sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Incêndios na Amazônia 'intensificam derretimento de gelo nos Andes'

Incêndios na Amazônia 'intensificam derretimento de gelo nos Andes'






29 novembro 2019


Direito de imagem Getty Images
Casas com tijolo aparente e sem pintura e, em segundo plano, as cordilheiras dos Andes com gelo 
Povoado andino na Bolívia; pesquisadores alertam para impacto da fumaça no derretimento de gelo e, em consequência, no abastecimento de água para milhões de pessoas
A fumaça originada na queima de florestas da Amazônia pode intensificar o derretimento dos glaciares na América do Sul, o que alimenta preocupações de eventual crise de falta d'água na região.
Isto porque o derretimento das geleiras tropicais fornece água para milhões de pessoas.
O alerta vem de uma equipe de pesquisadores que recriou, em modelos, o movimento e o efeito das partículas de fumaça nas geleiras andinas e compararam suas conclusões com imagens de satélite.
Eles dizem que o impacto da fumaça e do derretimento será sentido em todo o continente.
"O desmatamento e os incêndios na Amazônia, que ocorrem principalmente na Bolívia, Peru e Brasil, não podem ser considerados uma questão local", alerta Newton de Magalhães Neto, doutor em geociências pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador no Laboratório de Geoprocessamento do Instituto de Geografia Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"Eles têm implicações sociais em escala continental, porque acelerar a perda de geleiras aumenta o risco de uma crise hídrica e a vulnerabilidade de várias comunidades andinas diante das mudanças climáticas."

Como os incêndios na floresta afetam o gelo a centenas de quilômetros de distância?
Direito de imagem ESA/NASA
Imagem de satélite mostra fumaça e rio na Amazônia 
Partículas originadas na queima de floresta podem ser transportadas por centenas de quilômetros
A primeira coisa que Magalhães Neto e coautores — Heitor Evangelista, também da UERJ; e pesquisadores da Universidade Grenoble Alpes, na França — o estudo, publicado no periódico Scientific Reports, se propôs a fazer foi verificar se a fumaça dos incêndios na Amazônia poderia alcançar os glaciares nos Andes.
O estudo focou em dados de dois anos, 2007 e 2010, quando ocorreram mais incêndios do que o habitual na floresta Amazônica, e em um glaciar específico, o Zongo, na Bolívia.
Dados atmosféricos mostraram que a fumaça dessas queimadas, particularmente partículas de carbono preto, foi transportada pelo vento e depositada nas geleiras das montanhas.
"Uma vez depositado na geleira, o [carbono preto escurece] a superfície da neve/gelo, o que reduz sua capacidade de refletir a radiação solar — ou a luz solar", explica Magalhães Neto.
Em resumo, uma superfície escura absorve mais energia do sol, o que intensifica o derretimento.
A descoberta não foi tão surpreendente assim porque o mesmo processo já fora observado em outras partes do mundo.
"A Groenlândia recebe grandes quantidades de carbono preto com origem em combustíveis fósseis devido a processos industriais na América do Norte e na Europa", explica Neto. "E o carbono preto originado na queima de combustíveis fósseis e biomassa no hemisfério norte acelerou o derretimento das geleiras no Ártico".
Direito de imagem Getty Images
Foto aérea mostra floresta amazônica sendo queimada, repleta de fumaça 
Dados atmosféricos mostraram que a fumaça das queimadas foi transportada pelo vento e depositada nas geleiras das montanhas
Qual poderia ser o impacto disso?
Comunidades em todo o continente dependem do derretimento das geleiras nos Andes para o seu abastecimento de água, o que significa que o impacto deste processo será sentido em uma área grande.
Ryan Wilson, da Universidade de Huddersfield, na Inglaterra, estuda o impacto das mudanças climáticas nas geleiras dos Andes há cinco anos. Ele disse que o estudo demonstrou o impacto a longa distância dos incêndios na Amazônia.
Mas ele alertou que o estudo analisa apenas uma geleira, acrescentando que são necessárias "mais investigações para entender o panorama em escala regional".

Fonte: BBC

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