quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Peraltagens, com contações de histórias realizadas pelo célebre grupo Tapetes Contadores de Histórias

Peraltagens, com contações de histórias realizadas pelo célebre grupo Tapetes Contadores de Histórias



Dia 28/01/2021
Horário 10h 
Local: Sistema de Bibliotecas UFF no youtube 
https://www.youtube.com/c/Sistemadebibliotecasuff

A atividade destina-se a promover a fruição literária demandada pelas famílias de nossa comunidade acadêmica e a todos que gostam de ouvir, compartilhar e aprender com boas histórias.

Há 20 anos, Os Tapetes Contadores se apresentam e ministram oficinas nos espaços culturais mais importantes do Brasil. Também participam de feiras de livro, campanhas de incentivo à leitura, festivais de teatro e literatura. O grupo já visitou mais 11 países – contando histórias em inglês, francês e espanhol. Seu currículo conta ainda com premiações e publicações de livros.
Saiba mais: http://tapetescontadores.com.br/

Link para transmissão: https://youtu.be/_g5LOrdEuj4   

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Projeto Produtor de Água do Pipiripau é finalista de concurso que conta agora com votação popular

Projeto Produtor de Água do Pipiripau é finalista de concurso que conta agora com votação popular

EMBRAPA
22/01/2021


O Projeto Produtor de Água do Ribeirão Pipiripau (um dos afluentes do rio Paranaíba no Distrito Federal) é o representante do Brasil num importante concurso internacional: o Water ChangeMaker Awards. Promovido pela Global Water Partnership (GWP), organização respeitada internacionalmente com mais de 30 anos de história e com sede na Suécia, o prêmio reconhece iniciativas mundiais que promovem mudanças socioambientais por meio de questões relacionadas à água.

O concurso recebeu 350 inscrições de 80 países e já passou por três estágios de julgamento. O projeto Produtor de Água do Pipiripau é um dos 12 finalistas e o escolhido será decidido por meio de votação popular que está em andamento e se encerra nesta segunda-feira, 25. O vencedor será anunciado nesse mesmo dia durante a Cúpula de Adaptação do Clima 2021, evento que acontecerá on-line.

Nesta fase final, o projeto concorre com ações realizadas em Bangladesh, Bolívia, Butão, Canadá, Egito, Equador, Filipinas, Honduras, México e Quênia. Para participar da votação basta um clique no ícone localizado abaixo do projeto na página gwp.org/vote. O regulamento do concurso permite que a mesma pessoa vote novamente a cada 24 horas. O projeto do Pipiripau até o momento é o segundo mais votado.

“Esse prêmio traz visibilidade para um projeto importante não só para o DF, mas também para o Brasil. Entre os benefícios já gerados estão o reflorestamento de áreas degradadas, o cerceamento de nascentes e áreas de preservação permanente, adequação de estradas rurais, conservação do solo e controle de erosão e a melhoria da infiltração da água e da sua quantidade e qualidade em nascentes e cursos d´água”, explica o diretor da Adasa e pesquisador da Embrapa, Jorge Werneck. “Esse trabalho é um sucesso e tem mudado a realidade dos produtores rurais da região. É tido como exemplo para embasar as políticas nacionais de pagamentos por serviços ambientais. Não é à toa que é um dos finalistas desse concurso”, ressalta a pesquisadora da Embrapa Fabiana Aquino.

O projeto produtor de água na bacia do ribeirão Pipiripau foi iniciado em 2010 e é coordenado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa). Os trabalhos contam com a participação de 17 organizações, dentre instituições públicas e privadas, sendo uma delas a Embrapa. O objetivo é minimizar os conflitos de água na bacia do Pipiripau por meio de boa governança, gestão integrada de recursos hídricos e implementação de boas práticas de gestão e conservação do solo e da água. A bacia do ribeirão Pipiripau ocupa uma área de 23.527 hectares a nordeste do DF na divisa com o município de Formosa (GO).

O projeto é uma iniciativa promovida pelo Programa Produtor de Águas criado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2001 com o objetivo de promover e apoiar iniciativas de revitalização ambiental de bacias hidrográficas em todo o Brasil. Os trabalhos apoiados são executados por meio da participação voluntária de instituições e colaboradores que atuam em suas próprias regiões para recuperar mananciais nas áreas rurais. Para atingir seus objetivos, os projetos associam a execução de práticas de reflorestamento, conservação de solo e saneamento rural com a política de pagamentos por serviços ambientais (PSA). O PSA é financiado por instituições e comunidades usuárias de água que remuneram os produtores rurais pelos serviços ambientais hídricos prestados.

Votação e mais informações:
acesse o site gwp.org/vote e clique no coração abaixo da descrição do Projeto.

Conheça mais sobre o Projeto em http://www.produtordeaguapipiripau.df.gov.br

Fonte: EMBRAPA

O outro vírus que preocupa a Ásia (e como os cientistas tentam evitar que provoque mais uma pandemia)

O outro vírus que preocupa a Ásia (e como os cientistas tentam evitar que provoque mais uma pandemia)

Harriet Constable - BBC Future
22/01/2021

CRÉDITO,SA SOLA
Duong e sua equipe estudam o vírus nipah e como combatê-lo

Em 3 de janeiro de 2020 notícias de que algum tipo de doença respiratória estava afetando as pessoas em Wuhan, na China, chegaram à Tailândia. Com o Ano Novo Lunar se aproximando, muitos turistas chineses estavam indo para o país vizinho para comemorar. Cautelosamente, o governo tailandês começou a examinar os passageiros que chegavam de Wuhan no aeroporto, e alguns laboratórios selecionados foram escolhidos para processar as amostras para tentar detectar o problema.

O Centro de Ciências da Saúde e de Doenças Infecciosas Emergentes da Cruz Vermelha tailandesa, em Bangcoc, era um desses laboratórios. A diretora do centro, Supaporn Wacharapluesadee, estava de prontidão, aguardando a entrega das amostras.

Nos últimos 10 anos, Wacharapluesadee fez parte do Predict, um esforço mundial para detectar e combater doenças que podem passar de animais não-humanos para humanos.

Ela e sua equipe pesquisam muitas espécies. Mas seu foco principal tem sido os morcegos, que são conhecidos por abrigar muitos tipos de coronavírus. Sua equipe conseguiu entender a doença — que ainda não era chamada de covid-19 — em questão de dias, detectando o primeiro caso fora da China.

Eles descobriram que, além de ser um vírus novo que não se originou em humanos, o Sars-Cov-2 (que causa a covid) estava mais intimamente ligado a coronavírus que já haviam sido encontrados em morcegos. Graças às primeiras informações, o governo pôde agir rapidamente para colocar os pacientes em quarentena e aconselhar os cidadãos. Apesar de ser um país com quase 70 milhões de habitantes, até 3 de janeiro de 2021 a Tailândia havia registrado 8.955 casos e 65 mortes por covid-19.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Os cientistas procuram potenciais causadores de uma próxima pandemia para combatê-los com antecedência

A próxima ameaça
Enquanto o mundo luta contra a covid-19, Wacharapluesadee já está preocupada com a próxima pandemia.

A Ásia tem um grande número de doenças infecciosas emergentes. As regiões tropicais têm uma rica biodiversidade, o que significa que também abrigam um grande reservatório de potenciais patógenos, aumentando as chances de surgimento de um novo vírus. O aumento das populações humanas e o contato cada vez maior entre as pessoas e os animais selvagens nessas regiões também aumentam o risco.

