Projeto da Microsoft quer usar IA na resolução de crimes
Por Douglas Vieira
Estamos
diante de mais uma patente envolvendo inteligência artificial, dessa
vez relacionada a uma iniciativa da Microsoft. Se um arquivo encontrado
recentemente servir como indicativo, a empresa de Bill Gates pretende
utilizar essa tecnologia para ajudar na resolução de crimes.
A
patente do projeto foi garantida à Microsoft em 21 de fevereiro, além
de estar arquivada sob o número US2019057286 e ter sido preenchida no
European Patent Office. O documento mostra que a ideia é treinar a IA
para identificar sons de armas e, assim, tentar ler uma cena de crime e
ter uma ideia de padrões e tipos de ferimentos para criar um perfil do
suspeito.
Veja a seguir uma descrição de como o sistema funcionaria:
“Tecnologias
são utilizadas para analisar cenas de crime usando machine learning.
Modelos de armas de fogo, tipos e até mesmo armas de fogo específicas
podem ser automaticamente detectadas por arquivos de áudio capturados ou
transmissões contínuas de áudio usando técnicas de machine learning. A
detecção também pode ser baseada em capturas de imagens paradas ou
arquivos de vídeo. Mais informações, como layout da cena do crime, tipos
de ferimentos e local destes, bem como informações similares podem ser
entregues ao serviço de análise por captura manual ou automatizada. O
número de armas de fogo usadas no crime também pode ser detectado, e
tipos específicos podem ser associados a alguns casos criminais.
Técnicas similares podem ser usadas para detectar e classificar tipos e
quantidades de materiais explosivos”.
Vale
mencionar que a simples garantia da patente não significa que veremos
essa tecnologia no mundo real em breve — afinal, o registro não passa de
um projeto que pode ou não ganhar vida em algum momento. Mas esse
produto certamente seria bem útil para auxiliar a polícia em suas
tarefas.
Sonda soviética lançada em 1972 deve cair na Terra ainda esse ano
Por Rafael Farinaccio
Uma
sonda lançada ao espaço pela União Soviética no ano de 1972 – e que
tinha como destino o planeta Vênus – pode cair em algum ponto
desconhecido do planeta Terra ainda em 2019. É isso que os especialistas
consultados pela publicação Space.com afirmam em uma matéria que conta a história da Kosmos 482 e analisa os riscos que corremos aqui embaixo.
O problema é que o lançamento da sonda não foi bem-sucedido e a Kosmos 482 acabou ficando presa na órbita da Terra
A
Kosmos 482 foi lançada pela agência espacial soviética n dia 31 de
março de 1972 do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Seu destino era
o inóspito planeta Vênus, onde a sonda deveria pousar e enviar de volta
para a Terra o máximo possível de informações antes de ser destruído
pela atmosfera extremamente mais densa e quente do que a do nosso
planeta. Justamente por esse motivo, a Kosmos 482 foi feita com
materiais muito resistentes, para prolongar ao máximo sua duração. O
problema é que o lançamento da sonda não foi bem-sucedido e a Kosmos
482 acabou ficando presa na órbita da Terra por não ter conseguido
impulso suficiente para se desvencilhar da gravidade terrestre. Na
época, em plena Guerra Fria e Corrida Espacial, foi mais uma missão que
falhou como muitas outras que aconteceram tanto do lado soviético quando
do americano. Sonda Venera 8, muito parecida com a Kosmos 482: essa conseguiu chegar com sucesso em Vênus
Sonda esquecida, mas perigosa A
União Soviética superou a falha e conseguiu mandar outras sondas de
maneira bem-sucedida para explorar Vênus. A Kosmos 482 foi esquecida na
nossa órbita junto com outras tantas toneladas de lixo espacial que
ficam lá, girando em volta da Terra. Porém, há algum tempo, ela foi
relembrada, quando especialistas – entre eles, observadores desses
objetos que estão em órbita – notaram que a trajetória da Kosmos 482
indicava que não demoraria muito para ela cair na Terra. Isso é
possível de acontecer porque a sonda foi feita com materiais capazes de
penetrar na atmosfera de Vênus e ainda aguentar um tempo sem danos no
interior dela. A queda da Kosmos 482 na Terra, mesmo com o atrito
sofrido na reentrada, não a destruiria, transformando-a em uma poeira
metálica inofensiva. As primeiras estimativas indicavam que a
Kosmos 482 deveria cair na Terra entre os anos de 2023 e 2025 segundo
foi apurado no meio do ano passado. Agora, porém, especialistas indicam
que esse prazo foi afetado e a sonda deve deixar de girar em torno do
planeta e cair em algum lugar imprevisível em torno do fim de 2019 ou
começo de 2020. Kosmos 482, fotografada em 25 de junho de 2014 de um alcance de 295,2 km, enquanto passava a 268,1 km de distância do solo
Mistério no céu É
um pouco incerto também qual parte do total da sonda que ainda está em
órbita, mas estima-se que seja uma peça com massa total de quase 500 kg.
