quinta-feira, 30 de abril de 2020

Pesquisa descobre quais células são invadidas pelo Sars-CoV-2

Pesquisa descobre quais células são invadidas pelo Sars-CoV-2
Imagem de: Pesquisa descobre quais células são invadidas pelo Sars-CoV-2 
Fonte: IOC/Fiocruz/Débora F. Barreto-Vieira/Divulgação


Uma força-tarefa com pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Massachusetts General Hospital (MGH) e de Harvard conseguiu identificar as células mais visadas pelo vírus Sars-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19. A pesquisa traz também uma má notícia: o vírus pode estar usando o Interferon (droga-chave no tratamento de pacientes infectados) para encontrar seus alvos.
O vírus usa suas espículas (como as pontas de uma coroa – corona em latim, daí seu nome) para se ligar à membrana da célula, em um sistema conhecido como chave e fechadura (sendo a espícula, a chave). Ele introduz sua “chave falsa” nos receptores ACE2 (a fechadura) na membrana da célula, usado por uma enzima conversora da proteína angiotensina. Outra proteína, a enzima TMPRSS2, facilita a entrada do vírus na célula hospedeira.
Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula humana infectada pelo vírus SARS-CoV-2 (em rosa). 
Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula humana infectada pelo vírus Sars-CoV-2 (em rosa).Fonte:  NIAID/Divulgação 

Os pesquisadores rastrearam as células que produzem as duas proteínas facilitadoras do Sars-CoV-2  – e, como se desconfiava, elas estão nos pulmões, nas vias nasais e no intestino. "Assim que confirmamos bioquimicamente o papel dessas proteínas, começamos a procurar onde elas estavam para saber que células o vírus pode atingir", explicou o imunologista Jose Ordovas-Montanes, um dos autores do estudo publicado na revista científica Cell.

Células mais visadas
O laboratório do físico-químico Alex K. Shalek (também autor da pesquisa) uniu-se a outros pelo mundo para sequenciar, em larga escala, o RNA de dezenas de milhares de células humanas, primatas e de camundongos. O DNA envia o RNA do núcleo para o citoplasma com as instruções do que deve ser sintetizado pela célula – incluindo proteínas e enzimas.
Desde 2019 o MIT vem construindo um banco de dados celulares e conta com a colaboração de inúmeros laboratórios – inclusive os do Human Cell Atlas (ou Atlas de Células Humanas). Usando todas essas informações, foi possível rastrear as células que contêm as duas proteínas ajudantes do Sars-CoV-19. Nas dos pulmões, das passagens nasais e do intestino, foi encontrado o RNA dessas duas proteínas em muito mais quantidade do que em outras células.
No canto inferior esquerdo (círculo claro), é possível ver uma célula, morta e infestada de vírus. 
No canto inferior esquerdo (círculo claro), é possível ver uma célula, morta e infestada de vírus.Fonte:  IOC/Fiocruz/Débora F. Barreto Vieira/Divulgação 

Nas passagens nasais, as células que produzem muco apresentaram RNA para as duas proteínas que o vírus usa para infectar células. Nos pulmões, ele está nas células que revestem os alvéolos (onde ocorre a troca de gás carbônico e oxigênio). No intestino, o RNA está presente nos enterócitos (células que absorvem alguns nutrientes).

Interferon pode estar ajudando o vírus
Uma surpresa preocupante surgiu da pesquisa: ao tratar as células que revestem as vias aéreas com Interferon (droga que está sendo usada no tratamento de doentes da covid-19), os pesquisadores descobriram que ele ativa o receptor ACE2, o mesmo usado pelo Sars-CoV-2 para entrar na célula. Isso sugere que o vírus está evoluindo para usar as defesas naturais das células em proveito próprio.
O interferon, droga usada no tratamento dos infectados pelo SARS-CoV-2, pode estar mostrando ao vírus que células atacar.
O Interferon, droga usada no tratamento dos infectados pelo Sars-CoV-2, pode estar mostrando ao vírus que células atacar.Fonte:  Reuters/Str/Reprodução 

Para a equipe de cientistas do MIT, o papel do Interferon no combate à doença pode ser mais complexo do que se imagina: se ele ajuda o organismo a combater a infecção, também parece indicar ao vírus quais células ele deve atacar. “Só saberemos através de ensaios clínicos controlados”, diz Shalek.

Fontes: MIT News

Fonte: Tecmundo

Medida Provisória adia Lei Geral de Proteção de Dados para maio de 2021


Medida Provisória adia Lei Geral de Proteção de Dados para maio de 2021








Governo edita MP, que trata de questões relacionadas ao auxílio emergencial, e inclui adiamento da lei



Matheus Luque, editado por Liliane Nakagawa  
29/04/2020 21h00



LGPD



A Medida Provisória (MP) nº 959 editada pelo presidente Jair Bolsonaro e publicada nesta quarta-feira (29) no Diário Oficial da União adiou, mais uma vez, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A previsão agora é de que ela entre em vigor apenas em 3 de maio de 2021.


A Lei nº 13.709, que define regras sobre o uso de dados digitais no Brasil e foi sancionada ainda no governo Temer em agosto de 2018, já sofreu duas prorrogações: no começo deste mês, o Senado já havia aprovado um projeto que flexibilizava vigência da LGPD para o início de 2021, o processo ainda tramita na Câmara. Originalmente, ela estava programada para entrar em vigor em agosto deste ano.  
Reprodução
Créditos: relentlessdataprivacy

A presente medida provisória trata de questões relacionadas ao auxílio emergencial, oferecido pelo governo para minimizar os impactos econômicos da pandemia de Covid-19. No entanto, no 4º parágrafo, o texto muda de tema e insere a mudança na vigência da Lei Geral de Proteção de Dados. 
A LGPD busca estabelecer padrões sobre os quais dados de usuários, coletados por empresas, são sensíveis e pessoais, e determina regras de como eles devem ser armazenados e tratados. A lei também elabora punições para eventuais abusos e também fala de uma autoridade nacional para fiscalização.