Wacharapluesadee e seus colegas descobriram muitos vírus novos ao longo dos anos, a partir de coletas de amostras de milhares de morcegos. Eles encontraram principalmente tipos de coronavírus, mas também outras doenças mortais que podem sofrer mutações e começar a contaminar humanos.

Isso inclui o vírus Nipah, que infecta morcegos frugívoros e outros animais.

"É uma grande preocupação porque não há tratamento e o vírus tem uma alta taxa de mortalidade", diz Wacharapluesadee.

A taxa de mortalidade de Nipah varia de 40% a 75% dos infectados, dependendo de onde ocorre o surto.

Ela não está sozinha em sua preocupação. A cada ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) analisa uma grande lista de patógenos que podem causar uma emergência de saúde pública para decidir como priorizar seus fundos de pesquisa e desenvolvimento. Eles se concentram naqueles que apresentam maior risco à saúde humana, aqueles que têm potencial epidêmico e aqueles para os quais não há vacinas.

O vírus Nipah está entre os dez primeiros vírus mais perigosos e já causou alguns surtos na Ásia entre humanos. Ele normalmente é transmitido de animais para pessoas, mas pode ser pego por contato direto de pessoa com pessoa ou pelo consumo de alimentos contaminados. Durante o primeiro surto na Malásia, a maioria dos infectados foi contaminada por contato direto com porcos doentes.

Existem vários motivos pelos quais o vírus Nipah é tão preocupante. O longo período de incubação da doença (supostamente até 45 dias, em um caso) significa que há ampla oportunidade para um hospedeiro infectado propagá-la, mesmo sem saber que está doente. Pode infectar uma grande variedade de animais, tornando mais provável a sua propagação.

Alguém com o vírus Nipah pode apresentar sintomas respiratórios, incluindo tosse, dor de garganta, dores no corpo, fadiga e encefalite, um inchaço do cérebro que pode causar convulsões e morte. É uma doença que a OMS gostaria de impedir que se espalhasse.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
O desmatamento é o principal causador de epidemias, pois força animais selvagens a saírem de seus habitats

Risco em toda parte
Battambang é uma cidade às margens do rio Sangkae, no noroeste do Camboja. Na feira, que começa às 5h da manhã, as motocicletas passam zunindo pelos compradores, levantando poeira em seu rastro. Barracas cheias de mercadorias e com lonas coloridas ficam ao lado de barracas improvisadas que vendem frutas deformadas.

Compradores andam de um lado para o outro, com suas sacolas plásticas cheias de compras. Senhoras idosas com chapéus de abas largas avaliam os vegetais à venda. Em outras palavras, é uma feira bastante normal. Até você olhar para cima.

Pendurados silenciosamente nas árvores acima da feira estão milhares de morcegos frugívoros, defecando e urinando em qualquer coisa que passe abaixo deles.

Olhando mais de perto é possível ver que as lonas das bancas do mercado estão cobertas de fezes de morcego.

"Pessoas e animais caminham sob os poleiros, expostos à urina de morcego todos os dias", diz Veasna Duong, chefe da unidade de virologia do laboratório de pesquisa científica Instituto Pasteur em Phnom Penh e colaborador de Wacharapluesadee.

O mercado de Battambang é um dos muitos locais onde Duong identificou morcegos frugívoros e outros animais entrando em contato com humanos diariamente no Camboja. Qualquer oportunidade para humanos e morcegos frugívoros se aproximarem é considerada uma "interface de alto risco" por sua equipe, o que significa que a transferência de um vírus de morcego para os humanos é altamente possível.

"Esse tipo de exposição pode permitir a mutação do vírus, o que pode causar uma pandemia", diz Duong.

Os exemplos de proximidade são incontáveis. "Observamos [morcegos frugívoros] aqui e na Tailândia, em mercados, áreas de culto, escolas e locais turísticos como Angkor Wat — há um grande poleiro de morcegos lá", diz ele. Em um ano normal, o templo Angkor Wat recebe 2,6 milhões de visitantes do mundo todo. Ou seja, são 2,6 milhões de oportunidades para o vírus Nipah pular de morcegos para humanos anualmente em apenas um local.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Por abrigarem morcegos, os templos de Angkor Wat têm um grande potencial de espalharem doenças

De 2013 a 2016, Duong e sua equipe lançaram um programa de rastreamento por GPS para entender mais sobre morcegos frugívoros e o vírus Nipah, e para comparar as atividades de morcegos cambojanos com morcegos de outros países.

Dois deles são Bangladesh e Índia. Ambos os países tiveram surtos do vírus Nipah no passado, provavelmente ligados ao consumo de suco de palmeiras de tâmaras. À noite, os morcegos infectados voavam para as plantações de tâmaras e lambiam o suco que escorria das árvores. Enquanto comiam, eles urinavam nos potes utilizados por vendedores para coletar o suco. Moradores compravam o suco de vendedores de rua no dia seguinte e se infectavam com a doença.

Bangladesh teve 11 surtos de Nipah de 2001 a 2011. No total, 196 pessoas foram infectadas e 150 morreram.

O suco de tamareira também é popular no Camboja. Duong e sua equipe descobriram que os morcegos frugívoros do Camboja voam muito longe — até 100 km por noite — para encontrar frutas. Isso significa que os humanos nessas regiões precisam se preocupar não apenas se vivem ou frequentam áreas cheias de morcegos, mas também com produtos que os morcegos possam ter contaminado.

Duong e sua equipe identificaram outras situações de alto risco. Quando acumuladas no chão e secas, as fezes de morcego (chamadas de guano) são um fertilizante popular no Camboja e na Tailândia.

Em áreas rurais com poucas oportunidades de trabalho, vender guano pode ser uma forma de ganhar a vida. Duong identificou muitos locais onde os moradores incentivavam morcegos frugívoros a se empoleirar perto de suas casas para que pudessem coletar e vender guano.

Mas muitos coletores de guano não têm ideia dos riscos que correm.

"Sessenta por cento das pessoas que entrevistamos não sabiam que os morcegos transmitem doenças", diz Duong.

De volta ao mercado Battambang, Sophorn Deun está vendendo ovos de pato. Questionada se já tinha ouvido falar do vírus Nipah, uma das muitas doenças de risco que os morcegos podem carregar, ela diz: "Nunca. Os moradores não se incomodam com os morcegos, nunca adoeci com eles".

Educar os moradores locais sobre os morcegos deveria ser uma prioridade, diz Duong.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Morcegos são muito importantes para o ambiente e abatê-los não resolve o problema

Destruição do ambiente causa pandemias
Evitar proximidade com morcegos pode ter sido uma tarefa simples em um ponto da história da humanidade, mas, conforme nossa população se expande, os humanos estão cada vez mais destruindo habitats selvagens para atender à crescente demanda por recursos.

E é isso que está aumentando a disseminação de doenças.

"A disseminação desses patógenos e o risco de transmissão aceleram com mudanças no uso da terra, como desmatamento, urbanização e ampliação do uso de terras para a agricultura", explicam os pesquisadores Rebekah J White e Orly Razgour em um artigo de 2020 da Universidade de Exeter, no Reino Unido, sobre doenças zoonóticas (que são transmitidas de animais para pessoas) emergentes.

Sessenta por cento da população mundial vive nas regiões da Ásia e do Pacífico, onde uma rápida urbanização ainda está ocorrendo. De acordo com o Banco Mundial, quase 200 milhões de pessoas mudaram-se para áreas urbanas no Leste Asiático entre os anos de 2000 e 2010.