Ralf Vandebergh, fotógrafo espacial holandês, é um dos especialistas
que registrou as recentes passagens da Kosmos 482 pelos céus e, pela
análise de sua trajetória e sua refração de luz, afirmou que a sonda
pode cair mais cedo do que se imaginava.
Que a sonda está prestes a cair, mais cedo ou mais tarde, não há nenhuma dúvida
“Minha
conclusão preliminar é que a Kosmos 482, observada com um telescópio de
abertura de 10 polegadas durante variadas passagens, ângulos de visão,
ângulos de iluminação e condições de observação, parece ser um objeto
alongado com fortes variações de brilho”, relatou Vandebergh. “Há uma
indicação de estruturas menores, mas estas não estão confirmadas. Por
isso, o mistério sobre a verdadeira condição da Kosmos 482 e quais
elementos da espaçonave ainda estão exatamente em órbita continua sem
solução”. Mas que a sonda está prestes a cair, mais cedo ou mais
tarde, não há nenhuma dúvida. Nos resta torcer para que a vasta massa de
água que cobre o planeta possa ser o alvo da Kosmos 482 e que ninguém,
nem ser humano, nem animal, se machuque com isso.
Um Stradivarius pode medir as mudanças climáticas?
27.02.2019
Angelo van Schaik (rk)
Floresta de onde vem a madeira para manufatura dos
instrumentos de cordas mundialmente famosos é usada há 300 anos. Mas
aquecimento global pode estar ameaçando o ofício.
Fabricado em 1700, violino feito por Antonio Stradivari foi estimado em 1,5 milhões de dólares
No século 17, Antonio Stradivari viajou durante dois dias da sua
cidade natal, Cremona, à floresta de Paneveggio, no norte da Itália,
para encontrar a madeira perfeita para confeccionar seus instrumentos,
que se tornariam mundialmente famosos. Apreciado por sua
excepcional qualidade de som, um Stradivarius original pode chegar a
valer milhões de dólares. E, mais de 300 anos depois da morte do luthier
– profissional especializado na fabricação e no reparo de instrumentos
de corda com caixa de ressonância e espelho, como guitarra e violino –
mais famoso do mundo, as coníferas dessa floresta ainda são usadas para
construir violinos, violoncelos, baixos e pianos. Mas a famosa
madeira musical está sentindo os efeitos das mudanças climáticas sob a
forma de fenômenos meteorológicos mais extremos, explica o guarda
florestal local Paolo Kovacs, enquanto manobra sua camionete com tração
nas quatro rodas sobre um estreito caminho nas montanhas do idílico Vale
de Fiemme. Em outubro do ano passado, tempestades
extraordinariamente violentas arrancaram mais de 14 milhões de árvores
em toda a área da cadeia montanhosa das Dolomitas, no leste dos Alpes,
onde fica a floresta de Paneveggio. "São quase todas abete rosso
(abeto vermelho, em tradução livre)", descreve Kovacs, referindo-se ao
nome italiano dos acres de pinheiros que cascadearam montanha abaixo.
"Eles têm raízes relativamente curtas. Por isso, caem com mais
facilidade", afirma. Apenas uma árvore de 25 metros de altura
sobreviveu à tempestade nessa zona específica. "Esse tem cerca de 150
anos", diz Kovacs, apontando para o pinheiro. "É quase um milagre ele
ainda estar aqui. Talvez ele tenha sido coberto por outras árvores, ou
ele tem raízes longas, o que é incomum", especula. A mais de 250
quilômetros dali, numa oficina na pequena cidade de Cremona, onde
Stradivari viveu e trabalhou, o mestre luthier Stefano Conia passa a
unha do polegar pelos aros de um pedaço de madeira. Essas aberturas
acústicas estão excepcionalmente próximas, a uma distância de cerca de
meio centímetros, e são quase idênticas. "Escute", pede. "É assim
que tem que ser. Esse será um excelente violino", prognostica o mestre
de 73 anos, que constrói violinos há 45 anos e diz que esse tipo de
uniformidade é o que faz a conífera europeia ser tão adequada para a
fabricação de instrumentos.
