quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Pesquisadores pretendem 'hackear' corais contra o aquecimento global

Pesquisadores pretendem 'hackear' corais contra o aquecimento global

Gene identificado em tipos específicos de corais lhes garantem maior resistência ao aumento das temperaturas oceânicas

Rafael Arbulu, editado por Fabiana Rolfini 
19/11/2020

Um time de pesquisadores do Instituto de Ciências de Carnegie, nos EUA, identificou um gene presente em alguns tipos específicos de corais, que lhes conferem uma maior resistência ao aumento das temperaturas oceânicas. Agora, os mesmos cientistas querem analisar este gene e “hackeá-lo”, transplantando-o a recifes de coral comuns, para que todo o ecossistema possa crescer e se expandir.

O aumento da temperatura dos oceanos é um problema que deriva diretamente do avanço do aquecimento global. Por conta disso, as águas ficam mais quentes, gerando um efeito negativo nos recifes de coral do mundo - primeiro removendo sua coloração, para depois matá-los em larga escala.

Mehmet Pinarci/Flickr
Método CRISPR emprega o conceito de "edição genética" para aprimorar indivíduos da natureza, desenvolvendo resistências normalmente inacessíveis a eles. 

Corais podem se reproduzir de duas formas: sexuada e assexuada. Na primeira, dois indivíduos se cruzam, gerando a fecundação que leva ao nascimento de um terceiro exemplar. Na reprodução assexuada, larvas não fertilizadas do próprio indivíduo se separam do corpo principal. Neste caso, o indivíduo resultante é um clone daquele que o originou - este processo é reproduzido continuamente por toda a vida de um coral.

Como isolar o gene
O que os cientistas da Carnegie fizeram foi buscar pólipos fertilizados deste “super coral” - que se soltam de forma massificada em condições aquáticas específicas durante uma noite de lua cheia -, o que levou vários anos. Com esses pólipos em mãos, eles foram capazes de isolar um gene intitulado “HSF1”, que confere aos corais que o portam a capacidade de sobreviver em águas mais quentes.

Finalmente, eles pretendem usar o método de edição genética CRISPR para fertilizar recifes inteiros, para que, durante seus próximos processos de reprodução, os indivíduos resultantes possam desenvolver essa resistência por conta própria.

Mas nem tudo é simples assim. Os cientistas enfrentam o impedimento da burocracia legal. A Austrália, onde está situado o maior recife de corais do mundo (a chamada “Grande Barreira de Coral”), baniu a prática do CRISPR há alguns anos, então meramente conduzir estes experimentos no recife já seria altamente ilegal.

Foto: I Shafiq/Shutterstock
Vista aérea da Grande Barreira de Coral, na Austrália; ecossistema é um dos mais afetados do mundo pelo aquecimento global. 

Só que a Grande Barreira de Coral é, hoje, o ecossistema de corais mais afetado pelo aquecimento global. De acordo com um estudo de outubro, do Conselho Australiano de Pesquisa (ARC), desde 1995, o ecossistema perdeu mais de 50% de sua capacidade. Então ele não está inteiramente morto, mas eventos de embranquecimento e morte dos corais ocorreram em 2016, 2017 e 2019 - este último, tido por especialistas como o ano mais quente do país.

Pensando nisso, a Grande Barreira de Coral seria o ponto ideal de teste de implantação genética, mas a legalidade do processo pode ser questionada pelas autoridades. Desta forma, ainda que o método se prove viável em testes de laboratório, seu emprego efetivo ainda pode levar muito tempo.


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