A destruição de habitats naturais de morcegos já causou infecções de Nipah no passado. Em 1998, um surto do vírus Nipah na Malásia matou mais de 100 pessoas. Pesquisadores concluíram que os incêndios florestais e a seca desalojaram os morcegos de seu habitat natural e os forçaram a ir para as árvores frutíferas cultivadas nas mesmas fazendas em que havia criação de porcos.

Já foi comprovado que os morcegos liberam mais vírus quando estão sob estresse. A combinação de serem forçados a se mudar e estarem em contato próximo com uma espécie com a qual eles normalmente não interagiriam permitiu que o vírus pulasse de morcegos para porcos e daí para os criadores.

A Ásia abriga quase 15% das florestas tropicais do mundo, mas a região também é líder em desmatamento, com uma perda de biodiversidade crescente. Muito disso se deve à destruição de florestas para dar espaço a plantações de produtos como o óleo de palma, mas também para criar áreas residenciais e pastos para o gado.

Os morcegos frugívoros tendem a viver em regiões de floresta densa, com muitas árvores frutíferas para se alimentar. Quando seu habitat é destruído ou danificado, eles encontram novas soluções — como o telhado de uma casa ou as torres de Angkor Wat, explica Duong. É provável que os morcegos que a equipe de Duong viu voarem até 100 km por noite em busca de frutas estejam fazendo isso porque seu habitat natural não existe mais.

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Usar guano de morcego como fertilizante é algo que cria muitos riscos

A importância de preservar os morcegos
Mas agora sabemos que os morcegos abrigam várias doenças perigosas ​​— de nipah a covid-19, de ebola a sars — devemos apenas erradicá-los? Não, explicam os cientistas: isso só tornaria as coisas piores.

Tracey Goldstein, diretora de instituto One Health e parte do projeto Predict (que pesquisa como prevenir novas doenças), explica que os morcegos desempenham papéis ecológicos extremamente importantes. Eles polinizam mais de 500 espécies de plantas e ajudam a manter os insetos sob controle — desempenhando um papel extremamente importante no controle de doenças como a malária, transmitidas por insetos.

"Eles desempenham um papel extremamente importante na preservação da saúde humana", explica Goldstein

Ela também aponta que o abate de morcegos só ajuda a transmitir mais doenças.

"O que uma população de animais faz quando você diminui o seu número é começar a se reproduzir com mais velocidade e quantidade, ou seja, ter mais filhotes — isso tornaria [um ser humano] mais suscetível", diz ela.

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Morcegos são forçados a conviver com humanos por causa da destruição de seu habitat natural

Esforço global
Para cada resposta que Duong e sua equipe encontram, surgem novas perguntas. Uma delas é: por que o Camboja ainda não teve um surto do vírus nipah, considerando todos os fatores de risco? É uma questão de tempo ou os morcegos frugívoros cambojanos são ligeiramente diferentes dos morcegos frugívoros da Malásia, por exemplo? O vírus no Camboja é diferente do vírus na Malásia? A forma como os humanos interagem com os morcegos é diferente em cada país?

A equipe de Duong está trabalhando para descobrir as respostas, mas o processo é lento.

E o grupo não está sozinho nessa busca. A caça ao próximo vírus é um enorme esforço colaborativo global, com cientistas, veterinários, conservacionistas se unindo para entender quais doenças enfrentaremos e como evitar um surto.

Quando Duong tira uma amostra de um morcego e encontra o vírus nipah, ele envia o material para David Williams, chefe do grupo de diagnóstico de doenças de emergência do Centro Australiano de Preparação para Doenças.

Como o vírus Nipah é tão perigoso — é considerado por governos em todo o mundo como tendo potencial para uso em bioterrorismo — apenas um punhado de laboratórios em todo o mundo têm permissão para cultivá-lo e armazená-lo.

O laboratório de Williams é um deles. Sua equipe é formada por alguns dos maiores especialistas mundiais no patógeno, com acesso a uma grande variedade de ferramentas de diagnóstico não disponíveis na maioria dos laboratórios. Usando roupas de contenção herméticas, eles são capazes de cultivar vírus altamente perigosos a partir de uma pequena amostra e então fazer testes para entender como ele é replicado, transmitido e como causa doenças.

Todo esse processo depende de uma enorme operação. Primeiro, Duong coleta urina de morcegos espalhando uma folha de plástico sob um poleiro de morcegos no Camboja. Isso evita ter que capturar os morcegos, o que poderia ser traumatizante para os bichos. Ele leva suas amostras de volta ao laboratório, decanta-as em tubos, rotula-as e embala-as com segurança em caixas térmicas.

Elas são coletadas por uma empresa que faz envios especiais de mercadorias perigosas e levadas de avião para a Austrália, onde as amostras de vírus passam pela alfândega para que as licenças e autorizações sejam aprovadas.

No laboratório de Williams, passam por cultivo e testes. Os resultados obtidos são compartilhados com Duong no Camboja.

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Supaporn Wacharapluesadee pesquisa o vírus Nipah e outros tipos de ameaças

Williams diz que colocar mais laboratórios [de biossegurança] em lugares como o Camboja poderia acelerar a identificação e as pesquisas com vírus. "No entanto, eles são caros de construir e manter. Geralmente esse é o elemento limitante", afirma.

O financiamento para o trabalho que Duong e Wacharapluesadee estão realizando nem sempre é constante. O programa Predict recebia recursos do governo dos Estados Unidos, mas o investimento foi cortado pelo governo do ex-presidente Donald Trump. O presidente Joe Biden, que tomou posse agora em 2021, prometeu restaurá-lo.

Duong e sua equipe agora estão buscando financiamento para uma viagem para detecção de patógenos, para apoiar a vigilância contínua de morcegos no Camboja e para entender se houve infecções em humanos até agora não relatadas.

Eles ainda não conseguiram garantir o dinheiro para continuar seu trabalho com o vírus Nipah. "A vigilância de longo prazo nos ajuda a informar as autoridades [para decretar] medidas preventivas e evitar surtos não detectados que causariam um surto maior", diz Duong.

E sem treinamento contínuo, os cientistas podem não ser capazes de identificar e caracterizar novos vírus rapidamente, como Wacharapluesadee fez com a covid-19 na Tailândia. Esse tipo de informação é essencial para começar a trabalhar em uma vacina.

Enquanto isso, Wacharapluesadee tem financiamento para uma nova iniciativa chamada Projeto Thai Virome, uma colaboração entre sua equipe e o Departamento de Parques Nacionais, Vida Selvagem e Conservação de Plantas do governo na Tailândia. Isso permitirá que ela tire amostras de mais morcegos e de uma variedade maior de animais selvagens para entender as doenças que eles abrigam e as ameaças à saúde humana.

"O projeto Predict foi um exercício sobre como diagnosticar novos vírus em animais selvagens. Então, quando eu e minha equipe descobrimos o genoma do [patógeno do coronavírus], não foi muito [surpreendente], por causa do projeto de pesquisa, que nos deu muita experiência. Fortaleceu a nossa capacidade ", afirmou.