Ofício centenário do luthier inclui busca pelo pedaço perfeito de madeira
Mas
não é toda árvore derrubada que é selecionada. Para cada árvore que
acaba sendo usada, 20 ou 30 são consideradas inadequadas. Conia é
um entre 156 luthiers que trabalham no que se tornou a capital dos
instrumentos de alta qualidade feitos à mão. A extensa história do
ofício e sua proximidade com a floresta atraem pessoas do mundo inteiro,
ansiosas para aprender a arte de fabricar violinos, para a região. O
próprio Conia vem da Hungria. Giorgio Grisales – outro luthier que
possui oficina própria – mudou-se para a área vindo de Medellín, na
Colômbia, nos anos 1970, para seguir os passos de Stradivari. E, num
canto da oficina de Stradivari, um jovem japonês trabalha molda um longo
pedaço de madeira para construir o espelho (pescoço) de um violoncelo. Enquanto
alguns temem que a tradição centenária esteja ameaçada pelas mudanças
climáticas, Sandro Asinari, vice-presidente da Associação de Fabricantes
de Violino de Cremona, não está preocupado. Pelo menos não com os danos
causados pela tempestade de outubro passado. "A floresta é
enorme", constata. "Sei que muitas árvores foram danificadas, mas também
sem que os guardas florestais locais estão trabalhando duro para salvar
aquelas que se romperam. A associação contratou uma madeireira local
para coletar árvores caídas e serrá-las em pedaços, para que elas possam
ser usadas para fazer instrumentos. Além disso, estão plantando novas
árvores no momento. Estou muito otimista", acrescenta Asinari. Ainda
assim, o guarda florestal Kovacs afirma que plantar árvores não vai
ajudar os fabricantes de instrumentos no curto prazo. Um abeto precisa
ter pelo menos 150 anos antes de se tornar um violino. Para fazer um
violoncelo ou um baixo, a árvore precisa ser ainda mais antiga. Além
disso, Kovacs se preocupa com a mudança nos padrões meteorológicos que
ele atribui às mudanças climáticas. A tempestade de outubro que atingiu
as Dolomitas foi fora do comum. "Esta veio do sudeste, do Mar
Adriático", lembra, explicando que o vento normalmente vem do nordeste
dos Alpes. O sistema meteorológico se assemelhou à maneira como
furacões se formam no litoral leste dos Estados Unidos: "Foi mais quente
que o normal, mais forte que o normal e trouxe mais chuvas que o
normal", descreve.
Mais de 14 milhões de árvores caíram após tempestade na floresta de Paneveggio, em 2018
O ano passado foi o mais quente
na Itália desde que os registros começaram em 1800. As temperaturas
também foram 1,5 grau mais quentes do que a média registrada entre 1961 e
1990. A temperatura média no país subiu 0,1 grau Celsius a mais do que
no restante da Europa, apesar de não estar claro porque a Itália está se
aquecendo mais. Os efeitos estão sendo sentidos em todo o país,
não apenas na floresta musical de Paneveggio. Na mesma época em que as
tempestades atingiram a província norte de Trento, a Sicília, no extremo
sul, viveu pesadas chuvas e inundações que mataram dez pessoas. "Acho
que temos que nos acostumar", conforma-se Kovacs. "A temperatura geral
da atmosfera está aumentando – assim, o tempo fica mais extremo. É isso
que vimos por aqui", conta. Apesar da aparente falta de
preocupação de Asinari, ele diz que a associação que preside está
planejando garantir o futuro do ofício em meio às mudanças climáticas. "Estamos
comprando áreas da floresta para controlá-las melhor no futuro", diz,
sobre a floresta de Paneveggio, de propriedade do Estado. "Estamos
confiantes de que nossa tradição durará pelos próximos 400 anos."
O rompimento da barragem em Brumadinho tornou o
Paraopeba um rio tóxico por mais de 300 km. Nova análise mostra que em
alguns pontos, de tão degradado, nem bactérias sobrevivem. Danos podem
chegar ao São Francisco.
