quarta-feira, 28 de março de 2018

A batalha de uma ilha para ser 100% renovável

A batalha de uma ilha para ser 100% renovável


A central de Gorona del Viento proporcionou à ilha espanhola de El HIerro energia totalmente renovável durante 18 dias consecutivos
El Hierro

  • Cinco turbinas eólicas, dois tanques de água, quatro turbinas hidráulicas e uma estação de bombeamento compõem o experimento renovável que começou em 2014 na ilha de El Hierro, uma das ilhas do arquipélago espanhol das Canárias. Na fotografia, o depósito inferior da central elétrica de Gorona del Viento. Ao fundo da imagem encontra-se a sala de turbinas que serve para gerar eletricidade com a queda da água procedente do depósito superior. Essa operação é realizada quando não há vento e os aerogeradores não podem fornecer eletricidade.
    1-Cinco turbinas eólicas, dois tanques de água, quatro turbinas hidráulicas e uma estação de bombeamento compõem o experimento renovável que começou em 2014 na ilha de El Hierro, uma das ilhas do arquipélago espanhol das Canárias. Na fotografia, o depósito inferior da central elétrica de Gorona del Viento. Ao fundo da imagem encontra-se a sala de turbinas que serve para gerar eletricidade com a queda da água procedente do depósito superior. Essa operação é realizada quando não há vento e os aerogeradores não podem fornecer eletricidade.
  • A chave para esse projeto de 82 milhões de euros é combinar o vento rebelde com a docilidade da água estocada e, assim, enfrentar o ponto fraco das energias renováveis: o armazenamento. Na sala de controle de Gorona del Viento, exibida na imagem, gerencia-se todo o mecanismo da central. Na foto, o engenheiro Alberto Castañeda.
    2-A chave para esse projeto de 82 milhões de euros é combinar o vento rebelde com a docilidade da água estocada e, assim, enfrentar o ponto fraco das energias renováveis: o armazenamento. Na sala de controle de Gorona del Viento, exibida na imagem, gerencia-se todo o mecanismo da central. Na foto, o engenheiro Alberto Castañeda.
  • Nuvens de um mirante próximo ao município de Isora a 700 metros de altitude acima do nível do mar. "Uma parte da energia produzida pelo parque eólico vai diretamente para os clientes e outra para as bombas que elevam a água de um reservatório inferior quase ao nível do mar para uma altura superior a 700 metros", explica Juan Pedro Sánchez, responsável pelo centro.
    3-Nuvens de um mirante próximo ao município de Isora a 700 metros de altitude acima do nível do mar. "Uma parte da energia produzida pelo parque eólico vai diretamente para os clientes e outra para as bombas que elevam a água de um reservatório inferior quase ao nível do mar para uma altura superior a 700 metros", explica Juan Pedro Sánchez, responsável pelo centro.
  • Tomás Padrón foi presidente do Cabildo Insular de El hierro e um dos principais impulsores do projeto de Gorona del Viento. Em El Hierro, as paisagens se alternam tão rápido quanto o tempo. Os vales de coníferas aliviam as falésias e os recifes de lava vulcânica negra, enquanto o calor da costa se desvanece ante da névoa da montanha que atinge os 1.500 metros no seu pico mais alto. Essas peculiaridades geográficas foram determinantes no momento de projetar o complexo hidroeólico.
    4-Tomás Padrón foi presidente do Cabildo Insular de El hierro e um dos principais impulsores do projeto de Gorona del Viento. Em El Hierro, as paisagens se alternam tão rápido quanto o tempo. Os vales de coníferas aliviam as falésias e os recifes de lava vulcânica negra, enquanto o calor da costa se desvanece ante da névoa da montanha que atinge os 1.500 metros no seu pico mais alto. Essas peculiaridades geográficas foram determinantes no momento de projetar o complexo hidroeólico.
  • O depósito superior de Gorona del Viento está construído na cratera de um antigo vulcão. Essa barragem funciona como uma bateria para armazenar energia potencial, já que quando não há vento para mover os aerogeradores se gera eletricidade com a força da água ao fazê-la cair até as turbinas que se encontram junto ao depósito inferior.
    5-O depósito superior de Gorona del Viento está construído na cratera de um antigo vulcão. Essa barragem funciona como uma bateria para armazenar energia potencial, já que quando não há vento para mover os aerogeradores se gera eletricidade com a força da água ao fazê-la cair até as turbinas que se encontram junto ao depósito inferior.
  • Uma planta cresce em uma zona vulcânica de lava petrificada em Punta de Orchilla. O objetivo é que a usina gere 100% de energia limpa ao longo do ano. Em 2017, forneceu 47% da eletricidade consumida na ilha, 17 pontos a mais do que em 2015; o resto é coberto por uma usina a diesel anexa à usina. "Com os últimos ajustes, esperamos ultrapassar 60% em 2018 e continuar subindo", diz Sánchez.
    6-Uma planta cresce em uma zona vulcânica de lava petrificada em Punta de Orchilla. O objetivo é que a usina gere 100% de energia limpa ao longo do ano. Em 2017, forneceu 47% da eletricidade consumida na ilha, 17 pontos a mais do que em 2015; o resto é coberto por uma usina a diesel anexa à usina. "Com os últimos ajustes, esperamos ultrapassar 60% em 2018 e continuar subindo", diz Sánchez.