Via: G1

Fonte: OlharDigital

IA vs covid-19: 8 usos da inteligência artificial no combate ao coronavírus

IA vs covid-19: 8 usos da inteligência artificial no combate ao coronavírus


Imagem de: IA vs covid-19: 8 usos da inteligência artificial no combate ao coronavírus 
Fonte: Pixabay

De 2015 a 2019, empresas norte-americanas que desenvolvem soluções baseadas em inteligência artificial acumularam um montante de cerca de US$ 40 bilhões de dólares, equivalente a 56% da receita mundial do setor, que, segundo previsões, vai ultrapassar a casa dos US$ 46 bilhões em 2020. Ou seja, o investimento na área está alcançando patamares cada vez mais ambiciosos. Ainda assim, muita gente não entende exatamente no que o uso de tais tecnologias influencia o dia a dia.
Só para se ter uma ideia, de acordo com pesquisa realizada pela Blue Fountain Media, 43% dos adultos residentes nos Estados Unidos não sabem exatamente o que é inteligência artificial ou como ela é aplicada, sendo que 7% simplesmente não têm interesse algum no assunto. E mais: 32% temem perder seus empregos por causa dela, enquanto outros 87% não confiariam em um diagnóstico médico que não tivesse intervenção humana.
(Fonte: Pixabay)
(Fonte: Pixabay)
Colin Angle, criador do robô aspirador iRobot, defende as máquinas: "Estamos chegando ao ponto em que podemos construir uma inteligência artificial mais agradável que seus amigos menos próximos. Por que um programa de computador seria pior que um cara desagradável que você conheceu em um bar?".
Por isso, para desmistificar essa ideia de que inteligência artificial é perigosa ou não tem nada a ver com sua vida, confira uma lista de aplicações que vêm para modificar a maneira como lidamos com pandemias futuras e que vão ditar os novos rumos da medicina: conheça oito usos da inteligência artificial no combate ao coronavírus.

1. Possível tratamento para a covid-19
Peter Richardson, farmacólogo britânico, utilizando o sistema de inteligência artificial da BenevolentAI, deparou-se com uma descoberta que pode trazer nova esperança na busca pelo tratamento da doença que parou o mundo. Com um software dedicado à combinação de informações sobre esteroides e dados de pesquisas científicas, encontrou um medicamento capaz de suavizar os sintomas mais severos da condição.
Uma das empresas responsáveis pela produção da droga entrou em contato com ele, e testes já estão com data para começar junto ao Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. O processo, que normalmente leva anos, já pode apresentar resultados em junho com a ajuda da inteligência artificial.
(Fonte: Pixabay)
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2. Mapeamento de epicentros de contaminação
A Mayo Clinic, localizada em Rochester, Nova York, juntou-se ao departamento de saúde e criou uma ferramenta capaz de identificar as zonas com maior índice de transmissão de covid-19 em Minnesota.
Calculando a média de testes realizados e quantos deles foram positivos em determinada região, o sistema pode ser aplicado a muitas outras áreas. Assim, com os dados fornecidos, a IA permite às autoridades otimizar recursos de combate e prevenção ao identificar quais locais estão mais vulneráveis.

3. Previsão por meio de tosse
Pessoas tossindo no meio de uma multidão podem ser responsáveis pelo início de uma onda de gripes — ou de uma pandemia como a da covid-19. Por isso, pesquisadores da UMass Amherst, universidade pública de Massachusetts, nos EUA, desenvolveram o FluSense, dispositivo portátil de inteligência artificial capaz de analisar sons de tosse e produzir modelos de contaminação.
Com ele, taxas de disseminação diárias podem ser consultadas, permitindo ações ágeis de prevenção, como campanhas de vacinação.
(Fonte: Pixabay)
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4. Impressões digitais vocais
Um grupo israelense pode ter encontrado uma maneira inusitada de identificar pacientes contaminados pelo novo coronavírus. Os pesquisadores estão dedicados a desenvolver uma solução capaz de detectar "impressões digitais" na voz dos infectados para auxiliar no combate à covid-19.
Padrões de estresse no ritmo respiratório são verificados por um algoritmo, que leva em conta também as alterações na voz em si. A princípio, o sistema da Vocalis Health, empresa idealizadora, seria utilizado para acompanhamento remoto, e o Ministério da Defesa local monitoraria o desenvolvimento. Empresas como Cordio, Voca.ai e Canary Speech seguem movimentos semelhantes de diagnóstico.

5. Acompanhamento remoto
Otimizar custos de hospitais e manter a segurança de pacientes contaminados pelo coronavírus é o objetivo da Baptist Health, que, junto a oito hospitais nos EUA, está utilizando uma técnica de machine learning que estabelece parâmetros da condição de cada pessoa, identificando anomalias e permitindo tomadas ágeis de decisão remotamente.
As informações coletadas na casa do paciente por um wearable são exibidas em tablets nos hospitais, enviando alertas às equipes médicas quando necessário.
(Fonte: Pixabay)
(Fonte: Pixabay)
6. Sinais em imagens
A startup canadense DarwinAI desenvolveu uma rede neural que analisa imagens de raio X e procura sinais de infecção, oferecendo uma alternativa à escassez de equipes médicas para tantos exames. Por ser open source, muita gente já está se beneficiando com a novidade.
Quanto mais dados são inseridos, mais eficaz ela se torna, contando com um banco, até agora, de 17 mil imagens do mundo todo. No momento, a empresa se dedica a criar uma solução para determinar pacientes com mais probabilidade de plena recuperação em casa, freando a contaminação e aliviando os sistemas de saúde.

