quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Sarampo faz corpo "esquecer" como combater outras doenças

Sarampo faz corpo "esquecer" como combater outras doenças

Em meio a surtos do vírus mundo afora, dois estudos apontam que doença apaga parte da memória do sistema imunológico e faz anticorpos desaparecem, deixando crianças vulneráveis a infecções às quais um dia foram imunes.

DW
01.11.2019


Vírus do sarampo
OMS alertou para um "aumento alarmante" de sarampo entre pessoas não vacinadas em todas as regiões do mundo


Contrair sarampo é ainda mais perigoso do que os médicos pensavam. Dois estudos publicados nesta quinta-feira (31/10) concluíram que o vírus contribui para que o sistema imunológico do ser humano "esqueça" como combater outras doenças.

A descoberta ajuda a explicar por que crianças costumam contrair outras doenças infecciosas após se curarem do sarampo, além de fazer um alerta para os perigos da crescente resistência à vacinação infantil em alguns países.

As duas pesquisas mostram pela primeira vez como o sarampo, uma das doenças mais contagiosas, redefine o sistema imunológico humano de volta para um estado imaturo como o de um bebê, com capacidade limitada de combater novas infecções.

Ambos estudos – um publicado na revista Science e outro, na Science Immunology – analisaram um grupo de pessoas não vacinadas na Holanda para descobrir os efeitos do sarampo para o sistema imunológico.

Em uma das pesquisas, os cientistas sequenciaram genes de 26 crianças, antes da infecção pelo vírus e cerca de 40 a 50 dias depois, e descobriram que anticorpos específicos que tinham sido criados contra outras doenças haviam desaparecido do sangue dos infectados.

O outro estudo descobriu que a infecção por sarampo destruiu entre 11% e 73% dos anticorpos protetores das crianças – que são proteínas do sangue que "recordam" batalhas anteriores contra diferentes vírus e ajudam o corpo a evitar infecções repetidas. Ou seja, as crianças ficaram vulneráveis a infecções às quais um dia já haviam sido imunes.

Segundo os pesquisadores, a conclusão tem implicações para a saúde pública em todo o mundo, uma vez que o declínio nas taxas de vacinação tem levado a surtos de sarampo – o que, por sua vez, pode permitir o ressurgimento de outras doenças perigosas, como difteria e tuberculose.

"Esta é uma demonstração direta em humanos do que chamamos de 'amnésia imunológica', em que o sistema imunológico esquece como responder a infecções enfrentadas anteriormente", explica Velislava Petrova, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que conduziu um dos estudos.

Por sua parte, Stephen Elledge, geneticista e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, que conduziu a segunda pesquisa, disse que seus resultados trazem "evidências realmente fortes de que o vírus do sarampo está realmente destruindo o sistema imunológico".

O sarampo causa tosse, feridas na pele e febre, e pode levar a complicações potencialmente fatais, incluindo pneumonia e uma inflamação no cérebro conhecida como encefalite. A doença pode ser prevenida com duas doses de uma vacina que é aplicada desde a década de 1960.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para um "aumento alarmante" de casos de sarampo entre pessoas não vacinadas em todas as regiões do mundo. Nos três primeiros meses do ano, o número de casos quadruplicou em relação ao mesmo período de 2018.

"O vírus [do sarampo] é muito mais prejudicial do que imaginávamos, o que significa que a vacina é muito mais valiosa", conclui o geneticista Elledge.

Fonte: DW

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