  • A estação de bombeamento da central de Gorona tem como missão principal impulsionar a água desde o depósito inferior para o superior quando a força do vento é suficientemente intensa. Graças a Gorona del Viento, El Hierro dispensou 6.070 toneladas de diesel em 2017, o equivalente a 40.000 barris de petróleo. A ilha também reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 40.000 toneladas desde 2015 e contribuiu um pouco para a luta contra a mudança climática, que há muito expõe as contradições do crescimento baseado em combustíveis fósseis, acelerando a transição para um modelo que seja mais respeitoso com o ambiente.
    7-A estação de bombeamento da central de Gorona tem como missão principal impulsionar a água desde o depósito inferior para o superior quando a força do vento é suficientemente intensa. Graças a Gorona del Viento, El Hierro dispensou 6.070 toneladas de diesel em 2017, o equivalente a 40.000 barris de petróleo. A ilha também reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 40.000 toneladas desde 2015 e contribuiu um pouco para a luta contra a mudança climática, que há muito expõe as contradições do crescimento baseado em combustíveis fósseis, acelerando a transição para um modelo que seja mais respeitoso com o ambiente.
  • O Hotel Punta Grande era há até pouco tempo o menor do mundo. Tem quatro habitações e encontra-se sobre uma rocha em uma ponta da costa do município de Frontera.
    8-O Hotel Punta Grande era há até pouco tempo o menor do mundo. Tem quatro habitações e encontra-se sobre uma rocha em uma ponta da costa do município de Frontera.
  • O Garoé é uma árvore que destila água, já que é capaz de absorver dos nevoeiros. Os bimbaches, nome dos indígenas que viviam na ilha, o consideravam sagrado, pois lhes proporcionava água que armazenavam em pequenos depósitos debaixo da árvore quando havia seca.
    9-O Garoé é uma árvore que destila água, já que é capaz de absorver dos nevoeiros. Os bimbaches, nome dos indígenas que viviam na ilha, o consideravam sagrado, pois lhes proporcionava água que armazenavam em pequenos depósitos debaixo da árvore quando havia seca.
  • 'Gallotia simonyi', conhecido popularmente como lagarto gigante de El Hierro, é uma espécie em risco de extinção e um símbolo da ilha. Os aborígenes e alguns depredadores como ratazanas de campo quase acabam com essa espécie que agora está protegida e pode ser visto no lagartário em Frontera.
    10-'Gallotia simonyi', conhecido popularmente como lagarto gigante de El Hierro, é uma espécie em risco de extinção e um símbolo da ilha. Os aborígenes e alguns depredadores como ratazanas de campo quase acabam com essa espécie que agora está protegida e pode ser visto no lagartário em Frontera.
  • A instalação de placas solares é um negócio em ascensão, e na Ilha de El Hierro especialmente, pois ainda há áreas onde não chega o fornecimento elétrico, como nas zonas altas de montanha. Na imagem, Marco Sánchez, quem tem uma empresa de eletricidade e faz esse tipo de instalação.
    11-A instalação de placas solares é um negócio em ascensão, e na Ilha de El Hierro especialmente, pois ainda há áreas onde não chega o fornecimento elétrico, como nas zonas altas de montanha. Na imagem, Marco Sánchez, quem tem uma empresa de eletricidade e faz esse tipo de instalação.
  • Vista do Golfo a partir do Miradouro de la Peña. Esta zona, onde se encontram os municípios de Frontera e Sabinosa, é a mais povoada da ilha.
    12-Vista do Golfo a partir do Miradouro de la Peña. Esta zona, onde se encontram os municípios de Frontera e Sabinosa, é a mais povoada da ilha.
  • Ao fundo, o farol de Orchilla. Em primeiro plano, um monolito e uma cruz lembram a Carmelo Heredia Olmos, primeiro torrero do farol. É o ponto mais ocidental de Espanha, e o local onde se estabeleceu o meridiano zero até que se mudasse pela cidade de Greenwich no final do 1800.
    13-Ao fundo, o farol de Orchilla. Em primeiro plano, um monolito e uma cruz lembram a Carmelo Heredia Olmos, primeiro torrero do farol. É o ponto mais ocidental de Espanha, e o local onde se estabeleceu o meridiano zero até que se mudasse pela cidade de Greenwich no final do 1800.
  • Zona de caminhada de montanha no município de Valverde, a capital da ilha. El Hierro foi declarado no ano 2000 reserva da biosfera pela Unesco.
    14-Zona de caminhada de montanha no município de Valverde, a capital da ilha. El Hierro foi declarado no ano 2000 reserva da biosfera pela Unesco.
  • Vista do Golfo a partir de Sabinosa. Diferente de outras ilhas, El Hierro não optou pelo turismo em massa. Em vez disso, apostou em um modelo de crescimento sustentável para alcançar a autossuficiência e proteger o patrimônio natural de um território afastado da península e de extensão reduzida, cuja população só representa 0,5% do total das Canárias.
    15-Vista do Golfo a partir de Sabinosa. Diferente de outras ilhas, El Hierro não optou pelo turismo em massa. Em vez disso, apostou em um modelo de crescimento sustentável para alcançar a autossuficiência e proteger o patrimônio natural de um território afastado da península e de extensão reduzida, cuja população só representa 0,5% do total das Canárias.
Fonte: El País