7. Saúde mental também importa
Um professor do departamento de psicologia da Universidade Stanford está utilizando uma técnica de análise orientada a dados para examinar postagens no Twitter. Mais de 2 milhões de tweets com hashtags relacionadas à covid-19 foram analisados em fevereiro e março, combinados a números de casos, mortes, regiões afetadas e mais.
Assim, é possível entender como a pandemia está impactando a saúde mental da população e desenvolver estratégias para minimizar os estragos.

8. Enfermeiro-robô
Uma das grandes preocupações da linha de frente no combate ao coronavírus é a exposição dos profissionais de saúde, que podem ganhar um aliado imune à doença: um enfermeiro-robô. A tecnologia, já aplicada na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia, monitora pacientes analisando os parâmetros exibidos pelos equipamentos da sala.
O robô permite a profissionais voltarem as atenções a outros casos, além de, com sua tela touch no "rosto", permitir que pacientes se comuniquem e enviem mensagens aos médicos.
(Fonte: Reuters)
(Fonte: Reuters)
É só o começo
Esses foram apenas alguns exemplos. Considerando os rumos da indústria da inteligência artificial e sua importância para a sociedade, aqueles que se inspirarem e quiserem desenvolver habilidades dedicadas a novas soluções têm inúmeras opções de estudos para especialização, e uma delas é a AcademIA, plataforma de treinamentos, certificações e exames da Microsoft.
Voltada ao público brasileiro, a solução oferece cursos totalmente em português, do mais básico ao avançado. Para conferir como funciona o programa, basta clicar aqui. Quem sabe você não é a próxima pessoa que vai revolucionar a qualidade de vida mundial?

"Queremos respostas logo, mas a ciência não trabalha assim"

"Queremos respostas logo, mas a ciência não trabalha assim"


Em entrevista à DW Brasil, presidente da Fiocruz explica o trabalho da fundação em parceria com OMS na busca por medicamento contra covid-19 e fala sobre necessidade de coordenação política para lidar com pandemia.

Maurício Cancilieri, Fernanda Azzolini
30.04.2020



Pesquisadores trabalham em vacina contra coronavírus
Pesquisadores correm contra o tempo para descobrir vacina contra coronavírus


Eleita em 2016, Nísia Trindade Lima é a primeira mulher a comandar a Fundação Oswaldo Cruz em 120 anos de história. Uma das instituições científicas mais respeitadas do país, a Fiocruz foi fundada em 1900 com o objetivo de fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica, mas a sua atuação foi além e, desde então, a história da instituição está diretamente ligada ao desenvolvimento da saúde pública no Brasil.

Durante a pandemia de covid-19, a Fiocruz coordena no Brasil o ensaio clínico internacional Solidariedade, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem como objetivo investigar a eficácia de quatro tratamentos para a covid-19.

A presidente da Fiocruz enfatiza que é imprescindível pensar a pandemia como um fenômeno de várias dimensões, não apenas no âmbito da saúde. E que uma questão fundamental, além do conhecimento científico e a capacidade do sistema de saúde, é a coordenação política.

Em entrevista à DW Brasil, a presidente Nísia Trindade Lima, servidora da Fiocruz desde 1987, comenta os desafios do país com a pandemia de covid-19. 


DW Brasil: A Fiocruz é parceira da OMS no estudo para tratamentos da covid-19. Como está sendo essa colaboração? Há alguma novidade do ponto de vista científico? 

Nísia Trindade Lima: Há um estudo clínico sendo realizado em 18 hospitais de 12 estados brasileiros. É parte do projeto Solidariedade - um estudo com pacientes para verificar qual tratamento será eficaz para a saúde dos pacientes. Não há ainda resultados concretos sobre a eficácia de determinado medicamento.

Esse estudo testa medicamentos conhecidos e registrados, já utilizados para outras doenças, mas que vão ter que ser estudados especificamente para a covid-19. A orientação do estudo é ir descartando aqueles medicamentos que se mostrem ineficazes ou que demonstrem ter um potencial de danos muito grande aos pacientes. 

É realmente angustiante para todos nós ver o aumento de casos e casos fatais. Queremos ter respostas logo, mas a ciência não trabalha assim. Existem regras, existe o cuidado para que as afirmações sejam seguras. Esperamos logo ter informações concretas e resultados. Poder dizer ‘esse medicamento não é eficaz' e, principalmente, poder dizer ‘esse medicamento é eficaz'.  


Falando em estudo de medicamentos, o uso da cloroquina está constantemente na mídia. 

Esse estudo foi uma definição da Organização Mundial de Saúde que inclui a cloroquina, a hidroxicloroquina, antivirais importantes, e incluiu o interferon-beta também. Um conjunto de medicamentos está sendo avaliado a partir de um estudo clínico, que é a forma segura e científica de avaliar um medicamento. 


Há muita coisa acontecendo no Brasil, também no âmbito político. Como isso impacta o trabalho da Fiocruz nesse contexto da pandemia, no diálogo e no avanço das pesquisas que vocês conduzem? 

É impossível pensar a pandemia sem pensá-la como um fenômeno total. Uma questão fundamental, além do conhecimento científico e a capacidade do sistema de saúde, é a coordenação política desses esforços. Toda mudança impacta, e é muito importante que, nesse momento, exista uma agenda muito forte de coordenação das ações em todos os níveis de governo junto à sociedade para lidar com esse problema. 

Nós da Fiocruz sempre dialogamos com todos os níveis de governo e somos vinculados ao Ministério da Saúde, um órgão central na coordenação dessas atividades. Desse ponto de vista, já estou discutindo com o novo ministro da Saúde a continuidade de importantes atividades pelas quais a Fiocruz é responsável. 



