Estresse por calor: como luta contra covid-19 mostra perigos de mundo 'quente demais para humanos'
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Milhões de pessoas
em todo o mundo podem ser expostas a níveis perigosos de estresse por
calor — uma condição perigosa que pode causar falência de órgãos.
Muitos vivem em países em desenvolvimento e realizam trabalhos que os expõem a condições potencialmente fatais.
Isso inclui estar ao ar livre em fazendas e canteiros de obras ou em ambientes fechados em fábricas e hospitais.
O aquecimento global aumentará as chances de haver condições que podem ser "quentes demais para os seres humanos" trabalharem.
Médico de emergência, ele está trabalhando no calor tropical sufocante de Cingapura para cuidar de pacientes com covid-19.
Não
há ar-condicionado — uma escolha deliberada para impedir que o vírus se
espalhe — e ele percebe que ele e seus colegas se tornam "mais
irritados, mais impacientes uns com os outros".
E seu
equipamento de proteção pessoal, essencial para evitar infecções, piora
as coisas, criando uma verdadeira "estufa" sob as múltiplas camadas de
plástico.
"Você
sente quando veste", diz Lee, "é muito desconfortável ficar com ele ao
longo de um turno inteiro de oito horas — isso afeta o moral".
Um
perigo, ele observa, é que o superaquecimento pode diminuir a capacidade
de fazer algo vital para a equipe médica — tomar decisões rápidas.
Outro,
é que equipes médicas podem ignorar os sinais de alerta do chamado
estresse por calor — como desmaio e náusea — e continuar trabalhando até
desmaiar.
O que é o estresse por calor?
Estresse
por calor é quando o corpo fica incapaz de esfriar adequadamente, de
modo que sua temperatura central continua subindo a níveis perigosos e,
eventualmente, causar falência de órgãos importantes.
Isso
acontece quando a principal técnica para eliminar o excesso de calor — a
evaporação do suor na pele — não pode ocorrer porque o ar está muito
úmido.
E como Lee e outros médicos descobriram, as camadas
impermeáveis do equipamento de proteção individual (EPI), projetadas
para proteger do vírus, têm o efeito de impedir que o suor evapore.
Segundo
Rebecca Lucas, médica que pesquisa fisiologia na Universidade de
Birmingham, os sintomas podem ir de desmaios e desorientação a cãibras e
falências dos intestinos e rins.
"Pode se tornar muito grave quando a temperatura aumenta muito em todas as áreas do corpo."
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Como podemos identificá-lo?
Um
aparelho chamado WBGT (Wet Bulb Globe Temperature ou Temperatura Global
de Bulbo Úmido) mede não apenas o calor, mas também a umidade e outros
fatores para fornecer uma descrição mais realista das condições.
Nos anos 50, militares dos EUA o usaram para elaborar diretrizes para manter os soldados em segurança.
Quando o WBGT atinge 29ºC, por exemplo, a recomendação é suspender o exercício para quem não estiver acostumado.
No entanto, essa é a temperatura que Lee e seus colegas estão sentindo regularmente no Hospital Geral Ng Teng Fong de Cingapura.
E
no topo da escala — quando o WBGT registra 32ºC — o treinamento militar
nos EUA é interrompido porque o risco se torna "extremo".
Níveis
altos assim foram recentemente registrados nos hospitais de Chennai, na
Índia, pela professora Vidhya Venugopal, da Universidade Sri
Ramachandra.
Ela também encontrou trabalhadores em um deserto de
sal onde o WBGT sobe durante o dia para 33°C — ponto em que eles
precisam procurar abrigo.
E em uma usina siderúrgica, foi
registrado um nível de 41,7°C, que colocou os trabalhadores entre os
mais vulneráveis ao que ela chama de "calor intenso".
"Se isso
acontece dia após dia, as pessoas ficam desidratadas, há problemas
cardiovasculares, pedras nos rins, exaustão pelo calor", diz Venugopal.
Qual será o impacto da mudança climática?
À
medida que as temperaturas globais aumentam, é provável que haja
umidade mais intensa, o que significa que mais pessoas serão expostas a
mais dias com essa combinação perigosa de calor e umidade.
Richard
Betts, do Met Office do Reino Unido, executou modelos de computação que
sugerem que o número de dias com um WBGT acima de 32ºC deve aumentar,
dependendo da contenção — ou não — das emissões de gases causadores do
efeito estufa.
E ele explica os riscos para milhões de pessoas que
já precisam trabalhar na desafiadora combinação de calor extremo e alta
umidade.
"Nós, humanos, evoluímos para viver em uma faixa
específica de temperaturas, por isso é claro que, se continuarmos a
fazer com que as temperaturas subam no mundo inteiro, mais cedo ou mais
tarde as partes mais quentes do mundo poderão começar a ver condições
simplesmente quentes demais para nós."
Outro estudo, publicado no
início deste ano, alertou que o estresse causado pelo calor pode afetar
até 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo até 2100, quatro vezes mais do
que agora.
Quais são as soluções?
Segundo Jimmy Lee, há algumas formas de lidar com o problema.
As
pessoas precisam beber bastante líquido antes de começarem a trabalhar,
fazer intervalos regulares e depois beber água novamente quando
descansarem.
Seu hospital começou a adotar bebidas semicongeladas para ajudar a equipe a se refrescar.
Mas ele admite que é mais fácil falar do que fazer.
Para
ele e seus colegas, descansar envolve o laborioso processo de trocar de
EPI e depois voltar com um novo conjunto de equipamentos.
Também há um problema prático. "Algumas pessoas não querem beber água para evitar ir ao banheiro", diz ele.
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Ng Teng Fong General Hospital

E existe um desejo profissional de continuar
trabalhando, sejam quais forem as dificuldades, para não decepcionar
colegas e pacientes em tempos de crise.
Pessoas altamente
motivadas podem, na verdade, estar entre as mais vulneráveis às lesões
provocadas pelo calor, diz Jason Lee, professor associado de fisiologia
da Universidade Nacional de Cingapura.
Ele é membro de um grupo
especializado nos perigos do calor excessivo, a Global Heat Health
Information Network, rede que elaborou diretrizes para ajudar médicos a
lidar com a covid-19.
Ela é liderada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a agência
climática e climática dos EUA Noaa.
Lee diz que, além de medidas
como descanso e líquidos — e sombra para quem trabalha ao ar livre — uma
estratégia chave para resistir ao estresse térmico é a adequação.
"Ao manter-se em forma, você também aumenta sua tolerância ao calor e há muitos outros benefícios também."
E
ele vê o desafio dos médicos, suando dentro de seus EPIs ao lidar com a
covid-19, como "quase um ensaio" para futuros aumentos de temperatura.
"Essa
mudança climática será um monstro maior e realmente precisamos de um
esforço coordenado entre as nações para nos preparar para o que está por
vir."
"Senão", diz, "haverá um preço a ser pago".
Fonte: BBC
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