Duong e Wacharapluesadee esperam continuar colaborando na luta contra o vírus Nipah no Sudeste Asiático, e os dois elaboraram uma proposta para a vigilância conjunta na região. Assim que a crise de covid-19 passar, eles planejam submeter o projeto à Agência de Defesa para Redução de Ameaças, uma organização governamental dos EUA que financia trabalhos destinados a reduzir as ameaças representadas por doenças infecciosas,

Em setembro de 2020, a BBC questionou Wacharapluesadee se ela acha que pode impedir a próxima pandemia. Ela estava sentada em seu escritório com seu jaleco branco, tendo examinado centenas de milhares de amostras para diagnóstico de covid-19 nos últimos meses — muito além da capacidade normal de seu laboratório em qualquer ano normal.

Apesar de tudo, um sorriso apareceu em seu rosto. "Eu vou tentar!", disse ela.

Fonte: BBC

Coronavírus: variante achada no Brasil poderia 'driblar' anticorpos e reinfectar quem já teve covid-19, diz pesquisador

Coronavírus: variante achada no Brasil poderia 'driblar' anticorpos e reinfectar quem já teve covid-19, diz pesquisador

Luis Barrucho  -  BBC News Brasil em Londres
21 janeiro 2021

CRÉDITO,EPA
Mais estudos são necessários para mensurar impacto de neutralização reduzida por anticorpos em nossa imunidade, diz Tulio de Oliveira

Um novo estudo de cientistas da África do Sul, ainda não revisado por pares, dá maior respaldo às evidências crescentes de que mutações compartilhadas pelas variantes do coronavírus detectadas no Brasil e na África do Sul podem não ser neutralizadas por anticorpos produzidos pelo organismo de quem já foi infectado pelo SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19.

Isso abre a possibilidade de que pessoas que tiveram doença sejam infectadas novamente se expostas a essas variantes, diz à BBC News Brasil Tulio de Oliveira, responsável pelo estudo e diretor do laboratório Krisp na Escola de Medicina Nelson Mandela, na Universidade KwaZulu-Natal, em Durban, na África do Sul, onde vive desde 1997.

No entanto, mais estudos são necessários para mensurar o impacto dessa 'neutralização reduzida' dos anticorpos em nossa imunidade, ressalva ele.

Segundo Oliveira, testes em laboratório a partir do "vírus vivo" da cepa achada na África do Sul (501Y.V2) contendo mutações como E484K e N501Y — presentes também na variante do Brasil, mas não na do Reino Unido — mostraram "zero ou muito baixa neutralização" do patógeno pelos anticorpos.

Oliveira chefiou a equipe que descobriu a nova variante do coronavírus na África do Sul e compartilhou os dados com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que, por sua vez, permitiu ao Reino Unido detectar a outra variante em seu território.

Acredita-se que todas essas variantes sejam mais transmissíveis do que a original, mas não se sabe, por enquanto, se mais letais. De todo modo, tende a haver mais mortes porque há muito mais casos.

Oliveira acrescenta que suas mais recentes descobertas também levantam "uma grande questão" sobre a eficácia das vacinas.

"Se os resultados do laboratório mostram que essa variante é menos neutralizada pelos anticorpos, isso terá algum efeito na eficácia das vacinas?", questiona Oliveira.

"No momento, presumimos que a eficácia das vacinas não será comprometida. E se for, será pouco (comprometida). Porque as vacinas desencadeiam uma resposta imunológica alta, produzindo muitos anticorpos, por exemplo. Mas ainda é uma questão a ser respondida", acrescenta.

Ele reforça que esses primeiros resultados não podem servir de "desculpa" para interromper os programas de vacinação em todo o mundo.

"Esse vírus nos mostrou que se deixarmos ele circular livremente por muito tempo, se adaptará melhor à transmissão e, potencialmente, escapar de ser neutralizado pelo sistema imunológico".

"Temos que aumentar com urgência as taxas de vacinação e a resposta da saúde pública para que possamos controlar as taxas de infecção o mais rápido possível e reduzir as taxas de mortalidade por essas variantes altamente infecciosas", acrescenta.

Oliveira diz que neutralização reduzida poderia ser uma das explicações para explosão de casos durante segunda onda em Manaus

'Vírus vivo'
Nos últimos dias, vários estudos indicaram que mutações "escapariam" da ação de anticorpos neutralizantes produzidos pelo corpo contra o SARS-CoV-2.

No entanto, Oliveira e sua equipe foram além e usaram o "vírus vivo" pela primeira vez em testes de laboratório em oposição ao chamado pseudovírus — uma "técnica mais avançada", explica Oliveira, usando todas as mutações incluídas no vírus, e, então, fizeram comparações usando a variante anterior da covid-19.

"Os resultados mostram que mais de 50% do plasma convalescente (com anticorpos) exposto ao vírus não obteve neutralização. E os outros 50% obtiveram neutralização de baixo nível. Quase metade dos indivíduos com quase nenhuma neutralização parecia nunca ter visto o vírus antes", explica Oliveira.

"O melhor modelo para testar isso é com o vírus vivo, você pega o vírus inteiro, você infecta as células e faz crescer no laboratório, é uma técnica mais avançada e depois você o re-expõe ao plasma convalescente, então você considera o taxa de crescimento do vírus e como ele é neutralizado".

"Concluímos que houve uma neutralização do vírus muito menor, tão menor que, em tese, são necessários cerca de 10 a 15 vezes mais anticorpos para neutralizar o mesmo vírus em comparação com a variante anterior", acrescenta Oliveira.

Segundo ele, "não são boas notícias. Esperávamos que aqueles que já tiveram a covid-19 não fossem infectados novamente. Isso abre as portas para o vírus com essas mutações reinfectar as pessoas. É uma das principais questões a serem respondidas nas próximas semanas".

Oliveira assinala que mais estudos são necessários para determinar o impacto disso em nossa imunidade, pois nossa resposta imunológica não depende apenas dos anticorpos, mas também das chamadas células T, que atuam em conjunto com eles.

Jesse Bloom, professor-associado de Ciências do Genoma e Microbiologia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, concorda.

"É definitivamente claro que as mutações no RBD (domínio de ligação ao receptor), especialmente a mutação E484K encontrada na linhagem 501Y.V2, reduzem a neutralização do anticorpo. No entanto, atualmente não está claro o quanto essa neutralização reduzida diminui a eficácia protetora da imunidade", diz ele por e-mail à BBC News Brasil. O RBD é uma pequena porção da proteína S do SARS-CoV-2, chave para a ligação do vírus às células humanas e sua infecção.

Cientistas acreditam que essa "neutralização reduzida" pode ser uma das razões pelas quais algumas partes da África do Sul e da cidade de Manaus, no Amazonas, muito atingidas durante o primeiro pico da pandemia, foram de novo amplamente afetadas pela segunda onda — levantando dúvidas sobre a chamada "imunidade de rebanho" que alguns especialistas já haviam dito ter sido alcançada nessas áreas por meio de infecções em massa.

A imunidade de rebanho ocorre quando uma parcela grande o suficiente da população desenvolve uma defesa imunológica contra um patógeno. Nesse cenário, a doença não consegue se espalhar porque a maioria das pessoas é imune e ela passa a ter grande dificuldade para encontrar alguém suscetível. Esse patamar é atingido pela vacinação em massa, e não por infecções em massa.

"Naturalmente, seria de se esperar que essas regiões não fossem muito afetadas pela segunda onda da pandemia, e não é o que vimos", diz Oliveira.

"Ainda temos que investigar se essa nova variante menos neutralizada por anticorpos em laboratório causará maiores taxas de infecção", acrescenta.