O jovem que tinha uma biblioteca de livros roubados em casa: “Eu lia todos, sobre tudo”

O jovem que tinha uma biblioteca de livros roubados em casa: “Eu lia todos, sobre tudo”


Menino detido com coleção de 384 exemplares de bibliotecas públicas atraiu romaria de doadores

São Paulo
Livros recuperados na casa do adolescente
Livros recuperados na casa do adolescente
Na biblioteca municipal de Itápolis, um modesto município no Estado de São Paulo, estavam desaparecendo livros. Tantos, e com tanta velocidade, que a direção resolveu instalar câmeras para encontrar os responsáveis pela sangria. Na sexta-feira, 17 de julho, a polícia municipal descobriu que na realidade era um só, um adolescente que vinha pegar dois livros emprestados enquanto levava outros quatro escondidos na mochila. Na delegacia, o jovem, Flávio Fernando de Oliveira, de 18 anos, confessou que tinha em sua casa os demais exemplares furtados. Mas quando os agentes foram confiscá-los na residência, uma moradia modesta nos arredores de Itápolis, encontraram muito mais. Havia montanhas de livros no quarto daquele garoto. Centenas de títulos, de dezenas de gêneros e temas, provenientes das cinco bibliotecas da cidade. No total, 384 exemplares furtados, organizados e cuidados com esmero, um acervo acumulado à base de incontáveis delitos, mas também um monumento à paixão pela leitura de um adolescente solitário que preferia as páginas à rua. Quando teve de responder o que fazia com semelhante coleção, que não tinha devolvido nem tampouco vendido, Flávio respondeu: “Eu lia todos, sobre tudo”.
Sua irmã, Maria de Oliveira, contou ao jornal O Estado de S. Paulo que o gosto pela leitura era algo que tinha definido a personalidade do irmão durante toda sua vida. “Ele gosta de ler desde pequeno e ficava horas trancado no quarto, folheando os livros”, explica. “Ele é bem eclético, lê de tudo. Eu o via sempre lendo. É melhor do que ficar fazendo coisa errada na rua. Itápolis não é nem de longe a região mais insegura do Estado de São Paulo, mas tampouco tem a segurança de um bairro nobre da capital. Em janeiro, um adolescente deu um tiro na cabeça de outro menor justamente na rua de Flávio.
Essa paixão pela leitura tinha escapado ultimamente das mãos do jovem. Havia terminado os estudos no colégio e pretendia estudar psicologia em alguma universidade: a mais próxima está a quase cem quilômetros. Flávio precisava de um trabalho e a oportunidade não aparecia. Com tanto tempo livre, a demanda por livros para preencher o dia disparou. Por isso começou a furtar das bibliotecas, incluindo as de escolas, como a menina Liesel Meminger de A Menina Que Roubava Livros. “Eu pegava para ler e ia devolver, mas acabei deixando em casa”, explica ao jornal. Quando lhe perguntam por que não o fez, ele se esquiva: “Desculpe, mas não estou passando bem. Tem muita gente ligando aqui, fazendo piadas, falando coisas. Ficou uma situação desagradável.” Sua irmã também insiste na versão mais inocente possível da história: “A gente não sabia que ele pegava os livros assim. Ele sempre dizia que eram emprestados ou ganhava.”
A polícia elabora uma teoria mais rebuscada. “Minha impressão pessoal é que ele pode ter algum problema psicológico, mas a família disse que ele é normal”, avalia o delegado de polícia Daniel do Prado Gonçalves. “Vou fazer o inquérito por furto simples e encaminhar ao juiz, a quem caberá decidir que andamento será dado”, acrescenta. Sua mãe, Lúcia, preferiu cortar todos os contatos com a imprensa e contatar um advogado para a defesa do jovem.
O jovem que tinha uma biblioteca de livros roubados em casa: “Eu lia todos, sobre tudo”
Por ora, Flávio ficou sem os livros. A polícia está com eles e os devolverá às bibliotecas de onde foram furtados. E aquele teria de ser o fim da história, até que, dias depois, quando a situação foi sendo conhecida, a rádio 104FM recebeu uma chamada. Era Lúcia e vinha com uma nova resolução final: “Ela disse que estava indo uma romaria de pessoas levar livros para o rapaz e ficou preocupada com essa situação”, explicou em seu nome o apresentador, Valcir Amaral. “Fez um apelo para que o povo não faça mais isso.”

