Ensino híbrido é tendência para a vida escolar no mundo pós-pandemia
O chamado blended learning crescerá após pandemia, diz especialista
Ludmilla Souza - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
14/07/2020 - 07:22
Com o
surgimento da pandemia da covid-19, da noite para o dia professores e
alunos tiveram que se acostumar e se reinventar na forma de aprender e
de ensinar: com aulas online e videoaulas, entre outras
ferramentas, os educadores se viram diante de novos desafios, aos quais
estavam pouco ou nada preparados.
Embora o ensino a distância (EAD) já seja realidade para os adultos
que fazem cursos técnicos, graduação e pós-graduação de forma online,
para crianças e jovens a modalidade ainda está em crescimento, mesmo
que não seja uma novidade, explica o professor e autor de livros
didáticos Ismael Rocha.
“Há muito tempo, diversas escolas praticam o ensino híbrido. A partir
do momento em que utilizam diferente plataformas de ensino e
aprendizagem, estão trabalhando com o ensino híbrido. Quando há uma
excursão para visitar um museu, uma área de mata, essas visitas
representam ensino híbrido, que é algo que acontece na sala de aula e
fora dela”.
O que não estava estruturado, diz Rocha, era o uso constante do online. “O
que nós não tínhamos antes da pandemia era o uso das ferramentas
virtuais para o trabalho do ensino híbrido, não tínhamos a construção do
online, que era muito pouco utilizado. Algumas escolas já
tinham uma plataforma onde os alunos podiam tirar exercícios, publicar
alguma lista de coisas que tinham feito, mas da maneira sistemática como
estamos começando a ver hoje e
como teremos daqui para a frente é uma novidade - não o ensino hibrido,
mas o ensino a partir do uso de plataformas digitais, o ensino online”, acrescenta.
Considerada tendência na área da educação para o futuro, a mistura entre o ensino presencial e o online, que prevê um mix
entre a sala de aula convencional e conteúdos produzidos com apoio de
ferramentas de tecnologia, vai invadir mais fortemente a vida do
estudante no mundo pós-pandemia. Mas o formato exige muito mais mudança
dos professores do que dos estudantes, acredita Rocha, que também é
diretor do Institute of Technology and Education (Iteduc), organização
pioneira em capacitar professores de educação básica para o ensino online.
“É uma mudança de paradigma, que vai levar professores e alunos a
acreditarem que a plataforma digital é uma ferramenta extremamente útil
para o processo de ensino-aprendizagem, principalmente porque a grande
maioria dos jovens, desde as crianças, utiliza as ferramentas digitais
para o lazer. A relação com o digital para as crianças e os jovens não é
uma relação nova, já é presente.”
Nativos digitais
Na visão do especialista, o esforço está em transferir essa
habilidade dos jovens para a área da educação. “O trabalho do professor
vai ser fazer a transposição, acreditando que essas ferramentas podem
trazer e facilitar o processo de ensino-aprendizagem, vamos ter dados
mais significativos, vamos saber quantos alunos estão entrando na
plataforma para fazer a tarefa, para cumprir as atividades. Vamos gerar a
possibilidade de trazer para esses alunos informações muito mais
criativas e envolventes, ou seja, muda muito e muda para melhor.”
A adoção do método exige uma reorganização do tempo de sala de aula,
junto com novo plano pedagógico. O professor ganha um papel também de
mentor, apto a impulsionar os alunos em direção a uma postura crítica,
acompanhando as questões individuais e dando vazão ao que melhor
funciona no aprendizado de cada estudante. E as diversas plataformas
digitais vêm para somar essa relação ensino-aprendizado.
“Temos inúmeras plataformas que permitem esse tipo de interação.
Desde as mais simples, que permitem que você faça uma aula e um
exercício online, até as mais sofisticadas. Essas ferramentas
ainda não são tão fáceis de serem trabalhadas, porque a grande maioria
dos professores não é nativa digital, o que gera certa dificuldade para
que o processo todo aconteça de maneira tranquila. Os professores
estavam acostumados a ensinar, agora eles terão
que aprender para ensinar. Certamente, os professores conseguirão
dominar essas ferramentas para colocá-las em prática e permitir que o
ensino híbrido se torne cada vez mais uma realidade.”
Ensino híbrido
Também conhecido pelo termo em inglês blended learning, o
ensino híbrido se acentuou com o advento da internet e nada mais é do
que combinar diversas plataformas, como filmes, rádio e televisão, por
exemplo. “Quando eu peço que o aluno assista a um filme e, na aula
seguinte, tenho um debate sobre o filme, estamos trabalhando com
diferentes plataformas para o que o processo de ensino se dê de forma
mais intensa, e tudo isso veio de maneira mais forte com o advento da
internet”, afirma Rocha.
Segundo o professor, atualmente quem não tem acesso à internet e a
computadores pode ficar prejudicado, mas há outras formas. “Os alunos
que não têm acesso a essas plataformas ficam prejudicados sim, mas temos
experiências em alguns lugares do mundo, com características
socioeconômicas parecidas com as do Brasil, em que as aulas foram dadas
pelo rádio por meio de emissoras estatais, ou seja, fizeram aulas
permitindo que os alunos daquele país pudessem aprender. Se olharmos de
uma maneira muito reducionista, entendendo que o ensino híbrido só pode
ser feito por meio de internet com banda larga, não há dúvida de que
realmente há um prejuízo para aquelas crianças e jovens que não têm
acesso.”
O ensino híbrido pode ser feito por meio de formas bem conhecidas,
lembra Ismael Rocha. “Nós temos estações de TV e rádio estatais, temos a
possibilidade de fazer a geração de materiais escolares numa velocidade
muito rápida. É muito mais uma decisão política, para que o ensino
híbrido possa fazer parte do dia a dia das escolas, do que uma decisão
de tecnologia. Um exemplo no Brasil é o famoso telecurso, quando uma
série de pessoas conseguiu seu diploma dos antigos primeiro e segundo
graus, acompanhando aulas todos os dias pela televisão. Elas não tinham
oportunidades de ter aulas presenciais”, diz.
Na opinião do professor, a pandemia traz esse avanço para a educação.
“Se tiver um programa de educação que seja formatado de maneira que
todos possam ter acesso
à informação, certamente nós teremos um ganho. A pandemia traz
exatamente esse desenho: a possibilidade de mudarmos definitivamente a
realidade da educação no Brasil. Para a educação não existem limites,
existe sim a necessidade de ter boa
vontade, porque aprender é algo que o ser humano faz desde quando
nasce, desde os tempos das cavernas, por diferentes plataformas, nós
estamos só sistematizando isso.”
Educa Week 2020
Nesta terça-feira
(14) no Educa Week, às 9h, Ismael Rocha e mais três especialistas vão
falar sobre o tema, em debate de utilidade pública online. O debate contará com a participação de Mario Ghio, diretor-presidente do Somos Educação; Guilherme Cintra, head
de Tecnologia Educacional do Eleva Educação, e Ademar Celedônio,
diretor de Ensino e Inovações Educacionais da SAS plataforma de
educação.
A Educa Week 2020 vai até domingo (19 de julho).
No total, serão mais de 30 painéis com a participação de 70
especialistas, que vão debater o futuro da educação no Brasil e
compartilhar experiências de sucesso do ensino-aprendizagem durante a
pandemia, entre outras pautas do setor. Para acompanhar os debates,
aberto ao público, basta acessar o site do evento.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: EBC
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