Tartarugas são atraídas pelo cheiro do plástico podre
Um
experimento mostra que elas reagem aos resíduos plásticos com
incrustações orgânicas como se fossem um coquetel de camarões e peixes
Miguel Ángel Criado
10 mar 2020 - 19:14BRT
As tartarugas são atraídas pelo cheiro do plástico que flutua nos oceanos.
Um experimento com uma série de aromas mostra que elas reagem como se
estivessem diante de um coquetel de camarões e peixes. Mas, para que se
comportem da mesma maneira, o lixo plástico precisa ficar tempo suficiente no mar para que algas e outros organismos adiram a ele. As tartarugas reagiram aos pedaços de polietileno de uma garrafa limpa como se fosse a brisa do mar.
A cada ano, vários milhões de toneladas de plástico acabam no mar.
Animais marinhos se deparam com esses resíduos e até os comem. Um
estudo de 2015 calculou que 52% das tartarugas marinhas comiam plástico.
O que não está totalmente claro é se fazem isso por acidente ou porque acreditam que seja comida.
Segundo uma hipótese, esses répteis confundem uma sacola de
supermercado com uma medusa. Mas essa explicação valeria apenas para as
espécies como a tartaruga-de-couro, que se alimentam quase
exclusivamente de medusas. As demais também comem peixes e crustáceos, e
há algumas que pastam nas pradarias marinhas como se fossem vacas.
Agora, um experimento aponta para uma resposta a um estímulo mais complexo. Pesquisadores de várias universidades dos EUA e do Caretta Research Project,
um projeto para proteger a tartaruga-cabeçuda, expuseram 15 animais
dessa espécie a quatro aromas distintos. No tanque de água em que as
colocaram, dispersaram quatro odores: o de um litro de água
desmineralizada, o de 20 gramas de uma almôndega composta de peixes
e mariscos, o de uma garrafa de água vazia em pedaços, mas limpa, e o
de outra garrafa, também em pedaços, mas que tinha ficado no mar durante
cinco semanas.
O trabalho, publicado na Current Biology,
mostra que as tartarugas praticamente não foram atraídas pela água
desionizada e pelo plástico limpo. No entanto, multiplicaram até cinco
vezes o tempo que punham seus narizes para fora da água para cheirar
tanto o aroma da bola de peixes e mariscos como o exalado pelo plástico
com material orgânico incrustado. Também triplicaram o número de
cheiradas em cada emersão. Os dois padrões são indicadores de busca de
alimento. Houve até mesmo maior atividade ante o aroma do plástico com
microrganismos.
“Vemos que as tartarugas-cabeçudas
respondem ao aroma dos plásticos com incrustações biológicas da mesma
forma que com o aroma do alimento, o que sugere que podem ser atraídas
pelos restos de plástico não só por sua aparência, mas também por seu
cheiro”, diz em uma nota o pesquisador da Universidade da Flórida (EUA) e
coautor do estudo Joseph Pfaller. “Essa armadilha olfativa poderia
ajudar a explicar por que as tartarugas marinhas engolem e se enroscam
nos plásticos com tanta frequência”, acrescenta.
Os
autores reconhecem que, pelo próprio desenho de seu experimento, não
podem saber qual elemento específico presente no plástico foi o que
atraiu as tartarugas. No tempo que passaram na água, as partes de
plástico se tornaram o lar de vários microrganismos marinhos. Daí que os
cientistas sugiram a possibilidade de que voláteis emanados da síntese
orgânica de microalgas, hidrozoários ou outros organismos atraiam os
répteis marinhos como um indício de que há comida.
Além
de identificar os produtos químicos responsáveis pelo aroma atraente, a
grande limitação desse trabalho é que ele foi realizado com exemplares
jovens (cinco meses de vida) criados em cativeiro de uma das seis
espécies de tartarugas marinhas que existem. O estudo deveria ser
replicado nas outras que, com dietas diferentes, também caem na
armadilha do plástico.
Fonte: El País
Comentários
Postar um comentário
Todas postagem é previamente analisada antes de ser publicada.