Um pouco mais de 200 quilômetros depois de brotar de suas nascentes, o
Paraopeba se transformou num rio tóxico. Ferro, cobre, manganês e cromo
são encontrados na água numa concentração muito maior do que a lei
permite - e do que a saúde humana tolera. A conclusão vem após
uma série de análises de laboratório feitas a pedido da Fundação SOS
Mata Atlântica, ONG que organizou uma expedição com pesquisadores pela
área afetada com rejeitos da barragem da Vale em Brumadinho, tragédia
ocorrida há um mês. De tão preocupantes, alguns resultados
surpreenderam a equipe. "Nos primeiros trechos onde fizemos coleta de
água, o rio estava tão morto, tão degradado, que nem bactérias
sobreviveram. Isso não aconteceu nem no rio Doce", afirma Malu Ribeiro,
especialista em Recursos Hídricos da fundação. Em 2015, o rio
Doce recebeu uma grande carga dos 55 milhões de metros cúbicos de
rejeitos que vazaram da barragem de Fundão, em Mariana, da mineradora
Samarco, Vale e BHP Billiton. Três anos e dois meses depois, foi a vez
de o rio Paraopeba ser impactado por uma catástrofe semelhante, ao
receber parte dos 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Ambas as
bacias hidrográficas nascem no estado de Minas Gerais e abastecem
populações em grandes cidades. Segundo Ribeiro, os metais
pesquisados foram encontrados ao longo de toda a extensão do Paraopeba
impactada pelos rejeitos da Vale - cerca de 305 quilômetros, de
Brumadinho a Felixlândia. Dos 22 pontos de coleta da água, todos
apresentaram índice de qualidade ruim (10) e péssimo (12). A análise,
que segue a legislação vigente no pais, investigou 16 parâmetros, que
incluem temperatura da água, oxigênio dissolvido e presença de
coliformes, peixes e larvas, para citar alguns exemplo. "O rio
Paraopeba perdeu a condição de ser fonte de abastecimento de água. Os
rejeitos da mineração tonaram suas águas impróprias e indisponíveis para
usos em uma extensão de 305 quilômetros", afirma o relatório, divulgado
nesta terça-feira (27/02). Segundo as companhias de abastecimento que retiravam água do rio para consumo humano, as captações estão suspensas. Para
os pesquisadores, os metais ferro, cobre, manganês e cromo
identificados no Paraopeba têm, sem dúvida, origem na mina de rejeitos
que rompeu. Metais tóxicos foram localizados, como chumbo e mercúrio,
mas a sua fonte não foi confirmada. Estudos científicos comprovam
que, para ter uma vida saudável, o ser humano precisa de doses pequenas
de alguns metais como cobre, ferro, manganês e zinco - os chamados
micronutrientes. Por outro lado, a ingestão direta desses metais
dissolvidos na água ou acumulados nos peixes, por exemplo, provoca
distúrbios no metabolismo. Como estão em níveis muito elevados
no Paraopeba depois do rompimento da barragem, esses elementos causam
problemas para os ecossistemas, para os animais e seres humanos. Em
alguns trechos, a concentração de cobre ultrapassa em 400 vezes o nível
seguro fixado pela lei. Ingerido em grandes quantidades, o metal pode
danificar rins, inibir a produção de urina e causar anemia. O cromo, por
sua vez, pode causar mutações e até morte. "A diferença entre o
remédio e o veneno é a dosagem", pontua Marta Marcondes, professora da
USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), numa referência a
Paracelso, médico do século 16. No laboratório da universidade,
Marcondes conduziu diversos testes com o material coletado de Brumadinho
a Felixlândia. "O manganês, por exemplo, é um elemento que está na
natureza, precisamos dele no corpo. Mas, se ingerido em grande
quantidade, ele vai se alojar em tecidos que vão ocasionar algum tipo de
lesão", comenta. Além dos metais e da qualidade da água,
Marcondes investigou a presença de bactérias. Segundo a pesquisadora, a
avalanche de rejeitos, ao varrer zonas que continham fossas e criações
de animais, arrastou para o rio organismos que podem também provocar
danos à saúde humana. "Isso é um efeito preocupante. As pessoas
do entorno, que já estão debilitadas, podem sofrer um processo
infeccioso causado por essas bactérias", comenta Marcondes. "Segundo
nossas análises, pelos menos oito espécies encontradas são resistentes a
antibióticos”, comenta sobre os resultados preliminares. De
posse dessas informações, produzidas de forma independente pela SOS Mata
Atlântica, Malu Ribeiro espera que os dados sejam usados na tomada de
decisões sobre a recuperação da bacia hidrográfica do Paraopeba. "A
gente espera também que a legislação ambiental brasileira não seja
fragilizada. A fragilização das leis pode potencializar situações como
essa a que estamos assistindo em Minas Gerais", afirma. Para
Marta Marcondes, os resultados deveriam funcionar como um alerta. "Não
se pode manter a população afetada na ignorância", alerta. Com base na
experiência em análises de dinâmica de rios ao longo dos últimos 15
anos, ela faz uma previsão. "Os rejeitos que escorrem pelo Paraopeba,
mais cedo ou mais tarde, chegarão ao São Francisco". Com mais de 2800
quilômetros de extensão e 18 milhões de moradores no entorno de sua
bacia, o rio é um dos mais importantes do país. Fonte: DW
Microplástico é encontrado em animais no fundo dos oceanos
27.02.2019
DW
Cientistas encontram micropartículas de plástico no
intestino de pequenos camarões que habitam seis das regiões oceânicas
mais profundas do planeta.
