Estudo vincula onda de calor na Sibéria à ação humana
Calor extremo na região seria "quase impossível" sem
mudanças climáticas provocadas pelo homem, apontam cientistas. O efeito
estufa multiplicou a chance de altas temperaturas na Sibéria em ao menos
600 vezes, afirmam.
DW
16.07.2020
Uma recente onda de calor na Sibéria, com registros de temperatura
recorde de 38 graus Celsius seria "quase impossível" sem a influência
das mudanças climáticas decorrentes da influência humana, afirmaram
cientistas em um estudo divulgado nesta quarta-feira (15/07).
A
pesquisa também indica que o efeito estufa multiplicou a chance de calor
prolongado na região em pelo menos 600 vezes, senão em até dezenas de
milhares de vezes.
Para o estudo – que ainda não foi submetido à revisão por pares – uma equipe internacional de pesquisadores analisou as temperaturas na Sibéria entre janeiro a junho deste ano, – mês em que a região registrou média recorde, incluindo um dia em que foi registrada máxima de 38 graus.
Os
especialistas descobriram que o período foi mais de 2 °C mais quente do
que teria sido se os humanos não tivessem aquecido o planeta através de
décadas de emissões de gases do efeito estufa.
Os cinco anos
mais quentes da história ocorreram nos últimos cinco anos e há grande
chance de que 2020 seja o ano mais quente já registrado.
Os polos da Terra estão aquecendo mais rápido que o resto do planeta,
e as temperaturas na Sibéria – lar de grande parte do permafrost rico
em carbono do mundo – foram mais de 5 °C mais quentes que a média entre
janeiro e junho.A máxima de 38 °C foi registrada na cidade de
Verkhoyansk.
Andrew Ciavarella, um dos autores do estudo e
cientista do Met Office, serviço de meteorologia britânico, descreveu as
descobertas como "surpreendentes".
"Esta é mais uma evidência
das temperaturas extremas que podemos esperar ver com mais frequência ao
redor do mundo em um clima cada vez mais quente", disse.
O
impacto das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos, como
grandes tempestades e secas, está agora bem estabelecido, mas até bem
pouco tempo cientistas não conseguiam vincular definitivamente um evento
individual ao aquecimento global.
Como parte de uma área
crescente da pesquisa climática, conhecida como ciência da atribuição
climática, a equipe – formada por cientistas de Reino Unido, Rússia,
França, Holanda, Alemanha e Suíça – usou 70 modelos climáticos,
realizando milhares de complexas simulações, para comparar as condições
atuais às de um mundo sem fatores humanos de aquecimento.
Eles,
então, descobriram que o calor prolongado aconteceria menos de uma vez a
cada 80 mil anos sem as mudanças climáticas provocadas pelo homem.
Portanto, a onda de calor seria "quase impossível em um clima que não
foi aquecido pelas emissões de gases do efeito estufa".
A equipe
de pesquisadores enfatizou que a onda de calor da Sibéria tem reflexos
mundiais. Cerca de 1,15 milhão de hectares de floresta em chamas
liberaram milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Ao mesmo tempo, os
incêndios florestais e as ondas de calor sustentadas aceleraram o
derretimento do permafrost da região.
Isso causou o colapso de um
tanque de óleo construído em solo congelado em maio, levando a um dos
piores derramamentos de petróleo da região.
"Uma onda de calor
tão prolongada é importante, não apenas por sua influência sobre as
pessoas, mas também do ponto de vista científico", diz Olga Zolina, do
Instituto P.P. Shirshov de Oceanografia da Rússia. "O Ártico geralmente é
muito, muito importante para a formação de clima e circulação.
Portanto, temperaturas tão altas são realmente importantes para todo o
mundo. "
Embora a pesquisa tenha sido compilada dentro de duas
semanas, ainda não tenha sido submetida à revisão por pares ou divulgada
numa publicação científica de peso, os autores disseram que ela
produziu "um dos resultados mais fortes do que qualquer estudo de
atribuição realizado até o momento".
Pelo menos dez cientistas
não envolvidos na pesquisa contatados pela agência de notícias
Associated Press disseram que o estudo é cientificamente correto, tendo
usado técnicas adequadas.
"Eles, em um tempo impressionantemente
curto, organizaram muitos conjuntos de dados diferentes que realmente
dão credibilidade aos seus resultados'', avaliou o especialista em clima
do Instituto Meteorológico Dinamarquês Ruth Mottram.
Esses tipos
de estudos permitem que pessoas e líderes mundiais "conectem os
pontos'' entre eventos climáticos extremos e mudanças climáticas e
preparem-se para eles, segundo a climatologista francesa Valerie
Masson-Delmotte, que também não atuou no estudo. "O clima do futuro é
muito diferente, como este artigo mostra", disse o professor de
meteorologia da Universidade Estadual da Pensilvânia David Titley, que
não fez parte da pesquisa.
Fonte: DW
Comentários
Postar um comentário
Todas postagem é previamente analisada antes de ser publicada.