O trabalho científico no Brasil nem sempre recebe o apoio necessário. A senhora acha que o que estamos vivendo tem escancarado a necessidade de mudança? 

Sem conhecimento científico e políticas públicas adequadas será impossível lidar com este e outros desafios porque essa pandemia convive com outras manifestações de doenças, outros problemas de saúde. É importante pensar que a pandemia é um fenômeno de várias dimensões. Tem a pesquisa no campo biomédico, seja no conhecimento do vírus, da resposta biológica e da imunologia, mas tem também os conhecimentos nas áreas de ciências sociais, ciências humanas e da ética. 

Todos esses conhecimentos têm que estar integrados na busca de soluções. Eu digo isso porque ao vir para um país de dimensão continental, com o nível de desigualdade do Brasil, outras características passam a se manifestar. Do ponto de vista da pesquisa científica, essa pandemia vai mostrar que a pesquisa científica é absolutamente imprescindível não só agora nesse momento, mas depois que esse pico de casos e de mortalidade reduzir – o que esperamos que seja em breve. Há muitas perguntas sem resposta que requerem trabalho científico. Muitas pessoas perguntam ‘se eu fui infectado, eu não serei mais?' A ciência ainda não tem uma resposta sobre o problema da reinfecção. É necessário fazer muita pesquisa para isso.

E como se dará a recuperação da economia? Isso também requer pesquisa científica. Como será lidar com aqueles grupos considerados de risco, principalmente os idosos e pessoas com algumas doenças? É uma agenda de pesquisa em todas as áreas do conhecimento e que precisa de um esforço de recursos e de formação de pessoas. É um fenômeno que exige uma visão sistêmica. Não adianta olhar só para um lado, temos que ter um programa integrado a todas essas dimensões.


O Sistema Único de Saúde, criado em 1988, é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Como a senhora avalia a importância do SUS nesse momento? 

Acho muito importante valorizar o SUS nesse momento porque, desde a Constituição de 1988, ele proporciona um sistema de proteção social a brasileiros que estavam fora deste sistema, como trabalhadores rurais, e todo o setor informal que sofre tanto com essa pandemia.

O SUS é um sistema universal num país continental que é marcado por uma profunda desigualdade. Ao mesmo tempo, é importante frisar que o SUS tem problemas de subfinanciamento. Neste grave momento, é muito importante que se olhe para a resposta emergencial, mas que também se pense em ações estruturantes que após esse círculo tão difícil que estamos vivendo possam dar sustentação a esse sistema.

Isso já está sendo demonstrado tanto na área de vigilância, ou seja, na detecção dos casos, na testagem, até o ponto crítico com o aumento dos casos - que se reflete na assistência hospitalar e na falta de leitos de UTI. Terá que haver um grande esforço nesse momento e a Fiocruz participa de todo esse esforço, mas precisamos pensar o futuro da saúde para além desta pandemia. Com a covid-19, todo mundo é desafiado, todo um modelo de desenvolvimento se mostra vulnerável. Acho que é um ponto de mudança. Lembrando as grandes reflexões do historiador Eric Hobsbawm sobre quando começam e terminam os séculos, ou seja, quais fatos econômicos, sociais e políticos levam a isso, alguns dizem que a pandemia marcará o início do século 21. Trata-se de um desafio novo, numa escala que os sistemas de saúde até agora não tinham vivido, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. 


Como é possível evitar que as ações não fiquem apenas restritas aos grandes centros e garantir o apoio a lugares isolados e extremamente vulneráveis, principalmente nesse momento? 

A nossa intenção, ao longo de 120 anos de história, é olhar para esse Brasil distante dos grandes centros. Foram as atividades e viagens científicas da Fundação Oswaldo Cruz que levaram a imagem do Brasil como um imenso hospital no início do século 20, descobrindo, por exemplo, o ciclo completo da doença de Chagas com Carlos Chagas. 

A ideia de ir até as regiões mais afastadas dos grandes centros é parte da história da nossa instituição. Hoje, isso ganha uma outra dimensão a partir da constituição do Sistema Único de Saúde porque a participação do Conselho Nacional de Saúde e dos conselhos estaduais e municipais de saúde dão mais capilaridade a esse diálogo, fazendo com que o cidadão possa ser representado. 

Não é a Fiocruz como um grande sol irradiando pelo Brasil, essa seria uma imagem não só arrogante, mas totalmente falsa. O Brasil tem um dinamismo que muitas vezes não vemos dos nossos gabinetes. Agora, mais do que nunca, é importante estarmos juntos numa rede. Outra dimensão muito importante é o fato da Fiocruz estar presente em todas as regiões do Brasil com institutos e escritórios em dez estados. Há também uma plataforma de colaboração com os campi da USP em São Paulo e Ribeirão Preto voltada para a pesquisa translacional, que é a pesquisa voltada para resultados - tanto na produção de bens, de vacinas e medicamentos, quando na atenção às pessoas.  


Todo dia são muitas notícias e um cenário que parece não ter solução. Gostaria de saber se, como representante da Fiocruz, há uma mensagem de otimismo para a população.

Eu entendo a ansiedade, mas acho que não se trata de acalmar, nem de gerar pessimismo. Trata-se de sermos realistas. Estamos vivendo o pior momento da pandemia no Brasil. Estamos vendo esse grande desafio para o sistema de saúde e na ponta está o profissional de saúde - muitos adoecendo, o número de casos e de mortes aumentando.

É um desafio enorme e requer, neste momento, uma coordenação política de todos os níveis de governo e de toda a sociedade. Mas acho que a política pública fala mais alto nesta hora.  E a sociedade tem demonstrado solidariedade. Quanto mais coordenação política, melhor passaremos dessa fase crítica. Nesse momento, o primeiro objetivo é salvar vidas e preservar o nosso sistema de saúde, até porque existem outros problemas graves afetando as pessoas - não só as doenças infecciosas – mas também as doenças crônicas.

