OMS reduz expectativas e acredita que vacina contra a covid-19 não estará disponível antes de 2022
Cientista-chefe da organização indica que em meados de 2021 será possível começar a imunizar apenas os grupos de risco e assinala que os primeiros a receber a vacina deverão ser os profissionais de saúde
EL PAÍS E AGÊNCIAS
Madri - 09 SEP 2020 - 16:03 BRT
A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan, na entrevista coletiva desta quarta-feira.POOL / REUTERS
A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, alertou nesta quarta-feira que não acredita que as possíveis vacinas contra a covid-19 estejam disponíveis para a população em geral em menos de dois anos, embora os primeiros grupos de risco possam ser imunizados a partir de meados de 2021. Na semana passada, uma porta-voz da OMS, Margaret Harris, tinha dito que não esperava uma vacinação generalizada “antes de meados de próximo ano”.
Naquela ocasião, a OMS considerou alentador que várias vacinas estejam na fase 3 de estudos, mas alertou que “ainda há um trecho a percorrer”. Ao mesmo tempo, uma publicação confirmava que a vacina russa apresentava “resultados esperançosos”. Nesta quarta-feira, no entanto, a corrida pela imunização sofreu um baque, porque a AstraZeneca e a Universidade de Oxford interromperam seus testes após detectar que um dos voluntários teve uma doença ainda inexplicada, que está sendo investigada.
No mundo existem pelo menos 179 vacinas experimentais contra o coronavírus, e 34 delas já estão sendo testadas em humanos, segundo o registro da OMS. Mas os protótipos devem passar por três fases: uma primeira etapa, com dezenas de voluntários saudáveis, para descartar efeitos graves; uma segunda, com centenas de pessoas, para avaliar a resposta imune induzida, ajustar a dose e confirmar a segurança, e a chamada fase 3, em que a vacina experimental deve demonstrar que é segura e eficaz em ensaio com dezenas de milhares de pessoas por meses. “Muitos acham que no início do próximo ano chegará uma panaceia que resolverá tudo, mas não será assim: há um longo processo de avaliação, licenciamento, fabricação e distribuição”, enfatizou Swaminathan em uma sessão de perguntas e respostas com internautas nas redes sociais.
A especialista indiana indicou que o cenário mais otimista com que a organização trabalha é o de que os primeiros lotes de vacinas cheguem a vários países em meados de 2021, quando deverá ser dada prioridade aos grupos de maior risco, já que ainda não haverá doses suficientes para toda a sociedade. “Pela primeira vez na história, precisamos de bilhões de doses de uma vacina”, afirmou a cientista-chefe da OMS, lembrando que, para as campanhas anuais de vacinação em massa contra outras doenças, são necessárias no máximo centenas de milhões de doses.
Atualmente, a Comissão Europeia já tem acordos preliminares para comprar mais de 1,1 bilhão de doses de cinco vacinas experimentais diferentes contra o coronavírus: 300 milhões da candidata de Oxford; outros 300 milhões em desenvolvimento pela multinacional francesa Sanofi e pela britânica GSK; 225 milhões do protótipo da empresa alemã de biotecnologia Curevac; 200 milhões da empresa americana Johnson & Johnson, e 80 milhões de doses da também americana Modern. Todas essas vacinas ofereceram resultados promissores até o momento, mas nenhuma tem resultados garantidos.
Quem deve receber a vacina primeiro
Na seleção dos grupos prioritários para receber a vacina, a especialista insistiu que “os profissionais de saúde devem ser os primeiros, e assim que chegarem mais doses devem ser vacinados os mais velhos, as pessoas com outras doenças, para assim ir cobrindo cada vez mais a população, um processo que levará dois anos”. Até lá, “as pessoas devem ser disciplinadas”, ressaltou Swaminathan, indicando que devem ser mantidas as medidas preventivas atuais (como distanciamento físico, uso de máscara, higienização das mãos) ou semelhantes.
A cientista também explicou aos internautas como funciona o Covax, iniciativa com que a OMS e outras organizações internacionais ajudam financeiramente na pesquisa de vacinas contra a covid-19 em troca de que seja garantida a distribuição dessas vacinas em todo o mundo, não apenas nos países mais ricos.
Swaminathan destacou que cerca de cem países em desenvolvimento podem ser beneficiados com esse programa, e disse que mais de 70 manifestaram interesse em participar. Para isso, o Covax está em negociações com as principais empresas e instituições que pesquisam vacinas contra a covid-19 do mundo para adquirir grandes quantidades de doses quando sua eficácia e segurança forem comprovadas.
“Alguns fabricantes propõem preços de custo, enquanto outros sugerem que sejam maiores ou menores dependendo de um país ser mais ou menos rico”, revelou a especialista a respeito das negociações com as farmacêuticas. Sobre o preço aproximado das doses, Swaminathan indicou que, atualmente, parece que poderia oscilar entre 2 e 30 dólares (10,60 e 158,80 reais), mas ressalvou que o mercado “é muito dinâmico” e o valor “mudará à medida que mais vacinas forem disponibilizadas”.
Ela também lembrou que a maioria dos países “vacina sua população gratuitamente ou quase sem custo” direto para o bolso dos pacientes. O Covax faz parte do programa da OMS denominado Acelerador ACT, que cobre não só vacinas, como também ferramentas de diagnóstico e terapias para os pacientes com coronavírus. Quatro meses depois do lançamento dessas iniciativas para garantir acesso universal às ferramentas contra a pandemia, foram feitos “grandes progressos”, assegurou Swaminathan, acrescentando que a rapidez com que vacinas e medicamentos estão sendo pesquisados não prejudicará a segurança do paciente.
(Informações de Manuel Ansede e Efe)
Fonte: El País
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