Ao menos 5 trilhões de materiais plásticos estão flutuando nos oceanos
Pesquisadores britânicos descobriram micropartículas de plástico no
intestino de animais que habitam algumas das regiões oceânicas mais
profundas da Terra, mostrando que a poluição humana não se limita à
superfície dos mares e já atingiu os locais mais inacessíveis do
planeta. A maior parte dos estudos existentes sobre poluição
plástica se limita a avaliar áreas de superfície devido aos altos custos
da exploração do fundo dos oceanos. As pesquisas demonstraram que a
contaminação por plástico é generalizada tanto em peixes quanto em
tartarugas, baleias e pássaros marítimos. Mas uma equipe de
pesquisadores da Universidade de Newcastle descobriu casos de ingestão
de plástico por pequenos camarões vivendo em seis das regiões oceânicas
mais profundas do planeta. O estudo foi publicado no Royal Society Open Science nesta quarta-feira (27/02). Na
Fossa das Marianas, a leste das Filipinas, 100% dos animais estudados
tinham fibras de plástico em seu trato digestivo. A Fossa das Marianas é
o local mais profundo dos oceanos terrestres, localizada a 11
quilômetros da superfície oceânica. Entre todos os animais
coletados nas seis regiões avaliadas pelos pesquisadores, 72% haviam
ingerido ao menos uma micropartícula de plástico. "Parte de mim estava
esperando encontrar alguma coisa, mas essa descoberta foi enorme", disse
Alan Jamieson, da Universidade de Newcastle. A equipe de
Jamieson costuma procurar novas espécies nas profundidades do oceano,
mas quando percebeu ter acumulado dezenas de unidades de um pequeno tipo
de camarão que vive numa faixa entre 6 e 11 quilômetros abaixo da
superfície, decidiu procurar evidências de consumo de plástico. A
equipe descobriu que a contaminação nas profundezas dos oceanos é
generalizada, tendo atingido tanto a Fossa do Peru-Chile, no sudeste do
Pacífico, quanto a Fossa do Japão, que ficam a 15 mil quilômetros uma da
outra. "Está na região do Japão, da Nova Zelândia, do Peru, e
cada fossa é extremamente profunda", disse Jamieson. "(O plástico) é
encontrado consistentemente em animais em todas as profundezas
extraordinárias do Pacífico, então não vamos perder tempo em concluir:
ele está em toda parte." Antes do estudo conduzido pela equipe de
Jamieson, a localização mais profunda em que partículas de
microplástico haviam sido encontradas no estômago de seres vivos foi a
2,2 quilômetros da superfície do Atlântico Norte. Os
microplásticos, que medem entre 0,1 micrômetro e cinco milímetros,
confundem os animais marinhos porque têm tamanho semelhante ao de
pequenas presas ou partículas de comida, facilitando assim sua entrada
na cadeia alimentar. Algumas partículas resultam de processos
industriais e são diretamente liberadas nos oceanos por meio de esgotos
ou rios. Outras se originam da decomposição de materiais plásticos de
maiores dimensões. Não está claro se as partículas encontradas
pelos cientistas da Universidade de Newcastle foram ingeridas por peixes
em profundidades mais rasas que morreram e depois afundaram. Os
pesquisadores acreditam, contudo, que as fibras de plástico possuem
muitos anos de idade. Muitas parecem pertencer a tecidos de roupas, como
nylon. "Mesmo se nem uma única fibra entrasse no mar a partir de
agora, tudo que já está no oceano vai afundar em algum momento. Uma vez
que esse material entra no oceano profundo, qual seria o mecanismo para
trazê-lo de volta?", perguntou Jamieson. "Estamos empilhando todo o
nosso lixo no lugar sobre o qual temos menos conhecimento." Cerca
de 322 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente no
planeta, enquanto ao menos 5 trilhões de materiais plásticos, com peso
equivalente a 250 mil toneladas, estão flutuando nos oceanos.