A Fiocruz está dedicada ao estudo clínico e à produção de testes de diagnóstico. Dobramos a produção de testes moleculares, que são aqueles que identificam os casos no início da infecção e que são mais precisos. Os testes são fundamentais agora e continuarão a ser porque sabemos que o vírus continuará a circular. 

Mas, neste momento, a prioridade tem que estar voltada para a atenção aos casos, ao cuidado com as pessoas e em salvar vidas. Nós estamos num esforço muito grande junto a todo o sistema de saúde visando a ampliação da oferta de leitos de UTI. Mas não adiantam esforços isolados, terá que haver uma grande coordenação nacional no campo da saúde e naturalmente isso cabe ao Ministério da Saúde e a todas as instâncias de governo porque é um problema que ultrapassa a questão da saúde. Tem todas as menções econômicas, sociais, toda a logística necessária. Não dá para dizer que estou otimista ou pessimista. Como presidente da Fiocruz e como cidadã, estou preocupada vendo os dados e a situação do nosso sistema. 

Mas espero que consigamos ter essa força de uma maneira ativa. A sociedade tem que se manifestar e a comunidade científica vem se manifestando. Temos buscado soluções e esperamos que a partir de políticas públicas adequadas exista uma coordenação nacional e possamos reduzir ao máximo esse problema. Não podemos esquecer também a desigualdade no Brasil que é um país onde se nasce, se cresce, se vive e se morre de forma desigual. Olhar para essa questão da equidade é fundamental nesse momento.

Fonte: DW

Boa notícia: um passo a mais para a detecção precoce do câncer com exame de sangue

Boa notícia: um passo a mais para a detecção precoce do câncer com exame de sangue

Estudo publicado na revista ‘Science’ mostra as possibilidades de uma técnica para descobrir tumores assintomáticos

Daniel Mediavilla 
30 abr 2020 - 13:01 BRT

Sabe-se que, se viver o suficiente, uma pessoa terá muitas chances de desenvolver um tumor. E também é conhecido que, se for detectado a tempo, quando ainda está localizado, as probabilidades de sobrevivência são imensamente superiores do que quando a metástase já colonizou órgãos além do de origem. Por isso, um dos principais esforços na luta contra o câncer é a melhora do diagnóstico precoce, que deve aspirar também a outro equilíbrio: não nos transformar a todos em doentes preventivos e evitar o tremendo estresse dos falsos positivos.



Exame de PET-TC (tomografia por emissão de pósitrons) é um dos métodos usados para localizar tumores
Exame de PET-TC (tomografia por emissão de pósitrons) é um dos métodos usados para localizar tumores

Nesta semana em que os testes de diagnóstico parecem uma necessidade humana básica, a revista Science publica os resultados de um grande experimento que trata de melhorar o diagnóstico de câncer através de exames de sangue. Pela primeira vez na história, um grupo de pesquisadores dos EUA, liderados pelo Centro Oncológico Kimmel da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, demonstrou ser possível utilizar um exame de sangue para detectar tumores em pessoas assintomáticas e que nunca tiveram a doença diagnosticada anteriormente. Em um estudo iniciado em 2016 e no qual foram acompanhadas 9.900 mulheres, detectaram-se 26 tumores, em alguns casos permitindo a aplicação de tratamentos com potencial curativo.
O que fazem essas biópsias líquidas é procurar no sangue rastros de mutações frequentes associadas a determinados tumores. Depois, para confirmar de forma independente a existência de um tumor e sua localização, os autores do trabalho aplicaram técnicas de diagnóstico por imagem PET/TC. “Por exemplo, poderíamos detectar um câncer de pulmão com a análise de sangue e depois [o PET/TC] nos diria em que pulmão se encontra, seu tamanho e se há c. A análise de sangue por si só não nos daria uma informação tão precisa”, diz Nickolas Papadopoulos, coautor do estudo e oncologista da Johns Hopkins. Com esta comprovação, também se reduziriam as chances de falsos positivos.
Os exames de sangue permitiriam a detecção de tumores que hoje têm sistemas de detecção precoce efetivos, como os de cólon ou mama, e outros que não contam com este tipo de detecção adiantada, como os linfomas, o câncer de apêndice, uterino, de tireoide, rim, ovário e os de origem desconhecida. A sensibilidade, porém, permitiria detectar menos de um terço dos tumores, algo que deixa este sistema ainda distante de sua aplicação clínica, segundo Rodrigo Dienstmann, pesquisador principal do Grupo Oncology Data Science (ODysSey) do VHIO de Barcelona, que não participou do estudo.
“Nesse trabalho, estudam nove proteínas associadas à presença de câncer e se uma está mais alterada, repetem o teste para procurá-la com mais sensibilidade. Se voltam a detectá-la, fazem a tomografia para identificar a origem da alteração. Caso se comece diretamente com a tomografia, podem ser detectadas alterações que não são câncer e não são importantes e é gerada uma ansiedade desnecessária nas pacientes”, diz Dienstmann. O pesquisador do VHIO destaca a qualidade do estudo, mas também aponta suas deficiências. “É um trabalho que começou há 4 anos, a tecnologia não era tão avançada e tem um programa de sensibilidade, porque deixa escapar mais de dois a cada três tumores”, indica. “O CancerSEEK [um estudo que começou depois, mas que era de menor tamanho e publicou seus resultados antes, em 2018] tinha sensibilidade de 70%”, acrescenta.
A aplicação dessa técnica na medicina ainda precisa de amplos estudos que permitam demostrar que detecta uma porcentagem de tumores muito maior e que essa detecção torna possível aplicar tratamentos que prolonguem a vida dos pacientes. O potencial dessa tecnologia seria enorme do ponto de vista terapêutico e empresarial, como evidencia a ampla declaração de interesses dos autores, quase todos consultores e diretores de empresas que pretendem explorar esses avanços.
Para tentar aumentar a sensibilidade de testes como o apresentado na Science, Dienstmann afirma que já estão sendo feitos estudos que incorporam outros sinais da presença de tumores como “marcadores de metilação e aneuploidia, que avisam da presença de um câncer com pequena quantidade de DNA no sangue”. Por enquanto, no dia a dia dos oncologistas, a aplicação da biopsia líquida é útil para acompanhar pacientes que já se sabe que têm câncer e que, pelo tamanho dos tumores já manifestados, podem ser detectados com a tecnologia disponível. A presença de determinadas mutações pode ajudar a ajustar o tratamento mais adequado e a ausência de DNA tumoral pode ser o sinal de que uma cirurgia para extirpar um câncer foi bem sucedida. Tecnologias como a desenvolvida pela equipe da Johns Hopkins estão se aproximando do consultório médico, mas ainda não chegaram.