Fonte: El País

O doutorado é prejudicial à saúde mental

O doutorado é prejudicial à saúde mental

Estudo diz que doutorandos são seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade ou depressão
Estudantes da Universidade de Barcelona estudam na biblioteca do edifício histórico da instituição.
Estudantes da Universidade de Barcelona estudam na biblioteca do edifício histórico da instituição.
Nos últimos anos foram publicadas diversas pesquisas que alertam sobre o estado de saúde mental dos alunos de doutorado. Um exemplo recente é o trabalho que acaba de sair na Nature Biotechnology, apontando que os doutorandos são seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão em comparação com a população geral. Segundo esse trabalho, dirigido pelo pesquisador Nathan Vanderford, da Universidade de Kentucky (EUA), isto significa que 39% dos candidatos a doutor sofrem de depressão moderada ou severa, frente a 6% da população geral.
Poderíamos pensar que esses resultados se devem a cortes nas condições de trabalho, ou que sejam algo intrínseco a empregos altamente competitivos, sejam ou não doutorados; entretanto, outro estudo, este realizado pela Universidade de Gent (Flandres, Bélgica), conclui que os doutorandos, em comparação com outros grupos profissionais com alta formação, sofrem com maior frequência sintomas de deterioração na sua saúde mental. “Esta é uma publicação muito importante, porque progressivamente estamos compreendendo que existem problemas de saúde mental entre os doutorandos, e estudos como este nos ajudam a entender melhor suas causas”, afirma Vanderford.
Para aprofundar esse tema, Katia Levecque, pesquisadora da Universidade de Gent e primeira autora do estudo belga, reuniu uma amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas, que seguem um programa muito similar ao do resto da Europa e Estados Unidos, e quantificou a frequência com que os alunos afirmaram ter experimentado nas últimas semanas algum entre 12 sinais associados ao estresse e, potencialmente, a problemas psiquiátricos (especialmente a depressão). Entre essas características estão sentir-se infeliz ou deprimido, sob pressão constante, perda de autoconfiança ou insônia devido às preocupações.
Os resultados foram que 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis. Além disso, metade deles relatavam conviver com pelo menos 2 dos 12 sinais avaliados no teste.
“Fomos os primeiros a estudar os doutorandos como um grupo à parte, usando um tamanho de amostra adequado e comparando-os com outros grupos de população altamente formados”, enfatiza Levecque. Os resultados mais chamativos desse estudo aparecem quando se comparam pessoas fazendo uma tese doutoral com outras populações (um grupo de população geral, outro de trabalhadores e um de estudantes), todas elas com um alto nível educativo (de alunos da graduação universitária a doutorados): em todos os casos, o grupo de pessoas que estavam fazendo doutorado tinha com muito mais frequência sinais de deterioração em sua saúde mental, chegando por exemplo a que 32% dos doutorandos relatassem pelo menos 4 dos 12 sintomas, frente aos 12%-15% das pessoas dos grupos controle.
O estudo também examina se entre os doutorandos existem condições que aumentem as possibilidades de ter ou desenvolver um problema psiquiátrico. Levecque conclui, por exemplo, que o desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.
Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. “Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, detalha a pesquisadora.
A conciliação familiar é outro tema importante, já que quem tem uma situação conflitiva entre sua família e o trabalho fica 52% mais propenso a desenvolver um problema psiquiátrico. E o mesmo ocorre com a carga de trabalho, que pode chegar a aumentar em 65% a aparição de distúrbios psiquiátricos.
Todo esse trabalho feito pela Universidade de Gante deixa claro que mesmo em países como a Bélgica, onde as condições econômicas são favoráveis, o desenvolvimento do doutorado expõe os alunos a situações tóxicas para sua saúde mental, acima do que é habitual em outros ambientes similares. Sobre isto, Levecque enfatiza o valor de melhorar a assistência em saúde mental aos doutorandos, já que eles são um dos pilares da produção científico-tecnológica em nível mundial; e dá três conselhos básicos: “Em primeiro lugar, forme-se e dedique tempo a conhecer sua própria saúde… e a de outras pessoas. Em segundo lugar, fale de um modo explícito sobre a saúde mental. E finalmente, no nível das organizações, estas deveriam se preocupar com o bem-estar dos seus empregados tanto por razões humanitárias como financeiras: o bem-estar do funcionário e sua eficácia trabalhista estão altamente correlacionados”.

Fonte: El País

Indústria de papel e celulose aponta benefícios do manejo do eucalipto

Indústria de papel e celulose aponta benefícios do manejo do eucalipto

Presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) ressalta os avanços na conservação dos recursos hídricos nessa forma de cultivo

Brasil Rural
No AR em 28/03/2018 - 12:28

No início do mês, o Brasil Rural fez uma entrevista sobre uma tese de doutorado que associa a monocultura do eucalipto à desertificação no semiárido mineiro. De acordo com pesquisas recentes, o eucalipto consome 300 litros de água por metro quadrado a mais do que a vegetação nativa na região. Para contestar esses dados e falar sobre o manejo correto do eucalipto, conversarmos com a presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth Carvalhaes.
Segundo ela, as florestas plantadas de eucalipto promovem efetivos ganhos sociais e ambientais, como: a fixação do homem no campo, a despoluição e a redução dos efeitos das mudanças climáticas por meio da conservação do solo. O setor responde hoje por quase 8 milhões de hectares de plantio florestal.
Floresta de Eucalipto

