Inadimplência no ensino superior privado aumenta 23,9% em maio
Mensalidades em atraso aumentaram mais em cursos presenciais
Flávia Albuquerque – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
29/06/2020 - 16:39
A
taxa de inadimplência no ensino superior privado no Brasil ficou em
23,9% em maio, percentual 51,7% maior que o registrado no mesmo período
de 2019. As mensalidades em atraso referentes aos cursos presenciais
tiveram aumento ainda maior no período (55,1%), e as de cursos de ensino
a distância (EAD) subiram 8,6%.
Os dados fazem parte da 3ª Pesquisa Cenário
Econômico das Instituições de Ensino Superior Privadas e foram
divulgados hoje (29), pelo Semesp, entidade que representa as
universidades privadas no país. Segundo o diretor executivo do Semesp,
Rodrigo Capelato, que é economista, os dados refletem duas das
consequências da pandemia de covid-19: aumento do número de
desempregados e queda na renda dos trabalhadores.
“Com relação à queda de maio ante abril,
muitos alunos que estavam inadimplentes renegociaram, não
necessariamente pagaram, mas parcelaram para pagar no segundo semestre
ou depois de formados. Outro aspecto é que vários alunos tinham brecado o
pagamento por conta do choque inicial da pandemia, pensando que iam
perder renda, emprego, teriam suspensão do contrato de trabalho, ou que
não haveria aula. Com o passar do tempo, e as coisas entrando
minimamente em uma normalidade, aulas acontecendo, e vendo que a renda
vai se manter, eles retomaram o pagamento”, explicou Capelato.
A pesquisa mostra também que houve aumento
de 14,2% no número de alunos que desistiram ou trancaram a matrícula no
mês de maio. No caso dos cursos presenciais, a evasão aumentou 14,3%. Já
nos cursos EAD, a taxa de evasão caiu 2,4%. Quanto ao porte das
instituições, a taxa de evasão entre os alunos das pequenas ou médias
foi de 4,1%. Nas universidades de porte grande, a taxa subiu 9,9%. Na
comparação com abril, o aumento foi de 31,3%. Cerca de 3,6% dos alunos
deixaram o curso em maio perante os 2,8% do mês de abril. A maior taxa
de evasão foi sentida pelos alunos da modalidade EAD.
“O nosso receio é na virada do semestre.
Como o contrato no ensino superior é semestral, o aluno terá que se
rematricular, e aí vários podem considerar que as aulas presenciais não
serão retomadas neste ano, o que pode levá-los a trancar as matrículas
para retomar no ano que vem. Por isso, nessa virada do semestre, podemos
ter um aumento da evasão mais significativo”, afirmou Capelato.
O diretor executivo do Semesp destacou que
maio é um mês que normalmente tem índice de evasão maior que o de abril,
o que não quer dizer que o aumento registrado neste ano seja apenas
culpa da pandemia. “A maioria dos estudantes não quer perder o
investimento, e vemos que o movimento este ano concentra-se nos alunos
do primeiro semestre, que começaram as aulas em março e, 15 dias depois,
tiveram as aulas presenciais suspensas."
Demissão de professores
Capelato ressaltou que a inadimplência, a
evasão e a captação de novos alunos são fatores que influenciam na
sustentabilidade das instituições, o que pode interferir na capacidade
de as universidades manterem seu corpo docente integralmente. Segundo o
economista, uma norma estabelecida no acordo coletivo dos profissionais
impede que haja demissões depois de iniciado o semestre, de forma a ser
uma garantia para o professor.
Na semana passada, a Universidade Nove de
Julho (Uninove) demitiu cerca de 300 professores, de acordo com dados do
sindicato da categoria. Capelato disse não ter dúvidas de que a
motivação para as demissões é o cenário pessimista enxergado pelas
universidades privadas e estima que as dispensas devem, inclusive
aumentar entre hoje e amanhã.
“Neste momento, a norma está fazendo com que
as instituições, diante do cenário que se espera ser muito ruim, tenham
que se antecipar e demitir. Por isso, houve o problema na Uninove, e os
alunos reclamaram que as demissões foram no período de aula. Ou a
universidade faz a demissão agora, ou entra no segundo semestre tendo
que manter os professores com ociosidade, e número de professores maior
do que o número de turmas, e aí ela não vai aguentar porque não vai ter
receita para isso”, afirmou.
Para Capelato, deve haver ainda um encolhimento da estrutura das universidades, porque o sistema de aulas online
implantado emergencialmente pode se mesclar com o de aulas presenciais,
deixando essa estrutura física ociosa. “No modelo das aulas remotas, a
faculdade continua com o professor com a mesma carga horária, dando aula
remotamente. É possível combinar as aulas do presencial com aulas
remotas. O aluno não precisa mais ir todos os dias para a faculdade. Não
haverá mais essa necessidade.”
Segundo o representante do Semesp, com o
planejamento adequado, é possível ainda aumentar o número de estudantes,
reduzir o valor das mensalidades e ter mais capacidade para atender os
alunos quando eles estiverem nos campi. “Isso pode inclusive
implicar a volta da contratação de professores. Quando a universidade
voltar a registrar crescimento no número de alunos, volta a crescer o
número de professores. Esse modelo não é como o EAD, que tem as aulas
prontas disponíveis. O professor continua interagindo com os alunos”,
finalizou.
Edição: Nádia Franco
Fonte: EBC
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