Fonte: El País

Combate ao coronavírus expõe concentração da indústria de medicamentos

Combate ao coronavírus expõe concentração da indústria de medicamentos




Direito de imagem Getty Images
Cientista 
Mercado farmacêutico é guiado por muitos interesses, e boa parte deles é financeiro, segundo especialistas

A disputa por medicamentos em meio ao combate ao novo coronavírus deixa em evidência problemas antigos de uma indústria trilionária que, segundo especialistas, não necessariamente atende aos interesses dos pacientes ou de governos, nem mesmo em tempos de pandemia.
O acesso a remédios mundo afora é desigual. E os investimentos em pesquisa priorizam a medicação de uso contínuo, ou princípios ativos mais rentáveis do que antibióticos e vacinas.
Concentrado nas mãos de um punhado de empresas poderosas, instaladas sobretudo em países ricos, o mercado farmacêutico é guiado por muitos interesses. E boa parte deles gira em torno das finanças, dizem especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
Nesse segmento que movimentou US$ 1,2 trilhão (pouco mais de R$ 6 trilhões) em 2018, as 10 maiores companhias do mundo em volume de vendas tiveram receitas de US$ 351,55 bilhões. Seis delas são dos Estados Unidos (Pfizer, Johnson&Johnson, Merck&Co, Abbvie, Amgen e Gilead), duas da Suíça (Roche e Novartis), uma da França (Sanofi) e outra do Reino Unido (GlaxoSmithKline).
Os dados constam do levantamento publicado pela Evaluate, empresa de análise de dados do mercado farmacêutico, em maio do ano passado, com base em informações de 2018.
São essas mesmas empresas que determinam preços e quem tem acesso aos medicamentos. O sistema de incentivo à inovação tem um desequilíbrio crônico e isso está nos relatórios da organização Médicos sem Fronteiras (MSF) desde a década de 1990.
Não há, segundo a entidade, estímulo à criação de medicamentos para doenças negligenciadas ou ligadas à pobreza.
Por sinal, o mesmo documento da Evaluate indica que as dez maiores investiram US$ 66,14 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, menos de 20% das receitas que obtiveram no período.

Monopólio pelas patentes
"O problema é que essas farmacêuticas têm a sua própria lista de prioridades. E a primeira é que querem estar nos mercados mais lucrativos (daí a opção de países), a segunda é que dedicam as suas pesquisas a medicamentos de uso contínuo para doenças crônicas. Ela rendem mais. Isso explica por que investem pouco em novos antibióticos, que, ainda que custem caro, são usados por um curto período de tempo", disse Felipe Carvalho, especialista em acesso da MSF.
Por mais complexa que seja a cadeia de produção de medicamentos, é inegável que fabricá-los é um bom negócio.
A indústria farmacêutica está entre as 10 mais lucrativas do mundo, com uma margem de lucro de 22,78%, já descontado o pagamento de impostos, de acordo com a pesquisa da revista Forbes no ano passado.
Para se ter uma ideia do que isso significa, a média das margens das indústrias em geral seria de 10,32%, segundo a revista.
"O governo geralmente paga as pesquisas básicas e a maior parte daqueles que oferecem mais riscos. Então, acaba tipicamente garantindo o monopólio na forma de patentes. No final das contas, ainda paga pela droga a partir dos seus sistemas de saúde. Então, onde está o livre mercado?", afirma à BBC Brasil, o professor de Economia da Universidade de Massachussets, Lawrence King.
Ele afirma, ainda, que as empresas definem preços quase sem concorrência, determinando os rumos do mercado.
Para ele, a concentração deste mercado imenso se justifica pelo poder cada vez maior das corporações, sobretudo pela falta da aplicação das leis antitruste a partir da década de 1980. "E a maneira como isso se intensificou nos anos 2000 aumentou de forma dramática os monopólios", explica.
Isso não quer dizer, contudo, segundo King, que as empresas sejam necessariamente "vilãs" ou que atuem de maneira imoral. A questão é a estrutura atual de incentivos, diz ele. Os lucros na casa dos bilhões que obtêm anualmente não se devem apenas à produção de medicamentos, por mais caro que custem, ou por mais necessários que sejam. A maior parte dessas companhias recorre a expedientes legais para maximizar o valor das suas ações em bolsa

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Cientistas fazendo estudos
Estudos defendem que as estratégias de fusão e aquisição das farmacêuticas amplia seus custos de desenvolvimento e faz com que o público acabe pagando bem mais caro pelos medicamentos