Sobre as florestas de eucalipto, ela diz: "É uma atividade que já existe há 80 anos e que a partir dos anos 80 começou um estudo sobre a água. Para isso, nós trabalhos muito com o Programa Cooperativo sobre Monitoramento e Modelagem de Bacias Hidrográficas (Promab), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e a gente monitora hoje mais de 60 microbacias nesta área de plantio. As florestas plantadas do Brasil são as que mais recebem investimento em inovação e tecnologia. Então, nenhum eucalipto chega lá embaixo no lençol freático. Hoje em dia temos o manejo florestal mais sustentável do mundo! Nós temos trabalhado, inclusive, para que o produtor rural seja remunerado por toda melhora que ele está fazendo."
Acompanhe a entrevista completa aqui.

Fonte: EBC

Edital PIBIC 2018-2019


Lembrando que o Edital PIBIC 2018-2019 se encontra em vigor e que as inscrições poderão ser feitas até o dia 31/03/2018.
O Edital 2018-2019 está disponível em nossa página, no endereço: https://goo.gl/kUbqPY(link is external) (link is external)
Leiam o edital, confirem as regras e fiquem atentos ao cronograma.

Maiores informações através do e-mail: proppipesquisa@gmail.com(link sends e-mail) (link sends e-mail)


Fonte: UFF

terça-feira, 27 de março de 2018

Investimentos em tecnologia no Brasil aumentam 4,5% em 2017

Investimentos em tecnologia no Brasil aumentam 4,5% em 2017


País está na nona posição no ranking global de investimentos no setor

O mercado de Tecnologia da Informação (TI, composto de hardwares, softwares e serviços) no Brasil cresceu 4,5% em 2017. O país está na nona posição no ranking global de investimentos no setor, com aporte de US$ 38 bilhões no ano passado. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), do estudo anual do setor realizado em conjunto com a consultoria IDC.
No ranking mundial, o Brasil fica atrás de Estados Unidos (US$ 751 bilhões), China (US$ 244 bilhões), Japão (US$ 139 bilhões), Reino Unido, Alemanha, França, Canadá e Índia. No total, foram US$ 2,07 trilhões em investimentos em TI no último ano.
De acordo com a Abes, na América Latina, o Brasil está no topo da lista de investidores, seguido por México (US$ 20,6 bi), Argentina (US$ 8,4 bi) e Colômbia (US$ 7 bi). O país foi responsável 39,1% do total de investimentos da região, que foi de US$ 97,3 bilhões.
Para a associação, os resultados mostram a retomada do espaço perdido nos últimos anos e um maior grau de maturidade nos investimentos em tecnologia, com ampliação da participação dos investimentos em software e serviços nos investimentos totais em TI.

Telecomunicações

Já os investimentos em TIC, que engloba TI mais o setor de telecomunicações, somaram mundialmente US$ 3,55 trilhões em 2017, sendo US$ 105 bilhões somente no Brasil, o que, segundo a Abes, garantiu o sexto lugar no ranking geral, recuperando uma posição em relação ao ano anterior. Para 2018, a expectativa da Abes é de mais recuperação, com mais oportunidades no segundo semestre e crescimento anual de 4,1% no segmento de TI.

Fonte: EXAME

Engenheiros lideram ranking de profissionais qualificados mais demitidos

Engenheiros lideram ranking de profissionais qualificados mais demitidos


Confira o ranking dos profissionais de nível superior e com mais de 25 anos que mais perderam emprego na iniciativa privada





São Paulo – Ao receber uma solicitação de construção de uma ponte, a liderança de uma construtora na área de infraestrutura – conhecida no mercado justamente pela expertise no assunto – se deu conta de que todos os seus engenheiros especializados nesse tipo de edificação haviam sido demitidos.
A situação tão inusitada quanto dramática é real, foi relatada por um cliente à gerente de recrutamento da consultoria Robert Half, Isis Borges. “Isso gerou uma crise dentro da companhia, pois para o cliente seria um choque saber que a empresa não tinha mais essa expertise. A solução do RH da construtora foi, a toque de caixa, ir para o mercado em busca de profissionais especialistas em pontes”, diz Isis.
Casos assim podem estar acontecendo em outras empresas de engenharia Brasil afora, e não são exclusivos do setor de infraestrutura. Engenheiros lideram a lista de profissionais qualificados com maior saldo de demitidos, segundo dados extraídos pela Robert Half do Caged, referentes aos dois últimos trimestres do ano passado para a elaboração da pesquisa Índice de Confiança. Para agrupar apenas os profissionais chamados de qualificados, a consultoria definiu como filtros a faixa etária superior a 25 anos, atuação na iniciativa provada e a formação acadêmica de nível superior.
“Ao demitir um engenheiro, abre-se mão de um histórico técnico valioso”, diz Isis. Por isso, há empresas que optam por manter esses profissionais ainda que não haja demanda. “Em uma empresa especialista em estradas, eles mantiveram os profissionais qualificados, mas ainda estão sem projetos de rodovias novas”, conta Isis.
Na outra ponta do ranking, estão os inspetores de qualidade, profissionais que menos sofreram com redução dos quadros. A perspectiva de retomada é um dos fatores que explicam o menor número de demissões, segundo Isis.
“Há casos de empresas que reduziram turnos, porém têm a real intenção e necessidade de voltar ao patamar de volume de trabalho de períodos mais aquecidos, então seguraram esse profissional, pois se o volume aumentar ele já está treinado e o risco de erros é menor se comparado ao desempenho de um profissional novo recém-contratado”. Cortes drásticos no número desses profissionais podem prejudicar os negócios. “Um defeito não detectado pode gerar diferentes problemas para os negócios”, diz.
Pessoas com capacidade multitarefa e perfil mais flexível foram mais poupadas das demissões nos períodos mais difíceis da crise. “É fato que as empresas aprenderam a conviver com menos recursos para continuar executando as mesmas atividades”, diz Isis.
Para esse ano, o entendimento geral é que a retomada está chegando aos poucos. Na sexta-feira, o Ministério do Trabalho divulgou dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que apontam para uma criação líquida de mais de 61 mil vagas formais, corroborando a expectativa pela melhora do nível de emprego
“O próprio Índice de Confiança Robert Half reflete esse otimismo, inclusive com relação aos próximos seis meses”, diz Isis. Tanto os profissionais desempregados quanto os que estão empregados e os recrutadores entrevistados pela consultoria se mostraram otimistas em relação aos próximos seis meses. Em cada uma das três categorias, foram ouvidos 387 profissionais pela consultoria.
Confira o ranking:

Cargo Admitidos no 3º trimestre de 2017 Demitidos no 3º trimestre de 2017 Saldo Admitidos no 4º trimestre de 2017 Demitidos no 4º trimestre de 2017 Saldo
Engenheiros 5.641 -7.503 -1.862 4.491 -7.333 -2.842
Contadores 3.588 -4.288 -700 2.948 -4.193 -1.245
Advogados 2.368 -2.787 -419 1.700 -2.500 -800
Gerentes financeiros 1.547 -2.133 586 1.274 -2.033 -759
Gerentes de vendas 2.263 -2.656 -393 1.797 -2.507 -710
Diretores Administrativos e Financeiros 761 -1.050 -289 510 -991 -418
Gerentes de recursos humanos 799 -1.127 -328 760 -1.118 -358
Gerentes de marketing 1.079 -1.260 -181 881 -1.132 -251
Diretores comerciais 278 -414 -136 241 -448 -207
Programadores de Sistemas de informação 2.457 -2.175 282 1.999 -2.091 -92
Gerentes de compras 336 -411 -75 307 -384 -77
Administrador e Banco de Dados 236 -287 -51 171 -236 -65
Diretores de marketing 86 -110 -24 45 -97 -52
Diretores de Recursos Humanos 55 -85 -30 43 -72 -29
Inspetores de Qualidade 984 -961 23 841 -860 -19

Fonte: EXAME

Como empresas produtoras de açúcar e ambientalistas se uniram contra plantio de cana em áreas da Amazônia

Como empresas produtoras de açúcar e ambientalistas se uniram contra plantio de cana em áreas da Amazônia

27/03/2017
Direito de imagem Thinkstock
Floresta amazônica no Pará  
Atualmente, Amazônia Legal está excluída de áreas possíveis para cultivo de cana-de-açúcar, segundo o Zoneamento Agroecológico aprovado pelo governo em 2009
Artistas como Caetano Veloso e Marisa Monte publicaram protestos em seus perfis de Instagram: "Absurdo! O Senado quer aprovar o plantio de cana na Amazônia. Mobilização Já!". No Twitter, ONGs ambientalistas usam a hashtag #AmazôniaemCana. Até aí, nada de novo. Mas a oposição a um projeto de lei que libera o plantio de cana-de-açúcar em áreas da Amazônia legal conseguiu também o apoio de empresas produtoras de açúcar e de etanol no Brasil.
O projeto, criado pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), está previsto para votação no plenário do Senado nesta terça-feira.
A região da Amazônia Legal abrange nove Estados brasileiros (Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte dos Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão), mas o projeto diz que só seria liberado o plantio em áreas "já degradadas ou dedicadas a pastagens de baixa produtividade".
Na segunda-feira, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura divulgou uma carta de repúdio ao projeto - cuja votação estava prevista para o dia 22 de março, Dia Internacional das Florestas, mas foi adiada por falta de quórum, por causa da obstrução de partidos de esquerda como PT, PSB e Rede.
Segundo as organizações, a medida faria com que a pecuária fosse empurrada para novas áreas para dar lugar à lavoura, aumentando a pressão pelo desmatamento da floresta. O produto desta nova área de cultivo também poderia prejudicar a imagem do Brasil no mercado internacional.
"Os biocombustíveis e açúcar brasileiros não são associados a esse desmatamento. O PLS 626/2011 pode manchar essa reputação e colocar em risco os mercados já conquistados e o valor dos produtos brasileiros", diz a carta.
Em resposta, o senador Flexa Ribeiro, autor do projeto, disse à BBC Brasil na manhã desta terça-feira que "esses ambientalistas que fazem o discurso de fora para dentro deveriam ir para a Amazônia conviver com os amazônicos para ter a visão correta. Ninguém mais do que nós que vivemos aqui quer preservar a Amazônia".
No entanto, a Coalizão reúne ONGs ambientalistas como Greenpeace e WWF Brasil, entidades como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) e empresas como Unilever, Monsanto e Natura.
Como foi possível reunir interesses aparentemente tão diferentes em um mesmo posicionamento?
"O objeto de trabalho da Coalizão é o uso da terra no Brasil, que pressupõe ter áreas produtivas e conservadas. Essa relação precisa ser observada porque, se a gente desmatar demais, podemos alterar o clima, o regime de chuvas e prejudicar a produção", disse à BBC Brasil André Guimarães, representante da Coalizão e diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
"Nós unimos visões que aparentemente são antagônicas, mas na prática não são. Vai além da questão ambiental, é uma questão estratégica. Temos muita água no Brasil porque temos muita floresta. E porque temos muita água, temos boas condições para a agricultura e a pecuária. Precisamos manter esse equilíbrio."