"O objetivo da vacina não é parar a transmissão; é fazer com que as pessoas que são infectadas não desenvolvam sintomas muito sérios. O principal objetivo é salvar vidas. E não só a vacina, mas a resposta da saúde pública, de testagem e rastreamento e isolamento e medidas de distanciamento social para tentar diminuir o número de infectados", conclui.

Fonte: BBC

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Curso online voltado para servidores: aperfeiçoamento em Tecnologia na Educação, Ensino Híbrido e Inovação Pedagógica

Curso online voltado para servidores: aperfeiçoamento em Tecnologia na Educação, Ensino Híbrido e Inovação Pedagógica

PROGEPE
22 JAN 2021

Estão abertas as inscrições para o curso de aperfeiçoamento em Tecnologia na Educação, Ensino Híbrido e Inovação Pedagógica, promovido pela Universidade Federal do Ceará. O curso é online, gratuito e voltado para gestores, docentes e técnicos.

Com início no dia 05/02, as aulas serão realizadas às sextas e aos sábados das 14h às 17h, de fevereiro a maio, pelo canal “Tecnologias Digitais na Educação” no YouTube. Os vídeos ficarão gravados no canal para quem não puder assistir às transmissões ao vivo. Acesse aqui.

O curso terá carga horária total de 180 horas e certificados emitidos pela Pró-Reitoria de Extensão da UFC para os inscritos que alcançarem nota sete na média final. Como as gravações das aulas ficarão disponíveis, é possível iniciar o curso depois da data de início.

Inscreva-se até 31/03 por este link.

Fonte: UFF

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Bicicletas elétricas venderão mais que carros em breve na Europa

Bicicletas elétricas venderão mais que carros em breve na Europa

Lupa Charleaux
21/01/2021

Imagem: Twin Cities/Reprodução

Há anos em ascensão, as bicicletas elétricas lideram o maior crescimento no mercado de bicicletas em geral. Estatísticas recentes indicam que elas podem ir além e superar o número de vendas de carros na Europa.

Durante a pandemia de covid-19, diversas pessoas buscaram por alternativas econômicas e eficientes de transporte urbano. Assim como, as bikes elétricas se tornaram uma forma segura de se exercitar ao ar livre.

As e-bikes se tornaram uma alternativa de transporte limpo nas cidades europeias. Fonte: Caynon/Reprodução

Conforme o portal Electrek, a Alemanha é um exemplo do crescimento do mercado de e-bikes. Quase 1 milhão de unidades foram vendidas no país apenas no primeiro semestre de 2019. Número próximo ao total de vendas durante o ano inteiro de 2018.

Após o início da pandemia em 2020, parte das companhias europeias que fabricam bikes elétricas tiveram um forte crescimento. Por exemplo, a startup holandesa VanMoof viu o número de vendas mais do que duplicar entre janeiro e outubro do último ano.

Assim, especialistas fazem projeções otimistas sobre o crescimento do mercado europeu nos próximos anos. A Confederação da Indústria Europeia de Bicicletas (CONEBI) espera que as vendas cresçam para 7 milhões de unidades por ano até 2025.

Analistas estão otimistas com o crescimento do mercado de bikes elétricas.Fonte: Twitter.com/Reprodução

Superando a venda de carros
Outros especialistas preveem números ainda mais elevados para o setor de bicicletas elétricas. Dados do Bike Europe apontam que cerca de 10 milhões de modelos devem ser vendidos por ano até 2025.

Para uma breve comparação, a Europa emplacou cerca de 15,5 milhões de novos automóveis em 2019 e pouco mais do que 15,1 veículos foram registrados em 2018. Um reflexo do ritmo muito lento de vendas no continente.

Enquanto o setor automotivo cresceu apenas um dígito por ano nos últimos anos, o de bikes elétricas teve um crescimento anual de 30% a 40% na Europa. Se manter esse ritmo, as e-bikes vão superar facilmente as vendas de automóveis até o fim da década.


Fonte: Tecmundo

A cobertura que camufla o coronavírus

A cobertura que camufla o coronavírus

Uma camada de açúcares cobre o patógeno e ajuda a escondê-lo de nosso sistema imunológico. Agora, graças aos supercomputadores, podemos vê-la pela primeira vez e traçar um quadro totalmente diferente do coronavírus 

FERNANDO GOMOLLÓN-BEL
20 JAN 2021

A proteína espícula do SARS-CoV-2 'nua' (à esquerda) e coberta com a camada de glicanos (açúcares) que a protegem e a escondem de nosso sistema imunológico (direita).LORENZO CASALINO, ZIED GAIEB; AMARO LAB, UNIVERSIDAD DE CALIFORNIA SAN DIEGO.

Os açúcares são as biomoléculas mais abundantes do mundo. Na verdade, estima-se que representem 70% do peso de toda a matéria viva do planeta. Entre suas muitas funções, os glicanos — cadeias de açúcar — são responsáveis por algo que muitas vezes é deixado de lado: a comunicação entre as células. Quase todas as estruturas biológicas —como membranas celulares e proteínas — são cobertas por uma camada de glicanos. Essa camada externa é essencial para os processos infecciosos, nos quais um agente patógeno interage diretamente com a superfície de nossas células. E o SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, não é exceção.

Aproximadamente 70% de toda a superfície da proteína espícula é revestida de glicanos, como mostra um estudo liderado por Rommie Amaro, da Universidade da Califórnia, em San Diego. “Os açúcares fogem do que vemos no microscópio”, explica Amaro. Existem técnicas, como a microscopia crioeletrônica, capazes de “congelar” as biomoléculas para que se possa observá-las. “Mas os açúcares se movem rápido demais para serem vistos com essa tecnologia”, acrescenta. Por isso, os pesquisadores decidiram usar simulações de computador para reconstituir o esmalte que cobre a proteína espícula e, assim, entender seu papel durante a infecção.

No caso do SARS-CoV-2, os açúcares são duas vezes mais essenciais. Primeiro, porque eles estabilizam a espícula em um formato que permite que se conecte com os receptores ACE2 em nossas células, o processo que inicia a infecção. Amaro e sua equipe mostram que, ao retirar alguns glicanos da superfície, a proteína espícula se desestabiliza e, além disso, a ligação com esses receptores se enfraquece. “Esta é a primeira vez que um açúcar é identificado como parte do processo de fusão”, disse Elisa Fadda, pesquisadora da Universidade Maynooth na Irlanda e coautora do estudo. A cobertura de açúcares também ajuda a camuflar o coronavírus de nosso sistema imunológico. “Todas as nossas células são revestidas de açúcares”, explica Fadda. “O coronavírus desenvolveu um revestimento indistinguível do de nossas próprias células e consegue passar despercebido. “Se a proteína passasse por ali ‘nua’, nosso sistema imunológico a reconheceria imediatamente como uma ameaça. Graças aos glicanos, o vírus não parece estranho.” Essas novas imagens da proteína espícula do coronavírus são muito diferentes das que estamos acostumados a ver. Nesta imagem, a proteína espícula é representada em azul claro e seu revestimento de açúcar em azul escuro (veja a imagem superior).

Os resultados da equipe de Amaro dão pistas sobre possíveis tratamentos contra a covid-19. A cobertura é diferente nas diferentes partes da proteína espícula. A parte superior tem 62% da superfície revestida, deixando mais espaço disponível para tratamentos com moléculas grandes, como anticorpos monoclonais, do que a parte inferior. Simulações de computador também revelam que esse “esmalte” é menos eficaz em proteger a proteína de pequenas moléculas, que poderiam acessar facilmente cerca de 80% da área superficial. Descobrir as partes mais vulneráveis da espícula pode ajudar os pesquisadores a encontrar medicamentos mais eficazes contra a covid-19.