Estratégias de mercado
King é coautor do estudo "Apostando na hepatite C: como a especulação financeira no desenvolvimento de drogas influencia o acesso a medicamentos", publicado quando ainda era professor de Sociologia e Política Econômica da Universidade Cambridge.
O texto foi a base da tese de doutorado de seu ex-aluno Victor Roy, que hoje é médico no Boston Medical Centre, onde atende 200 pacientes com covid-19, sendo 50 em estado grave na UTI.
Ambos defendem que as estratégias de fusão e aquisição das empresas farmacêuticas ampliam seus custos de desenvolvimento e fazem com que o público acabe pagando bem mais caro pelos medicamentos.
Roy não desmerece os esforços das empresas, mas afirma que existe uma espécie de "parasitismo" na cadeia produtiva. Ele conta que muitas grandes empresas compram pequenos laboratórios ou start-ups quando percebem que há projetos promissores e altamente rentáveis, como foi o caso do sofosbuvir, antiviral contra a hepatite C, considerado um marco no mercado, pelo poder de cura de 90%.
O princípio ativo foi criado por uma start-up, que estimou seus custos em US$ 200 milhões. A pequena empresa foi comprada pela americana Gilead, em 2011, quando o produto estava nas fases finais de teste, por nada menos que US$ 11 bilhões, diante da promessa de faturamento de US$ 20 bilhões nos anos seguintes.
"Essas empresas também têm o poder de acelerar a fase final dos testes de obter a aprovação mais rápida do FDA", conta Roy, referindo-se à agência reguladora do setor nos EUA.
A Novartis afirma que vendeu seus negócios relacionados a vacinas ainda em 2015, e que abandonou a pesquisa antibacterial e antiviral em 2018.
"Embora a ciência para esses programas seja atraente, decidimos priorizar nossos recursos em outras áreas em que acreditamos estar melhor posicionados para desenvolver medicamentos inovadores que terão impacto positivo para os pacientes", diz a assessoria de imprensa.
A empresa também diz que seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento no ano passado foram de US$ 9,4 bilhões ou 19,8% das vendas líquidas. E afirma que está "constantemente reavaliando esses planos" de acordo com as demandas não atendidas em populações com menos acesso. "Nosso objetivo é disponibilizar nossos produtos em países com o maior peso da doença a ser tratada", afirma a assessoria.
A companhia diz ainda que busca meios de expandir o uso clínico de medicamentos existes para novas indicações e populações, como é o caso da hidroxicloroquina, neste momento, que tem sido testada para uso em pacientes com a covid-19.
Eles ainda mencionam seu "compromisso para reduzir o fardo das doenças infecciosas e tropicais", destacando o Novartis Institute for Tropical Diseases (NITD), dedicado à busca de novos remédios para doenças negligenciadas. "E continuamos avançando em relação a várias doenças infecciosas como a malária, doença do sono na África, leishmaniose e doença de Chagas", informa.
Sobre o preço dos seus medicamentos, a empresa destaca levar em conta estratégias para que sejam acessíveis e tragam soluções inovadoras para gerir uma doença.
Para isso, "nos esforçamos para levar em conta níveis de renda, barreiras locais a remédios mais acessíveis e realidades econômicas, enquanto mantemos a sustentabilidade do nosso negócio". A empresa ainda explica que criou marcas locais para muitas terapias inovadoras em países em desenvolvimento para garantir que sejam mais acessíveis.

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Mulher higienizando as mãos
Pfizer pondera que, em meio a uma pandemia como esta, somente as grandes empresas, com operações globais, têm a capacidade de reagir depress
A britânica GlaxoSmithKline afirma que calcula os preços do seus medicamentos e vacinas para que sejam acessíveis a todos aquele que precisam, com base na realidade dos países e dos pacientes.
A empresa destaca que fato de estar no topo do ranking Índice de Acesso a Medicamentos (ATMI, na sigla em inglês) desde 2008 reflete a força do seu compromisso global de longo prazo com a melhora do acesso a saúde. E afirma ter políticas inovadoras para determinar seus preços em países em desenvolvimento, e em nações de menos desenvolvidas, de baixa renda, para quem abre mão das patentes dos medicamentos.
A Pfizer pondera que, em meio a uma pandemia como a atual, somente as grandes empresas, com operações globais, têm a capacidade de reagir depressa. "Podemos ser flexíveis", disse o porta-voz da companhia, Andrew Widger. Isso significa produzir em muito mais quantidade e remanejar estoques entre as 40 fábricas da empresa pelo mundo dos medicamentos mais demandados para lidar com a covid-19.
A Pfizer já identificou 70 produtos necessários, sobretudo para lidar com pacientes em UTIs. Entre eles estão antivirais, vacinas (para prevenir outras doenças neste momento) e remédios que podem ser usados para auxiliar no tratamento.
"A escala de produção que podemos ter ajuda", diz Widger. Segundo ele, a companhia está em constantes conversas com governo e autoridades do mundo inteiro. A produção de alguns itens já está 150% maior. Ele lembra que um medicamento novo leva de 12 a 15 anos para ser produzido.
A resposta para a covid-19 tem sido rápida, mas ainda assim, segundo ele, trata-se de uma doença identificada há seis meses. "E produzir medicamentos leva tempo, muitos investimentos e estamos lidando com a vida das pessoas. É preciso que funcione e seja seguro."
King afirma existem centenas de tipo de coronavírus e que pelo menos dois deles são extremamente perigosos (o SARS e o MERS). Só isso já justificaria que pesquisas básicas estivessem sendo feitas há mais tempo.
Se houvesse um repertório relevante de pesquisas em andamento, segundo ele, seria muito mais fácil desenvolver uma vacina agora. "Assim, não precisariam partir do zero. Isso nos leva de volta ao mesmo problema: não há incentivos para desenvolver vacinas ou essas drogas até que haja um surto, e aí todo mundo vai tentar correr atrás", diz o professor. "Qualquer custo para esse programa sairia barato do que as consequências econômicas que estamos enfrentando agora", decreta.
"O problema é a racionalidade de curto e longo prazo. E, para as empresas privadas, especialmente nos Estados Unidos, a preocupação está apenas nos preços das suas ações na bolsa. O grande negócio é apostar nos aumentos de curto prazo, na recompra das próprias ações e da distribuição de dividendos. Isso é absolutamente oposto do precisamos para estar protegidos", afirma King.
Uma das conclusões do relatório "Revisão sobre a Resistência Antimicrobiana" coordenado pelo economista Jim O'Neill, em 2016 era a de que, a falta de investimentos para resolver a questão de os antibióticos já não surtiam efeitos sobre certas bactérias, custaria ao Planeta 10 milhões de vidas por ano a partir de 2050 em função de infecções (e da falta de antibióticos para lidar com elas) e causaria um prejuízo de US$ 100 trilhões à economia global.