Estímulo a empregos ou ao desmatamento?

O projeto já havia passado pelo plenário do Senado em julho de 2013, mas houve requerimento para que voltasse a transitar pelas comissões de Assuntos Econômicos, Desenvolvimento Regional e Turismo, Agricultura e Reforma Agrária - ele foi aprovado por todas elas nos últimos três meses.
Se aprovado hoje no plenário do Senado, o texto segue para a Câmara dos Deputados e, caso passe sem alterações, precisará ser sancionado pelo presidente Michel Temer.
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Colheita de cana-de-açúcar em refinaria no sudeste de São Paulo, em 2005  
Ambientalistas dizem que cultivo de cana, mesmo em áreas já degradadas, pode estimular aumento do desmatamento direta e indiretamente
"Nós defendemos que não seja derrubada uma única árvore mais. Não há necessidade disso, mas queremos usar as áreas alteradas para produção", disse o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) à BBC Brasil na manhã desta terça-feira, usando ainda a expressão "áreas alteradas", de seu projeto original, que foi substituída por "áreas degradadas" durante o trâmite nas comissões do Senado.
Usar "áreas alteradas" para o cultivo de cana significaria que regiões desmatadas que ainda poderiam ter a vegetação recuperada estariam liberadas para a produção.
Na versão atual, para ser liberada para o cultivo, a área tem que ter sido oficialmente considerada degradada, ou seja, sem capacidade de regeneração da vegetação natural até o dia 31 de janeiro de 2010. A substituição foi pedida pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF), ao apresentar o projeto em setembro de 2017 na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
Flexa Ribeiro e os senadores que apoiam o projeto defendem que ele será um estímulo fundamental à economia dos Estados da Amazônia Legal, porque pode ser associado às áreas onde já se pratica a pecuária e deve gerar empregos na região.
O cultivo de cana-de-açúcar é feito de forma extensiva e necessita de uma grande área para manter uma cadeia industrial a seu redor (usinas de açúcar e de etanol).
Para a Coalizão e ambientalistas e empresas, no entanto, este é justamente um dos motivos pelos quais a aprovação do projeto de lei seria prejudicial para o bioma Amazônia.
"A cana pressupõe infraestrutura de transporte e de distribuição do álcool, por exemplo, que não está instalada na Amazônia. Além do desmatamento direto, com o possível avanço de áreas de pecuária para abrir espaço para a plantação de cana, você vai estimular a abertura de estradas, a especulação imobiliária e outros tipos de uso do solo que são danosos para a região", afirma Guimarães.
O grupo também afirma que o Brasil tem áreas suficientes para aumentar a produção de cana-de-açúcar sem precisar entrar no território da Amazônia Legal. Atualmente, o cultivo ocupa cerca de 10 milhões de hectares, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste.
O Zoneamento Agroecológico (Decreto 6.961), aprovado pelo governo brasileiro em 2009, determina áreas e regras para o licenciamento de novas usinas de processamento de cana e proíbe expansões sobre biomas como Amazônia e Pantanal, além de áreas de vegetação nativa.
"O zoneamento, ao excluir 92,5% do território brasileiro como inapto para a o cultivo de cana-de-açúcar, ainda permite sua expansão em 64,7 milhões de hectares, sendo 19,3 milhões de hectares áreas de alto potencial produtivo", diz a carta da Coalizão.
"Assim, entende-se que, ao proteger os biomas sensíveis, o zoneamento indica áreas com extensão suficiente para permitir que o agronegócio expanda e intensifique sua produção e, ao mesmo tempo, possa garantir a preservação de áreas protegidas. Tais áreas são fundamentais para prover serviços ecossistêmicos, como a manutenção da temperatura e dos regimes de chuva."
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Artistas e ambientalistas se mobilizaram nas redes sociais contra projeto de Flexa Ribeiro | Foto: Reprodução Instagram

'Desonestidade'