O estudo dos glicanos que revestem o coronavírus também é essencial para o desenvolvimento de vacinas. As vacinas Pfizer-BioNTech, Moderna e AstraZeneca usam nosso próprio maquinário celular para criar cópias da proteína espícula do coronavírus e gerar uma resposta imunológica sem que tenhamos que sofrer da doença. Nos últimos meses, foram desenvolvidas técnicas que permitem analisar os diferentes açúcares que circundam essa proteína “chamariz” gerada pelas vacinas e compará-los com a espícula real do SARS-CoV-2. Apesar de em ambos os casos serem as nossas células que fabricam as proteínas, os seus revestimentos são ligeiramente diferentes, de acordo com alguns estudos preliminares. Isso faz com que as vacinas às vezes gerem chamarizes imperfeitos que induzem uma resposta imunológica mais fraca. “As diferenças são mínimas, em nenhum caso tão dramáticas a ponto de afetar a eficácia das vacinas”, diz Fadda. “O importante é entendê-las, estudá-las e aprender para o desenvolvimento de futuras vacinas”, acrescenta. Na verdade, várias equipes já estão pesquisando novas vacinas destinadas a evitar esses problemas, e algumas estão na última fase de testes clínicos.

É curioso como, desde que os primeiros casos foram detectados em Wuhan, há pouco mais de um ano, ouvimos falar de proteínas, RNA, DNA e até mesmo de lipídios — os componentes do invólucro do coronavírus que podemos destruir usando água e sabão—, mas ninguém menciona a importância dos açúcares. “É bastante comum”, explica Carme Rovira, professora de pesquisa do ICREA na Universidade de Barcelona. “Eles são freqüentemente esquecidos, mesmo quando a célula e seus componentes são desenhados em livros didáticos.” E, de fato, as membranas que circundam nossas células estão completamente cobertas por açúcares.

Em 1900, o biólogo austríaco Karl Landsteiner descobriu os grupos sanguíneos e, graças a isso, em 1907 foi realizada a primeira transfusão de sangue com sucesso. No entanto, levou várias décadas para que se descobrisse que nossos glóbulos vermelhos são revestidos por cadeias de açúcares características dos grupos A, B, AB e O. “Esses glicanos são como códigos de barras, nossas células podem lê-los para se identificarem entre si, e também detectar ameaças, como bactérias e vírus patogênicos”, explica Rovira. Por isso, receber uma transfusão de alguém com um grupo sanguíneo diferente pode causar reações imunológicas adversas.

O funcionamento de uma de nossas melhores armas contra a gripe, o antiviral Tamiflu (oseltamivir), também está relacionado com a química dos açúcares. Os vírus da gripe usam uma proteína em seu invólucro, a neuraminidase, para detectar um açúcar do “esmalte” de nossas células —o ácido siálico— e entrar em nossas células, promovendo a infecção.

“A estrutura química do Tamiflu é muito semelhante ao ácido siálico, por isso engana as proteínas do vírus da gripe, bloqueia-as e retarda a progressão da doença”, acrescenta Rovira. Uma boa compreensão da estrutura, da posição e do comportamento dos açúcares é fundamental para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos eficazes, tanto contra a covid-19 como para outras doenças. “As células cancerígenas, por exemplo, têm uma camada muito densa de açúcares, incluindo alguns que as camuflam de nosso sistema imunológico.” Muitos pesquisadores estão procurando maneiras de destruir esse escudo para desmascarar as células tumorais e torná-las mais suscetíveis às nossas células imunológicas.

Estrutura química do antiviral Tamiflu (à esquerda), usado contra o vírus da gripe, e do ácido siálico, um açúcar que faz parte do revestimento de glicano de nossas células (à direita).FERNANDO GOMOLLÓN BEL.

Rovira também usa métodos computacionais para entender os mecanismos moleculares das enzimas responsáveis por “decorar” nossas células com glicanos —formando o revestimento— e em novembro passado recebeu, com pesquisadores da Universidade de Leiden e da Universidade de York, mais de 9 milhões de euros (cerca de 59 milhões de reais) do Conselho Europeu de Pesquisa para estudá-las. Os estudos de computador são essenciais, trabalhar no esmalte da proteína espícula “teria sido praticamente impossível há dez anos”, diz Rovira. A equipe de Amaro e Fadda precisou de quase dois meses de simulações em um dos supercomputadores mais poderosos do mundo: o Frontera, no Texas. E também utilizou as instalações da PRACE, a aliança europeia de computação avançada, à qual pertence o Centro Nacional de Computação, que já no final de março lançou um apelo para financiar pesquisas que ajudassem a mitigar o impacto da pandemia.

Depois de décadas estudando o genoma e o proteoma, chegou a vez do “glioma” — o conjunto de estruturas compostas por açúcares distribuídos por nossas células. Em razão de sua estrutura química, os açúcares podem formar cadeias muito mais variadas do que o DNA ou as proteínas. “Mas são também estruturas muito mais complexas, temos muito que descobrir para podermos decifrar todas as suas funções”, conclui Rovira.

Fonte: El País

Nelly e Erik, as inquietantes mutações do coronavírus em Manaus que ameaçam piorar a pandemia

Nelly e Erik, as inquietantes mutações do coronavírus em Manaus que ameaçam piorar a pandemia

Três novas variantes do vírus poderiam ser mais contagiosas e capazes de reinfectar graças a uma combinação semelhante de alterações em seu genoma

MANUEL ANSEDE
Madri - 21 JAN 2021

Enterro de uma mulher de 73 anos morta por covid-19 em um cemitério de Manaus.BRUNO KELLY / REUTERS

Os cientistas que vigiam a evolução do novo coronavírus estão inquietos. Depois da aparição no final do ano de duas variantes aparentemente mais contagiosas, detectadas no Reino Unido e África do Sul, um grupo de pesquisadores publicou em 12 de janeiro a descrição de uma terceira variante suspeita em Manaus, relativamente similar às duas anteriores. Os autores sugerem uma possibilidade preocupante: a evolução convergente, o mesmo fenômeno que fez os morcegos e aves desenvolverem asas de maneira independente, milhões de anos atrás. O coronavírus também poderia estar mudando na mesma direção em diferentes lugares do mundo: rumo a versões mais transmissíveis e inclusive capazes de reinfectar algumas pessoas que já tiveram covid-19, conforme adverte a equipe que descobriu a variante brasileira, encabeçada pelo epidemiologista Nuno Faria, do Imperial College de Londres.

A nova variante brasileira apresenta uma combinação singular de mutações, mas duas delas são velhas conhecidas. Alguns geneticistas as denominam Nelly e Erik, pela semelhança com seus nomes técnicos: N501Y e E484K. Nelly e Erik são duas mutações que afetam a espícula do coronavírus, a chave com a qual o vírus entra nas células humanas. A mutação Nelly está presente nas três variantes inquietantes, e Erik se soma a ela na sul-africana e brasileira.