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Coronavírus
A Roche afirma que só se pode combater a resistência de bactérias à antibióticos de maneira bem sucedida se um grande número de diferentes medidas for tomado de maneira coordenada
O documento defende 29 intervenções que custariam US$ 42 bilhões entre pesquisas e outras ações. Segundo O'Neill, o valor era menos do que o que as três maiores companhias farmacêuticas haviam gasto recomprando suas próprias ações ao longo de uma década.
O estudo foi encomendado ao economista, que hoje é presidente de Chatham House, um dos think tanks mais importantes da Europa, pelo então primeiro-ministro britânico David Cameron.
A Roche afirma que só se pode combater a resistência de bactérias à antibióticos de maneira bem sucedida se um grande número de diferentes medidas for tomado de maneira coordenada.
"E se a indústria, a ciência, as instituições de saúde, governos, autoridades reguladoras e contribuintes trabalharem muito de perto", afirma por meio de sua assessoria de imprensa. A empresa destaca que investiu cerca de US$ 12 bilhões em pesquisa e desenvolvimento no ano passado, o que significa um aumento de 6% em relação a 2018.
"É um dos maiores volumes de investimento em R&D (research and development) de toda a indústria farmacêutica. A Roche é um dos 10 maiores investidores do setor", diz. A empresa, porém, nunca investiu em vacinas. Mas garante que intensificou de maneira significativa os esforços no campo dos antibióticos nos anos recentes. "Lançamos uma alguns exames de diagnóstico que podem identificar bactérias em um curto espaço de tempo, o que permite consequentemente um tratamento mais específico."

Consórcio específico
Para King, a solução mais fácil seria os países riscos criarem uma espécie de consórcio, com um fundo para investir na criação de medicamentos cruciais sem patentes. "Sairia muito mais barato para eles, bem mais do que se resolvessem fazer individualmente", defende.
Mas o professor acredita que iniciativa semelhante ainda não existe por duas razões. A primeira é que o lobby das empresas farmacêuticas é grande. A segunda é que, de alguma forma, o formato das democracias não estimula ações como esta.
"Os benefícios não vão acontecer no mesmo ciclo político. Eu posso usar os meus recursos e isso é bom para a saúde púbica, mas o retorno será para talvez daqui a 10 amos, quando já não estarei mais nessa cadeira. Vou gastar dinheiro para resolver problemas futuro que não vão me ajudar a ser eleito em quatro anos. É melhor investir em algo que garanta minha eleição", explicou.
Em um contexto de pandemia como o atual, fica difícil enxergar a linha tênue que separa a economia da política, o que ficou ainda mais claro pela intervenção dos Estados com pacotes multibilionário de ajuda financeira para conter os efeitos dramáticos da covid-19 sobre as suas economias.
Para o professor da Universidade de Massachussets, mesmo os economistas da corrente dominante parecem ter esquecido o que já era sabido nos anos 1950 e 1960: mercados privados não lidam bem com sistema de saúde e medicamentos.
"É interessante ler a imprensa, quando discute sistema de saúde, e quando você vê as notas dos investidores. Eles falam abertamente: não faz sentido curar a doença, porque ela acaba com o seu mercado."
Para Roy, a maneira como os diferentes governos vão lidar com novo coronavírus — e outras futuras doenças —, a produção de medicamentos e vacinas daqui por diante, além da redução da dependência do monopólio das grandes empresas, vai depender das lideranças do futuro.
Enquanto países destacam "estratégias de guerra", como têm sido apresentadas pelas autoridades, para lidar com a economia, ele não vê os mesmos esforços de guerra para enfrentar a crise da saúde. Segundo o especialista, os governos deveriam investir no setor da mesma maneira que o fazem para a defesa.
"Ninguém ajuda a financiar as pesquisas de um novo modelo de caça para pagar duas vezes o preço dele lá na frente. É tudo negociado". afirma.
Os países, destaca o médico, estão sempre se preparando para ameaças de guerra, fazem exercícios militares conjuntos ou individuais. "Por que não agir da mesma maneira para enfrentar novas ameaças de novos vírus, ou futuras pandemias?", destaca.
Ele defende que deveria haver uma espécie de Nasa da biotecnologia para vacinas. "É do que precisamos hoje. Não podemos empurrar para frente as nossas mesmas vulnerabilidades ou piores", diz. "É tudo uma questão de escolhas políticas", reitera.
A Merck&Co (ou MSD, como é mais conhecida fora dos Estados Unidos e da América do Norte), procurada, afirmou que "não participaria da reportagem desta vez. Johnson & Johnson, Abbvie, Amgen e Sanofi não responderam aos e-mails enviados pela BBC Brasil aos endereços das respectivas assessorias de imprensa fornecidos nas suas páginas na internet.

Fonte: BBC