshows"
Os Estados e as empresas constroem tecnicamente a operação com a ajuda de um banco.
Não existe uma regulamentação internacional para a dívida ecológica, mas foram elaborados princípios fundamentais com a mediação da Associação Internacional de Mercados de Capital (ICMA).
Uma prática cada vez mais utilizada é recorrer a um órgão independente para uma revisão externa.
Quando a operação está pronta é necessário convencer os investidores em "roadshows".
O grande teste dos mercados
No dia D da emissão no mercado, o mutuário, auxiliado por vários bancos, abre uma "carteira de pedidos" na qual os investidores registram o que desejam comprar, antes que as condições finais sejam estabelecidas e os valores dos títulos sejam distribuídos.
O apetite pelo verde é tamanho que "as condições para o prestatário são no mínimo tão competitivas como em uma operação clássica", destaca Brune.
Teste de realidade
O mutuário publicará um relatório sobre o uso dos fundos, geralmente no ano seguinte à operação.
Preocupada em dar um passo além, segundo Requin, a França decidiu acrescentar um relatório de impacto elaborado com um conselho de nove especialistas internacionais.
De acordo com um estudo publicado em novembro de 2018, a dívida ecológica emitida pela França, que representa atualmente mais de 20 bilhões de euros, permitiu a renovação energética de 75.000 casas por ano em 2015 e 2016.
Fonte: AFP
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