O projeto bilionário de satélites para conectar todos os cantos do mundo à internet
Jonathan AmosRepórter de Ciência da BBC News
27/02/2019
Direito de imagemONEWEB
A rede ficará a 1.200 km acima da Terra. Satélites serão lançados nesta quarta-feira
A OneWeb, empresa
com sede em Londres, está pronta para lançar os primeiros seis satélites
de seu projeto bilionário para levar internet a todos os cantos do
planeta.
O plano é de colocar cerca de 2 mil objetos do tipo na órbita em torno da Terra. Outras
empresas também prometem colocar chamadas megaconstelações - redes de
novos satélites - em órbita, mas a OneWeb acredita ter a vantagem de
tomado a frente nessa iniciativa, e de contar com um sistema operacional
próprio. O lançamento de seus satélites, nesta quarta-feira, em um
foguete russo Soyuz, a partir da Guiana Francesa, é programado para as
18h37, horário de Brasília. Controladores na sede da OneWeb em
Londres estarão esperando para captar sinais do equipamento quando eles
se soltarem da parte superior do foguete russo.
Stéphane
Israël, CEO da Arianespace SAS, empresa que colocará os satélites em
órbita para a OneWeb, usou o Twitter domingo para comemorar "o sucesso"
dos preparativos para o lançamento. "Operações bem sucedidas
ontem (sábado)! Os satélites da @OneWeb estão agora no nosso veículo de
lançamento #Soyuz. Lançamento em breve! Vai OneWeb! Vai !", escreveu
ele.
A tarefa mais importante dos satélites é garantir as
frequências necessárias que permitirão a transmissão de dados em alta
velocidade de internet. Supondo que esses desbravadores tenham o
desempenho esperado, a OneWeb seguirá com a colocação do restante da
constelação de satélites no final do ano. Haverá um lançamento mensal de foguetes Soyuz, que levarão até 36 satélites por vez. Para fornecer cobertura global de internet, serão necessárias 648 unidades em órbita. "Nós
vamos conectar muita gente que não está conectada no momento", explicou
Adrian Steckel, CEO da OneWeb. "Vamos começar focando em conectar
escolas, navios, aviões e grandes áreas do planeta que não fazem sentido
para fibra (internet por fibra óptica)", disse ele à BBC News. Direito de imagemONEWEBBCada satélite tem cerca de um metro de diâmetro e pesa menos de 150 kg
Quem está apoiando a OneWeb?
A empresa foi criada pelo empresário de telecomunicações americano Greg Wyler. Ele
já havia fundado outra constelação, chamada O3b, que significa "outros
três bilhões" - uma referência à metade do planeta sem conectividade. A O3b opera uma frota de 16 satélites que se deslocam pelo equador a uma altitude de 8.000 km. A OneWeb é uma ideia ainda mais grandiosa de Wyler - uma rede muito mais densa que voa a apenas 1.200 km acima do solo. A
proximidade dos satélites, sua alta taxa de transferência - mais de um
terabit por segundo através da constelação - e a cobertura global
prometem transformar o provimento de internet para aqueles que estão
atualmente desassistidos ou simplesmente não contam com o serviço. Pelo
menos essa é a visão compartilhada pelos parceiros da OneWeb, grupo que
inclui empresas como a fabricante de chips Qualcomm, o Virgin Group, de
Richard Branson, a gigante Coca-Cola, a especialista em comunicações
via satélite Hughes e a financiadora de tecnologia SoftBank. Direito de imagemGetty ImagesCarros conectados: A OneWeb quer expandir os usos da internet via satélite
Quais são os custos dessa iniciativa?