Ribeiro afirma que há "desonestidade" por parte das organizações que dizem que o projeto estimularia o avanço do desmatamento. "Hoje, a relação animal/hectare na Amazônia é, no mínimo, 3 para 1. Desse jeito, dá para liberar muita terra da pecuária para o cultivo de cana mantendo o mesmo rebanho", exemplifica.
"Não somos contra as ONGs, mas elas estão a serviço do capital estrangeiro de não querer que a Amazônia se desenvolva. Querem que permaneça como está lá. Uma hora é pulmão do mundo, outra hora é celeiro do mundo. Mas não se volta o olhar para os brasileiros que lá estão, que não têm água potável, eletricidade."
Ele diz ainda que a associação de produtoras de cana-de-açúcar "não quer concorrência, porque sabe que a produtividade do cultivo da cana na Amazônia é superior à que eles têm nas outras regiões. E o teor de sacarose da nossa cana é maior que a deles".
"Se você pode plantar soja, por que não plantar cana? Se me convencerem disso eu estou do lado deles. Enquanto não me convencerem, estou do lado do povo, dos brasileiros que estão vivendo na Amazônia. Existem estudos feitos por organizações de renome que mostram que o cultivo de cana é propício para o nosso solo."
"Nós temos um estoque de áreas degradadas na Mata Atlântica e no Cerrado que poderia ser usado sem entrar na Amazônia. A cana na Amazônia, do ponto de vista agronômico, é menos produtiva. Você tem condições de solo e de clima são menos favoráveis", rebate André Guimarães, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
"Essa generalização de que a Amazônia poderia produzir mais cana é perigosa. O que a Embrapa e a ciência têm demonstrado é que a produtividade da cana é menor do que no Sudeste."
Direito de imagem Greenpeace
Desmatamento para pasto no Pará em 2009 
Senador defende que indústria de açúcar e etanol contribuiriam para aumentar IDH de municípios do Norte brasileiro
O engenheiro agrônomo Celso Manzatto, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que coordenou o Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar em 2009, diz que algumas regiões da Amazônia Legal teriam, sim, potencial para o cultivo - mas não especialmente maior do que outras regiões.
"É possível produzir nas áreas degradadas da Amazônia? Sim. Não em todas, porque há uma variação de solo muito grande, mas em algumas é possível, com produtividade, em algumas regiões igual ou um pouco inferior a outras regiões do país", disse à BBC Brasil.
"Na época em que fizemos o zoneamento houve uma forte expansão da cana-de-açúcar e da produção de grãos e um grande temor de que a redução que tínhamos conseguido no desmatamento da Amazônia fosse sofrer com a expansão dessas atividades. Excluir o bioma Amazônia e o Estado do Pará, por exemplo, foi uma decisão ambiental e política. Não apenas técnica."
Manzatto admite que pode haver demanda econômica da região Norte para a expansão do cultivo de cana. "A produção poderia ser mais uma alternativa para a região do Pará. Mas há que se pensar se é necessário. E há que se considerar também o mercado consumidor de açúcar e etanol. No mercado externo, por exemplo, pode haver restrições por estar produzindo na Amazônia. Será que algum investidor externo colocaria dinheiro nessa produção?"

Acordo contra o desmatamento

Guimarães diz ainda que o cultivo de soja na Amazônia Legal, usado como exemplo por Flexa Ribeiro, seria, na verdade, uma exceção - um "exemplo de pacto do mercado e setores ambientalistas para continuar produzindo sem associação com o desmatamento".
"Há dez anos, o setor produtivo da soja e os ambientalistas fizeram o acordo da Moratória da Soja. Não se corta mais floresta para produzir soja porque houve um entendimento - que tem sido respeitado e monitorado - de que desmatar mais floresta para isso seria ruim para o próprio cultivo", afirma.
"É um acordo que reduziu drasticamente o desmatamento causado pela soja nos últimos 10 anos - mais de 90%. Isso porque o mundo está ficando cada vez mais intolerante com a degradação ambiental."
A Coalizão de empresas e ambientalistas diz que uma economia de baixo carbono - com atividades como produção de madeira de manejo sustentável, extrativismo, e cultivo de cacau e frutas locais - poderia criar empregos de qualidade na região da Amazônia Legal sem a necessidade do cultivo de cana. E que a produção de biocombustível ainda poderia aumentar sua participação na matriz energética do Brasil em 18% sem que a PL criada por Flexa Ribeiro seja necessária.
"O grande desafio da Amazônia é encontrar um modelo de desenvolvimento para a região adequado ao potencial econômico e ambiental. E é um modelo diversificado, que foge do padrão extensivo e de monocultivo, que são comprovadamente não sustentáveis, não adequadas às características ambientais e sociais da região", afirma Guimarães.
Questionado sobre se o projeto tem apoio no Estado que ele representa, o Pará, o senador Flexa Ribeiro respondeu que "não sabe dizer".
"Nunca coloquei isso a nível de pesquisa, nem nada. Mas eu tenho consciência de que é importante para o desenvolvimento do Estado. Vai melhorar o IDH dos nossos municípios. Vai resolver a situação? Não, não vai resolver. Mas pode ser mais um punhado de grãos de areia para que possamos avançar no processo de desenvolvimento."

Fonte: BBC