O virologista espanhol Rafael Delgado expressa sua “preocupação” com essa possível evolução convergente, envolvendo combinações de mutações que talvez se repitam porque representam uma vantagem para o vírus. Um estudo preliminar do bioquímico norte-americano Jesse Bloom sugeriu há algumas semanas que a mutação E484K multiplica a capacidade do coronavírus de escapar dos anticorpos do plasma sanguíneo de alguns doadores que já superaram a covid-19. E outro estudo publicado nesta terça-feira sustenta que “a maioria” das pessoas que foram naturalmente infectadas pelo novo coronavírus e se recuperaram poderiam se contaminar novamente com a variante sul-africana. O trabalho, ainda um esboço pendente de revisão, foi assinado pela virologista Penny Moore, do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas da África do Sul.

A variante britânica —com Nelly, mas sem Erik— surgiu aparentemente no Reino Unido, em setembro, e já foi registrada em 40 países. As autoridades britânicas calculam que é entre 30% e 50% mais transmissível. Na Espanha, foi identificada pela primeira vez na época do Natal, no Hospital 12 de Octubre, em Madri. “Estamos detectando atualmente entre 2% e 3% [de variantes britânicas com relação ao total de casos]. A porcentagem é pequena, por enquanto, mas claramente vem crescendo”, explica Rafael Delgado, chefe do Serviço de Microbiologia desse hospital. Na Dinamarca, a variante britânica representava 2,4% das amostras analisadas há duas semanas, e agora já chega a 7%.

A variante britânica não produz uma forma mais grave da doença, mas é mais contagiosa, segundo todos os indícios, de modo que o resultado final seria também um maior número de mortos. “Os hospitais lotam antes, Portanto, é um perigo, sobretudo na situação em que estamos agora, que já de ruim. É preocupante”, opina o biólogo Iñaki Comas, codiretor do consórcio que sequencia os genomas do coronavírus na Espanha. Comas calcula que a variante britânica só alcança atualmente uma frequência de 1% a 5% em todo o território espanhol.

A variante sul-africana já apareceu em 13 países, entre eles a França e a Alemanha. A de Manaus só foi identificada no Brasil, Japão e Coreia do Sul. Em outros países, como a Espanha, a atual onda da pandemia é causada por versões anteriores do SARS-CoV-2. “A atual onda na Espanha não se deve a nenhuma dessas variantes, e sim às que já tínhamos”, salienta Comas. Pode ser questão de tempo. Os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDCs) calculam que a variante britânica será a dominante nos EUA em março.

Alguns especialistas, como o norte-americano Trevor Bedford, acreditam que estas novas variantes surgiram em pessoas com uma infecção crônica, um processo em que as defesas lutam contra o coronavírus durante meses, até que aparece um mutante que invade melhor as células humanas e consegue escapar. Bedford, do Centro de Pesquisas Fred Hutchinson, baseia-se no caso de um homem de 45 anos que, por um problema em seu sistema imunológico, passou cinco meses internado com covid-19 no Hospital Brigham and Women’s, em Boston (EUA). Os médicos que o trataram relataram “uma evolução acelerada do vírus” até que o paciente acabou morrendo. Entre as mutações detectadas figuravam Nelly e Erik.

É muito raro que uma única mutação mude o rumo de um vírus, mas há precedentes. Uma só mudança no vírus do chikungunya o tornou capaz de se instalar em uma nova espécie de mosquito, aumentando assim seu potencial epidêmico, segundo um estudo da Universidade do Texas. O que mais preocupa os cientistas, entretanto, é o efeito sinérgico de várias mutações relevantes. Delgado, do 12 de Octubre, teme sobretudo a coincidência de Nelly e Erik nas variantes sul-africana e brasileira.

Um estudo preliminar com 20 voluntários, publicado nesta terça, também sugere que os anticorpos gerados por vacinas (nesse estudo, as da Pfizer e Moderna) sejam ligeiramente menos eficazes contra as novas variantes com as mutações Nelly e Erik. “É possível que seja necessário atualizar periodicamente as vacinas para evitar uma potencial perda de eficácia clínica”, concluem os autores, encabeçados pelo imunologista Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller (EUA). Os pesquisadores salientam que o efeito observado é “modesto”.

O geneticista Fernando González Candelas, codiretor do consórcio espanhol, recorda o excessivo alarme gerado no ano passado com outras mutações, como a D614G, apontada em meados de 2020 como talvez mais contagiosa, e hoje absolutamente dominante em todo o mundo. González Candelas, catedrático da Universidade de Valência, é muito cético quanto à hipótese de que o coronavírus esteja evoluindo em uma mesma direção. “É preciso ter muito cuidado com os vírus. Mesmo que a mesma mutação apareça várias vezes, não significa que haja uma evolução convergente. A probabilidade de aparecer uma mesma mutação de forma independente é muito alta”, argumenta. “Há muito alarme antecipado a respeito”.

González Candelas acredita, no entanto, que poderiam estar se formando as condições para o surgimento de cepas avantajadas do vírus. “À medida que vai aumentando o número de pessoas vacinadas ou com imunidade gerada por uma infecção prévia, favorece-se a infecção por aqueles vírus que podem evitar essas defesas imunológicas”, explica. O comitê de emergências da Organização Mundial da Saúde afirmou em 15 de janeiro que o risco é “muito alto” e fez um apelo aos países para que dediquem mais recursos a vigiar as mutações do coronavírus. Quase ninguém contempla a possibilidade de que as vacinas deixem de funcionar repentinamente, e sim que perca progressivamente sua eficácia atual, em torno de 95%, até que seja necessário atualizá-las, como ocorre todos os anos com a vacina da gripe.

“O problema é que muito do que sabemos sobre os efeitos das mutações procede de experimentos com mutações individuais: você coloca uma mutação [em uma réplica do vírus em laboratório] e vê o que acontece. Mas nos falta muita informação experimental sobre como todas estas mutações interagem entre si: qual é o impacto de pôr Nelly e Erik juntos”, explica Iñaki Comas, do Instituto de Biomedicina de Valência, ligado ao CSIC (agência espanhola de pesquisa científica).

Comas, no entanto, se diz otimista. “Talvez, tanto a variante da África do Sul quanto a do Brasil tenham algum efeito sobre a imunidade devido a essa mutação E484K, mas não esperamos que nenhuma destas variantes, tampouco a britânica, afete as atuais vacinas. A imunidade que conseguimos com as vacinas é muitíssimo maior que a imunidade natural depois de uma infecção”, tranquiliza. O próprio Jesse Bloom, um dos cientistas que mais estudaram a mutação E484K, declarou que confia em que “as atuais vacinas serão úteis durante bastante tempo”.

“O mais importante agora em relação às vacinas não é nos preocuparmos com as variantes, e sim com a vacinação: que chegue a todas as populações em todas as partes do mundo”, opina Comas. Quanto às novas variantes, o pesquisador espanhol recorda a estratégia básica para freá-las: “Ainda não se inventou uma variante que seja capaz de saltar uma máscara”.

Fonte: El País

Há medicamentos que funcionam contra a covid-19?

Há medicamentos que funcionam contra a covid-19?

Ivermectina, hidroxicloroquina, remdesivir. Em meio à luta contra a pandemia, diversos remédios têm sido propagandeados como possíveis armas contra o coronavírus. A DW checou o que se sabe sobre sua eficácia.

Kathrin Wesolowski, Uta Steinwehr
19.01.2021

Busca por um antídoto contra o coronavírus tem desafiado cientistas

A pandemia de covid-19 tem desafiado pesquisadores do mundo inteiro na busca não só por uma vacina, mas também por medicamentos capazes de prevenir, minimizar ou até curar uma infecção pelo coronavírus Sars-Cov-2.