Os custos são bem altos. A
tecnologia de satélites é muito mais barata do que costumava ser, e o
grande número de satélites necessários para a rede reduz o custo
unitário. Mesmo assim, os satélites, produzidos pela Airbus, parceira da
OneWeb, tem um preço estimado em cerca de US$ 1 milhão (o equivalente a
R$ 3,75 milhões) cada. E quando você adiciona toda a
infraestrutura necessária para operar o sistema, o custo total é de mais
de US$ 3 bilhões (R$ 11,25 bilhões). Algumas iniciativas
anteriores nessa área, voltadas para a criação de constelações
semelhantes, não deram certo. Empresas de comunicação por satélites,
como a Iridium e a Globalstar, só existem hoje porque processos de
falência as dispensaram de suas dívidas. Vários outros grupos
registraram interesse em competir com a OneWeb, incluindo a SpaceX, do
empresário Elon Musk. Engenheiros da Space até já colocaram (dois)
satélites em órbita para demonstrar tecnologias. Analistas parecem seguros de apenas uma coisa: o mercado não dará conta de todas as megaconstelações propostas. Direito de imagemONEWEBControladores na Virgínia, nos Estados Unidos, e em
Londres têm estado ocupados ensaiando o dia do lançamento
Qual é a perspectiva do Reino Unido aqui?
A
OneWeb estabeleceu sua sede no oeste de Londres, capital do Reino
Unido, em escritórios antes ocupados pela BBC. A empresa tem cerca de 70
funcionários atualmente e espera aumentar o número para cerca de 200. A sede tem uma sala de controle de satélites, embora essa função também seja realizada nos EUA. Sucessivos
governos do Reino Unido tentaram fomentar um ambiente regulatório e de
negócios que estimulasse empresas espaciais a fazerem da Grã-Bretanha
sua base - e eles conseguiram, acredita o CEO da OneWeb, Adrian Steckel. "Acreditamos
que a Agência Espacial do Reino Unido (UKSA) fez um trabalho
fantástico, olhando para a OneWeb como um novo marco na indústria de
satélites e ampliando as possibilidades de uso de nossos serviços",
disse ele à BBC News. "E eles têm trabalhado conosco, de mãos
dadas, no que diz respeito a analisar o processo de regulamentação. Eles
têm sido grandes defensores disso." A UKSA gasta somas
significativas em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de
telecomunicações via satélite. A agência faz isso por meio de sua
participação na Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla erm inglês). A
ESA desenvolve novas tecnologias que, esperamos, manterão as empresas
europeias globalmente competitivas. E a UKSA acaba de colocar 18 milhões
de libras em um programa que deve beneficiar a próxima geração de
satélites da OneWeb, em particular na forma como elas interagem e
trabalham junto às redes móveis terrestres 5G que agora estão sendo
fomentadas. Direito de imagemESAEstudo mostra que as novas redes precisarão tirar de
órbita seus veículos espaciais antigos, para evitar colisões
O espaço já não está cheio demais?
Este
é um ponto muito debatido. Há mais de 4 mil satélites operando em
órbita, voando em várias altitudes; e um número um pouco maior de
equipamentos espaciais antigos que interromperam as operações. Se
várias megaconstelações forem lançadas, haverá uma aumento significativo
nessa população em órbita - e o potencial de colisões tem preocupado
especialistas. Um estudo recente - patrocinado pela Agência
Espacial Europeia e apoiado pela Airbus - descobriu que as novas redes
precisarão tirar de órbita seus veículos espaciais antigos, obsoletos,
dentro de cinco anos ou correrão o risco de aumentar seriamente a
probabilidade dos objetos se chocarem uns com os outros. A OneWeb
diz estar com essa preocupação em mente. A UKSA, como o órgão de
licenciamento, tem trabalhado em estreita colaboração com a empresa para
garantir que equipamento ultrapassado seja retirado do céu o quanto
antes. "Todos os candidatos aprovados para as licenças do Outer
Space Act devem demonstrar adequação às melhores práticas estabelecidas
em termos de operações seguras e sustentáveis", disse um porta-voz. "Isso
inclui o descarte seguro de satélites em fim de vida útil, por exemplo,
retirando-os de órbita para minimizar o potencial de colisões e a
criação de detritos espaciais."