A DW checou o que se sabe sobre a eficácia de alguns dos fármacos que vêm sido associados à covid-19:

Favipiravir (Avigan) – pode encurtar duração da covid-19
O antigripal japonês Avigan, com o ingrediente ativo Favilavir, já havia causado sensação na Ásia antes de virar notícia no restante do mundo. O medicamento é usado contra a gripe e supostamente atua contra vários vírus RNA. Em 2014, por exemplo, foi usado com sucesso contra o ebola, levando o governo japonês a enviar doses de Favilavir à Guiné como ajuda de emergência para combater a epidemia no país africano.

Estudos recentes apontam que o medicamento pode, de fato, encurtar a duração da covid-19. Os efeitos colaterais, no entanto, são muito fortes, e podem incluir choque anafilático ou pneumonia.

Dexametasona – uma questão de timing
O medicamento anti-inflamatório dexametasona é apontado como capaz de reduzir a mortalidade em pacientes de covid-19 dependentes de ventilação mecânica e cujo quadro infecioso se estende por mais de sete dias. Embora o Instituto Robert Koch (RKI), a agência alemã de prevenção e controle de doenças, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendem o uso do medicamento nesses casos, a dexametasona não deve ser utilizada em pacientes com sintomas leves e tampouco de maneira precoce.

"Quando utilizada cedo demais, é capaz de amortecer ou bloquear o sistema imunológico, podendo provocar inclusive uma evolução mais grave da doença", explicou no início de outubro Sandra Ciesek, diretora do Instituto de Virologia Médica do Hospital Universitário de Frankfurt, no podcast da emissora alemã Norddeutscher Rundfunk.

Hidroxicloroquina – sem efeitos positivos
No início da pandemia, o princípio ativo hidroxicloroquina, um antigo medicamento contra a malária, foi visto como uma luz de esperança contra o coronavírus e, inicialmente, até chegou a ser utilizado. Atualmente, o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos alemão adverte contra seu uso no tratamento da covid-19.

"Os pacientes de covid-19 tratados com hidroxicloroquina devem ser acompanhados muito de perto devido aos graves efeitos colaterais que podem decorrer de sua utilização", afirma o instituto em seu website. Mas o mais importante, aponta, é que não foram demonstrados efeitos benéficos no tratamento de pacientes com coronavírus.

Artemisinina – faltam estudos confiáveis
No início da pandemia, uma bebida herbácea de Madagáscar provocou furor: Covid Organics, derivada da artemisinina, um ingrediente ativo da planta Artemísia. Até o momento, porém, não há estudos confiáveis sobre os efeitos da bebida.

Uma equipe liderada pelo professor Peter Seeberger, chefe da Divisão de Sistemas Biomoleculares do Instituto Max Planck de Coloides e Pesquisa de Interfaces, conseguiu estabelecer, pelo menos em estudos de laboratório, que os extratos da planta Artemísia são eficazes contra o novo coronavírus. As conclusões, porém, ainda não foram revisadas por outros cientistas.

Um estudo de fase 2 com 360 pessoas também está em andamento no México para investigar a eficácia da Artemisia em conexão com o coronavírus, mas os resultados ainda não foram publicados.

Numa entrevista à DW, Seeberger disse que existem "indícios suficientes" para analisar cientificamente o efeito da artemisinina em ligação com o coronavírus. No entanto, ele desaconselha fortemente "tomar chás de Artemísia na esperança de que eles irão prevenir ou curar a covid-19". "Não existe, atualmente, qualquer evidência clínica de eficácia", diz.

Tocilizumabe e sarilumab (Kevzara) – estudos contraditórios
Os efeitos dos anticorpos tocilizumabe e sarilumab são controversos. Eles costumam ser usados no tratamento de artrite reumatoide, mas um estudo recente – ainda sem revisão – afirmou que eles podem reduzir significativamente a mortalidade em pacientes de covid-19. Embora outro estudo tenha concluído que os medicamentos não reduzem de fato a mortalidade, o governo britânico já anunciou que planeja utilizá-los contra o coronavírus no futuro.

Ivermectina – OMS desaconselha
Controvérsia também gira em torno da ivermectina. Originalmente indicado contra sarna e vermes, o antiparasitário tem sido comercializado na América Latina como um "medicamento milagroso contra o coronavírus". No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a agência americana Food and Drug Administration (FDA) desaconselham o uso do medicamento contra a covid-19. Ainda são necessários mais testes para determinar se a ivermectina pode ser utilizada na prevenção ou no tratamento da doença, afirmaram.

Em contraste, a Front Line COVID-19 Critical Care Alliance, uma aliança de médicos de UTIs americanas, concluiu, após avaliar os dados clínicos disponíveis, que o medicamento pode reduzir significativamente a carga viral e acelerar a recuperação em pacientes com quadros infecciosos leves ou moderados. Já nos casos graves, o medicamento reduziria a necessidade de hospitalização, assim como as taxas de mortalidade.

Higienização bucal e sprays nasais – efeitos não comprovados
Como forma de prevenção, a Sociedade Alemã de Higiene Hospitalar recomenda o gargarejo com substâncias apropriadas. Por trás disso, está a ideia de que o gargarejo mataria os vírus presentes na garganta. Caso os pacientes estejam infecciosos, o risco de transmissão seria assim reduzido durante um curto período de tempo.

"Claro que não se chega ao vírus enquanto ele estiver nas células. Não se trata, portanto, de eliminar a infecção, mas apenas de eliminar os vírus livres, que – caso expectorados ou exalados – seriam a base para uma nova infecção", ", disse o porta-voz do grupo, Peter Walger, em entrevista à DW.

O mesmo se aplica aos sprays nasais antivirais, com os efeitos do fármaco Algovir como um dos exemplos em discussão.

A recomendação do medicamento decorre de um estudo de pesquisadores de Bochum, entre outros, explica Walger. Em laboratórios, foi possível comprovar que os enxaguamentos bucais reduziam as quantidades de Sars-Cov-2.

Gargarejos com líquidos específicos têm sido recomendados pela OMS e pelas sociedades de odontologia alemãs desde agosto e setembro. No entanto, as sociedades profissionais sublinharam que ainda não há estudos clínicos que comprovem que tais procedimentos também ajudem contra o coronavírus em humanos.

Atualmente, resta saber se as soluções chegam efetivamente ao local do organismo onde se concentra a maioria dos vírus, conforme as investigações de uma equipe do centro de pesquisas alemão Correctiv. Um estudo feito com dez pessoas testadas positivo para Sars-Cov-2 na Alemanha chegou à conclusão de que um enxaguamento bucal com uma solução de peróxido de hidrogênio a 1% não foi capaz de reduzir a carga viral.

Remdesivir – faltam evidências
Embora o presidente americano,Donald Trump, tenha tomado o medicamento após sua infecção pelo coronavírus, o efeito do remdesivir contra covid-19 é altamente controverso. O medicamento é usado nos EUA e também na Alemanha, onde seu uso, porém, é recomendado pelo RKI somente em pacientes que necessitem de oxigênio, mas não de respiração mecânica, idealmente entre o quinto e o sétimo dia após início dos sintomas.

O governo americano se baseia em estudos que indicam que o ingrediente ativo reduz a duração da covid-19. Para a OMS, não há evidências suficientes para recomendar o uso do remdesivir.

Fonte: DW